3.26.2018

Brasil não preenche 40% das vagas autorizadas para residência médica

Boa parte das vagas autorizadas para residência médica no Brasil continua só no papel. Estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) com apoio do Conselho Federal de Medicina e do Conselho Regional de Medicina de São Paulo mostra que 40% dos postos de estudo estão ociosos. Ao todo, são 22.890 vagas não ocupadas pelo País.
O fenômeno ocorre num momento em que a demanda por especialistas no sistema de saúde é crescente. Além de não atender às necessidades da assistência, os postos ociosos deixam claro a grande contradição na formação médica brasileira. Enquanto quase metade dos postos está vaga ou nem foi ativada, muitos profissionais enfrentam processos seletivos para cursos de especialização tão disputados quanto uma prova de vestibular.
Coordenador do estudo, o professor da USP Mário Scheffer atribui o problema, em parte, à falta de recursos. Instituições obtêm autorização para abrir vagas mas, diante da ausência de financiamento das bolsas, acabam desistindo ou ofertando menos postos do que a sua real capacidade.
A bolsa mensal do residente é de R$ 3.330. Nos hospitais universitários federais, o financiamento do treinamento é feito pelo Ministério da Educação (MEC).
A pasta da Saúde, por sua vez, arca com bolsas atreladas a programas estratégicos. Estados, municípios, hospitais filantrópicos e privados financiam bolsas de residência em seus próprios serviços.
A coordenadora geral das residências em saúde do MEC, Rosana Leite de Melo, afirma que o “congelamento” das vagas de residência é irregular. “Quando a autorização é concedida, as instituições devem cumpri-la. Não é apenas uma transação administrativa. O Estado conta que tais vagas sejam abertas, que entrem em funcionamento para que médicos sejam treinados”, explica.
Na prática
Além do problema de recursos, outros fatores 
contribuem para as altas taxas de vagas ociosas. 
Um deles é a falta de preceptores, os profissionais
 encarregados de orientar os alunos durante a 
formação. “Esse não é um posto obrigatoriamente
 remunerado. Com a ampliação das vagas, 
instituições se deparam com a dificuldade de 
encontrar profissionais dispostos a atuar”, 
afirma Rosana.
Alguns cursos registram elevado índice de 
desistência de residentes na transição entre
 o 1º e 2º ano de curso. “São vários fatores 
que levam à desistência. Entre eles, a falta 
de qualidade da residência”, completa ela.
Os dados do estudo feito pela USP, batizado
 de Demografia Médica, indicam uma diferença
 significativa das vagas ociosas de acordo 
com o ano de residência. Em 2017, o 1º ano
 de residência apresentava 5.933 vagas não 
ocupadas. Já no 2º ano, o número saltava 
para 10.529. Na avaliação de Rosana, 
a diferença entre as vagas ofertadas 
e as efetivamente usadas indicam a 
necessidade de melhor planejamento.
“Passar no curso é difícil. Mas ninguém quer
 dedicar dois, três, quatro anos de sua vida 
para uma formação que não é boa. Quando 
o médico percebe que a residência não é 
boa, ele desiste, tenta em 
outro lugar”, afirma Juracy Barbosa, de 33 anos,
 que há duas semanas concluiu a residência 
em Ortopedia e Traumatologia no Hospital 
das Forças Armadas, em Brasília. Agora, ele 
se prepara para se dedicar a uma subespecialidade.
Mesmo especialidades mais buscadas, como 
Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral e 
Ginecologia e Obstetrícia têm aproximadamente
 30% das vagas autorizadas não preenchidas. 
“Vagas ociosas representam um desperdício. 
Médicos especialistas são essenciais no sistema 
de saúde brasileiro”, afirma Scheffer.
O Ministério da Saúde informou, por meio de nota,
 que o programa de residência médica tem 
como objetivo dar prioridade às regiões onde
 existe carência na assistência e de formação 
profissional. As vagas do programa são definidas 
em acordo com secretarias municipais e estaduais
 de saúde, com base nas necessidades locais.
Entre as ações, está a concessão de bolsas e 
formação de tutores do programa. O ministério
 financia vagas de residência autorizadas pela 
Comissão Nacional de Residência Médica.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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