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12.28.2007

Papel do Farmacêutico & Atenção Farmacêutica


 

CONCEITOS E EVOLUÇÃO DA ATENÇÃO FARMACÊUTICA
A primeira publicação em que se mencionou o termo Atenção Farmacêutica foi escrita por Mikeal em 1975, que definiu o conceito como a “atenção que dado paciente requer e recebe com garantias de um uso seguro e racional dos medicamentos”.
Em 1987, Charles Hepler descreveu Atenção Farmacêutica como uma relação conveniente entre o farmacêutico e o paciente, na qual o farmacêutico realiza as funções de controle sobre o uso dos medicamentos (com apropriado conhecimento e habilidade), guiado por sua consciência e compromisso com os interesses do paciente.
Em 1990, Charles Hepler e Linda Strand definiram Atenção Farmacêutica como a oferta responsável da terapia farmacológica com a finalidade de atingir resultados definidos na saúde que melhorem a qualidade de vida do paciente.
A Associação Norte-Americana de Farmacêuticos de Hospital e Sistema de Saúde - ASHP, em 1992, estabeleceu que Atenção Farmacêutica é a direta e responsável provisão de cuidados relacionados com a medicação, com o propósito de alcançar resultados que sirvam para melhorar a qualidade de vida do paciente.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de Atenção Farmacêutica é definido com “a prática profissional em que o paciente é o principal beneficiário do farmacêutico”. É um compêndio de atividades, comportamentos, compromissos, inquietudes, valores éticos, funções, conhecimentos, responsabilidades e habilidades do farmacêutico na prestação da farmacoterapia, com o objetivo de alcançar resultados terapêuticos definidos na saúde e na qualidade de vida do paciente.
No Brasil, o aumento das demandas na área de saúde, tem evidenciado a necessidade de que se estabeleça uma política de medicamentos em que o farmacêutico deve ser o elemento essencial na promoção da saúde e do uso racional dos medicamentos. Alguns estabelecimentos farmacêuticos privados, percebendo esta demanda, têm substituído progressivamente a prática tradicional de dispensação de medicamentos, ou seja, a simples entrega do produto, pela prestação de serviços que incorporam, através da Atenção Farmacêutica, um diferencial competitivo no mercado (ALBERTON, 2001).
Dispensação é o ato profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos a um paciente, geralmente como resposta a apresentação de uma receita elaborada por um profissional autorizado. Neste ato o farmacêutico informa e orienta o paciente sobre o uso adequado do medicamento. São elementos importantes da orientação, entre outros, a ênfase no cumprimento da dosagem, a influência dos alimentos, a interação com outros medicamentos, o reconhecimento de reações adversas potenciais e as condições de conservação dos produtos (ALBERTON, 2001).
O termo Atenção Farmacêutica significa o processo pelo qual o farmacêutico atua com os profissionais e com o paciente na planificação, implementação e monitorização de uma farmacoterapêutica que produzirá resultados específicos. O aconselhamento ao paciente é um dos instrumentos essenciais para a realização da Atenção Farmacêutica, sendo imprescindível o desenvolvimento das habilidades de comunicação, para assegurar a boa relação farmacêutico – usuário (LYRA JR. et al., 2000).
A Atenção Farmacêutica baseia-se, justamente, na capacidade do farmacêutico de assumir novas responsabilidades relacionadas aos medicamentos e aos pacientes, através da realização de um acompanhamento sistemático e documentado com o consentimento dos mesmos. Nesta perspectiva, a preparação de futuros farmacêuticos habilitados para o desempenho, com destreza, conhecimentos técnicos e compromisso social de suas atribuições, exige do ensino de farmácia e das suas universidades uma ênfase no desenvolvimento de todas as habilidades necessárias para a formação de profissionais pautados pela qualificação e excelência. Exige também um visão e uma postura interdisciplinar, integradora, informadora (ALBERTON, 2001).
Na Atenção Farmacêutica os farmacêuticos devem dispor do tempo necessário para determinar os desejos, as preferências e as necessidades do paciente relacionadas com a sua saúde, comprometer e continuar a atenção uma vez iniciada (PERETTA E CICCIA, 2000).
Ainda segundo os autores a Atenção Farmacêutica é o que faz o farmacêutico quando:
a) Avalia as necessidades do paciente relacionadas com os medicamentos;
b) Determina se o paciente tem um ou mais problemas reais ou potenciais relacionados com os medicamentos;
c) Trabalha com o paciente para promover a saúde, prevenir as doenças e iniciar, modificar e controlar o uso dos medicamentos com o fim de garantir que o tratamento farmacoterapêutico seja seguro e eficaz.
O farmacêutico presta Atenção Farmacêutica quando executa os três passos com êxito em todos e a cada um dos seus pacientes.
A VOCAÇÃO DA FARMÁCIA
O Brasil, no alto dos 500 anos, vive contradições modernas que assolam os países do terceiro mundo em vias de desenvolvimento. O Brasil tem uma extensão continental, com particularidades farmacêuticas igualmente continentais. No País, são vendidos oito mil medicamentos em 14 mil diferentes apresentações. A atividade farmacêutica representa no Brasil, uma economia da ordem de 14 bilhões de dólares anuais. Desses medicamentos, 80% são produzidos pela indústria multinacional.
A capilaridade farmacêutica, no Brasil, é enorme: o país possui 58 mil estabelecimentos, entre farmácias e drogarias e aproximadamente 65 mil farmacêuticos registrados no Conselho Federal de Farmácia - CFF. Esses dados astronômicos em produção e venda de medicamentos não significam que o produto esteja chegando satisfatoriamente à população. O Brasil, um representante clássico do desnível social e da péssima distribuição de renda, enfrenta também o grave problema da falta de medicamentos.
A expansão das drogarias contribuiu para afastar os farmacêuticos das farmácias, os
estabelecimentos transformaram-se em locais de negócios. No Brasil, o conceito de medicamentos ainda não passa de uma mercadoria qualquer. As farmácias e drogarias (principalmente), transformaram-se em mercearias e estão mais sujeitas as regras de mercado que as regras sanitárias. Nelas comete-se a aviltante e irresponsável “empurroterapia”, em que o balconista do estabelecimento oferece qualquer medicamento ao paciente, à revelia de prescrição médica e da dispensação do farmacêutico, atendendo exclusivamente aos apelos do negócio e do lucro (SANTOS, 2000).
A verdadeira vocação da farmácia é a de ser um estabelecimento de consulta farmacêutica e não mais um mero ponto de dispensação. Ela é um lugar em que as pessoas buscam cada vez mais informações sobre saúde, com vistas a melhorar a qualidade de vida (SANTOS, 2002e).
A farmácia só tem razão de existir se for dirigida por um farmacêutico e contar com a presença deste em tempo integral. Por ser um estabelecimento de saúde, a farmácia tem que estar sob a responsabilidade exclusiva do único profissional de saúde qualificado para o cargo, o farmacêutico (PERILLO, 2002).
MISSÃO DA PROFISSÃO FARMACÊUTICA
As profissões existem para servir a sociedade e a missão da profissão farmacêutica deve se centrar nas necessidades da sociedade e de cada paciente. A profissão farmacêutica é a que descobre, desenvolve, produz e distribui drogas, medicamentos e outros produtos farmacêuticos. Cria e transmite conhecimentos relacionados com drogas e medicamentos.
Os principais objetivos da profissão farmacêutica são a Atenção Farmacêutica e o
conhecimento dos medicamentos e demais produtos farmacêuticos. A missão do farmacêutico deve integrar três elementos que satisfaçam as necessidades da sociedade e a competência da profissão: o pessoal farmacêutico (funcionários da farmácia), os produtos farmacêuticos e os beneficiários dentro do processo.
A profissão farmacêutica se responsabiliza pela disponibilidade dos medicamentos para prevenir, melhorar, diagnosticar, tratar e curar as doenças. Contribui para que os pacientes recebam uma eficaz e segura terapia com medicamentos, isto é: a melhor droga, dose e informação para o paciente, no momento e lugar certos, com a devida consideração dos custos.
A profissão farmacêutica compartilha autoridade e responsabilidade entre os farmacêuticos e os outros profissionais de saúde na planificação, implementação e controle do uso dos medicamentos. Intercede por uma conveniente relação entre farmacêuticos e pacientes, em que os farmacêuticos consideram o bem estar dos pacientes como algo primordial.
A profissão cria e mantém sistemas para a precisa avaliação e provisão de informação sobre medicamentos, destinado à profissão farmacêutica, e outras profissões e aos pacientes, sobre os benefícios de utilizar a Atenção Farmacêutica.
A profissão farmacêutica assegura estes contínuos serviços à sociedade, selecionando, educando e treinando os futuros membros da profissão. Apoia e patrocina o sistema para assegurar a competência de todo aquele que serve à sociedade através da profissão. Assegura a qualidade dos cuidados, os conhecimentos e os medicamentos oferecidos pela profissão. Analisa e avalia, de forma contínua, as necessidades de cuidados farmacêuticos nos sistemas de saúde, para manter ou alterar a natureza e o âmbito da Atenção, da Pesquisa e da Educação que fornecem os profissionais, os pesquisadores e os educadores.
É missão do farmacêutico:
Participar no processo de tomar decisões sobre a utilização de medicamentos;
Selecionar a fonte de abastecimento do produto farmacêutico;
Selecionar a forma farmacêutica do medicamento;
Preparar o medicamento para uso do paciente;
Fornecer o medicamento ao paciente;
Prestar informações ao paciente sobre os medicamentos;
Controlar e acompanhar para detectar reações adversas e interações com medicamentos e alimentos;
Controlar e acompanhar o paciente para incrementar a probabilidade de êxito do procedimento terapêutico, de acorde com os objetivos da Atenção ao paciente.
Estes procedimentos devem ser realizados de forma contínua e dentro da filosofia de práticas farmacêuticas focalizadas no paciente como o beneficiário dos atos da farmacêutica, apoiando o uso racional de medicamentos (PERETTA E CICCIA, 2000).
O PAPEL DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO
O Brasil está entre os dez maiores mercados consumidores de medicamentos, com uma participação de 2 a 3,5% do volume mundial. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica – Abifarma, o faturamento farmacêutico mundial é em torno de 300 bilhões de dólares, cabendo ao Brasil aproximadamente 14 bilhões, o que coloca o nosso país como o quinto maior mercado mundial e representa 40% do Continente Latino-Americano.
O papel do farmacêutico como profissional do medicamento é realizar, em toda a sua plenitude, Atenção Farmacêutica e avaliar a sua real utilidade nas ações de saúde pública (SCHOSTACK, 2001). Segundo o autor citado, Erving Goffmann sociólogo, define que o homem, perante a sociedade e para si mesmo, deve representar um papel.
Da mesma forma que Netuno é representado, elevando-se do mar, ao mesmo tempo em que é o mar, assim também há o sentimento ético do farmacêutico erguendo-se acima das prateleiras, balcões de vidro e equipamentos, sendo ao mesmo tempo parte da essência deles.
A sociedade acredita na atuação dos profissionais de saúde e na indústria farmacêutica, calçados na ética profissional que se exige de cada segmento com o seu papel a desempenhar. O medicamento não é um bem de consumo, não pode ser comparado a uma roupa, brinquedo, tênis ou aparelho doméstico. É o fundamento da ação médica e farmacêutica. É a droga capaz de salvar ou matar.
O farmacêutico e o medicamento aliam-se na cruzada da saúde, sendo imprescindíveis e decisivos ao ato de prescrição médica (SCHOSTACK, 2001).
O farmacêutico é um elo indispensável entre a cadeia produtiva de medicamentos e a sociedade, o profissional é que faz a ponte que resulta na segurança e na saúde da população (PERILLO, 2000)
Grande parte das doenças mais comuns pode ser perfeitamente controlada por meio dos serviços da Atenção Farmacêutica. Por essas e outras vantagens, a Organização Mundial de Saúde - OMS vem recomendando esses serviços. Muitas farmácias funcionam irregularmente, não mantendo o farmacêutico presente para prestar esses serviços. Isso priva o usuário do medicamento do direito essencial à informação, principalmente agora com o advindo dos genéricos, pois a substituição de um medicamento de referência por um genérico somente pode ser feita pelo farmacêutico, segundo a Lei 9787/99 (DOU, 2000).
O farmacêutico possui conhecimentos de farmacologia, farmacocinética, fisiologia e fisiopatologia, que fazem dele uma autoridade em medicamento. Esse profissional não pode ficar fora da farmácia, é um grande risco. O acesso à Atenção Farmacêutica é um direito do usuário assegurado pela legislação sanitária e pelo código de defesa do consumidor (SANTOS, 2002a).
Para o professor de tecnologia e bioquímica farmacêutica da Universidade de São Paulo - USP, Polakiewaz (2002), o farmacêutico deve ter uma boa formação e vocação para a farmácia. No caso específico do profissional que irá atuar em farmácias e drogarias, ele ainda necessita aprender a lidar com o público, já que é o intermediador entre o médico e o paciente.
Hoje, há uma nova visão para o papel do farmacêutico, a do paciente orientado, em vez do produto orientado. O farmacêutico é o profissional capaz de melhorar a eficácia do tratamento, não só através do medicamento, mas pela força da Atenção que ele presta aos pacientes.
É só com a Atenção Farmacêutica que a mesma humanidade, que tanto se surpreende com os avanços da tecnologia farmacêutica e dos modernos medicamentos, vai se livrar das iatogenias (as doenças decorrentes do uso inadequado dos medicamentos). Essas doenças do medicamento podem levar à morte ou gerar transtornos ao paciente e acarretar prejuízos aos sistemas público e privado de saúde.
O farmacêutico é o profissional do paciente e do medicamento, e, de todos os profissionais de saúde, é aquele que está mais disponível a sociedade. E é de graça (HARALAMPIDOU, 2001).
O profissional farmacêutico, embora possa atuar em muitas áreas, deve ser permanentemente lembrado e preparado para dedicar-se ao campo em que é insubstituível: lidar com os medicamentos, auxiliar na cura das doenças e orientar os pacientes.
Para resgatar o seu espaço, o farmacêutico deve aproveitar-se dos fatos históricos (ocasionais ou não) do momento, como a falsificação de medicamentos, as farmácias de prefeituras, a assistência farmacêutica dentro do Sistema Único de Saúde - SUS, transformando-os em fatores positivos para o fortalecimento do papel do profissional à frente da farmácia, modificando o conceito da população em relação ao farmacêutico.
O papel do farmacêutico e dos outros profissionais, também é usar a profissão, o seu conhecimento e a sua cultura como arma para diminuir as desigualdades, pregando solidariedade e fazendo ver que a globalização só será benéfica quando repartir riqueza e não distribuir miséria (BRANDÃO, 2000).
A sociedade brasileira resgata o farmacêutico como o profissional insubstituível, imbatível em conhecimentos sobre medicamentos e exclusivo, ninguém, que não ele está legal ética e academicamente tão capacitado para orientar o usuário do medicamento acerca do produto que está adquirindo (SANTOS, 2000).
Segundo Costa (2001), a reprofissionalização na farmácia só será completa quando todos os farmacêuticos aceitarem o seu papel social, de garantir terapia farmacológica segura e efetiva para o paciente.
Sendo o farmacêutico fundamental na equipe, multiprofissional de saúde, ele tem que estar à frente da farmácia, consultando o paciente, e com o seu conhecimento e a sua inquietude, passando as suas informações, a exemplo dos riscos potenciais que há nos medicamentos. Também sabendo do paciente se ele está tomando outros produtos. Os desafios futuros são os de buscar os caminhos éticos, porque, cada vez mais, são muitos os perigos e sofisticados os medicamentos, o que aumenta os erros potenciais para a saúde dos pacientes se não usados corretamente. Esse é um compromisso do farmacêutico para com a saúde pública (REYS, 2000).
A medicina só pode ser exercida com eficácia quando a gestão dos medicamentos é eficiente e, somente quando a estrutura para atenção à saúde aceitar o farmacêutico como membro vital da equipe de saúde (OMS, 1990).

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