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10.17.2015

Filho de Lula prepara ação contra Globo e colunista (ex-Veja)


247 – A estreia retumbante do colunista Lauro Jardim no jornal O Globo renderá processos judiciais contra o jornalista e a publicação. O motivo: ao contrário do que foi noticiado no último domingo na capa do periódico (relembre aqui), o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, não fez qualquer menção ao nome de Fábio Luis Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, em sua delação premiada homologada pelo ministro Teori Zavascki.
Baiano citou, de fato, o nome do pecuarista José Carlos Bumlai, tido como amigo pessoal do ex-presidente Lula. Nesta sexta-feira, em sua manchete, a Folha de S. Paulo noticiou que Baiano teria mencionado um suposto pagamento pedido por Bumlai para uma "nora do ex-presidente Lula". No entanto, não foi feita qualquer referência ao nome de Fábio Luis.
Nesta sexta-feira, Lauro Jardim tentou consertar o erro do último domingo, com a seguinte nota:
Renata, a nora de Lula citada na delação premiada de Fernando Baiano é a mulher de Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha.
Lula tem três noras e Baiano não dá, em sua delação, o nome de quem seria a beneficiária do pedido supostamente feito pelo pecuarista José Carlos Bumlai.
Mas pelo relato do caso, ou seja, o dinheiro serviria para quitar dívidas de um apartamento, quem conhece a família não tem dúvida em apontar a mulher de Lulinha como a nora referida.
Como se vê, é uma informação bem diferente da publicada no último domingo, em que o colunista cravava que "Lulinha era um dos alvos":
Delação explosiva
"Está destinada a causar um estrondoso tumulto a delação premiada de Fernando Baiano, cuja homologação foi feita na sexta-feira pelo ministro Teori Zavascki. O operador (de parte) do PMDB na Petrobras pôs no olho do furacão nada menos do que Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha. Baiano contou que pagou despesas do primogênito de Lula no valor de cerca de R$ 2 milhões. Ao contrário dos demais delatores, que foram soltos logo após a homologação das delações, Baiano ainda fica preso até 18 de novembro, quando completa um ano encarcerado. Voltará a morar em sua cobertura de 800 metros quadrados na Barra da Tijuca. A propósito, quem teve acesso à delação conta que Eduardo Cunha é, sim, citado por Baiano. O operador admite ter relações com o presidente da Câmara, mas não entrega nada arrasador contra Cunha.
Fábio Luis garante que nem sequer conhece Fernando Baiano. Seu advogado, Cristiano Martins, afirma que pediu acesso ao inteiro teor da delação do lobista não porque tenha qualquer preocupação com seu teor. "Queremos os documentos apenas para instruir as ações judiciais contra quem difundiu informações falsas e levianas", disse ele.
Leia, abaixo, a nota divulgada pelo advogado de Fábio Luis:
Diante do ataque sistemático à honra e reputação do sr. Fábio Luís Lula da Silva, sua defesa requereu na data de hoje (16.10) ao Ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, acesso à íntegra da delação premiada do lobista Fernando Soares.  
A providência tem por objetivo instruir ações que serão promovidas contra os que, pela imprensa, encabeçaram a divulgação, desde o último dia 11, de notícias falsas sobre pagamentos de contas de nosso cliente pelo citado delator.
De forma sistematizada, põe-se em pé uma operação jornalística que, a cada dia, coloca na mira de suas manchetes o personagem da vez, eleito alvo da ofensa. Surge, agora, uma entidade primeiramente nominada a “nora de Lula". Após 24h, divulga-se que a “nora” citada é a mulher do sr. Fábio Luís, sob o alegado argumento de que “quem conhece a família não tem dúvida em apontar” sua esposa.
A verdade não pode estar no mero repasse de informações fornecidas e colhidas a bel prazer, pingadas a conta-gotas de uma delação sob sigilo, que, a cada dia, muda sua versão dos fatos, para tornar mais verossímil a narrativa. O que se identifica são irresponsáveis ilações daqueles que foram, depois, desmentidos no decorrer do processo.

Época viaja e vê Cunha com força para tocar um golpe


247 – O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é um cadáver político. Réu no Supremo Tribunal Federal por corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, ele escondeu, por meio de suas contas secretas na Suíça e empresas offshore, um patrimônio estimado em R$ 61 milhões pela Procuradoria-Geral da República.
No entanto, para a revista Época, do grupo Globo, ele é, na reportagem de capa desta semana, "o senhor impeachment", como se tivesse força e moral para liderar um golpe contra a presidente Dilma Rousseff.
Nesta semana, duas decisões do Supremo Tribunal Federal, tomadas pelos ministros Teori Zavascki e Rosa Weber, travaram o rito do golpe que havia sido negociado por Cunha com a oposição. De um lado, Teori determinou que não cabe recurso do plenário em processos de impeachment. Ou seja: caso queiram levar adiante o projeto golpista, ele terá que ser liderado por Cunha – o que significaria a desmoralização completa do golpe. Rosa foi além e impediu que o deputado tome qualquer iniciativa antes da manifestação do plenário do STF.
Para Época, porém, Cunha é "quem conduz o ritmo do futuro político do País" (leia aqui um trecho da reportagem). Nada mais distante da realidade.

PSOL pede ajuda da população para evitar engavetamento da cassação de Cunha

16/10/2015
Psol161015

A bancada do PSOL na Câmara dos Deputados lançou hoje uma campanha para que a população contribua ativamente para o afastamento do deputado Eduardo Cunha da presidência da Casa, e pela cassação de seu mandato. A ideia é promover a pressão popular para o Conselho de Ética da Câmara não “engavetar” a representação, feita pelo PSOL, que pede a instauração do processo de cassação de Cunha.
A mobilização funcionará da seguinte forma: as pessoas podem utilizar o telefone da Ouvidoria da Câmara (0800-619-619) para deixar suas mensagens a favor do processo de cassação e contra o “engavetamento” pelo Conselho de Ética. A Liderança do PSOL também vai divulgar os e-mails dos 21 membros titulares e suplentes do Conselho para a pressão ocorrer também nas redes sociais.


HASHTAG #GloboGolpista vira assunto mundial

Vergonha internacional ! Site de tv americana destaca tentativa de golpe da Globo

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Assunto mais comentado do Twitter por mais de 24 horas, internautas usaram a tag #GloboGolpista para lembrar episódios polêmicos em que a emissora esteve envolvida, como a edição do debate entre Lula e Collor em 1989, além do papel do grupo durante a ditadura militar

A hashtag #GloboGolpista  foi o assunto mais comentado do Twitter no Brasil por mais de 24 horas. Um recorde. Nas postagens, os internautas lembraram episódios polêmicos em que a Rede Globo esteve envolvida, como a edição do debate entre Lula e Collor em 1989, além do papel do grupo durante a ditadura militar.
Outras tags que disputaram espaço com a que se refere à TV Globo foram #Dia13DiadeLuta e #DilmaLindaOBrasilTeAma  – as mensagens dizem respeito às manifestações que ocorrem por todo o Brasil, organizadas por movimentos sociais, que pedem, entre outras pautas, o fim do financiamento empresarial de campanha, garantia de direitos trabalhistas, reforma política e a defesa da Petrobras.
De acordo com Miguel do Rosário, jornalista processado por Ali Kamel – diretor-geral da Rede Globo, a “adesão histérica da mídia às manifestações golpistas do dia 15 produziu uma oportunidade interessante para mostrar quem é quem”.

“Se o governo Dilma tem problemas, e ninguém os nega, pressionemos para que sejam resolvidos sem rupturas democráticas. Muita coisa está errada em nosso país. Mas não é só no governo federal. É nas prefeituras, nos governos estaduais, no ministério público, no judiciário, na mídia, na sociedade”, afirma Rosário, que defende o direito aos protestos, desde que estes não tenham intento golpista.
“Derrubar Dilma, através de um golpe midiático, apenas irá fazer nossa economia afundar no caos político. Façam manifestações em prol das bandeiras que vocês defendem. Golpe, nunca mais”, finaliza.

HASHTAG #GloboGolpista vira assunto mundial

Um artigo em inglês publicado no sítio da Rede de TV Telesur destacou a abrangência da hashtag #GloboGolpista nas redes sociais. O texto menciona ainda o momento político conturbado que paira no Brasil, com fortes agentes econômicos e representantes da grande imprensa atuando contra o governo Dilma Rousseff na expectativa de que a atual presidente sangre, ou caia.
O texto lembra ainda que diretores da Rede Globo, como Erick Bretas, defenderam publicamente o impeachment de Dilma Rousseff, e cita a possível participação de Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, no financiamento das manifestações que ocorrerão contra Dilma.

10.16.2015

"Votei em Lula e Dilma e não me arrependo", diz Joaquim Barbosa

Joaquim Barbosa, relator do mensalão, diz que Brasil evoluiu sob as gestões de Lula e Dilma e critica a imprensa brasileira: "imprensa e empresariado brasileiro estão nas mãos de pessoas brancas e conservadoras"

O “dia mais chocante” da vida de Joaquim Benedito Barbosa Gomes, 57, segundo ele mesmo, foi 7 de maio de 2003, quando entrou no Palácio do Planalto para ser indicado ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A ocasião era especial: ele seria o primeiro negro a ser nomeado para o tribunal.
joaquim barbosa dilma lula
O ministro Joaquim Barbosa em seu gabinete no STF (Supremo Tribunal Federal), em Brasília
“Eu já cheguei na presença de José Dirceu [então ministro da Casa Civil], José Genoino [então presidente do PT], aquela turma toda, para o anúncio oficial. Sempre tive vida reservada. Vi aquele mar de câmeras, flashes…”, relembrava ele em seu gabinete na terça-feira, 2.

A importância de Frei Betto

Barbosa diz que foi Frei Betto, que o conhecia por terem participado do conselho de ONGs, que fez seu currículo “andar” no governo.
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“Eu passava temporada na Universidade da Califórnia, Los Angeles. Encontrei Frei Betto casualmente nas férias, no Brasil. Trocamos cartões. Um belo dia, recebo e-mail me convidando para uma conversa com [o então ministro da Justiça] Márcio Thomaz Bastos em Brasília.” Guarda a mensagem até hoje.
“Vi o Lula pela primeira vez no dia do anúncio da minha posse. Não falei antes, nem por telefone. Nunca, nunca.”
Por pouco, não faltou à própria cerimônia. “Veja como esse pessoal é atrapalhado: eles perderam o meu telefone [gargalhadas].”
Dias antes, tinha sido entrevistado por Thomaz Bastos. “E desapareci, na moita.” Isso para evitar bombardeio de candidatos à mesma vaga.
“Na hora de me chamar para ir ao Planalto, não tinham o meu contato.” Uma amiga do governo conseguiu encontrá-lo. “Corre que os caras vão fazer o seu anúncio hoje!”
Depois, continuou distante de Lula. Não foi procurado nem mesmo nos momentos cruciais do mensalão. “Nunca, nem pelo Lula nem pela [presidente] Dilma [Rousseff]. Isso é importante. Porque a tradição no Brasil é a pressão. Mas eu também não dou espaço, né?”
O ministro votou em Leonel Brizola (PDT) para presidente no primeiro turno da eleição de 1989. E depois em Lula, contra Collor. Votou em Lula de novo em 2002.
“Vou te confidenciar uma coisa, que o Lula talvez não saiba: devo ter sido um dos primeiros brasileiros a falar no exterior, em Los Angeles, do que viria a ser o governo dele. Havia pânico. Num seminário, desmistifiquei: ‘Lula é um democrata, de um partido estabelecido. As credenciais democráticas dele são perfeitas’.”
O escândalo do mensalão não influenciou seu voto: em 2006, já como relator do processo, escolheu novamente o candidato Lula, que concorria à reeleição.
“Eu não me arrependo dos votos, não. As mudanças e avanços no Brasil nos últimos dez anos são inegáveis. Em 2010, votei na Dilma.”

DE LADO

No plenário do STF, a situação muda. Barbosa diz que “um magistrado tem deveres a cumprir” e que a sociedade espera do juiz “imparcialidade e equidistância em relação a grupos e organizações”.
Sua trajetória ajuda. “Nunca fiz política. Estudei direito na Universidade de Brasília de 75 a 82, na época do regime militar. Havia movimentos significativos. Mas estive à parte. Sempre entendi que filiação partidária ou a grupos, movimentos, só serve para tirar a sua liberdade de dizer o que pensa.”

VENCEDOR E VENCIDO

Barbosa gosta de dizer que não tem “agenda”. Em 2007, relatou processo contra Paulo Maluf (PP-SP). Delfim Netto não era encontrado para depor como testemunha. Barbosa propôs que o processo continuasse. Foi voto vencido no STF. O caso prescreveu.
No mesmo ano, relatou processo em que o deputado Ronaldo Cunha Lima (PSDB-PB) era acusado de tentativa de homicídio. O réu renunciou ao mandato e perdeu o foro privilegiado. Barbosa defendeu que fosse julgado mesmo assim. Foi voto vencido no STF.
Em 2009, como relator do mensalão do PSDB, propôs que a corte acolhesse denúncia contra o ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo. Quase foi voto vencido no STF –ganhou por 5 a 3, com três ministros ausentes.
Dois anos antes, relator do mensalão do PT, propôs que a corte acolhesse denúncia contra José Dirceu e outros 37 réus. Ganhou por 9 a 1.

NOVELA RACISTA

Barbosa já disse que a imprensa “nunca deu bola para o mensalão mineiro”, ao contrário do que faz com o do PT. “São dois pesos e duas medidas”, afirma.
A exposição na mídia não o impede de fazer críticas até mais ácidas.
“A imprensa brasileira é toda ela branca, conservadora. O empresariado, idem”, diz. “Todas as engrenagens de comando no Brasil estão nas mãos de pessoas brancas e conservadoras.”
O racismo se manifesta em “piadas, agressões mesmo”. “O Brasil ainda não é politicamente correto. Uma pessoa com o mínimo de sensibilidade liga a TV e vê o racismo estampado aí nas novelas.”
Já discutiu com vários colegas do STF. Mas diz que polêmicas “são muito menos reportadas, e meio que abafadas, quando se trata de brigas entre ministros brancos”.
“O racismo parte da premissa de que alguém é superior. O negro é sempre inferior. E dessa pessoa não se admite sequer que ela abra a boca. ‘Ele é maluco, é um briguento’. No meu caso, como não sou de abaixar a crista em hipótese alguma…”
Barbosa, que já escreveu um livro sobre ações afirmativas nos EUA, diz que o racismo apareceu em sua “infância, adolescência, na maturidade e aparece agora”.
Há 30 anos, já formado em direito e trabalhando no Itamaraty como oficial de chancelaria –chegou a passar temporada na embaixada da Finlândia–, prestou concurso para diplomata. Passou. Foi barrado na entrevista.

DE IGUAL PARA IGUAL

É o primeiro filho dos oito que o pai, Joaquim, e a mãe, Benedita, tiveram (por isso se chama Joaquim Benedito).
Em Paracatu, no interior de Minas, “Joca” teve uma infância “de pobre do interior, com área verde para brincar, muito rio para nadar, muita diversão”. Era tímido e fechado.
A mãe era dona de casa. O pai era pedreiro. “Mas ele era aquele cara que não se submetia. Tinha temperamento duro, falava de igual para igual com os patrões. Tanto é que veio trabalhar em Brasília, na construção, mas se desentendeu com o chefe e foi embora”, lembra Joaquim.
O pai vendeu a casa em que morava com a família e comprou um caminhão. Chegou a ter 15 empregados no boom econômico dos anos 70. “E levava a garotada para trabalhar.” Entre eles, o próprio Joaquim, então com 10 anos.

RUMO A BRASÍLIA

No começo da década, Barbosa se mudou para a casa de uma tia na cidade do Gama, no entorno de Brasília.
Cursou direito, trabalhou na composição gráfica de jornais, no Itamaraty. Ingressou por concurso no Ministério Público Federal.
Tirou licenças para fazer doutorado na Universidade de Paris-II. E passou períodos em universidades dos EUA como acadêmico visitante. Fala francês, inglês e alemão.
Hoje, Barbosa fica a maior parte do tempo em Brasília, onde moram a mãe, os sete irmãos e os sobrinhos. O pai já morreu. Benedita é evangélica e “superpopular”. Em seu aniversário de 76 anos, juntou mais de 500 pessoas.
O ministro tem também um apartamento no Leblon, no Rio, cidade onde vive seu único filho, Felipe, 26. Se separou há pouco de uma companheira depois de 12 anos de relacionamento.

DEVER

Nega que tenha certa aversão por advogados. E nega também que tenha prazer em condenar, sem qualquer tipo de piedade em relação à pessoa que perderá a liberdade.
“É uma decisão muito dura. Mas é também um dever.”
“O problema é que no Brasil não se condena”, diz. “Estou no tribunal há sete anos, e esta é a segunda vez que temos que condenar. Então esse ato, para mim e para boa parte dos ministros do STF, ainda é muito recente.”
Diante de centenas de grandes escândalos de corrupção no Brasil, e de só o mensalão do PT ter chegado ao final, é possível desconfiar que a máquina de investigação e punição só funcionou para este caso e agora será novamente desligada?
“Não acredito”, diz Barbosa. “Haverá uma vigilância e uma cobrança maior do Supremo. Este julgamento tem potencial para proporcionar mudanças de cultura, política, jurídica. Alguma mudança certamente virá.”

MEQUETREFE

O caso Collor, por exemplo, em que centenas de empresas foram acusadas de pagar propina para o tesoureiro do ex-presidente, chegou “desidratado” ao STF, diz o ministro. “Tinha um ex-presidente fora do jogo completamente. E, além dele, o quê? O PC, que era um mequetrefe.”
O país estava “mais próximo do período da ditadura” e o Ministério Público tinha recém-conquistado autonomia, com a Constituição de 1988. Até 2001, parlamentares só eram processados no STF quando a Câmara autorizava. “Tudo é paulatino. Mas vivemos hoje num país diferente.”

PONTO FINAL

Desde o começo do julgamento do mensalão, o ministro usa um escapulário pendurado no pescoço. “Presente de uma amiga”, afirma.
Depois de flagrado cochilando nas primeiras sessões, passou a tomar guaraná em pó no começo da tarde.
Diz que não gosta de ser tratado como “herói” do julgamento. “Isso aí é consequência da falta de referências positivas no país. Daí a necessidade de se encontrar um herói. Mesmo que seja um anti-herói, como eu.”
Mônica Bérgamo, Folha

STF manda soltar ex-executivo da Odebrecht preso na Lava Jato



Alexandrino de Salles Ramos (Foto: Reprodução) 
Alexandrino de Salles Ramos foi preso na 14ª fase

O mercado cruel dos medicamentos falsos




Cristiane Segatto


É mais fácil ser processado por falsificar uma bolsa de marca do que um medicamento contra o câncer. Por que o sistema de rastreamento dos produtos não saiu do papel


CRISTIANE SEGATTO



Remédios (Foto: Thinkstock/Getty Images)
 
É assustador saber que 19% dos medicamentos vendidos no Brasil são falsificados, segundo uma estimativa conservadora da Organização Mundial da Saúde. Quem conhece bem esse mercado arrisca dizer que as fraudes comprometem até 30% dos remédios consumidos no país.


Esses produtos sem valor terapêutico ou de eficácia prejudicada costumam ser fabricados no Paraguai, na China, na Índia ou aqui mesmo no Brasil. Em outra parcela dos casos, a indústria farmacêutica produz os medicamentos segundo as melhores práticas, mas eles caem nas mãos dos criminosos no meio do caminho.
A carga dos caminhões é roubada e vendida em feiras e sites da internet. Ou é comprada por distribuidores pouco idôneos e repassada às farmácias. Os remédios deixam de fazer efeito porque o calor do sol ou do armazenamento prolongado em caminhões altera as características físicas dos produtos. 
É um problema mundial. Desde 2005, um núcleo da Interpol investiga crimes relacionados a esses produtos. A Operação Pangea apreendeu 2,4 milhões de medicamentos falsificados em 2011. Em 2015, o número já atingiu 20,7 milhões.     
O crescimento expressivo desse tipo de crime é explicado pelo alto retorno financeiro e pelo baixo risco. “É mais provável que alguém seja processado por falsificar uma bolsa Gucci do que por falsificar um remédio”, disse o professor Jim Herrington, da Universidade da Carolina do Norte à revista Newsweek
Na maioria dos países, as penas são mais brandas que as aplicadas a outros tipos de crime, como o tráfico de drogas ou de pessoas. No Brasil, o problema não é a lei. “Fabricar ou estocar remédio falsificado é crime hediondo”, diz Domingos Gonçalves da Fonseca, da Unihealth, uma empresa especialização na gestão do fluxo de materiais hospitalares.  “O que falta é a ação enérgica do governo”, afirma.
Todos os tipos de produto farmacêutico são suscetíveis à falsificação. Antibióticos, drogas anti-HIV, remédios contra o câncer, Viagra, Botox... Não faz muito tempo, a tal da rastreabilidade determinada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) parecia ser a solução. Os fabricantes seriam obrigados a colocar um código nas embalagens. Um sistema adotado em todos os pontos de venda e distribuição de remédios (hospitais, postos de saúde etc) permitiria acompanhar o percurso dos remédios – da fábrica ao consumidor.
Pelo smartphone, o paciente poderia checar quando e onde o produto foi fabricado e em qual farmácia ele deveria estar. Também teria a chance de verificar se havia um alerta de roubo de carga emitido pelo fabricante da caixinha antes de comprá-la.
A lei aprovada em 2009 dava um prazo de três anos para que o rastreamento virasse realidade no país. Estamos em 2015 e nada. Vários laboratórios alegam que não tiveram tempo de se adequar às exigências. Um projeto de lei apresentado no Senado pede o adiamento do prazo por mais dez anos.
Além das dificuldades técnicas da adoção do sistema, há outras questões que precisam ser discutidas pela sociedade. Quem guardará as informações registradas pelo sistema? A Anvisa ou a indústria farmacêutica?
Os fabricantes terão acesso aos dados dos receituários dos médicos e do consumo de cada paciente? Quais as implicações éticas e comerciais dessa medida? Adiar o prazo para a adoção do sistema prolonga a insegurança dos produtos, mas talvez seja uma oportunidade de discutir pontos importantes que podem ter passado despercebidos durante a aprovação da lei de 2009.

No tempo da minha infância


(Ismael Gaião)


No tempo da minha infância
Nossa vida era normal
Nunca me foi proibido
Comer muito açúcar ou sal
Hoje tudo é diferente
Sempre alguém ensina a gente
Que comer tudo faz mal

Bebi leite ao natural
Da minha vaca Quitéria
E nunca fiquei de cama
Com uma doença séria
As crianças de hoje em dia
Não bebem como eu bebia
Pra não pegar bactéria

A barriga da miséria
Tirei com tranquilidade
Do pão com manteiga e queijo
Hoje só resta a saudade
A vida ficou sem graça
Não se pode comer massa
Por causa da obesidade

Eu comi ovo à vontade
Sem ter contra indicação
Pois o tal colesterol
Pra mim nunca foi vilão
Hoje a vida é uma loucura
Dizem que qualquer gordura
Nos mata do coração

Com a modernização
Quase tudo é proibido
Pois sempre tem uma Lei
Que nos deixa reprimido
Fazendo tudo que eu fiz
Hoje me sinto feliz
Só por ter sobrevivido

Eu nunca fui impedido
De poder me divertir
E nas casas dos amigos
Eu entrava sem pedir
Não se temia a galera
E naquele tempo era
Proibido proibir

Vi o meu pai dirigir
Numa total confiança
Sem apoio, sem air-bag
Sem cinto de segurança
E eu no banco de trás
Solto, igualzinho aos demais
Fazia a maior festança

No meu tempo de criança
Por ter sido reprovado
Ninguém ia ao psicólogo
Nem se ficava frustrado
Quando isso acontecia
A gente só repetia
Até que fosse aprovado

Não tinha superdotado
Nem a tal dislexia
E a hiperatividade
É coisa que não se via
Falta de concentração
Se curava com carão
E disso ninguém morria

Nesse tempo se bebia
Água vinda da torneira
De uma fonte natural
Ou até de uma mangueira
E essa água engarrafada
Que diz-se esterilizada
Nunca entrou na nossa feira

Para a gente era besteira
Ter perna ou braço engessado
Ter alguns dentes partidos
Ou um joelho arranhado
Papai guardava veneno
Em um armário pequeno
Sem chave e sem cadeado

Nunca fui envenenado
Com as tintas dos brinquedos
Remédios e detergentes
Se guardavam, sem segredos
E descalço, na areia
Eu joguei bola de meia
Rasgando as pontas dos dedos

Aboli todos os medos
Apostando umas carreiras
Em carros de rolimã
Sem usar cotoveleiras
Pra correr de bicicleta
Nunca usei, feito um atleta,
Capacete e joelheiras

Entre outras brincadeiras
Brinquei de Carrinho de Mão
Estátua, Jogo da Velha
Bola de Gude e Pião
De mocinhos e Cawboys
E até de super-heróis
Que vi na televisão

Eu cantei Cai, Cai Balão,
Palma é palma, Pé é pé
Gata Pintada, Esta Rua
Pai Francisco e De Marré
Também cantei Tororó
Brinquei de Escravos de Jó
E o Sapo não lava o pé

Com anzol e jereré
Muitas vezes fui pescar
E só saía do rio
Pra ir pra casa jantar
Peixe nenhum eu pagava
Mas os banhos que eu tomava
Dão prazer em recordar

Tomava banho de mar
Na estação do verão
Quando papai nos levava
Em cima de um caminhão
Não voltava bronzeado
Mas com o corpo queimado
Parecendo um camarão

Sem ter tanta evolução
O Playstation não havia
E nenhum jogo de vídeo
Naquele tempo existia
Não tinha vídeo cassete
Muito menos internet
Como se tem hoje em dia

O meu cachorro comia
O resto do nosso almoço
Não existia ração
Nem brinquedo feito osso
E para as pulgas matar
Nunca vi ninguém botar
Um colar no seu pescoço

E ele achava um colosso
Tomar banho de mangueira
Ou numa água bem fria
Debaixo duma torneira
E a gente fazia farra
Usando sabão em barra
Pra tirar sua sujeira

Fui feliz a vida inteira
Sem usar um celular
De manhã ia pra aula
Mas voltava pra almoçar
Mamãe não se preocupava
Pois sabia que eu chegava
Sem precisar avisar

Comecei a trabalhar
Com oito anos de idade
Pois o meu pai me mostrava
Que pra ter dignidade
O trabalho era importante
Pra não me ver adiante
Ir pra marginalidade

Mas hoje a sociedade
Essa visão não alcança
E proíbe qualquer pai
Dar trabalho a uma criança
Prefere ver nossos filhos
Vivendo fora dos trilhos
Num mundo sem esperança

A vida era bem mais mansa,
Com um pouco de insensatez.
Eu me lembro com detalhes
De tudo que a gente fez,
Por isso tenho saudade
E hoje sinto vontade
De ser criança outra vez...

"As farmacêuticas deixam de fabricar medicamentos que curam, porque não são rentáveis"



O Premio Nobel da Medicina Richard J. Roberts denuncia a forma como funcionam as grandes farmacêuticas dentro do sistema capitalista, preferindo os benefícios econômicos à saúde, e detendo o progresso científico na cura de doenças, porque a cura não é tão rentável quanto a cronicidade.
Richard J. Roberts: "É habitual que as farmacêuticas estejam interessadas em investigação não para curar, mas sim para tornar crónicas as doenças com medicamentos cronificadores". Foto de Wally Hartshorn
Há poucos dias, foi revelado que as grandes empresas farmacêuticas dos EUA gastam centenas de milhões de dólares por ano em pagamentos a médicos que promovam os seus medicamentos. Para complementar, reproduzimos esta entrevista com o Premio Nobel Richard J. Roberts, que diz que os medicamentos que curam não são rentáveis e, portanto, não são desenvolvidos por empresas farmacêuticas que, em troca, desenvolvem medicamentos cronificadores que sejam consumidos de forma serializada. Isto, diz Roberts, faz também com que alguns medicamentos que poderiam curar uma doença não sejam investigados. E pergunta-se até que ponto é válido e ético que a indústria da saúde se reja pelos mesmos valores e princípios que o mercado capitalista, que chega a assemelhar-se ao da máfia.
A investigação pode ser planeada?
Se eu fosse Ministro da Saúde ou o responsável pelas Ciência e Tecnologia, iria procurar pessoas entusiastas com projetos interessantes; dar-lhes-ia dinheiro para que não tivessem de fazer outra coisa que não fosse investigar e deixá-los trabalhar dez anos para que nos pudessem surpreender.
Parece uma boa política.
Acredita-se que, para ir muito longe, temos de apoiar a pesquisa básica, mas se quisermos resultados mais imediatos e lucrativos, devemos apostar na aplicada ...
E não é assim?
Muitas vezes as descobertas mais rentáveis foram feitas a partir de perguntas muito básicas. Assim nasceu a gigantesca e bilionária indústria de biotecnologia dos EUA, para a qual eu trabalho.
Como nasceu?
A biotecnologia surgiu quando pessoas apaixonadas começaram a perguntar-se se poderiam clonar genes e começaram a estudá-los e a tentar purificá-los.
Uma aventura.
Sim, mas ninguém esperava ficar rico com essas questões. Foi difícil conseguir financiamento para investigar as respostas, até que Nixon lançou a guerra contra o cancro em 1971.
Foi cientificamente produtivo?
Permitiu, com uma enorme quantidade de fundos públicos, muita investigação, como a minha, que não trabalha directamente contra o cancro, mas que foi útil para compreender os mecanismos que permitem a vida.
O que descobriu?
Eu e o Phillip Allen Sharp fomos recompensados pela descoberta de introns no DNA eucariótico e o mecanismo de gen splicing (manipulação genética).
Para que serviu?
Essa descoberta ajudou a entender como funciona o DNA e, no entanto, tem apenas uma relação indireta com o cancro.
Que modelo de investigação lhe parece mais eficaz, o norte-americano ou o europeu?
É óbvio que o dos EUA, em que o capital privado é ativo, é muito mais eficiente. Tomemos por exemplo o progresso espetacular da indústria informática, em que o dinheiro privado financia a investigação básica e aplicada. Mas quanto à indústria de saúde... Eu tenho as minhas reservas.
Entendo.
A investigação sobre a saúde humana não pode depender apenas da sua rentabilidade. O que é bom para os dividendos das empresas nem sempre é bom para as pessoas.
Explique.
A indústria farmacêutica quer servir os mercados de capitais ...
Como qualquer outra indústria.
É que não é qualquer outra indústria: nós estamos a falar sobre a nossa saúde e as nossas vidas e as dos nossos filhos e as de milhões de seres humanos.
Mas se eles são rentáveis investigarão melhor.
Se só pensar em lucros, deixa de se preocupar com servir os seres humanos.
Por exemplo...
Eu verifiquei a forma como, em alguns casos, os investigadores dependentes de fundos privados descobriram medicamentos muito eficazes que teriam acabado completamente com uma doença ...
E por que pararam de investigar?
Porque as empresas farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas em curar as pessoas como em sacar-lhes dinheiro e, por isso, a investigação, de repente, é desviada para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crônica a doença e fazem sentir uma melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação.
É uma acusação grave.
Mas é habitual que as farmacêuticas estejam interessadas em linhas de investigação não para curar, mas sim para tornar crônicas as doenças com medicamentos cronificadores muito mais rentáveis que os que curam de uma vez por todas. E não tem de fazer mais que seguir a análise financeira da indústria farmacêutica para comprovar o que eu digo.
Há dividendos que matam.
É por isso que lhe dizia que a saúde não pode ser um mercado nem pode ser vista apenas como um meio para ganhar dinheiro. E, por isso, acho que o modelo europeu misto de capitais públicos e privados dificulta esse tipo de abusos.
Um exemplo de tais abusos?
Deixou de se investigar antibióticos por serem demasiado eficazes e curarem completamente. Como não se têm desenvolvido novos antibióticos, os microorganismos infecciosos tornaram-se resistentes e hoje a tuberculose, que foi derrotada na minha infância, está a surgir novamente e, no ano passado, matou um milhão de pessoas.
Não fala sobre o Terceiro Mundo?
Esse é outro capítulo triste: quase não se investigam as doenças do Terceiro Mundo, porque os medicamentos que as combateriam não seriam rentáveis. Mas eu estou a falar sobre o nosso Primeiro Mundo: o medicamento que cura tudo não é rentável e, portanto, não é investigado.
Os políticos não intervêm?
Não tenho ilusões: no nosso sistema, os políticos são meros funcionários dos grandes capitais, que investem o que for preciso para que os seus boys sejam eleitos e, se não forem, compram os eleitos.
Há de tudo.
Ao capital só interessa multiplicar-se. Quase todos os políticos, e eu sei do que falo, dependem descaradamente dessas multinacionais farmacêuticas que financiam as campanhas deles. O resto são palavras…
18 de Junho, 2011
Publicado originalmente no La Vanguardia. Retirado de Outra Política
Tradução de Ana Bárbara Pedrosa para o Esquerda.net

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Palestinos ateiam fogo a Túmulo de José na Cisjordânia


Jerusalém
Da Agência Lusa
Incêndio no Túmulo de José
Cisjordânia - Túmulo de José em chamasReprodução/Twitter/Peter Lerner
Um grupo de palestinos ateou fogo ao Túmulo de José, na cidade de Nablus, no Norte do território palestino ocupado da Cisjordânia, informou hoje (16) o Exército israelense.
“Ao longo da noite, dezenas de palestinos atearam fogo ao Túmulo de José, em Nablus. Forças palestinas chegaram ao local, extinguiram as chamas e dispersaram os autores do incêndio. O Exército israelense fará as reparações necessárias para permitir aos fiéis visitarem o lugar sagrado”, diz um comunicado militar.
O porta-voz do Exército, Peter Lerner, acrescentou que “a queima e a profanação do Túmulo de José é uma flagrante violação e uma contradição do valor básico da liberdade de culto”.
“As Forças de Defesa de Israel tomarão todas as medidas para levar os autores desse depreciável ato à Justiça, restaurar o lugar para que volte à condição prévia e garantir que a liberdade de culto seja restabelecida”, destacou Lerner.
O túmulo do patriarca José é venerado há séculos por cristãos, judeus e muçulmanos.
O Exército israelense retirou-se do local no início da Segunda Intifada (em setembro de 2000), que desde então ficou sob a responsabilidade da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
O mausoléu encontra-se na Zona A, onde a ANP tem pleno controle administrativo e de segurança, de acordo com a divisão territorial estabelecida nos Acordos de Oslo de 1993.
Contudo, o Exército israelense supervisiona em coordenação com a ANP o acesso de fiéis judeus que pretendem orar no local onde se venera o bíblico patriarca mencionado no Antigo Testamento, cujas visitas são vistas por muitos palestinos como provocação.
Segundo o jornal Haaretz, o ataque ocorreu quando centenas de jovens palestinos lançaram coquetéis-molotov e colocaram materiais inflamáveis no túmulo.
Trata-se do primeiro incidente violento da “sexta-feira da revolta”, organizada por paçestinos para que a população manifeste e crie distúrbios. Estão previstos protestos para a Cisjordânia e Faixa de Gaza após a grande oração semanal muçulmana.
A região enfrenta uma onda de violência há 15 dias que já resultou na morte de 33 palestinos e sete israelenses, na série de atentados, na maioria de palestinos contra israelenses.
A onda de violência em Israel e nos territórios palestinos nas últimas duas semanas aumentado o receio de um terceiro levantamento popular palestino, depois dos de 1987-1993 e 2000-2005, que causaram milhares de mortos.
O Conselho de Segurança da ONU reúne-se hoje de emergência para discutir o aumento da violência em Israel e nos territórios palestinos ocupados.