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4.27.2013

Prefeitura de Nova York quer proibir menores de 21 anos de comprar cigarro

Proposta ainda precisa ser aprovada pelo conselho da cidade.

A prefeitura de Nova York pretende aumentar de 18 para 21 anos a idade mínima para comprar cigarros. A medida tornaria Nova York a cidade dos EUA mais restritiva em relação à venda do tabaco. A proposta valeria para a compra de cigarros e outros produtos derivados do tabaco, mas não proibiria a posse ou o uso desses produtos.

A iniciativa foi apresentada por Thomas Farley e Christine Quinn, membros do gabinete do prefeito. Segundo eles, as pessoas geralmente passam pela transição de fumantes ocasionais para fumantes regulares por volta dos 20 anos.

A proposta ainda precisa ser aprovada pelo conselho da cidade e assinada pelo prefeito, mas é provável que ela seja promulgada, uma vez que tem apoio do prefeito Michael Bloomberg.

Agências Internacionais



Cientistas produzem rim em laboratório

Cientistas americanos conseguiram criar pela primeira vez um rim em laboratório, que depois transplantaram num rato. O rim é o órgão humano mais procurado para transplante em todo o mundo.

Imagem do rim artificial fabricado pela equipa de cientistas americanos Ott Laboratory/Reuters Imagem do rim artificial fabricado pela equipa de cientistas americanos
Um grupo de cientistas americanos do Massachusetts General Hospital e da Harvard Medical School, em Boston, conseguiu fazer crescer pela primeira vez um rim de rato em laboratório, com base na bioengenharia.
Quando foi testado, o rim produziu 23% da urina de um rim natural, e depois de transplantado num rato, a sua eficiência caiu 5%. Em todo o caso, este resultado abre perspetivas para se criar nos seres humanos uma alternativa mais vantajosa no transplante de rim, o órgão mais procurado em todo o mundo para transplantes.
O líder da equipa de cientistas americanos, Harald Ott, afirmou à BBC que este nível de eficiência na produção de urina - 10% a 15% de um rim natural - já é suficiente "para tornar os doentes renais independentes da hemodiálise".  Harald Ott afirma, por isso, que "o impacto clínico potencial de um tratamento com sucesso seria enorme".

Acabar com fenómenos de rejeição nos transplantes


O processo de fabrico do rim usado pelos cientistas tem ainda uma vantagem adicional: evita que um doente transplantado tome medicamentos durante toda a vida para prevenir fenómenos de rejeição do órgão pelo sistema imunitário, porque o rim é fabricado com células desse doente.
Com efeito, a equipa americana escolheu um rim de rato e começou por usar um detergente para lhe tirar as células velhas. A estrutura que ficou, que incluía a rede de veias e canais, foi então "semeada" com células epiteliais (que revestem a superfície externa e diversas cavidades internas do organismo) e endoteliais (que cobrem o interior dos vaso sanguíneos), que se multiplicaram e reconstruiram o rim. O órgão foi depois transplantado para um rato e funcionou.
Apesar do sucesso conseguido, há ainda um longo caminho de 10 a 15 anos de investigação a percorrer até se chegar aos seres humanos, que têm rins maiores e mais complexos que os ratos.
 Os cientistas admitem que a técnica utilizada precisa de melhorar a eficiência do rim produzido em laboratório e de provar que, depois de transplantando, vai funcionar durante muitos anos. Mas Martin Birchall, cirurgião do University College London, considera que "é quase o nirvana da medicina regenerativa".   
Em Portugal há 11 mil doentes renais que são tratados por hemodiálise, mas só se fazem 500 transplantes de rins por ano, devido à falta de dadores. O rim é o órgão humano mais procurado em todo o mundo e um dos que tem maiores listas de espera para transplante.


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/cientistas-produzem-rim-em-laboratorio=f800341#ixzz2RhcaYHXT

Kits diagnósticos sem Inspeção da Qualidade

Liminar livra laboratórios de inspeção internacional da Anvisa

JOHANNA NUBLAT

BRASÍLIA - Uma liminar da Justiça livrou cerca de 40 empresas do ramo de diagnósticos das inspeções internacionais feitas por técnicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) nas fábricas estrangeiras de onde vêm os produtos.

A norma da agência entrou em vigor em 2010 e prevê essa vistoria "in loco" no caso de determinados produtos --como muitos dos kits de diagnóstico in vitro, reagentes de laboratório e alguns equipamentos do setor. Para cada inspeção, é cobrada uma taxa de R$ 37 mil.

Via Lei de Acesso à Informação, a CBDL (Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial) descobriu que 1.213 inspeções internacionais estavam pendentes em novembro de 2012 e que, à época, a Anvisa realizava inspeções pedidas em junho de 2010.

Todo esse processo, do pedido da inspeção à sua conclusão, levava 845 dias, segundo a estimativa dada pela agência ao pedido da entidade. Os dados embasaram o pedido à Justiça para que a inspeção não fosse mais necessária, e a liminar foi conseguida no início deste mês.

"Somos totalmente a favor de produtos com qualidade, mas o fato é que o sistema criado pela Anvisa tem sérios problemas, como falta de estrutura [da agência, para dar conta das inspeções], além da discussão da legitimidade de a Anvisa fazer essas inspeções no exterior", explica Carlos Eduardo Gouvêa, secretário-executivo da CBDL.

A entidade defende que, como no passado, sejam reconhecidas avaliações dos próprios países onde estão as fábricas ou de órgãos internacionais de certificação. Essa medida está em análise pela Anvisa.

Procurada sobre a liminar, a Anvisa informou que já tem conhecimento da decisão e que vai recorrer.

TOC

Transtorno obsessivo-compulsivo é 'pop', mas faz da vida um inferno

A declaração recente de uma celebridade do esporte, uma peça em cartaz e novas pesquisas científicas trazem de volta à cena o lado mais pop do TOC, o transtorno obsessivo-compulsivo.
Saiba identificar o TOC; o que os estudos sobre o transtorno revelam,
O ginasta Diego Hypólito conta como criava rituais para aliviar o estresse’Cheguei a ficar oito horas no banho’, diz a atriz Luciana VendraminiEmpresário com TOC passava desifentante nos pés e nas mãos
O famoso da vez a assumir publicamente que tem o transtorno é o ginasta Diego Hypólito, 26. No mundo das artes, peças como “Toc Toc”, em cartaz em São Paulo, e personagens como Sheldon Cooper, da série “Big Band Theory”, fazem que o nome e os sintomas da doença estejam na boca do povo.

Transtorno obsessivo-compulsivo

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou distúrbio obsessivo-compulsivo (DOC) é um transtorno de ansiedade caracterizado por pensamentos obsessivos e compulsivos no qual o indivíduo tem comportamentos considerados estranhos para a sociedade ou para a própria pessoa; normalmente trata-se de ideias exageradas e irracionais de saúde, higiene, organização, simetria, perfeição ou manias e "rituais" que são incontroláveis ou dificilmente controláveis.
O transtorno obsessivo-compulsivo é considerado o quarto diagnóstico psiquiátrico mais frequente na população. De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), até o ano 2020 o Transtorno Obsessivo-Compulsivo estará entre as dez causas mais importantes de comprometimento por doença. Além da interferência nas atividades, os sintomas obsessivo-compulsivos (SOC) causam incómodo e angústia aos pacientes e seus familiares.
Apesar de ter sido descrito há mais de um século, e dos vários estudos publicados até o momento, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo ainda é considerado um "enigma". Questões como a descoberta de possíveis fatores etiológicos, diversidade de sintomas e como respondem aos tratamentos continuam sendo um desafio para os pesquisadores.
Estudos indicam que uma das dificuldades para encontrar essas respostas deve-se ao caráter heterogêneo do transtorno. Vários estudos têm apontado para a importância da identificação de subgrupos mais homogêneos de pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Esta abordagem visa a buscar fenótipos mais específicos que possam dar pistas para a identificação dos mecanismos etiológicos da doença, incluindo genes de vulnerabilidade e, por fim, o estabelecimento de abordagens terapêuticas mais eficazes.
Alguns subtipos de Transtorno Obsessivo-Compulsivo têm sido propostos. Dentre eles, dois subtipos bastante estudados correspondem aos pacientes com início precoce dos Sintomas Obsessivo- Compulsivos. e o subtipo de Transtorno Obsessivo-Compulsivo associado à presença de tiques e/ou síndrome de Tourette (ST) Esses dois subgrupos de pacientes apresentam características clínicas, neurobiológicas, de neuroimagem, genéticas e de resposta aos tratamentos distintos e que os diferenciam de outros pacientes. É importante ressaltar também que esses dois subtipos apresentam características semelhantes, o que dificulta a interpretação de sua natureza, ou seja, torna-se difícil diferenciar se as características encontradas são devido ao início precoce dos Sintomas Obsessivo- Compulsivos ou à presença de tiques.

Lavar as mãos constantemente caracteriza obsessão por higiene, um dos sintomas mais comuns do TOC.
Compulsão é um comportamento consciente e repetitivo, como contar, verificar ou evitar um pensamento que serve para anular uma obsessão. Outros exemplos de compulsão são o ato de lavar as mãos ou tomar banho repetidamente, conferir reiteradamente se esqueceu algo como uma torneira aberta ou a porta de casa sem trancar. Deve-se deixar claro porém que para que esses comportamentos sejam considerados compulsivos, devem ocorrer em uma frequência bem acima do necessário diante de qualquer padrão de avaliação.
Acomete 2 a 3% da população geral. A idade média de início costuma ser por volta dos 20 anos e acomete tanto homens como mulheres. Depressão Maior e Fobia Social podem acometer os pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo ao longo da vida.

Sintomas

Frequentemente as pessoas acometidas por este transtorno escondem de amigos e familiares essas ideias e comportamentos, tanto por vergonha quanto por terem noção do absurdo das exigências autoimpostas. Muitas vezes desconhecem que esses problemas fazem parte de um quadro psicológico tratável e cada vez mais responsivo a medicamentos específicos e à psicoterapia. As obsessões tendem a aumentar a ansiedade da pessoa ao passo que a execução de compulsões a reduz. Porém, se uma pessoa resiste a realização de uma compulsão ou é impedida de fazê-la surge intensa ansiedade. A pessoa pode perceber que a obsessão é irracional e reconhecê-la como um produto de sua mente, experimentando tanto a obsessão quanto a compulsão como algo fora de seu controle e desejo, o que causa muito sofrimento. Pode ser um problema incapacitante porque as obsessões podem consumir tempo (muitas horas do dia) e interferirem significativamente na rotina normal do indivíduo, no seu trabalho, em atividades sociais ou relacionamentos com amigos e familiares.

Epidemiologia

Estudos epidemiológicos recentes, realizados em diferentes países, mostraram que o Transtorno obsessivo-compulsivo tem uma prevalência atual em torno de 1,0%. Em uma revisão sobre epidemiologia realizada por Torres e Lima (2005) apontou uma prevalência de 2,0 a 2,5% ao longo da vida.
Esses dados atuais são bastante diferentes dos dados publicados em meados do século XX, quando, por exemplo, Rudin (1953) relatou uma prevalência do Transtorno obsessivo-compulsivo em torno de 0,05%. Foi apenas na década de 1980 que outros estudos foram feitos, com instrumentos de avaliação estruturados e critérios diagnósticos específicos, e a prevalência do Transtorno obsessivo-compulsivo foi reavaliada. Por exemplo, no estudo epidemiológico americano Epidemiologic Catchment Area (ECA), nos Estados Unidos, a prevalência anual do Transtorno obsessivo-compulsivo foi de 1,5%, e ao longo da vida, de 2 a 3%. Os estudos de prevalência no Brasil ainda são insuficientes e pouco representativos. Uma prevalência de 0,9% e 0,5% entre homens e mulheres, respectivamente, foi encontrada em Brasília, e da mesma forma, de 1,7% e 2,7% em Porto Alegre. Andrade e colaboradores (2002) estimaram a prevalência ao longo da vida de 0,3% (0,3% em homens e 0,4% em mulheres).
A partir desses estudos com metodologia mais cuidadosa, foi possível demonstrar que o Transtorno obsessivo-compulsivo é um transtorno comum na população em geral, inclusive em crianças. Estima-se que um terço dessas taxas nos estudos sejam crianças e/ou adolescentes, e que cerca de 50% dos adultos com Transtorno obsessivo-compulsivo tenham apresentado o início dos TOC na infância.
Referente à prevalência do Transtorno obsessivo-compulsivo nos diferentes sexos, a apresentação tem um perfil bimodal de acordo com a idade de início do quadro, sendo que o sexo masculino estaria mais associado ao início mais precoce dos sintomas e à presença de tiques. No estudo de Swedo e colaboradores (1989), mais de 70% da amostra de crianças com Transtorno obsessivo-compulsivo eram do sexo masculino. Este número praticamente se iguala com um aumento da incidência do sexo feminino na adolescência, chegando a uma proporção de 1:1 na idade adulta.
Assim sendo, de acordo com esses dados, o Transtorno obsessivo-compulsivo representa um transtorno de extrema importância para a saúde pública. Além de bastante frequente, o Transtorno obsessivo-compulsivo apresenta altas taxas de comorbidade com outros transtornos psiquiátricos. Em uma pesquisa recente avaliando 8.580 indivíduos, Torres e colaboradores (2006) encontraram 114 portadores de Transtorno obsessivo-compulsivo, e destes, 62% tinham alguma comorbidade. Essas taxas chegam a 89%.
Este perfil bimodal de distribuição das prevalências de Transtorno obsessivo-compulsivo, com dois picos distintos, sendo um na infância, com incidência maior no sexo masculino, e outro na adolescência, com incidência maior no sexo feminino (igualando a prevalência na idade adulta), reforçou a ideia de que o Transtorno obsessivo-compulsivo é um transtorno heterogêneo e que o início precoce do quadro poderia subdividir os pacientes em um subgrupo mais homogêneo.

SEU FILHO É BIPOLAR?


 
CONHECENDO O INIMIGO
No passado, o transtorno bipolar era conhecido pelo nome de psicose maníaco-depressiva, uma doença psiquiátrica caracterizada por alternância de períodos de depressão e de hiperexcitabilidade ou mania. Nesta fase, a pessoa apresenta modificações na forma de pensar, agir e sentir e vive num ritmo acelerado, assumindo comportamentos extravagantes como sair comprando compulsivamente tudo o que vê pela frente, ou então investindo em empreendimentos acreditando que renderão lucros vertiginosos, ou envolvendo-se em experiências perigosas sem levar em conta o mal que podem causar.
Sabe-se que os transtornos bipolares estão associados a algumas alterações funcionais do cérebro, que possui áreas fundamentais para o processamento de emoções, motivação e recompensas. É o caso do lobo pré-frontal e da amígdala, uma estrutura central que possibilita o reconhecimento das expressões fisionômicas e das tonalidades da voz. Junto dela, está o hipocampo que é de vital importância para a memória. A proximidade dessas duas áreas explica por que não se perdem as lembranças de grande conteúdo emocional. Por isso, jamais nos esquecemos de acontecimentos que marcaram nossas vidas, como o dia do casamento, do nascimento dos filhos ou do lugar onde estávamos quando o Brasil ganhou o campeonato mundial de futebol.
Outro componente envolvido com os transtornos bipolares é a produção de serotonina no tronco-cerebral (o cérebro arcaico), uma substância imprescindível para o funcionamento harmonioso do cérebro.

DISCUTINDO A NOMENCLATURA
Drauzio Por que, nos anos 1980, a antiga psicose maníaco-depressiva passou a chamar-se transtorno bipolar?

Valentim Gentil Fº
– Analisando separadamente os elementos que compõem esse nome, pode-se dizer que a palavra psicose carrega a conotação de estigma, isto é, de marca infamante, vergonhosa. Maníaco, por sua vez, é um termo técnico derivado do grego e significa loucura. De fato, na fase de hiperexcitabilidade, o indivíduo é o estereótipo do louco, já que suas atitudes destoam, e muito, do padrão normal de seu comportamento. Depressivo era o termo mais brando dos três e que menos impacto causava. Por isso, considerou-se que a expressão psicose maníaco-depressiva era pesada demais para designar uma doença que, de certa forma, não era tão terrível quanto o nome fazia supor. Na verdade, trata-se de um transtorno de humor que oscila entre o polo da euforia, da mania ou da hipomania, do qual faz parte esse comportamento excitado e desorganizado, e o polo da depressão, retomando a pessoa depois o equilíbrio sem grandes prejuízos comportamentais nem na integração das emoções e dos pensamentos.

De qualquer modo, a palavra psicose não era de todo descabida porque, durante a crise, algumas pessoas ficam realmente psicóticas, ou seja, apresentam uma afecção muito grave da psique com alucinações e delírios, o grau extremo desse transtorno de humor. A partir do momento, porém, em que essa afecção grave recebe tratamento eficaz e adequado, o quadro torna-se benigno a tal ponto que é possível conviver com pessoas portadoras de transtorno bipolar de humor sem identificar o problema.
A mudança de nomenclatura ocorreu, então, para diminuir o estigma e para estabelecer distinção entre esse tipo de transtorno e as depressões unipolares que nunca evoluem para a fase de euforia, de mania ou hipomania. Além disso, essa distinção foi importante para verificar se biologicamente as patologias eram diferentes e, portanto, exigiam condutas especiais de tratamento.

EUFORIA PATOLÓGICA
Drauzio Todos atravessamos na vida fases de grande euforia e de grandes tristezas. Como diferenciar o quadro normal do patológico?

Valentim Gentil Fº
– Em psiquiatria, os termos ainda não atingiram a especificidade necessária. Por exemplo, etimologicamente, a palavra euforia quer dizer humor normal, bom humor. Se o indivíduo está eufórico no carnaval, no dia do aniversário ou porque ganhou um prêmio ou um campeonato, isso nada tem de anormal nem de patológico. O que chama a atenção é a desproporção entre as circunstâncias e as reações, ou seja, o comportamento é desproporcional aos fatos ou inadequado ao ambiente. A pessoa está alegre e eufórica, quando nada ao redor justifica tais sentimentos. Como sua autocrítica está comprometida, age como se estivesse (e não está) sob o efeito do álcool ou de drogas. Seu pensamento fica acelerado e desorganiza-se de tal modo, que os assuntos surgem em tumulto e é difícil acompanhar sua linha de raciocínio.

Drauzio Dê um exemplo para ficar mais claro.
Valentim Gentil Fº
– Existe um filme em que uma das personagens, Mr. Jones, assume o comportamento típico desses pacientes. Nas crises de euforia, os portadores de transtorno bipolar apresentam menor necessidade de sono. Mr. Jones levantava-se às 4h da manhã e, sem se incomodar com o descanso alheio, ligava o rádio bem alto como se as atividades por ele programadas para aquele dia interessassem a todos. Noutros momentos, julgando-se dono de um poder extraordinário, subia no telhado certo de que poderia alçar voo. Nessas crises de agitação, mexia com as pessoas e falava tão depressa que ninguém conseguia acompanhar seu pensamento. Às vezes, apesar da genialidade aparente, expunha-se a riscos desnecessários e descabidos.

Em geral, as famílias logo percebem que alguma coisa mudou e a pessoa também pode notar a diferença. Isso é de extrema importância como sinal de alerta. Na medida em que o próprio indivíduo e os familiares se dão conta dessa liberação exagerada de energia e humor, algumas providências podem ser tomadas para reverter o quadro. Se, porém, o problema passar despercebido ou for negado, as consequências poderão ser desastrosas. O frenesi e desorganização mental, depois de algumas semanas, podem provocar um estado de exaustão perigoso e as pessoas mais idosas correm o risco de descompensação metabólica ou de crises de hipertensão.
É importante repetir que, apesar de bem no início a sensação de euforia, de prazer, de energia, de percepção aguçada, inteligência viva e criatividade ser muito agradável, ela pode representar perigo, chegando a constituir, no passado, uma das causas importantes de mortalidade.
FATORES GENÉTICOS E AMBIENTAIS
Drauzio Filhos de pessoas com transtorno bipolar apresentam possibilidade maior de desenvolver essa patologia?

Valentim Gentil Fº
– Sabe-se, desde a Antiguidade, que a existência de um caso de transtorno bipolar numa família aumenta a possibilidade de que a enfermidade se manifeste em outros membros da mesma família. O desenvolvimento da genética permitiu analisar grande número de gêmeos nos quais a patologia torna-se mais evidente. Gêmeos idênticos, ou monozigóticos, possuem genoma absolutamente igual, mas apenas em 80% dos casos os dois irmãos apresentam quadros de euforia e depressão. Embora a porcentagem seja elevada, 20% não manifestam o problema. Cabe perguntar, então, se fatores extragenéticos interferem nesse resultado. Sim e não. Uma vez que ninguém expressa seu genoma completamente, pode-se deduzir que, apesar da carga genética idêntica, só num dos gêmeos ela encontrou as condições necessárias para o desenvolvimento da patologia que certamente depende da interação de tais fatores com o ambiente. Não se pode deixar de considerar também que, além da predisposição e vulnerabilidade geneticamente determinadas, certas situações contribuem para a eclosão ou precipitação do problema.

DrauzioQuais os fatores ambientais mais importantes?

Valentim Gentil Fº
– As evidências indicam que, nos últimos anos, cresceu a incidência desses quadros. Será que aprendemos a diagnosticá-los melhor? Pouco provável, pois algumas descrições do transtorno bipolar datam de 2.500 anos atrás, época em que os termos mania e melancolia já eram empregados. Por outro lado, descrições de médicos, no início da era cristã, são idênticas às que encontramos hoje nos melhores livros de psiquiatria.

Por que, então, a prevalência de uma doença tão robusta e evidente, tão antiga e bem descrita, está aumentando? Uma das possibilidades é que alguns acontecimentos e atitudes podem precipitar a ocorrência de distúrbios do humor. Hoje, estamos submetidos a uma carga maior de estresse, dormimos menos e consumimos mais substâncias lícitas e ilícitas que interferem no humor. Quer um exemplo? O uso de remédios para emagrecer ou de cafeína é mais frequente e maior agora do que era no passado.
Outro exemplo? O puerpério é uma fase em que é maior o risco de surgirem quadros de depressão e euforia. Para as mulheres, as explicações são muitas: oscilação dos hormônios, parto, nascimento do bebê. Como explicar, porém, a manifestação da doença nos maridos? Certamente, a emoção, a privação do sono, a expectativa, a atmosfera festiva do nascimento desencadeiam a crise, confirmando que a interação de fatores ambientais, constitucionais e genéticos é de extrema importância.
Ninguém deve viver numa redoma, mas, se as pessoas levassem em conta que o sistema nervoso é bastante delicado e precisa ser tratado com respeito, talvez a incidência de casos de transtorno afetivo fosse menor do que é atualmente.

Drauzio – Existe relação clara entre o uso de cafeína e o transtorno bipolar?

Valentim Gentil Fº
– O uso excessivo de cafeína pode produzir convulsão e algumas pessoas ingerem, todos os dias, quantidades absurdas dessa substância. Cheguei a conhecer uma que tomava 14 litros de coca-cola num único dia e era difícil distinguir seu comportamento do de um indivíduo com transtorno bipolar.

E para que as pessoas usam cafeína? Para ficarem acordadas, com mais energia e ânimo, mais alerta. Trata-se, então, de um agente externo, consumido como se fosse alimento, que estimula o humor. No que se refere às drogas ilícitas (cocaína, crack, anfetaminas), seu uso aumenta o risco de desenvolver a primeira crise, assim como aumenta a frequência das recorrências, que tendem a tornar-se autônomas, fenômeno já apontado na Antiguidade.
IMPORTÂNCIA DP DIAGNÓSTICO PRECOCE
Drauzio – O diagnóstico de transtorno bipolar em crianças e adolescentes, pouco frequente no passado, cresceu bastante nos últimos tempos. O que justifica essa mudança?

Valentim Gentil Fº
– Trabalho com transtorno do humor desde que me formei, há 32 anos, e só me dei conta de que ele pode manifestar-se na infância há cerca de 10 anos. Por circunstâncias diversas, os psiquiatras de adultos receberam menor
treinamento em psiquiatria infantil, uma área na qual ainda predominam conceitos talvez já superados. Por isso, os casos de transtorno bipolar ficavam mais evidentes na adolescência quando, em geral, era feito o diagnóstico. No entanto, se enfocarmos a história desses adolescentes e ouvirmos seus pais, encontraremos evidências muito precoces de alteração de humor, irritabilidade, distúrbio do sono e hiperatividade. Hoje, está em voga atribuir tais sintomas apenas aos distúrbios de atenção e à hiperatividade (TDAH) e existem programas inteiros dedicados ao reconhecimento e tratamento dessas manifestações. Em muitas crianças, porém, eles podem estar relacionados com o transtorno bipolar, particularmente se a frequência dessa patologia é alta na família.
Essa visão tornou-se tão importante que existe um site [www.bpkids.org] por meio do qual os parentes chamam a atenção de médicos, psicólogos e professores para o comportamento conturbado dessas crianças que mudam de humor várias vezes num mesmo dia.

DrauzioNesse ponto, elas são diferentes dos adultos que apresentam ciclos de depressão e hiperatividade mais longos.

Valentim Gentil Fº
– É verdade, nos adultos os ciclos são mais longos e chama-se ciclagem rápida quando se repetem quatro vezes num ano, sinal de maior gravidade e complexidade do quadro. Imagine, agora, uma criança que apresente 1500 ciclos por ano, porque mais de quatro ela pode ter facilmente num dia. Essa criança de comportamento imprevisível, inquieta física e mentalmente, não tem distúrbio de atenção, tem transtorno bipolar. Por isso, se não distinguirmos a criança apenas rebelde e desafiadora da que tem um temperamento desfavorável, hostil e irritado, porque é portadora de transtorno de humor bipolar, e quisermos educá-la com severidade exagerada, ela reagirá negativamente. Esse transtorno requer tratamento adequado. Provavelmente, na história da humanidade, muita gente com predisposição para a doença e que manifestou um distúrbio de personalidade muito grave, se tivesse sido atendida de modo conveniente, teria desenvolvido uma forma mais branda da enfermidade.

Oassunto é tão importante que a revista Time destacou o transtorno bipolar na infância como matéria de capa na edição do dia 19 de setembro de 2002.
TRANSTORNO BIPOLAR E CRIATIVIDADE
Drauzio Edgar Allan Poe, Van Gogh, Schuman, Churchill, grandes homens da história e das artes, tinham transtorno bipolar. Qual a relação entre a criatividade e essa doença?

Valentim Gentil Fº
– Interessante que essa relação entre transtorno bipolar de humor –euforia e melancolia – e criatividade já era abordada por Aristóteles que indagava (pelo menos, a pergunta é atribuída a ele) por que tantos homens ilustres da filosofia, da matemática e das artes apresentavam essa característica. De acordo com alguns depoimentos, estados depressivos favorecem a percepção de um universo que em estado normal seria impossível apreender e a euforia estimula a criatividade. No entanto, pesquisas realizadas nos últimos 20 anos, sugerem que essa hipótese não é verdadeira. Elas apontam que, na maioria dos casos, a criatividade é uma característica genética encontrada também nos parentes próximos que não são doentes .

Quem estudou esse tema de forma bastante original foi Kay Jamison, uma psicóloga portadora de transtorno bipolar e uma das personalidades mais conhecidas na área. Em seu livro autobiográfico “Uma mente inquieta”, publicado há alguns anos e traduzido para o português, a autora relata que só se acertou na vida quando se deu conta do que tinha e pôde tomar medidas preventivas e de precaução, como tomar lítio, que evitassem as crises.
Em outro livro, “Touched with Fire”, ainda não traduzido para o português, ela analisa a biografia de grandes líderes políticos, religiosos, militares, intelectuais e artistas e registra o que falavam e sentiam nos momentos de depressão e de euforia. Um escritor inglês, por exemplo, julgava a depressão não uma inspiração dos deuses, mas uma poeira que recobria o cérebro. Van Gogh, que se matou aos 37 anos com um tiro no peito, atravessava um período de extrema melancolia quando pintou seu último quadro – corvos num campo de trigo. No verão daquele mesmo ano, atravessando uma fase de grande euforia, o tema de um quadro psicodélico é uma fantástica noite estrelada.
Diante das possibilidades de tratamento que existem hoje, teria sido oferecido a Van Gogh, no mínimo, o direito de optar se desejava continuar pintando obras-primas nos estados de euforia e depressão ou se preferia tomar lítio, acalmar as crises e não correr o risco de morrer precocemente.

Drauzio Que opções você me ofereceria se, na situação de Van Gogh, eu preferisse continuar pintando quadros magníficos, apesar dos inconvenientes das crises, a ser tratado e perder a inspiração?

Valentim Gentil Fº
– Eu lhe ofereceria minha amizade e compaixão. Foi o que fez o dr. Gachet, grande pintor e médico de Van Gogh, que só contava com o Digitallis para cuidar do amigo. Dizem até que Van Gogh usou tanto o amarelo em suas obras, porque tomou esse remédio em demasia.

Vale considerar que o dr. Gachet não tinha outra opção de tratamento naquela época e o resultado foi a perda de um grande gênio. Hoje, no entanto, ele poderia propor várias alternativas de tratamento. Será que Van Gogh escolheria continuar pintando no estado psicótico que o levou a cortar uma orelha e a dar um tiro no peito, ou preferiria pintar em estado normal, controlando formas e pincel do jeito maravilhoso que sabia fazer? Para tanto, bastava que concordasse em tomar lítio. Talvez nas primeiras semanas, até acertar a dosagem adequada para seu organismo, seu desempenho em alguma área caísse um pouco, mas o risco de suicídio ficaria sete vezes menor com o tratamento.

POSSIBILIDADES DE TRATAMENTO
DrauzioHá tratamentos eficazes para o transtorno bipolar atualmente?

Valentim Gentil Fº
– Há tratamentos tão eficazes quanto os existentes em qualquer outra área da medicina. Sua aplicação possibilita, em poucas semanas, reverter um quadro grave de euforia. A doença não tem cura, mas as pessoas melhoram, recebem alta e reassumem suas atividades. Se não se expuseram demais e não ficaram estigmatizadas pelo comportamento aberrante, serão acolhidas como alguém que teve um desequilíbrio metabólico qualquer ou uma ausência provocada pela ingestão de drogas. Isso se consegue com medicamentos (neurolépticos, antipsicóticos, estabilizadores do humor) e a retirada de certas substâncias (cafeína, cocaína, anfetaminas) que agravam o quadro. O risco de recaída ou de evoluir para depressão existe e é preciso estar atento ao uso de medicamentos antidepressivos que, embora eficazes, podem precipitar uma virada indesejável para a euforia ou acelerar a frequência das crises.

Em se tratando do lítio, o incrível é que os médicos do Império Romano encaminhavam seus pacientes com mania e melancolia para uma estação de águas ricas em lítio. Mesmo desconhecendo a existência dessa substância, haviam percebido que ali eles reagiam melhor do que noutras termas. Outro ponto importante é que o lítio é uma substância tóxica presente em doses bem baixas no organismo. Usado em doses adequadas, porém, é capaz de reverter os quadros de euforia e evitar as recorrências. Tomando lítio, os pacientes podem levar vida normal e dar asas à criatividade.
Drauzio – A pessoa precisa sempre estar medicada para levar vida normal?

Valentim Gentil Fº
– Por quanto tempo a pessoa deve tomar lítio para levar vida normal é discussão constante na literatura. Nos EUA, existe um centro de informações do qual constam 35.000 artigos que tratam da utilização do lítio nos mais diferentes campos, entre eles, a prevenção da recorrência dos transtornos bipolares. Além disso, está provado que a associação do lítio com anticonvulsivantes e antidepressivos previne recaídas. O lastimável, porém, é que apenas uma parcela pequena da população tenha acesso a esse tratamento.


Drauzio – O problema talvez não seja apenas dificuldade de acesso, mas o número insuficiente de profissionais com conhecimento e habilidade para lidar com essas drogas e atender tantos pacientes, não é?

Valentim Gentil Fº
– Esse é um problema mundial. Mesmo nos EUA, onde existem mais recursos, os residentes de psiquiatria não aprendem a usar lítio adequadamente. Segundo seus professores americanos, seria necessário que acompanhassem a evolução dos pacientes durante seis meses ou um ano, para inteirar-se das nuances do tratamento porque o lítio é tóxico e, se não for usado direito, não funciona. Como isso não é possível, eles preferem treinar os residentes para usar anticonvulsivantes que, na maioria dos casos, são desnecessários, causam efeitos colaterais e, a longo prazo, não apresentam os bons resultados do lítio. Por paradoxal que pareça, nem mesmo tendo representado uma economia de 150 bilhões de dólares, porque a indicação do lítio no tratamento dos transtornos afetivos evitou internações, violência, suicídios, ele ainda não é usado adequada e regularmente nos EUA.

No Brasil, infelizmente, não existem programas de prevenção com o uso de lítio nem treinamento de residentes a não ser em alguns centros universitários que possuem clínicas especializadas em transtorno bipolar, como o Hospital das Clínicas, a Escola Paulista de Medicina e algumas outras universidades paulistas e brasileiras. Diante da dimensão do problema, existir um programa de prevenção deveria estar a cargo da Saúde Pública.
TRANSTORNO BIPOLAR NA INFÂNCIA
Drauzio – Observando o comportamento dos filhos, como os pais podem identificar sinais de transtorno bipolar?

Valentim Gentil Fº
– Se, desde que nasceu, a criança apresenta um temperamento mais eufórico, é cheia de energia e criatividade, mas não perturba ninguém nem a si mesma, isso faz parte de sua personalidade, é normal e não deve ser coibido.

Agora, se ela é instável demais e repentinamente oscila entre a euforia e a depressão, a apatia e a hiperatividade, se nada justifica seu estado de excitação e euforia, a falta de sono, a empolgação e há casos de transtorno bipolar ou mesmo de depressões decorrentes na família, os pais devem procurar ajuda. O problema, porém, é o risco de encontrar apenas quem dê explicações lógicas para o comportamento da criança. A lógica pode explicar muita coisa, mas nem tudo o que é lógico é normal. As professoras e orientadoras explicam o que acontece na escola e a própria dinâmica familiar serve de explicação para o comportamento infantil. Por isso, é sempre recomendado consultar um pediatra, embora infelizmente muitos ainda não estejam preparados para reconhecer os sintomas do transtorno. Na verdade, entre a manifestação dos primeiros sinais e o diagnóstico, às vezes, transcorrem mais de dez anos.

TRANSTORNO BIPOLAR NA ADOLESCÊNCIA
Drauzio – Você disse que as crianças têm múltiplos episódios de depressão e excitação num único dia e que, nos adultos, a doença manifesta-se em ciclos bem mais longos. E na adolescência, o que acontece?

Valentim
Gentil Fº – Na adolescência, o quadro clínico costuma surgir a partir dos 15 anos e tem características muito diferentes das que se observam na infância. O pico de incidência, porém, ocorre entre 18 e 25 anos.

É nesse período que, em geral, os jovens estão sob maior estresse, mais inseguros e indefinidos, violentamente bombardeados pelos hormônios. É também nesse período da vida que se expõem mais a comportamentos de risco, a sexualidade explode e as drogas o seduzem. É nesse período, portanto, que fatores ambientais, constitucionais e genéticos interagem favorecendo a eclosão do transtorno bipolar.
Nessa fase, o diagnóstico é mais fácil, porque se trata de um quadro descrito há 2.500 anos. É na infância que a dificuldade se acentua. A tendência é reprimir a criança, tentar educá-la à força ou atribuir a responsabilidade por seu comportamento inadequado aos pais, aos irmãos, à escola ou aos amigos. O caso se complica ainda mais porque não se tem certeza de que tais quadros de transtorno sejam biologicamente equivalentes, isto é, se o aparecimento na infância é simplesmente a manifestação precoce de uma patologia que iria acontecer mais tarde no adolescente ou no adulto, ou se é algo mais intrincado do ponto de vista neurofisiológico.
É importante observar que o transtorno de humor bipolar pode aparecer pela primeira vez em qualquer idade: na criança, no adolescente, no adulto ou no idoso. Nada impede que um indivíduo de 60 anos, muito criativo, energético, envolvido em grandes projetos e intensa atividade, de repente desencadeie o processo por um motivo qualquer. Isso aconteceu com personalidades famosas de nossa história que tiveram o quadro deflagrado, quando eram mais velhas, e só então descobriram que sua energia e dinamismo tinham pontos em comum com a predisposição para a doença. Em vista disso, independentemente da idade, quanto mais rápido ela for diagnosticada, menos irá interferir na estruturação da personalidade das crianças, no caráter do adolescente, nas relações profissionais e familiares do adulto e na imagem do indivíduo com mais idade.
COMPORTAMENTO FAMILIAR
Drauzio – O que deve fazer a família diante de um caso como esses?

Valentim Gentil Fº
– Antes de tudo é preciso combater o medo, porque é ele que aparece primeiro. Depois, é tentar não agir agressivamente contra a pessoa na fase de euforia. No começo, ela é até engraçada, de pensamento ágil, criativa. Se os familiares não estiverem inseguros e temerosos, poderão convencê-la a procurar atendimento para um diagnóstico diferencial, a fim de eliminar possíveis causas imediatas da doença. Se a intervenção ocorrer em 48 ou 72 horas, praticamente não haverá prejuízo. O primeiro remédio que se receita hoje é uma visita a sites da internet especializados em informar as pessoas sobre a regulação do humor, porque isso é fundamental na manutenção do tratamento.

Drauzio – Existe, no Brasil, alguma associação de apoio a esses pacientes?

Valentim Gentil Fº
– Existe a ABRATA, Associação Brasileira de Transtornos Afetivos, que tem site na internet . Essa associação congrega familiares, amigos e portadores de transtorno do humor, tanto o da depressão quanto o bipolar, e é importante na medida em que procura trocar informações e fornecer elementos inclusive para os profissionais de saúde mental sobre a natureza e tratamento adequado da doença.

Nos Estados Unidos, o órgão equivalente à ABRATA conta com 500 sedes espalhadas pelo país e que prestam serviço semelhante ao da associação brasileira.

SEU FILHO É BIPOLAR?
Não existem testes padronizados para transtorno bipolar, mas esta lista, adaptada do livro “The Bipolar Child”, pode ajudá-lo a reconhecer alguns sinais de alerta. Assinale os comportamentos que seu filho atualmente apresenta ou apresentou no passado. Se você assinalar mais de 20 itens, ele deveria ser examinado por um profissional da área.
Seu filho:
1- Fica aflito demais quando separado da família;
2- Demonstra ansiedade ou preocupação excessiva;
3- Tem dificuldade para levantar-se pela manhã;
4- Fica hiperativo e excitável à tarde;
5- Tem sono agitado ou dificuldade para conciliar o sono;
6- Tem terror noturno ou acorda muitas vezes no meio da noite;
7- Não consegue concentrar-se na escola;
8- Tem caligrafia pobre;
9- Tem dificuldade em organizar tarefas;
10- Tem dificuldade em fazer transições;
11- Reclama de sentir-se aborrecido;
12- Tem muitas ideias ao mesmo tempo;
13- É muito intuitivo ou muito criativo;
14- Distrai-se facilmente com estímulos externos;
15- Tem períodos em que fala excessiva e muito rapidamente;
16- É voluntarioso e recusa-se a ser subordinado;
17- Manifesta períodos de extrema hiperatividade;
18- Tem mudanças de humor bruscas e rápidas;
19- Tem estados de humor irritável;
20- Tem estados de humor vertiginosamente alegres ou tolos;
21- Tem ideias exageradas sobre si mesmo ou suas habilidades;
22- Exibe um comportamento sexual inapropriado;
23- Sente-se facilmente criticado ou rejeitado;
24- Tem pouca iniciativa;
25- Tem períodos de pouca energia, ou alheamento, ou se isola;
26- Tem períodos de dúvida sobre si mesmo ou de baixa estima;
27- Não tolera demoras ou atrasos;
28- Persegue obstinadamente suas próprias necessidades;
29- Discute com adultos ou é mandão;
30- Desafia ou se recusa a cumprir regras;
31- Culpa os outros por seus erros;
32- Enerva-se facilmente quando as pessoas impõem limites;
33- Mente para evitar as consequências de seus atos;
34- Tem acessos de raiva ou fúria explosivos e prolongados;
35- Tem destruído bens intencionalmente;
36- Insulta cruelmente com raiva;
37- Calmamente faz ameaças contra outros ou contra si mesmo;
38- Já fez claras ameaças de suicídio;
39- É fascinado por sangue ou coágulos;
40- Já viu ou ouviu alucinações.

POSSIBILIDADES DE TRATAMENTO NA INFÂNCIA

Tratar crianças com transtorno bipolar não é fácil, mas, atualmente, pelo menos é possível. O primeiro passo, em geral, é prescrever medicamentos. Depois vem a psicoterapia individual, a terapia familiar e as mudanças no estilo de vida.

RECURSOS TERAPÊUTICOS
Lítio – O tradicional esteio, atenua os sintomas através da regulação dos neurotransmissores, mas não funciona para todas as pessoas.

Medicamentos anticonvulsivantes – Inicialmente usados no tratamento da epilepsia, esses medicamentos ajudam a controlar as crises de mania.

Antipsicóticos atípicos – Medicamentos utilizados para ajudar os esquizofrênicos a vencerem os delírios podem fazer o mesmo pelos bipolares.

Antidepressivos – Apresentam o risco de aumentar os ciclos do transtorno bipolar, mas seu uso pode ser necessário como parte da associação de medicamentos.

Estilo de vida – Rotinas como, por exemplo, a fixação dos horários de dormir e acordar, são fundamentais; o uso de cafeína deve ser restringido e os adolescentes devem evitar o uso de drogas e álcool.

Psicoterapia individual – Crianças precisam de aconselhamento para ajudá-las a equilibrar o sono, a alimentação, o trabalho e a diversão; precisam também falar sobre problemas em casa e resolver conflitos que possam desencadear as crises.

Terapia familiar – Os pais devem aprender quando ceder – isto é crucial no início do tratamento – e quando devem ser firmes. Contendas ou disputas familiares devem ser reduzidas ao mínimo. Os irmãos podem servir como olhos e ouvidos confiáveis para uma criança cujas percepções estão confusas.

 
Valentim Gentil Fº é professor da USP

Grandes e pequenas mulheres


Há mulheres de todos os gêneros. Histéricas, batalhadoras, frescas, profissionais, chatas, inteligentes, gostosas, parasitas, sensacionais. Mulheres de origens diversas, de idades várias, mulheres de posses ou de grana curta. Mulheres de tudo quanto é jeito. Mas se eu fosse homem prestaria atenção apenas num quesito: se a mulher é do tipo que puxa pra cima ou se é do tipo que empurra pra baixo.

Dizem que por trás de todo grande homem existe uma grande mulher. Meia-verdade. Ele pode ser grande estando sozinho também. Mas com uma mulher xarope ele não vai chegar a lugar algum.

Mulher que puxa pra cima é mulher que aposta nas decisões do cara, que não fica telefonando pro escritório toda hora, que tem a profissão dela, que o apóia quando ele diz que vai pedir demissão por questões éticas e que confia que vai dar tudo certo.

Mulher que empurra pra baixo é a que põe minhoca na cabeça dele sobre os seus colegas, a que tem acessos de carência bem na hora que ele tem que entrar numa reunião, a que não avaliza nenhuma mudança que ele propõe, a que quer manter tudo como está.

Mulher que puxa pra cima é a que dá uns toques na hora de ele se vestir, a que não perturba com questões menores, a que incentiva o marido a procurar os amigos, a que separa matérias de revista que possam interessá-lo, a que indica livros, a que faz amor com vontade.

Mulher que empurra pra baixo é a que reclama do salário dele, a que não acredita que ele tenha taco pra assumir uma promoção, a que acha que viajar é despesa e não investimento, a que tem ciúmes da secretária.

Mulher que puxa pra cima é a que dá conselhos e não palpite, a que acompanha nas festas e nas roubadas, a que tem bom humor.

Mulher que empurra pra baixo é a que debocha dos defeitos dele em rodinhas de amigos e que não acredita que ele vá mais longe do que já foi.

Se por trás de todo grande homem existe uma grande mulher, então vale o inverso também: por trás de um pequeno homem talvez exista uma mulher pequena.
Martha Medeiros


. Crise? Que crise?

TUDO QUE O PSDB E SEUS ALIADOS PRECISAM É DE UMA MARINA SILVA TRANSFORMADA EM VÍTIMA E DE UMA CRISE FABRICADA ATRÁS DA OUTRA ATÉ 2014 PARA PODEREM SONHAR...

Joaquim Barbosa, Renan Calheiros, Dilma Roussef e 
Michel Temer. Crise? Que crise?


Logo após o primeiro turno da eleição presidencial em 2010, quando ficou definida a disputa entre Dilma Roussef e Serra,  em uma das minhas caminhadas no mercado municipal de Campinas parei em uma pastelaria e pude ouvir a conversa de dois evangélicos que também frequentavam a pastelaria. Eles conversavam sobre religião e política, com destaque para o desfecho da eleição presidencial, com a ida de Serra para o segundo turno e não de Marina Silva, a candidata deles. Percebi na conversa deles que não existia a menor possibilidade votarem em Serra, pelo que ouvi ficou claro a identificação do candidato tucano com o tempo de FHC e a situação de miserabilidade que tinham vivido, fiquei por perto e eles continuaram comentando que apesar de admirarem muito o então Presidente Lula, não nutriram a mesma confiança em relação a sua candidata Dilma Roussef, principalmente pelo fato de que não conheciam a candidata bem e também porque tinham ouvido falar na igreja deles e na Internet que Dilma poderia ser perigosa por ser ex-guerrilheira e “ser a favor do aborto e não ter religião” (na opinião deles).
Eles tinham votado em Marina Silva no Primeiro Turno, mas relevaram que se Dilma Roussef tinha ido para o Segundo Turno e de acordo com a conversa deles isso foi “a vontade de Deus”, então Dilma não era aquilo que tinham achado, nesse caso o voto deles no segundo turno seria de Dilma.
Ora, todo mundo sabe que Dilma Roussef e Michel Temer foram alvos de ataques, principalmente na Internet, orquestrados na campanha de José Serra em 2010. A confusão criada na cabeça dos eleitores mais religiosos provocada por ataques apócrifos ficou evidente. Em nenhum momento a campanha eleitoral de Serra assumiu os ataques, mas que eles vinham do candidato tucano, que para isso até contratou um profissional, não resta a menor dúvida.
Por isso mesmo afirmo e de forma categórica que essa idéia de que Marina Silva é uma candidata muito forte a Presidência da República tem que ser mitigada porque a conjuntura de 2010 não será a mesma de 2014. A realidade esta sempre em movimento.
O que se observa hoje, a mais de um ano da eleição presidencial é que devido ao fato da Presidenta Dilma Roussef gozar de altos índices de popularidade, na casa dos 80% de aprovação, mesmo que o Brasil esteja inserido em um cenário de crise mundial com crescimento menor, a aprovação do Governo continua em alta com grandes possibilidades de reeleição da presidenta.
Mantida esta conjuntura as chances da oposição ficam reduzidas, pois não existirão as condições básicas e objetivas para que ela vença o debate político. Ou seja, guardadas as devidas proporções, estaremos na mesma situação de 2010, o que significa que será necessário um clima de crises, uma acontecendo após a outra, para modificar a perspectiva de conjuntura.
Por isso mesmo, a partir de agora qualquer crise será bem vinda para a oposição e seus aliados, principalmente na mídia tradicional, para criar um clima onde a emoção transcenda a razão para que uma candidatura Marina Silva possivelmente alçada a condição de vítima de seus adversários possa ser resgatada no imaginário popular para cumprir seu papel, ou seja, provocar novamente um segundo turno em 2014. É com isso que sonha a oposição.
Para o PSDB e seus aliados, Marina Silva é colírio nos olhos, precisa ser transformada em vítima, pouco importa se a emenda do Deputado Federal Edinho Araújo poderá significar um avanço rumo a tão sonhada reforma política, Marina e seu Rede precisam ser defendidos a qualquer preço.
E Eduardo Campos? Bem esse é um caso sério porque na realidade fica cada vez mais difícil para ele explicar porque esta vestindo a casaca de oposicionista se é tão identificado com o projeto político que governa o Brasil desde 2003 e nesse caso o risco que ele corre é de se diluir no processo sendo absorvido pelo fato de não conseguir ser nem governo e nem oposição.
Assim, voltando aos evangélicos do inicio deste texto, fica a impressão de que Marina Silva, o PSDB e seus aliados e, até mesmo Eduardo Campos, na realidade enxergam esses eleitores apenas como simples massa de manobra e nada mais.
Flávio Luiz Sartori - flavioluiz.sartori@gmail.com

A ficha secreta do presidente do Paraguai

ISTOÉ teve acesso ao prontuário de Horácio Cartes, o qual havia sido apagado dos registros da Justiça paraguaia. Documentos revelam prisão por evasão de divisas e processos por falsidade ideológica, falsificação de documentos e estelionato

Sérgio Pardellas e Mariana Queiroz Barboza

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No domingo 21, o milionário Horácio Cartes foi eleito o novo presidente do Paraguai com 46% dos votos, mas debaixo de uma enxurrada de acusações. Aos 56 anos, Cartes é um nome novo na política paraguaia – só se filiou a um partido, o Colorado, em 2009 –, mas velho conhecido das páginas policiais. Durante a campanha eleitoral, seus adversários enfileiraram pesadas denúncias. Entre as mais graves delas constavam o contrabando de cigarros, lavagem de dinheiro, por operações supostamente ilegais mantidas pelo Banco Amambay, de sua propriedade, e evasão de divisas. Nada do que lhe é imputado, porém, aparece nos registros da Justiça do Paraguai. Para o Judiciário paraguaio, Cartes é um homem limpo e sem antecedentes criminais. “Podem ir à Justiça e checar. Não há uma única denúncia contra mim”, repetiu como um mantra o candidato do Partido Colorado durante as eleições. Conservada em absoluto sigilo há quase dez anos na residência de uma autoridade da Justiça daquele país, a ficha criminal do novo presidente do Paraguai, obtida por ISTOÉ, revela outra realidade. Além de mostrarem que sua biografia é um verdadeiro prontuário policial, os documentos derrubam a versão apresentada durante a campanha de que ele teria sido processado e preso quando o Paraguai esteve submetido a um regime ditatorial e de exceção, durante o governo do general Alfredo Stroessner (1954-1989).
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FOLHA CORRIDA
Documento obtido por ISTOÉ traz descrição de
Horácio Cartes, fotos e digitais colhidas quando ele foi preso, em 1989
O prontuário de Horácio Cartes é composto por três folhas. Numa delas, sob o registro 614006 e o timbre da Polícia Nacional paraguaia, estão contidas as referências de Horácio Cartes – como filiação, data de nascimento, número da identidade –, sua foto e digitais colhidas no dia em que ele deu entrada no presídio nacional de Tacumbú, situado na periferia de Assunção, capital paraguaia. Segundo a folha corrida do novo presidente do Paraguai, ele esteve preso, depois de condenado por evasão de divisas, durante seis meses, entre 27 de abril de 1989, portanto durante o período de redemocratização paraguaia (governo do general Andrés Rodrigues), e 8 de outubro do mesmo ano. A ficha policial que expõe os segredos de Horácio Cartes teria sido apagada dos registros judiciais do Paraguai durante o governo do jornalista Nicanor Duarte (2003-2008). O pedido de eliminação do prontuário teria partido do próprio Cartes, segundo fontes do Judiciário local, um dos principais financiadores da vitoriosa campanha de Nicanor. Uma juíza, no entanto, resolveu guardar uma cópia da documentação, que agora vem à tona, em sua residência em Assunção. A julgar pelo teor da papelada, até agora secreta, o presidente do Paraguai tinha mesmo motivos de sobra para temer a exposição de suas passagens pela Justiça. Em 1996, segundo o documento obtido por ISTOÉ, Cartes respondeu a processo por falsificação de instrumentos públicos, falsidade ideológica por operações de importação e estelionato. Em 8 de setembro de 2000, foi acusado de homicídio culposo, por envolvimento num acidente de trânsito. Horácio Cartes ainda respondeu a processo por violação de correspondências em 2002, sete anos antes de ingressar oficialmente na política com a filiação ao Partido Colorado. “Horácio Cartes tem todo o perfil do que não deve ser um presidente”, diz Chiqui Ávalos, que publicou parte da ficha corrida do presidente do Paraguai em seu livro “La Otra Cara de HC”. A publicação ainda não foi lançada no Brasil, mas circulou no Paraguai durante a campanha eleitoral.

A entrada de Cartes na política colocou sua vida particular e empresarial sob os holofotes. As dúvidas vieram não só de seus rivais, mas também de correligionários do próprio partido. A presidente da legenda, Lilian Samaniego, chegou a sugerir que Cartes teria vínculos com grupos do narcotráfico. Não por acaso. Em 2000, um avião monomotor registrado no Brasil foi encontrado em suas terras, carregado de cocaína e maconha. A desculpa usada, então, foi a de que a aeronave havia feito um pouso de emergência e não tinha qualquer relação com o dono do terreno. Nenhuma investigação foi ordenada pela Justiça.
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Outro episódio trazido à baila durante o processo eleitoral o envolveu com o contrabando de cigarros para o Brasil. O novo presidente do Paraguai dirige o Grupo Cartes, um conglomerado de empresas que produzem bebidas, cigarros e charutos. A tabacaria leva o nome de Tabesa. Em junho do ano passado, a Souza Cruz denunciou à chancelaria paraguaia que a participação dos produtos da Tabesa, do Grupo Cartes, corresponde a 41,9% do mercado total de contrabando brasileiro. “Todos os dias, incontáveis caixas de cigarro cruzam as fronteiras, sendo provenientes, em sua maior parte, do Paraguai, sem pagar impostos, abastecendo um próspero mercado paralelo”, diz o documento divulgado pelo jornal paraguaio “Última Hora”. A conclusão da Souza Cruz é de que a Tabesa pratica “concorrência desleal”, já que seus cigarros são vendidos a um preço médio de R$ 1,41, enquanto o produto mais barato da Souza Cruz custa R$ 3. Procurada por ISTOÉ, a Souza Cruz disse que, “por se tratar de uma ação judicial em curso, não fará qualquer comentário sobre o caso”. Estima-se que as empresas de Horácio Cartes produzam três vezes a quantidade de cigarros consumida no Paraguai. Sem atentar para este fato, Cartes recorre a evasivas: “Tudo o que eu produzo, eu vendo e pago imposto.” A organização de controle do tabaco Framework Convention Alliance calcula que o Paraguai deixa de arrecadar US$ 130 milhões por ano por causa da produção ilícita, grande parte oriunda das empresas do presidente.

Outro negócio muito rentável ao Grupo Cartes é a produção do refrigerante Pulp, que compete com a Coca-Cola no mercado paraguaio. Durante a eleição, era comum observar garrafas de Pulp acomodadas sobre as mesas de votação. Para a oposição, tratou-se de uma referência indevida à imagem do então candidato, que também ganhou popularidade no país por sua ligação com outra paixão paraguaia: o futebol. Desde 2001, ele é presidente do Libertad. O clube foi campeão nacional no ano passado, participou das últimas dez edições da Copa Libertadores da América e se tornou uma febre entre os jovens paraguaios. Cartes também é membro do comitê executivo da Associação Paraguaia de Futebol, a CBF do país vizinho. Para tentar neutralizar o efeito pró-Cartes entre os aficionados por futebol, a oposição passou a associá-lo à imagem do enrolado ex-premiê italiano Silvio Berlusconi, presidente do Milan. A estratégia não foi suficiente para reverter os votos necessários para a eleição do adversário Efraín Alegre, do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA). Mas parte expressiva da população já desconfia do que pode estar por vir durante a nova gestão do líder colorado.
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Eleito com um discurso de “renovação” num partido tão calejado por um histórico de ditadura e corrupção – o Partido Colorado sustentou a ditadura de Stroessner por 30 anos –, Cartes entregou a chefia de sua campanha a Francisco Javier Cuadra, ex-ministro e porta-voz do ditador chileno Augusto Pinochet. Cuadra é investigado pelo assassinato de quatro militantes pela central de espionagem do regime de Pinochet. Segundo o jornal paraguaio “E’a”, Cuadra chegou a Assunção pouco antes do juízo político que resultou no impeachment de Lugo, há dez meses, e foi visto muito ativamente assessorando Cartes no período. Desde então, o Paraguai esteve suspenso do Mercosul pela “ruptura da ordem democrática”. Agora, o novo presidente diz que retomar as relações com o bloco comercial é uma prioridade.
Foto: Jorge Saenz/ap
Foto: santi carneri/efe

Um quinto dos homens finge orgasmo, afirma pesquisa

Enquanto as mulheres admitem que seus parceiros sabem que elas estão fingindo, os homens acreditam que estão escapando ilesos da situação Foto: Getty Images
Enquanto as mulheres admitem que seus parceiros sabem que elas estão fingindo, os homens acreditam que estão escapando ilesos da situação
Foto: Getty Images
​Não é segredo para ninguém que muitas mulheres fingem chegar ao orgasmo - em média, 3/4 delas recorrem a esse artifício. No entanto, a novidade é que um quinto dos homens também pode ter se tornado adeptos da prática. As informações são do site Female First

De acordo com a ukmedix.com, que realizou a pesquisa, a situação mais comum em que eles optam por fingir que chegaram ao orgasmo é quando acham que estão demorando muito para chegar lá. Outra razão é não querer que as parceiras percebam que eles não estão curtindo o momento. 

Enquanto as mulheres admitem que seus parceiros sabem que elas estão fingindo, os homens acreditam que estão escapando ilesos da situação. Mais de seis em 10 disseram que elas não têm nem ideia de que eles não estão sendo 100% sinceros. Ainda, 70% de homens e mulheres afirmaram não acreditar que o parceiro já fingiu um orgasmo e 55% disseram que ficariam devastados se descobrissem. 

"Comparar as razões pelas quais homens e mulheres fingem orgasmo foi interessante. Parece que a maioria deles o fazem por vergonha de suas performances, enquando elas recorrem ao método para terminar logo", disse Thomas O'Connell, da ukmedix.com. 


Os jovens criminosos e a maioridade penal

Jovens de 16 anos conquistam novos direitos, mas ainda são tratados como crianças quando cometem crimes. Agora, aumenta a pressão para que recebam penas mais duras quando participam de crimes hediondos ou são reincidentes

Suzana Borin

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Desde 1940, quando a legislação brasileira estipulou a maioridade penal, qualquer jovem com idade inferior a 18 anos é considerado “incapaz”. Em outras palavras, o Estado entende que ele não tem condições de fazer as próprias escolhas nem de assumir as consequências de seus atos. É esse o conceito que tem praticamente assegurado a impunidade a adolescentes criminosos que cometem atos bárbaros e que estimula o crime organizado a recrutar cada vez mais crianças para suas fileiras. Mas será que um jovem de 16 anos em 2013 tem o mesmo amadurecimento e acesso à informação que tinha um adolescente da mesma idade em 1940? Será que o rapaz de 17 anos, 11 meses e 27 dias que covardemente atirou na cabeça do universitário Victor Hugo Deppman, de 19 anos, depois de lhe roubar o celular, não sabia das consequências de seus atos?
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Victor foi morto por um criminoso que já tinha passagem pela Fundação Casa, onde havia cumprido apenas 45 dias por outro roubo. Estava na rua, armado, porque não pode receber uma pena maior. Situações como essa vêm se repetindo em todo o País e a sociedade clama por mudanças. Pesquisa realizada pelo Instituto DataFolha mostra que 93% dos brasileiros são favoráveis à redução da maioridade penal para 16 anos. Querem que o adolescente capaz de cometer atos hediondos seja tratado como adulto. “Precisamos responder com urgência ao desespero da sociedade brasileira”, diz o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Na terça-feira 23, a Câmara criou uma comissão especial para enfrentar um tabu: propor alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), um conjunto de normas aprovadas em 1990 para proteger a infância, elogiado internacionalmente como uma das legislações mais modernas do mundo. O objetivo dos deputados é endurecer as punições aplicadas aos menores infratores. No caso de reincidência e crimes hediondos, como homicídio e estupro, o prazo máximo de internação saltaria dos atuais três anos para oito (leia quadro abaixo). O problema é que desde 2000 já foram criados 12 projetos de lei para alterar o estatuto, mas nada sai do papel. Enquanto isso, a situação só se agrava. Nos últimos dez anos, o número de jovens infratores aumentou 138%. Se em 1990 o ECA era exemplo, hoje está desatualizado. Apenas para contextualizar, no início dos anos 1990 o crack não existia em boa parte do País. “Passou da hora de fazermos reformulações”, afirma o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que vai comandar a comissão da Câmara. Ele defende o aumento do tempo de permanência na Fundação Casa, onde ficam os menores detidos, de três para oito anos nos casos hediondos. Assim, o infrator poderia ficar preso até os 26 anos – e não mais até os 21. A partir dos 18 anos, ele seria encaminhado para uma área específica, isolada dos menores. No Senado, uma emenda constitucional de Aloysio Nunes (PSDB-SP) propõe reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos. A aplicação da medida seria restrita aos crimes hediondos, não às infrações médias ou leves (furtos e roubo simples). Se medidas como essa estivessem em vigor, o universitário Victor não teria cruzado com o jovem criminoso que o matou na porta de casa.
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Ainda segundo a proposta apreciada pelos deputados, quando for diagnosticada doença mental, o juiz poderia indicar tratamento ambulatorial ou internação compulsória por prazo indeterminado, com reavaliações a cada seis meses. A medida tornaria legal, por exemplo, a situação de Roberto Aparecido Alves Cardoso, o Champinha. Ele vive em um limbo jurídico desde 2003, quando liderou o grupo responsável por assassinar o casal Liana Friedenbach e Felipe Caffé, em São Paulo – a adolescente Liana também foi vítima de estupro coletivo, num crime que horrorizou o País. Na época, Champinha tinha 16 anos, a mesma idade da estudante que matou. Há dez anos, o criminoso está internado na Unidade Experimental de Saúde, alvo de uma investigação do Ministério Público Federal por oferecer tratamento “medieval” aos detentos. O equipamento do governo estadual teria o objetivo de tratar jovens de alta periculosidade com graves patologias, mas não chega nem perto disso. Esse é um problema a ser enfrentado. Especialistas em educação asseguram que não adianta reduzir a maioridade penal nem aumentar as penas se o Estado não for capaz de oferecer condições para que os jovens tenham um futuro digno. “Se um jovem falhou, a sociedade, a família e a escola devem ter falhado também”, diz Cosete Ramos, doutora em educação pela Flórida State University.

Organizações de defesa dos direitos humanos e organismos internacionais de atenção às crianças entendem que a diminuição da idade penal não resolve o problema da violência juvenil. Argumentam que os adolescentes ainda não estão completamente formados e que as mudanças devem ocorrer nas razões sociais que levam ao crime. “Reduzir a maioridade penal não resolve. Ou agimos nas causas da violência ou daqui a pouco veremos o tráfico estar recrutando crianças com 14, 12 ou 10 anos”, diz Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República. O promotor Thales Cezar de Oliveira, da Vara da Infância e Juventude de São Paulo, discorda. Segundo ele, os jovens de 16 anos têm total consciência dos delitos que cometem. “Eles sabem que nada vai acontecer se matarem e roubarem, a ficha estará limpa aos 18 anos, quando saírem da Fundação Casa”, diz Oliveira. O promotor acrescenta que, quando pegos, a primeira coisa dita pelos infratores à polícia é: ‘sou de menor’. “É inadmissível a quantidade de pessoas honestas e famílias inteiras sendo destruídas, enquanto apenas discutimos a redução da maioridade penal.”
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O mesmo Estado que patina ao definir uma nova legislação capaz de punir menores que cometam crimes hediondos vem, ao longo dos anos, assegurando novos direitos aos jovens de 16 anos. A Justiça Eleitoral, por exemplo, permite a obtenção do título de eleitor e a participação nas urnas já nessa idade. Ou seja, o Estado entende que o jovem de 16 anos é capaz de formar consciência política e votar para presidente. No Brasil, eles também podem trabalhar com carteira registrada e, com autorização dos pais, casar e ser emancipados. Internacionalmente não há um consenso jurídico ou científico que determine em qual idade uma pessoa deixa de ser criança e está apta a responder como um ser maduro. Na Inglaterra é possível prender um infrator de dez anos. Nos Estados Unidos, é permitido tirar licença de motorista aos 16, mas fica proibido de consumir bebidas alcoólicas antes dos 21.
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Com tantas incertezas, cabe à neurociência dar algumas pistas sobre comportamentos característicos dessa faixa etária, como a impulsividade. Diversas pesquisas apontam que o cérebro demora até os 25 anos para se formar por completo. O córtex pré-frontal é a última parte desse processo, mas responde por toda a nossa cognição: tomada de decisão, capacidade de avaliar riscos, planejamento de estratégias, etc. Só ao longo do desenvolvimento biológico ele aprende até onde é possível empurrar limites e ignorar regras. Por isso, um adolescente tende a fazer escolhas baseado mais na intensidade das emoções do que em análises racionais.

“Eles são mais reativos, levam menos em conta as consequências de seus atos”, afirma o neurocientista André Frazão Helene, do Laboratório de Ciências da Cognição da Universidade de São Paulo (USP). “Mas, aos 16 anos, o cérebro já sabe diferenciar o certo do errado, tanto no sentido do que é moral quanto legalmente aceito.” O amadurecimento biológico, porém, varia de pessoa para pessoa – assim como algumas meninas menstruam aos 10 e outras, aos 15. O córtex pré-frontal também está ligado às relações interpessoais, à capacidade de se colocar no lugar do outro. Seja para compreender uma opinião divergente seja para se identificar com a dor alheia. Para a psicóloga Maria Alice Fontes, especialista em neuropsicologia, o desenvolvimento cerebral explica certas atitudes da puberdade, mas não justifica todas elas. “Não dá para usar o cérebro como desculpa para dizer que o jovem nesta idade não tem nenhum discernimento e, portanto, não pode assumir as responsabilidades pelo que faz”, afirma.
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Discussão
Deputado Carlos Sampaio, relator da comissão na
Câmara que estuda reformulações no ECA: menores
presos por mais tempo nos casos de crimes hediondos
Além do fator biológico, há a influência do ambiente e do contexto em que o ser humano cresce. Primeiro, vale lembrar que muitas transformações históricas e culturais separam os adolescentes de hoje dos da década de 1940, época em que a maioridade foi instituída no País. Mesmo nas metrópoles, um rapaz de 16 anos se divertia descendo ladeiras de rolimã, enquanto hoje quer ostentar o smartphone da moda. O acesso às drogas ou às informações em larga escala também era reduzido. Em segundo lugar, não há como ignorar as condições socioeconômicas e a estrutura familiar de um adolescente que comete um crime. Se o cérebro é fisiologicamente imaturo, o ambiente deveria oferecer o suporte necessário para o desenvolvimento ideal. Quanto se pode esperar de um jovem carente, desprovido de boa educação, com referências de violência doméstica, cercado pelo tráfico? “O debate sobre essa questão esquece, muitas vezes, que o contexto é determinante no comportamento”, diz Martha de Toledo Machado, professora de direito da criança e do adolescente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
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Mesmo com tantas ressalvas, jovens de 16 anos estão conquistando agora um novo e polêmico direito. Nos próximos dias, o Ministério da Saúde deve publicar uma portaria que autoriza o tratamento gratuito para mudança de sexo a partir dos 16 anos. O órgão considera que, nessa fase, um garoto já se reconhece como garota (ou vice-versa) e sofre com o transtorno de identidade de gênero. Embora não possa ser operado antes dos 18, o paciente receberá do Estado acompanhamento psicológico e hormonal para iniciar as transformações estéticas. Ou seja, é tido como suficientemente maduro para tomar uma decisão com implicações, muitas vezes, irreversíveis. Até agora, jovens nessa situação viviam numa espécie de submundo no que diz respeito ao sistema público de saúde. Mesmo depois de passar por uma extensa triagem, avaliação médica e receber o diagnóstico do transtorno, não podiam receber acompanhamento psicológico e tratamento hormonal gratuito por meio do SUS. Atravessavam o turbulento período da adolescência em sofrimento porque a aparência não condizia com a sua identidade sexual. Aflitos, muitos deles recorriam ao mercado negro da internet para adquirir hormônios sem prescrição. “O perigo é que eles acabam dando um jeito de se sentir melhores, se sujeitando a efeitos colaterais e arriscando a saúde”, afirma o psiquiatra Alexandre Sadeeh, da clínica de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual da USP.
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Foi o que fez Alexander Brasil, 16 anos. Ele nasceu mulher e, aos 4 anos, já chorava quando lhe botavam vestidos ou insistiam que frequentasse as aulas de balé. Por conta própria, começou a tomar testosterona há um ano: os pelos cresceram, a voz engrossou. “Agora me sinto muito mais feliz e confortável com meu corpo”, diz Alexandre. Com as mudanças físicas, trocou de colégio para livrar-se de vez do bullying que quase o fez reprovar de ano no ensino médio. A situação irá melhorar para Alexander e outros garotos em situação parecida com a dele com o tratamento hormonal gratuito para pessoas acima dos 16 anos – essa é uma das etapas a caminho da cirurgia de mudança de sexo, que só pode ser realizada a partir dos 18. A medida reafirma o poder de decisão desses jovens e mostra que o Estado é, sim, capaz de tratar o adolescente de hoje em dia como adulto. Exatamente o que está faltando no âmbito penal.
Fotos: divulgação; João Castellano/istoé
Fontes: Estatuto da Criança e Adolescente, Código Civil, Departamento de Justiça, Legislação Federal sobre Tabaco, Tribunal Superior Eleitoral, Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana (SBRASH)
Fotos: Adriano Machado; GUILHERME PUPO