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11.19.2008

A revolução dos medicamentos biológicos


A revolução dos medicamentos biológicos

O quadro das doenças inflamatórias intestinais está, de fato, mudando a uma elocidade bastante acelerada e os cientistas de centros do mundo todo não se cansam de estudar a fisiopatologia das doenças para obter uma melhor adequação das terapias que são indicadas aos pacientes.



Basta pensar que há cerca de 10 anos os pacientes que sofriam com os sintomas das doenças inflamatórias intestinais não podiam contar com nenhum medicamento que lhes trouxesse alívio para as suas crises de diarréia, febre e dor abdominal, o que se está assistindo hoje no mercado farmacêutico destinado a esses diagnósticos é uma verdadeira festa. Acaba de chegar no Brasil, com a aprovação da ANVISA, a Agência de Vigilância Sanitária, o tão aguardado Humira, o anti-TNF totalmente humanizado, que está indicado para doença de Crohn, nos casos de moderado a severo, e que tem trazido benefícios para alguns portadores desta doença que já faziam uso deste medicamento em virtude de ele ter sido aprovado, anteriormente, para casos de artrite reumatóide. Agora, acabou de uma vez por todas a preocupação desses pacientes que, muitas vezes, tiveram que entrar com mandados judiciais para obter o Humira. Este é o segundo anti-TNF a desembarcar por aqui. O primeiro medicamento biológico anti-TNF aprovado pela Anvisa foi o Infliximabe, ou melhor, o Remicade, que chegou em 1998, trazendo uma grande melhora na qualidade de vida dos pacientes. “O Remicade é uma poderosa alternativa para os casos graves da doença de Crohn ou para aqueles casos que não respondem aos tratamentos convencionais”, afirma o Dr. Flavio Steinwurz, gastroenterologista presidente da ABCD. “O Remicade é capaz de prolongar a remissão de sintomas, ajudando na cicatrização da mucosa intestinal, o que pode evitar a necessidade de cirurgia para a retirada de uma parte do intestino”, complementa o presidente da ABCD.
Vale lembrar que TNF-alfa é uma citocina(ou proteína) que promove a inflamação no intestino e em outros órgãos e tecidos do corpo. Ela tem um papel decisivo na doença de Crohn porque induz à produção de outras citocinas e, para combatê-la, os medicamentos anti-TNF têm papel fundamental. Em geral com o Remicade, o resultado dos tratamentos foi tamanho que, há dois anos, o Infliximabe foi aprovado também para colite ulcerativa e pouco tempo depois, para o uso em crianças. Somente este ano a European Medicines Agency, a EMEA, a agência que regula o setor de medica¬mentos na Europa, aprovou o Remicade para pacientes com a doença de Crohn que não respondem adequadamente às terapias convencionais com o uso de corticóides ou imunossupressores. A chegada do Humira mostra a revolução, no bom sentido, que estes medicamentos biológicos estão fazendo no mercado, mantendo cada vez mais aquecida a indústria farmacêutica, especialmente voltada para as doenças que não têm cura, como é o caso das inflamatórias intestinais. “Se ainda não se conseguiu descobrir o que causa a doença de Crohn, sem dúvida nenhuma, o tratamento para esta doença está se aperfeiçoando de uma forma muito interessante com base no maior conhecimento da fisiopatologia da doença”, diz a Dra. Andréa Vieira, médica-assistente da Clínica de Gastroenterologia do Departamento de Medicina da Santa Casa de São Paulo. “Descobriu-se que o TNF era uma citocina pré-inflamatória importante na gênese da doença e antes sequer sabíamos que existia o TNF. Com o advento dos medicamentos biológicos estão chegando outras drogas e ainda tem muita coisa que provavelmente vai ser lançada”, chama a atenção a médica. Estão confirmados os lançamentos do Tysabri, cujo princípio ativo é o Natalizumabe, que inibe a migração de leucócitos, e do Certolizumabe Pegol, que se chamará Cimzia, mas existem muitos outros que estão sendo estudados, alguns deles que são somente proteínas(veja tabela). “Hoje é valorizado não só o paciente deixar de ter sintomas e seus exames de laboratório estarem normais, como é fundamental que haja cicatrização comprovada pelo exame de endoscopia, como a que os biológicos proporcionam”, diz o Dr. Flavio Steinwurz. “Parece não haver nenhuma dúvida de que os medicamentos biológicos são superiores aos outros convencionais no que se refere à cicatrização endoscópica”, ressalta o médico.
O quadro das doenças inflamatórias intestinais está, de fato, mudando a uma velocidade bastante acelerada e os cientistas de centros do mundo todo não se cansam de estudar a fisiopatologia das doenças para obter uma melhor adequação das terapias que são indicadas aos pacientes. Os estudos já mostraram que há um monte de células envolvidas no processo de inflamação do intestino, como as interleucinas, a interleucina 2, a interleucina 12, a CD3, a CD4 e até o TNF(é um monte mesmo!) e, na proporção de causa e efeito, os médicos conseguem controlar muito mais as doenças inflamatórias intestinais, indicando menos cirurgias do que eles faziam no passado. “Cada vez mais vão aparecer medicações mais aperfeiçoadas, com melhores formas de aplicação e com menos efeitos colaterais”, diz a Dra. Andréa. Esta é a esperança que todos os pacientes têm, até para não ficarem à mercê de uma medicação que tem vida útil curta, levando-se em conta que esses medicamentos, depois de algum tempo de uso, deixam de ter o mesmo efeito do início das aplicações. “O estudo de citocinas e de mediadores inflamatórios tem sido importante tanto para a compreensão dos processos inflamatórios crônicos intestinais quanto para a possibilidade de intervenção terapêutica. A terapia biológica oferece uma vantagem sobre as medicações convencionais empregadas no tratamento das doenças inflamatórias intestinais por apresentar uma atuação mais focada”, avalia a Dra. Cyrla Zaltman, professora adjunta de Gastroenterologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e uma das médicas responsáveis pelo ambulatório de DII do Hospital Universitário HUCFF-UFRJ e também, médica responsável pela filial da ABCD na capital carioca. “Diferente dos corticóides que tendem a suprimir o sistema imune do paciente por inteiro, provocando importantes efeitos colaterais, os agentes biológicos atuam seletivamente contra proteínas que estão em excesso ou que estão deficientes, provocando as doenças inflamatórias intestinais”, conclui a Dra Cyrla. Alguns desses medicamentos, como o Infliximabe e o Natalizumabe já estão no mercado brasileiro; outros, porém, ainda não saíram da fase de estudos e testes clínicos, o que mostra que, nos próximos anos, os pacientes de DII terão muitas opções de tratamento.


Fonte:
http://cvdii.bireme.br/tiki-read_article.php?articleId=234

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