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2.23.2009

Crianças sob medida




Hoje, já é possível selecionar embriões para evitar doenças genéticas e outras anomalias. Em breve, os pais também poderão decidir a cor dos olhos, dos cabelos e até alguns talentos do bebê. Estamos caminhando para um futuro de bebês customizados?

Quando os ingleses Kate e Charles* resolveram ter seu primeiro filho, em meados do ano passado, o histórico de doenças na família do casal os obrigou a pensar duas vezes.

Charles, que tem 28 anos, sabia que a sua avó, mãe, irmã e até uma prima haviam recebido, ainda na faixa dos 20 e poucos anos, o aflitivo diagnóstico de câncer de mama. Kate, 27, também descobriu que tinha casos semelhantes na família. "A chance de a primeira filha do casal nascer com predisposição a desenvolver a doença seria de 75%, caso o pai e a mãe tenham a mutação do gene que favorece o surgimento do tumor", afirma Salmo Raskin, diretor da clínica de aconselhamento Genetika e presidente da Sociedade Brasileira de Genética.

Na tentativa de gerar uma filha livre desses riscos, o casal recorreu a uma clínica de reprodução assistida, onde se submeteram a uma fertilização in vitro. O objetivo era selecionar um embrião que não contivesse a mutação do gene que favorece o câncer de mama, conhecido como BRCA1. "Nós sentimos que, se houvesse alguma maneira de eliminar isso do nosso bebê, esse era o caminho que deveríamos seguir", disse ela, em junho do ano passado, quando começava uma gestação altamente planejada. "Com isso, a menina passou a ter 10% de chance de ter a doença, como qualquer outra mulher", diz Raskin.

Deu certo. No dia 9 de janeiro passado, o nascimento da filha de Kate e Charles motivou empolgação na comunidade científica. Ela é a primeira criança inglesa com gene selecionado para reduzir o risco desse tipo de câncer - Austrália e Bélgica já haviam produzido crianças livres do BRCA1 alterado. O procedimento que pode garantir uma vida saudável à recém-nascida e que acena com um sem-número de possibilidades de escolhas para os pais surgiu no início dos anos 1990, mas é agora que vem ganhando espaço nas clínicas de reprodução assistida. Trata-se do diagnóstico genético pré-implantação de embriões, o DGPI. A sigla representa um conjunto de tecnologias para detectar genes cujas formas alteradas são responsáveis pelo aparecimento de desordens - como a doença de Huntington e a fibrose cística - ou identificar anomalias cromossômicas como a que causa a síndrome de Down, entre outras centenas de enfermidades. Em sua maioria, são doenças raras, graves e que podem ser fatais ou, no mínimo, debilitadoras. Até hoje, cerca de 2 mil nascimentos bem-sucedidos já foram realizados com essa técnica no mundo.

Em termos tecnológicos, o DGPI representa um salto considerável desde que a britânica Louise Brown, o primeiro bebê de proveta, nasceu, em julho de 1978. Naquele tempo e durante todos os anos 1980, as clínicas de reprodução assistida se limitavam a criar um embrião qualquer em laboratório e deixar a natureza cuidar do resto. Com as novas tecnologias, os cientistas têm a opção de tirar o "natural" da seleção e montar uma loteria só de bilhetes premiados.

Fonte: Revista Galileu

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