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4.03.2009

BOTOX RECUPERA MÚSCULOS PARALISADOS POR DERRAMES

Depois de sofrer um derrame, Francine Corso, engenheira de software que trabalhou no projeto do veículo lunar da Nasa, teve de ficar sem sair de casa entre 1992 e 2001. Seu braço esquerdo estava paralisado em uma posição retorcida e próxima a seu pescoço, o que dificultava vestir roupas, e seus dedos estavam fechados com tamanha força que as unhas se enterraram nas palmas das mãos.
Quando ela conseguiu aprender como levantar da cadeira de rodas, sua perna esquerda, contorcida, apresentava um problema comum a muitas vítimas de lesões cerebrais: ela pisava com os dedos dos pés para baixo, e enfrentava dificuldades para impedir que o pé se dobrasse e causasse quedas.
Agora, com injeções da toxina botulinum a cada três meses, "estou completamente transformada - consigo dirigir, faço trabalhos voluntários, estou fazendo cursos de arte". Os dedos dela se relaxaram a ponto de permitir que vá a uma manicure para pintar as unhas de vermelho.

A toxina botulinum, um removedor de rugas mais conhecido pelo seu nome comercial Botox, tem muitos usos médicos, alguns oficiais e outros menos formais.

O medicamento ajuda as vítimas de distonia a retomar o controle sobre seus músculos sujeitos a espasmos;
reduz o fluxo sudoríparo de pessoas que sofrem de suores nervosos; e ajuda crianças com pés disformes a evitar cirurgias.
O uso do produto para pacientes de derrames por enquanto continua a ser informal - ou seja, o medicamento não foi aprovado para esse propósito pela Food and Drug Administration (FDA, agência federal norte-americana que regulamenta alimentos e remédios).
Mas a prática se tornou tão aceita que o programa de saúde federal Medicare e outras formas de plano de saúde em geral cobrem os custos de seu uso em tratamentos. Mesmo assim, diz o Dr. David Simpson, professor de neurologia do Centro Médico Mount Sinai, em Nova York, um dos mais conhecidos pesquisadores do botulinum, apenas cerca de 5% dos pacientes de derrames que poderiam se beneficiar de seu uso terminam por se tratar com o medicamento.
Os médicos responsáveis pelos serviços de casas de repouso e clínicas muitas vezes não estão informados a respeito.
Poucos médicos estão treinados para aplicar as injeções do produto, que precisam ser usadas em áreas bem mais profundas do que aquelas usualmente tratadas por dermatologistas para eliminar linhas de expressão.

E a maior parte dos neurologistas têm por hábito prescrever a pacientes de derrame remédios de combate a espasmos como a tizanidine e o baclofen, baratos e de uso oral mas com efeitos colaterais como sonolência e o enfraquecimento de todos os músculos do corpo, e não apenas aqueles afetados pela lesão a ser tratada.

Corso, 66, jamais foi informada quanto à disponibilidade desse tratamento por seu primeiro neurologista, a quem ela chama de "Dr. Má Notícia", porque ele informou à família dela que Corso morreria, e disse à paciente que ela jamais poderia voltar a andar. "Eu descobri a respeito em um programa de TV com o Dr. Max Gomez", conta Corso. "Por isso decidi vir à cidade e consultar esse pessoal".

Em uma sala de aula do Mount Sinai que oferece vista panorâmica de Manhattan, Simpson está de pé entre dois braços de borracha montados sobre juntas móveis. Um parece flácido mas ainda assim musculoso, e exibe muitas marcas de seringa. O outro é vermelho brilhante e só mostra músculos; é um modelo anatômico do qual toda a gordura e a pele foram removidas. Simpson, cujos trabalhos de pesquisa são financiados por três empresas produtoras de medicamentos em base de botulinum - Allergan, fabricante do Botox; Solstice Neurosciences, fabricante do Myobloc; e Merz Pharmaceuticals, fabricante do Xeomin- está ensinando a residentes como encontrar músculos difíceis de alcançar, a exemplo do flexor pollicus brevis, que responde pela dobradura do dedão, e do pronator quadratus, que permite o giro do pulso. Os braços de borracha estão dotados de sensores que apitam quando a ponta da agulha atinge o músculo correto. Braços humanos não apitam, claro, mas Simpson havia utilizado uma variação dessa tecnologia para tratar Corso, em uma sessão realizada apenas uma hora antes da aula. Pouco antes que a primeira agulha penetrasse sua pele, ela informou aos visitantes sobre sua opinião quanto à eletromiografia, que ela chama de "o estimulante". "Isso", disse Corso, que tem menos de 1,5 metro de altura, "é o que separa os homens dos meninos". A seringa estava conectada a um estimulador elétrico que envia pulsos elétricos de até um décimo de ampere duas vezes por segundo. Simpson ativava os impulsos elétricos quando acreditava que a agulha tivesse atingido o músculo correto. Se o dedo certo começasse a pulsar em sincronia com o pulso elétrico, ele sabia que estava aplicando o estímulo no local correto, e acionava o êmbolo para injetar o medicamento. Caso não houvesse a reação esperada, ele mudava a agulha de lugar e recomeçava. O médico repetiu o procedimento em diversos pontos do braço de Corso, e em sua perna. Depois de 45 minutos de trabalho, Corso informou que seu pé estava mais estável ao pisar no chão.

O botulinum não é capaz de restaurar o uso de músculos quando o derrame destruiu a região do cérebro que os controla. Mas os pacientes parecem melhor e se sentem melhor, e muitas vezes conseguem se vestir, segurar objetos e tomar banho sozinhos com mais facilidade. O Dr. Mark Hallett, chefe do departamento de controle motor do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrames, diz que usa tanto eletromiografia quanto ultrassom ao injetar o botulinum nos pacientes. "Alguns dos especialistas sentem que, se estiverem perto da região afetada, isso basta", diz Hallett. "Mas eu discordo.

Creio que seja importante garantir que a agulha está no lugar certo". Corso concorda com ele. Por algum tempo, diz, ela estava se tratando com outro neurologista, mais perto de sua casa em Fort Salong, Long Island, e ele fazia as injeções de botulinum sem recorrer à eletromiografia. O processo não funcionava tão bem, ela diz. Agora, um amigo a leva de carro aos limites de Nova York, de onde um motorista a apanha para o trajeto até o hospital. "Estou muito longe de Long Island", ela diz. "Mas a viagem vale a pena".

Fonte: The New York Times - Notícias Terra

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