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3.26.2009

A Saúde e o Equilibrista

A Saúde e o Equilibrista

Desde a Antiguidade o coração é o símbolo das emoções. Os egípcios o enxergavam como o centro da inteligência. Os indianos o vêem como a sede da vida afetiva. O cristianismo introduziu uma nova dimensão para o coração: a da caridade e da bondade. Seu grafismo atual, estilizado e padronizado, viabiliza a venda de produtos de consumo e estimula as pessoas a gostar de lugares. A publicidade se utiliza muito do símbolo para atingir as pessoas. Talvez, porque busque na imagem romântica uma maneira de fazê-las sonhar e afastá-las, momentaneamente, de um mundo cada vez duro, representado por uma competição acirrada nos mercados, muitas vezes recheada por puxadas de tapete, falta de ética, frustrações e ainda, exclusões sociais enormes, aumento da violência urbana, instabilidade política e econômica, bolsões de miséria por todo o lado, crescimento do terrorismo internacional, guerras. Tudo sob o manto da globalização.

Neste ambiente, dançando na corda tensa da vida, sustentada, de um lado, por um estilo de vida competitivo e obsessivo por resultados e, de outro, por hábitos insalubres, o coração do executivo é um equilibrista.

Pesquisa recente, com base nos exames preventivos realizados com mais de 25 mil executivos homens e mulheres nos últimos 14 anos, constatou que o mais poético e dinâmico de nossos órgãos é a vítima, muitas vezes fatal, desse fenômeno que a economia transferiu para a medicina. Assim, torna-se importante, correlacioná-lo com o aumento dos percentuais de fatores de risco para o desenvolvimento de doenças coronarianas: estresse crônico, excesso de peso corporal, hipertensão arterial, alterações das gorduras sanguíneas, sedentarismo, tabagismo, diabetes e histórico familiar.

A pesquisa confirma estudos semelhantes, feitos em países desenvolvidos, que mostram as doenças cardiovasculares à frente das internações hospitalares e das mortes súbitas. Quatro em cada 10 óbitos registrados nos EUA são causados por doenças do coração. O alarmante percentual (40% dos óbitos) repete-se na Argentina e no Brasil. A fonte estatística, com base nos check-ups anuais de executivos, permite conferir ao estresse crônico o status de inimigo número 1 do homem globalizado. Pano de fundo de várias doenças, a pesquisa revela que 70% dos executivos convivem constantemente com altos níveis de estresse.

A exposição permanente a doses exageradas dos hormônios gerados pelo estresse (adrenalina e cortisol) provoca aumento da pressão arterial, taquicardia, baixa da imunidade, úlceras, enfarte do miocárdio, insônia e queda do desejo sexual, entre outras alterações. Sobrecarregado, o coração sofre. As alterações das gorduras sanguíneas constituem a principal causa de formação de placas nas artérias coronárias e estão relacionadas com maus hábitos alimentares, a vida sedentária e o tabagismo. Os dados demonstram que 45% dos executivos apresentam elevações nas gorduras sanguíneas.

A hipertensão arterial é uma das principais causas do enfarte do miocárdio, do acidente vascular cerebral e da insuficiência renal. Sem apresentar sintomas na maioria das vezes, cerca de 19% dos executivos examinados são hipertensos.

O fumo é outro algoz do coração. Mata 100 mil brasileiros por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer. O tabagista tem 4 vezes mais chances de desenvolver enfarte agudo do miocárdio do que o não fumante. A pesquisa demonstra que, entre os examinados, 40% das mulheres são fumantes contra 35% dos homens.

A obesidade também é sério fator de risco e difícil de ser tratada. O indivíduo sedentário que ingere calorias em excesso, pode tornar-se obeso e desenvolver hipertensão arterial, alterações das gorduras sanguíneas, diabetes e doença coronariana. 60% dos executivos examinados, entre homens e mulheres, encontram-se com peso acima da normalidade. O sedentarismo, por sua vez, facilita o aumento da pressão arterial, do peso corporal e faz com que o organismo produza menos colesterol “bom” (HDL), aumentando os fatores de risco que levam à aterosclerose. Segundo os dados, 65% dos examinados são sedentários.

O diabetes também contribui para o desenvolvimento de doença coronariana, doença da retina, acidente vascular cerebral, hipertensão arterial. Além de facilitar as infecções, acometendo de 6% a 7% da população de executivos.

Quanto maior o número de fatores de risco diagnosticado em um indivíduo, maior é a possibilidade de desenvolvimento de uma doença coronariana. Pesquisadores da clínica constataram que 72% dos executivos apresentavam vários fatores concomitantemente, sendo que 8% dos examinados já tinham enfartado e 3% desenvolveram arritmias cardíacas graves.

Ressalte-se que, 60% dos pacientes que apresentaram esses fatores de risco têm entre 40 e 49 anos. Portanto, não surpreende que as doenças cardiovasculares estão se desenvolvendo junto a uma população cada vez mais jovem. No caso das mulheres, constata-se essa indesejada igualdade. A Sociedade Brasileira de Cardiologia alerta para a epidemia de enfartes do miocárdio em mulheres jovens.

Além da identificação dos fatores de risco acima citados, o check-up médico permite o diagnóstico de doenças nas suas diversas fases e, quanto mais precoce o diagnóstico, maior é a possibilidade de cura. No entanto, mais importante do que diagnosticar doenças é, a partir da prevenção continuada, promover saúde, evitando-se, assim, surpresas e conseqüências indesejadas.

Dra. Elisabete Almeida

Fonte: LINCX

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