A geriatria é a especialidade médica que se ocupa das pessoas de idade avançada e das doenças de que sofrem, e a gerontologia é o estudo do envelhecimento. Não existe uma idade específica que transforme o indivíduo em «ancião», embora esta se estabeleça frequentemente nos 65 anos, por ser a idade habitual da reforma. Algumas doenças, denominadas às vezes síndromas geriátricas ou doenças geriátricas, apresentam-se quase exclusivamente em adultos de idade avançada. Pelo contrário, outras perturbações afectam os indivíduos de todas as idades, embora na velhice sejam mais frequentes ou mais graves, ou possam causar sintomas ou complicações diferentes. As pessoas mais velhas sofrem a doença de uma maneira diversa da dos adultos mais jovens, e inclusive podem ter sintomas diferentes.
Por exemplo, a diminuição da função tiroideia causa, geralmente, um aumento de peso e uma sensação de preguiça nas pessoas mais jovens. Nos mais velhos o hipotiroidismo pode também provocar confusão, que, por erro, se pode diagnosticar como demência. Pelo contrário, uma glândula tiroideia hiperactiva provoca, frequentemente, inquietação e perda de peso nos jovens; mas nos mais velhos é causa de sonolência, introversão, depressão e confusão. No jovem adulto, a depressão aumenta a propensão ao choro, à introversão e à tristeza. No entanto, nas pessoas de idade avançada a depressão pode causar confusão, perda da memória e apatia, sintomas que podem ser interpretados, por erro, como os da demência. O falecimento das pessoas mais velhas já não se verifica por afecções agudas como um enfarte cardíaco, uma fractura da bacia ou uma pneumonia. Hoje, estas doenças podem ser tratadas e controladas mesmo que sejam incuráveis.Uma afecção crónica não implica necessariamente a invalidez: de facto, muitos doentes podem continuar as suas actividades e não depender dos outros apesar de ter diabetes, alterações renais, doenças do coração e outras doenças crónicas.
Os factores socioeconómicos modificam, com frequência, a forma como as pessoas mais velhas procuram e recebem cuidados médicos; muitas vezes, tendem a ocultar os problemas quando são pouco importantes; ou não solicitam atenção médica senão quando as perturbações se tornam bastante mais graves. Na idade avançada, têm tendência para sofrer de mais de uma doença ao mesmo tempo, e cada doença pode influir nas outras. Por exemplo, a depressão pode piorar a demência e a diabetes pode agravar uma infecção. Também é frequente que, devido aos factores sociológicos, as doenças se compliquem em pessoas de idade avançada. Este grupo de pessoas pode deprimir-se se a afecção implicar uma perda de independência temporária ou permanente e, como consequência, necessitar de cuidados frequentes por parte dos serviços sociais, assim como de ajuda psicológica. Daí que os geriatras recomendem, muitas vezes, os tratamentos multidisciplinares sob a direcção de um médico principal, que, por sua vez, conta com a colaboração de uma equipa de pessoal sanitário composto por médicos, enfermeiras, assistentes sociais, terapeutas, farmacêuticos e psicólogos, os quais planificam e aplicam o tratamento correspondente.
Alterações corporais
Com a idade alteram-se vários aspectos perceptíveis no corpo humano. A primeira indicação de envelhecimento talvez apareça quando o olho tem dificuldade em focar os objectos próximos (presbitia). Por volta dos 40 anos para muita gente é, geralmente, difícil ler sem usar óculos. A capacidade auditiva também se altera com a idade, sendo frequente a perda de certa capacidade para ouvir os sons mais agudos (hipoacusia). Daí que as pessoas mais idosas possam considerar que a música do violino já não soa tão emocionante como quando eram jovens; também, ao não perceber a tonalidade aguda da maior parte das consoantes fechadas, podem pensar que os outros estão a murmurar.
Na maioria dos indivíduos a proporção de gordura corporal aumenta com a idade mais de 30 %. A sua distribuição também varia. De facto, há menos gordura por debaixo da pele e mais na zona abdominal e, consequentemente, a pele torna-se mais fina, enrugada e frágil, e a forma do corpo também se altera.
Por isso, não é surpreendente que, com a idade, diminuam quase todas as funções internas, cujo pico máximo de eficácia se situa na faixa dos 30 anos. A partir dessa idade inicia-se uma perda gradual mas contínua. Apesar dessa perda, a maioria das funções continuam a ser adequadas durante o resto da vida porque a capacidade funcional de quase todos os órgãos é superior à que o corpo necessita (reserva funcional).
Por exemplo, embora se destrua metade do fígado, o tecido hepático restante é suficiente para manter um funcionamento normal. Geralmente, são as doenças, mais do que o envelhecimento normal, que explicam a perda da capacidade funcional na velhice. Ainda assim, a diminuição das funções incide na predisposição dos idosos para sofrer os efeitos adversos dos fármacos, as alterações ambientais, o efeito das substâncias tóxicas e as doenças.
Embora a qualidade de vida se altere pouco com a diminuição das funções de alguns órgãos, a deterioração de certos órgãos pode afectar seriamente a saúde e o bem-estar.
Por exemplo, na velhice a quantidade de sangue que o coração pode bombear quando o corpo está em repouso não se reduz demasiado; em contrapartida, quando o esforço é máximo, a diminuição que se verifica é significativa. Isto implica que os atletas mais velhos não sejam capazes de competir com os atletas mais jovens.
Por outro lado, as alterações no funcionamento do rim podem afectar gravemente a capacidade das pessoas mais velhas para eliminar certos fármacos do organismo.
Em geral, é difícil determinar quais são as alterações que se relacionam com o envelhecimento e quais as que dependem do estilo de vida que cada indivíduo levou. Vários órgãos podem sofrer danos maiores que os causados pelo envelhecimento, como no caso das pessoas que levam um estilo de vida sedentário, uma dieta inadequada, que fumam e abusam do álcool e das drogas. Os indivíduos expostos a substâncias tóxicas podem experimentar uma quebra mais acentuada ou mais rápida em alguns órgãos, especialmente os rins, os pulmões e o fígado.
Os indivíduos que trabalharam em ambientes ruidosos terão mais probabilidades de perder a capacidade auditiva. Podem evitar-se algumas alterações se se adoptar um estilo de vida mais saudável.
Por exemplo, deixar de fumar em qualquer idade melhora o funcionamento dos pulmões e diminui as probabilidades de um cancro no pulmão, assim como a actividade física ajuda a manter em forma os músculos e os ossos.
Teorias do envelhecimento
Todas as espécies envelhecem e experimentam alterações consideráveis, do seu nascimento à sua morte. A partir desta evidência a ciência propõe várias teorias sobre as causas do envelhecimento, embora nenhuma tenha sido comprovada. No fim de contas, de cada teoria podem extrair-se algumas das causas pelas quais se envelhece e se morre.
Segundo a teoria da senilidade programada, os genes predeterminam a velocidade do envelhecimento de uma espécie porque contêm a informação sobre quanto tempo viverão as células. À medida que estas morrem, os órgãos começam a funcionar mal e com o tempo não podem manter as funções biológicas necessárias para que o indivíduo continue a viver. A senilidade programada contribui para a conservação da espécie uma vez que os membros mais velhos morrem à velocidade requerida para dar lugar aos jovens.
Por outro lado, a teoria dos radicais livres expõe que a causa do envelhecimento das células é o resultado das alterações acumuladas devido às contínuas reacções químicas que se produzem no seu interior. Durante estas reacções formam-se os radicais livres, substâncias tóxicas que acabam por danificar as células e causar o envelhecimento.
A gravidade da afecção aumenta com a idade, até que várias células não podem funcionar normalmente ou se destroem e, quando isso ocorre, o organismo morre. As diversas espécies envelhecem a um ritmo diferente segundo a produção e a resposta por parte das células aos radicais livres.
Como se altera o corpo com a idade? Diminui a quantidade de sangue que flui para os rins, o fígado e o cérebro.
A capacidade dos rins para depurar toxinas e fármacos diminui.
Constata-se uma menor capacidade do fígado para eliminar as toxinas e metabolizar a maioria dos fármacos.
A frequência cardíaca máxima diminui, mas a frequência em repouso não sofre alterações.
Diminui o volume máximo de sangue que passa através do coração.
Diminui a tolerância à glicose.
Diminui a capacidade pulmonar.
Observa-se um aumento da quantidade do ar remanescente nos pulmões (depois de espirrar).
A resistência às infecções é menor.
Fonte: Manual Merck
Fármacos e envelhecimento
ResponderExcluirUma vez que as pessoas com mais idade são mais propensas a sofrer de doenças crónicas, elas tomam maior quantidade de remédios que os jovens. Uma pessoa em idade avançada toma, em média, quatro ou cinco fármacos com prescrição médica e dois sem receita. Estas pessoas são duas vezes mais propensas a reacções adversas ao fármaco, em comparação com os jovens. Além disso, as reacções tendem a ser bastante mais graves.
À medida que se envelhece diminui a quantidade de água do organismo. Os fármacos alcançam concentrações mais elevadas nas pessoas com mais idade. Muitos medicamentos, uma vez no corpo, dissolvem-se nos líquidos do organismo, mas nestas pessoas existe menos água para os diluir. Além disso os rins são menos eficazes na excreção de fármacos pela urina e o fígado tem menos capacidade para metabolizá-los.
Por essa razão, muitos fármacos permanecem mais tempo no organismo de um idoso do que no de um jovem. Como resultado, os médicos devem prescrever doses menores de muitos medicamentos às pessoas com mais idade ou inclusive um número reduzido de doses diárias. Além disso, o organismo destas pessoas é mais sensível aos efeitos de muitos fármacos. Por exemplo, podem sentir sonolência ou confusão se lhe forem administrados ansiolíticos ou hipnóticos. Os fármacos que reduzem a tensão arterial, dilatando as artérias e diminuindo o stress cardíaco, tendem a diminuir mais a pressão arterial nas pessoas mais idosas que nos jovens. O cérebro, os olhos, o coração, os vasos sanguíneos, a bexiga e os intestinos tornam-se mais sensíveis aos efeitos secundários anticolinérgicos de alguns dos fármacos mais utilizados. Os fármacos com efeitos anticolinérgicos bloqueiam a acção de uma parte do sistema nervoso, o denominado sistema nervoso colinérgico.
Alguns fármacos tendem a provocar reacções adversas, sendo estas frequentes e intensas nas pessoas de idade avançada.
Por isso, devem evitar-se determinados fármacos, uma vez que na maioria dos casos estão disponíveis alternativas mais seguras. Existem alguns riscos se não se seguem as indicações do médico em relação a um fármaco. No entanto, a falta de cumprimento das indicações do médico entre as pessoas mais velhas não é mais frequente que entre os jovens.
Não tomar um fármaco ou tomar mais ou menos doses que as indicadas pode causar problemas.
Por exemplo, podem aparecer os sintomas de uma doença, ou então o médico pode alterar o tratamento, pensando que o fármaco não foi eficaz.
Se uma pessoa mais velha não deseja seguir as indicações do médico, deve comentar isso e não agir por sua conta.
Fármacos que comportam maiores riscos nas pessoas de idade avançada
Analgésicos
O propoxifeno não alivia a dor mais que o paracetamol e tem efeitos secundários sedativos. Pode causar obstipação, sonolência, confusão e em muitas ocasiões respiração lenta. Pode causar adição como outros narcóticos (opiáceos).
Entre todos os anti-inflamatórios não esteróides a indometacina é a substância que mais afecta o cérebro. Às vezes causa confusão ou vertigens.
A meperidina injectada actua como um analgésico muito potente; no entanto, não é muito eficaz sobre a dor por via oral e, muitas vezes, causa confusão.
A pentazocina é um analgésico narcótico que tem mais possibilidades de causar confusão e alucinações que outros fármacos do mesmo tipo.
Anticoagulantes
O dipiridamol pode causar leves enjoos nas pessoas com mais idade quanto estas estão de pé (hipotensão ortostática). Geralmente são poucas as vantagens que oferece em relação à aspirina na prevenção da formação de coágulos.
Geralmente, a ticlopidina não é mais eficaz que a aspirina para a prevenção de embolias e é consideravelmente mais tóxica. Pode ser útil em doentes que não podem tomar aspirina.
Antiulcerosos
As doses correntes de alguns bloqueadores da histamina podem causar reacções adversas, especialmente confusão. Importa destacar a cimetidina, mas também em menor grau a ranitidina, a nizatidina e a famotidina.
Antidepressivos
Devido às duas potentes propriedades anticolinérgicas e sedativas, a amitriptilina, em geral, não é o melhor antidepressivo para as pessoas com mais idade.
A doxepina também é um anticoligérnico potente.
Antináuseas (antieméticos)
A trimetobenzamida é um dos fármacos menos eficazes para as náuseas e pode causar efeitos adversos, incluindo movimentos anormais dos braços, das pernas e do corpo.
Anti-histamínicos
Todos os anti-histamínicos de venda sem receita, e muitos dos que se administram com prescrição médica, têm efeitos anticolinérgicos poderosos. Entre eles figuram remédios combinados para a constipação como os fármacos clorfeniramina, difenidramina, hidroxizina, ciproheptadina, prometazina, tripelenamina, dexclorfeniramina. Embora, às vezes, sejam úteis para as reacções alérgicas e as alergias sazonais, em geral os anti-histamínicos não o são quando o nariz goteja e quando existem outros sintomas de infecção viral. Quando for necessário administrar anti-histamínicos, são preferíveis os que não tenham efeitos anticoligérnicos (terfenadina, loratadina e astemizol). Para as pessoas mais velhas são mais seguros, de modo geral, os remédios para a tosse e para o resfriado que não contenham anti-histamínicos.
Anti-hipertensivos
A metildopa, só ou em combinação com outros fármacos, pode diminuir o ritmo cardíaco e piorar a depressão. A administração de reserpina é perigosa porque pode provocar depressão, impotência, sedação e vertigem quando se está de pé.
Antipsicóticos
Embora os antipsicóticos como a clorpromazina, o haloperidol, a tioridacina e o tiotixena sejam eficazes no tratamento dos estados psicóticos, não se estabeleceu a sua eficácia no tratamento das perturbações do comportamento associadas à demência (como a agitação, o delírio, a repetição de perguntas, o lançar coisas e dar pancadas). Muitas vezes estes fármacos são tóxicos, produzindo sedação, movimentos anormais e efeitos secundários anticoligérnicos.
As pessoas mais velhas, em caso de necessidade absoluta, devem utilizar antipsicóticos somente em doses baixas. O tratamento deve ser controlado com frequência e interrompido o mais cedo possível.
Antiespasmódicos gastrointestinais
Os antiespasmódicos gastrointestinais como a diciclomina, a hiosciamina, a propantelina, os alcalóides da beladona e o clidinio-clordiazepóxido são usados para tratar cãibras e dores de estômago. São altamente anticolinérgicos e a sua utilidade é duvidosa, em particular em doses baixas toleradas pelas pessoas mais velhas.
Antidiabéticos (hipoglicemiantes)
A clorpropamida tem efeitos de acção prolongada, que são exagerados nas pessoas mais velhas e podem diminuir os valores do açúcar no sangue (hipoglicemia) durante um longo período. Dado que a clorpropamida causa retenção de líquidos, pode também diminuir a concentração de sódio no sangue.
Suplementos de ferro
Uma dose de sulfato ferroso que exceda os 325 miligramas diários não melhora a absorção de ferro de forma considerável e pode provavelmente causar obstipação.
Relaxantes musculares e antiespasmódicos
A maioria dos relaxantes musculares e antiespamódicos como o metacarbamol,o carisoprodol, a oxibutinina, a clorozoxazona, a metaxalona e a ciclobenzaprina têm efeitos secundários de tipo anticolinérgico e produzem sedação e perda de forças. É duvidosa a utilidade que possam ter todos os relaxantes musculares e antiespasmódicos quando administrados nas doses baixas toleradas pelas pessoas mais velhas.
Sedativos, ansiolíticos e hipnóticos
O meprobamato não oferece mais vantagens que as benzodiazepinas e, pelo contrário, comporta muitas desvantagens.
As benzodiazepinas utilizadas para tratar a ansiedade e a insónia (clordiazepóxido, diazepam e flurazepam) têm efeitos de duração muito longa nas pessoas mais velhas (muitas vezes, mais de 96 horas).
Estes fármacos, sós ou em combinação com outros, podem causar sonolência prolongada e aumentar os riscos de queda e de fracturas.
A difenidramina, um anti-histamínico, é o princípio activo de muitos sedativos de venda livre (sem receita médica). No entanto, a difenidramina tem efeitos anticolinérgicos poderosos.
Os barbitúricos como o secobarbital e o fenobarbital causam mais efeitos secundários que outros fármacos utilizados para tratar a ansiedade e a insónia. Também têm interacções com muitos outros fármacos. As pessoas mais velhas devem, em geral, evitar os barbitúricos, excepto para o tratamento de perturbações de tipo convulsivo.
Anticolinérgicos
A acetilcolina é um dos muitos neurotransmissores do organismo. Um neurotransmissor é uma substância química que as células nervosas usam para a comunicação entre si mesmas, com os músculos e com várias glândulas.
Diz-se que os fármacos que impedem a acção do neurotransmissor acetilcolina têm efeitos anticolinérgicos. A maior parte destes fármacos não são concebidos para bloquear a acetilcolina; os seus efeitos anticolnérgicos são efeitos secundários.
As pessoas de idade avançada são particularmente sensíveis aos fármacos com efeitos anticolinérgicos porque a quantidade de acetilcolina do organismo diminui com a idade e porque o seu organismo tem menor capacidade para utilizar a própria.
Os fármacos que têm efeitos anticolinérgicos podem causar confusão, visão enevoada, obstipação, boca seca, enjoos e dificuldade na micção ou incontinência urinária.