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3.15.2008

Sálvia é considerada a nova maconha nos EUA

“Nova maconha” nos EUA, sálvia tem uso restrito no Brasil

O consumo da erva alucinógena, cujos efeitos no sistema nervoso ainda não são totalmente conhecidos, já foi proibido em oito estados americanos. No Orkut, jovens brasileiros relatam sensações como ver a mão "torta" após o uso.

Sálvia divinorum é diferente da consumida como tempero na culinária
A popularização da Salvia divinorum, planta com propriedades alucinógenas, já preocupa as autoridades americanas, a ponto de a erva já ser chamada de “a nova maconha” nos Estados Unidos.

Geralmente consumida na forma de fumo, mas também mascada ou bebida como uma infusão, a sálvia é proibida em oito estados americanos. Outros 16, entre eles a Flórida, pretendem fazer o mesmo.

Conhecida entre os usuários americanos como “Sally-D”, a planta ainda não é muito difundida no Brasil, onde o consumo e a venda não sofrem restrições. Seu uso é visto com cautela entre estudiosos do consumo de drogas, uma vez que ainda não existem pesquisas no país sobre os efeitos da substância Salvinorin A, princípio ativo da planta, no sistema nervoso.

Embora ainda de uso restrito, a sálvia conta com uma poderosa ferramenta de divulgação: a internet. No Orkut, site de relacionamentos da internet, existem duas comunidades nas quais jovens trocam informações sobre o consumo da planta, cuja espécie alucinógena é diferente da variedade usada como tempero. Alguns descrevem sensações de suor intenso e dormência no corpo após o uso, além de alucinações. “Fumei (...) e vi que a luz estava estranha”, diz um deles. “Depois botei debaixo da língua. Quando olhei ‘pra’ minha mão, ela ‘tava’ torta. Senti como se eu mesmo estivesse entrando pelo meu corpo.”

Um dos pioneiros na comercialização da sálvia no Brasil, o empresário Rogério di Girolamo, de 33 anos, afirma que é “um grande erro” associar a planta com a maconha ou qualquer outro tipo de droga. Segundo ele, não há nenhuma comprovação científica de que a salvia divinorum cause dependência ou danos como a perda de neurônios, por exemplo. “Quem procurar na sálvia o ‘barato’ da maconha vai se decepcionar”, diz.

Girolamo planta e vende a erva num site de produtos naturais, por R$ 45 o grama da folha. A procura, segundo ele, é baixa. “Vendo, no máximo, 1,5 kg de folhas por mês. Tem pessoas que compram uma vez e depois nunca mais aparecem.” Além disso, não é tão simples cultivar a sálvia. Ela se propaga por meio de mudas e precisa de ambientes úmidos para se desenvolver.

Consumidor de sálvia desde 2001, Girolamo não se considera um dependente. “Eu a utilizo a cada cinco ou seis meses, sempre associada a um ritual.” Para ele, assim como o chá de ayahuasca do Santo Daime, a sálvia oferece ao usuário uma experiência místico-religiosa, que dura de cinco a dez minutos. Entre as sensações descritas por ele após o uso, estão a de uma leveza corporal e uma “viagem” interna. As tribos que descobriram a planta há mais de dois mil anos, em Sierra Mazateca, no México, a utilizavam em rituais cujo objetivo era identificar e curar doenças.

Apesar de estar presente há tanto tempo nas civilizações da América Latina, a Salvia divinorum só foi citada pela primeira vez nos Estados Unidos no início da década de 60, quando o botânico Gordon Wasson teve contato com a planta e revelou suas propriedades alucinógenas. Pesquisas recentes mostraram que a erva tem potencial terapêutico para doenças como esquizofrenia e transtorno bipolar.

O psiquiatra Marcelo Niel, do Programa de Orientação e Atendimento ao Dependente (Proad), ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que há “um certo alarde” dos Estados Unidos em relação ao consumo de sálvia por adolescentes, mas considera que, por ter propriedades alucinógenas, ela não pode ser encarada como algo totalmente inofensivo. “Toda substância, ainda mais sobre a qual a comunidade científica ainda não conhece por completo, pode ser perigosa.

Fonte:Globo.com

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