DIFERENTE DELES
Olha, eu não canso de me admirar com a capacidade que os políticos têm de conviver com uma situação como essa que envolve o Renan Calheiros. Se fosse comigo eu já teria morrido de vergonha. Saberia que por onde passo as pessoas me olhariam e cochichariam "olha ele aí". Saberia que na casa de cada brasileiro estariam escancarados os atos que pratiquei e que não são nobres. Eu morreria de vergonha diante da minha família, de meus filhos. Como é que eu encararia meus pais? Como é que eu encararia a moça do caixa na padaria? E o porteiro do prédio? Como seria uma reunião na escola de meus filhos? Ou no meu condomínio? Como é que eu entraria num avião e enfrentaria 150 pares de olhos acusadores? Como é que alguém consegue conviver com isso?
Pensei muito a respeito e cheguei a uma conclusão preocupante. Uma pessoa só consegue suportar uma situação como essa de duas formas: se for provida de uma cara-de-pau infinita ou se conviver entre pessoas que são iguais a ela. Um ladrão não tem vergonha de outros ladrões. Um vigarista não se envergonha diante de outros vigaristas. E me deu um frio na barriga quando entendi que talvez o Renan - e aqueles outros - achem que eu sou igual a eles. Portanto podem conviver comigo como se nada tivesse acontecido.
E se eu estiver correto, então concluo que o caso Renan - como o de outros políticos da mesma cepa - me indigna menos pelas sacanagens que eles cometeram do que pela perspectiva de que eles achem que sou igual a eles...
Definitivamente, não sou igual a eles.
E, sobre esse assunto, recebi um e-mail de um leitor, Alessandre Cordero, com uma idéia interessante:
"Presenciei uma cena num zoológico aqui em SP que foi algo que passaria despercebido em qualquer país: um jovem estava indo jogar objetos no lixo quando desviou e pegou uma lata do chão, deixada 'pelos outros'. Mas ao tentar colocar no lixo reciclável, viu que este se encontrava cheio. Não pensou duas vezes, amassou a lata e colocou-a no lixo. Uma senhora que estava por perto e presenciou o ato não se conteve e disse: 'O Brasil deveria ter mais pessoas iguais a você'. E o mais incrível veio em seguida, quando umas 10 ou 15 pessoas próximas começaram a aplaudir o jovem.
Sim, existem muitos bons brasileiros escondidos dentro da massa hipócrita, e precisamos destacá-los para mostrar que é bom ser e fazer o certo. Luciano, aproveitando a desilusão atual de ser brasileiro, podíamos lançar uma nova campanha: 'Não sou como vocês!'. Essa campanha mostraria o bom indivíduo, civilista, patriótico e correto. Um brasileiro diferente. Para as pessoas terem orgulho de dizer que jogam lixo no lixo, separam o reciclável, não compram produtos piratas, não usam artimanhas de suborno, não usam o acostamento como pista, não param em fila dupla, dão passagem, agradecem, não furam fila etc. Pessoas que hoje se encontram isoladas e sem muito crédito. Pois estas pessoas deveriam ter orgulho de ser como são e dizer de boca cheia 'Não sou como vocês!'. Essa campanha seria eterna."
Li o e-mail do Alessandre entre perplexo e angustiado. Percebi que sua idéia é a mesma de milhões de brasileiros que querem tão pouco... Querem apenas que sejamos civilizados. Honestos. Que sejamos diferentes daqueles "eles".
Não sei como é pra você. Mas pra mim, constatar que no início do novo milênio nossa ambição se resume ao óbvio, dá uma sensação profunda de que estamos atrasados.
Muito atrasados.
Valeu amiga. Saudades de vc....
ResponderExcluir