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10.13.2008

Formato de bulas de medicamentos dificulta leitura

Formato de bulas de medicamentos dificulta leitura

Em um mundo marcado pela falta de tempo e que supervaloriza a imagem, a
leitura de bulas de remédios é algo que se torna cada vez menos atraente.
Por isso, as bulas com o formato atual estão com os dias contados. Mas
enquanto as mudanças não aparecem, os consumidores reclamam das letras
pequenas, da linguagem técnica e do excesso de informação.

A juíza de direito Adriana Fernandes diz que a linguagem da bula não é
compreensível para a maioria dos cidadãos. ‘‘As informações ali contidas
podem ser claras para o médico e o farmacêutico, para aquele que conhece,
mas o leigo tem dificuldade em compreender’’. Ela questiona também o tamanho
das letras e o conteúdo. ‘‘As letras são muito pequenas e há um grande
volume de informação: é reação, é indicação, é contra-indicaçã o’’.

A juíza diz que não tem conhecimento de nenhum processo relacionado à bula,
mas acredita que as dificuldades citadas ferem o Código de Defesa do
Consumidor. ‘‘As informações devem ser legíveis, com letras grandes. Do
jeito que está hoje, a bula pode ser comparada ao contrato de banco com
letras minúsculas, porque é uma informação que está sendo passada ao
consumidor e que não está clara’’.

O publicitário Fernando Fernandes afirma que se interessa pela leitura das
bulas sempre que compra algum remédio, principalmente sem prescrição médica,
mas aponta dois problemas. O primeiro é relacionado ao tamanho das letras.
‘‘Meu Deus do céu, é terrível. Até com óculos tenho dificuldade de
enxergar’’. Outro problema citado por ele é o volume de informações. ‘‘Há um
grande exagero e a gente fica completamente perdido com as bulas. E ainda
tem a linguagem que é muito técnica e a gente acaba não sabendo o que é’’.

Fernandes é de opinião que a linguagem publicitária – fácil, clara e direta
- deveria ser adotada nas bulas, mesmo que em parte. ‘‘Isso deveria ser
popularizado, mostrando para que serve, quais são os ingredientes do
remédio. Isso é fundamental. Acho que dessa forma você consegue popularizar
a leitura da bula’’.

Mas, por incrível que pareça, não são todos os consumidores que criticam as
bulas. A estudante universitária Ana Buck, por exemplo, não concorda que as
bulas sejam extensas, as letras pequenas e o conteúdo difícil. ‘‘Quanto aos
remédios que eu tomo, não se justifica essa afirmativa não. A bula não é tão
grande assim. E acho que o volume de informação é o necessário, não apenas
para o médico e o farmacêutico, mas também para nós’’. A estudante lamentou
um pouco da linguagem técnica que dificulta a leitura, mas nem isto ela
mudaria. ‘‘Acho que o conteúdo também não precisa ser mudado’’.

Mesmo concordando com o formato atual, a estudante diz que lê apenas o que
acha interessante nas bulas. ‘‘O médico faz a prescrição e eu normalmente
leio a parte que poderia ter algum efeito colateral, mas inteira eu nunca
leio. E acho, na verdade, que esta é uma atitude errada minha’’.

País tem 60 mil medicamentos

O professor de Farmacologia da Unopar, José Antonio Zarate Elias, reconhece
que há excesso de medicamentos no Brasil. Ele explica que segundo os últimos
dados da Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária há 60 mil
registros de medicamentos no País, e que as farmácias, normalmente,
trabalham com cerca de 20 mil apresentações diferentes.

O que acontece com freqüência, de acordo com o professor, é que o mesmo
medicamento pode ter cinco ou seis variações diferentes. ‘‘Muitas vezes, a
pessoa compra uma Novalgina e uma Dipirona, mas na verdade está comprando a
mesma coisa: uma pelo nome comercial e outra pelo princípio ativo’’.

Elias afirma que a Farmacologia estuda, inclusive, os preços dos
medicamentos. E segundo ele, o preço não pode ser comparado com eficiência.
‘‘O consumidor não deve colocar o preço em primeiro lugar. Nem sempre o
medicamento mais caro gera um tratamento mais caro, e nem sempre o
medicamento mais barato vem com o melhor atendimento e serviço. Às vezes, o
barato sai caro’’.

Outro detalhe que segundo o professor não garante a eficiência é o fato do
medicamento ser novo ou antigo no mercado. ‘‘Nota-se que o medicamento
inovador deveria ser o melhor, mas nem sempre é’’. (E.A.)

Linguagem será mais simples e acessível

O consumidor pode ficar tranqüilo: as bulas que acompanham os remédios
terão, a partir de agora, uma linguagem simples e acessível. A exigência
está em uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
As bulas com todas as informações, como as existentes hoje, serão destinadas
apenas para os profissionais da área de saúde.

O professor de Farmacologia da Unopar, José Antonio Zarate Elias diz como
será a bula mais simples para o consumidor. ‘‘Será menos extensa, mais
didática, com letras maiores, numa linguagem mais tranqüila, sem tanta
informação técnica; provavelmente não será aquela bula toda dobradinha, e
ainda pode ser ilustrada para estimular a leitura’’.

De acordo com o professor, este é um processo que será mudado
‘‘lentamente’’, à medida que os registros dos medicamentos forem renovados
na Anvisa, provavelmente até 2009.

Elias afirma que as mudanças são necessárias. Ele concorda que as bulas
atuais são extensas, que a linguagem é complicada e as letras muito
pequenas. ‘‘A bula é extensa porque a lei exige que tudo que se conhece
sobre o medicamento deve estar na bula; a linguagem é técnica para
economizar espaço e as letras são miúdas para caber o máximo de informação
possível no mínimo de espaço’’.

O professor sabe que o brasileiro não gosta de ler bulas, mas aponta outro
motivo para isso. ‘‘A maioria acha que as bulas têm informações em excesso,
e tem mesmo. Porém, a linguagem atual das bulas é complicada para o leigo,
mas adequada para quem é do ramo’’.(E.A.)

Fonte: FOLHA DE LONDRINA

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