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4.05.2009

Dependência de drogas a neurotransmissores cerebrais


Por: Rogerio Alvarenga

Pesquisas recentes demonstram que, alem de um problema social ou psicológico, a raiz do vício pode estar na própria neuroquímica cerebral. Acredita-se que uma substância naturalmente produzida pelo organismo (chamado neurotransmissor), - a Dopamina esteja ligada ao vício e à dependência, seja ela, em relação a drogas como a cocaína e até mesmo ao cigarro.
Por alguns, foi denominada a “molécula-mestre do vício”, a Dopamina faz parte de um grupo de neurotransmissores que inclui mais de 50 outras moléculas.


Para uma melhor compreensão das ações das drogas no Sistema Nervoso Central é importante saber acerca dos principais neurotransmissores presentes no SNC, as vias por eles integradas e suas importâncias no ser humano.

Os Neurotransmissores são substâncias envolvidas na comunicação entre as células nervosas, os neurônios e por definição, correspondem a substâncias contidas nesses neurônios e por ele secretadas para transmitir informações ao neurônio pós-sináptico (isto é no neurônio localizado após a conexão existente entre um neurônio e outro. Esta ligação entre neurônios é chamada de Sinapse), num processo que converte a mensagem química novamente em um impulso elétrico.

Para se compreender como isso funciona é preciso se entender, de uma maneira sucinta, como os neurônios se comunicam. Em primeiro lugar os impulsos nervosos chegam através do axônio, e chegam até uma região mais alargada do axônio. Nesse lugar ocorrerá uma série de estímulos para que as vesículas sinápticas, que são pequeno sacos, que contém os ditos neurotransmissores e no caso especial de dependentes químicos, a Dopamina.

Embora existam diversos neurotransmissores, aqui só serão abordados os principais sob o ponto de vista neurofisiológico e clínico.

São eles a Acetilcolina, as denominadas Aminas Neurotransmissoras e o Ácido Amino-Gama-Butírico (GABA).

Acetilcolina existe tanto a nível central como periférico. No sistema nervoso central, as primeiras vias colinérgicas são a integrante do sistema reticular ativador ascendente e a que se estende do prosencéfalo basal ao hipocampo, hipotálamo lateral e neocórtex. Esta última encontra-se bastante afetada nos quadros demenciais tipo Alzheimer.

GABA é o principal neurotransmissor inibitório do SNC. Encontra-se distribuído por todo encéfalo, desempenhando atividade inibitória sobre os neurônios serotoninérgicos dos núcleos da rafe, neurônios dopaminérgicos da região nigro-estriatal e em outros sistemas. Os receptores do GABA encontram-se incorporados a um complexo constituído por um sítio auto-inibitório, um canal de cálcio e um sítio onde se acoplam os benzodiazepínicos. Existem dois tipos de receptores, GABA-a e GABA-b. O primeiro está envolvido nas respostas de ansiedade e alimentação, enquanto o GABA-b está relacionado com a modulação cardiovascular, analgesia e depressão. Não foram encontradas alterações relacionadas ao GABA em função da idade nos estudos realizados, tanto post mortem quanto in vivo (utilizando PET scan).


Aminas Neurotransmissoras correspondem, no SNC, a 3 substâncias principais. São elas a a Noradrenalina, a Serotonina (5-hidroxitriptamina) e a Dopamina.

Noradrenalina a principal via noradrenérgica estende-se do locus ceruleus até os núcleos talâmicos, mesencéfalo e áreas inervadas pelo feixe prosencefálico medial. Encontra-se envolvida nas respostas de ansiedade de caráter fisiológico (reações de medo) e patológico (síndrome do pânico). Distinguem-se três tipos principais de receptores noradrenérgicos: a 1, a 2 e b . O alfa-2 é um receptor pré-sináptico de função auto-reguladora que, quando estimulado, inibe a liberação de noradrenalina na fenda sináptica. Alfa-1 e beta são receptores pós-sinápticos, envolvidos na regulação do humor e resposta de ansiedade relacionadas à noradrenalina. A quantidade e atividade deste neurotransmissor diminuem com a idade; tanto pela redução do número de neurônios noradrenérgicos no locus ceruleus, como pela maior atividade da enzima MAO-B, responsável pela degradação da noradrenalina.

Serotonina todas as vias serotoninérgicas originam-se nos chamados núcleos da rafe, na zona mediana do tronco encefálico. Suas eferências atingem desde regiões do sistema límbico (por exemplo, hipocampo) até neocórtex, guardando relação com grande número de distúrbios como ansiedade, depressão e enxaqueca. Distinguem-se até o momento quatro tipos de receptores, designados por números (5-HT1 a 5-HT4), com subtipos designados por letras (5-HT1A, 5-HT1B, etc). Estudos post-mortem demonstraram que há redução do número de receptores no SNC com a idade, particularmente 5-HT1 e 5-HT2. Embora o significado clínico deste fato ainda não esteja bem definido, evidências sugerem que os idosos sejam mais sensíveis aos efeitos das drogas serotoninérgicas que os jovens.

Dopamina é um dos principais neurotransmissores existentes no SNC. Encontra-se distribuída ao longo de 4 sistemas principais: nigro-estriatal, mesolímbico, mesocortical e tuberoinfundibular. Este neurotransmissor tem cinco receptores descritos (D1 a D5), distribuídos de maneira irregular ao longo dos sistemas dopaminérgicos. No trato nigro-estriatal, por exemplo, há maior proporção de receptores D2, envolvidos na regulação do tônus muscular e movimento junto ao sistema extra-piramidal. Com a idade, há redução do número de receptores D2 e aumento de D1.

Após sua síntese, a Dopamina é armazenada em vesículas no interior do terminal nervoso pré-sináptico. A chegada, neste terminal, de um impulso nervoso determina a liberação do neurotransmissor na fenda sináptica. Após isto, o mesmo vai se ligar a receptores, proteínas específicas existentes na membrana pós-sináptica. Esta ligação irá deflagrar uma seqüência de eventos, mediados por várias substâncias (AMPc, Cálcio, Sódio, dentre outras), culminando com a transmissão do impulso nervoso ao neurônio seguinte.

Após liberada, a Dopamina vai se ligar aos receptores que ficam no lado de fora da célula. Essa ligação faz com que alguns sejam abertos. Daí há a entrada de íons como o sódio carregado positivamente (Na+), gerando uma mudança de carga elétrica na parte de dentro da membrana do neurônio, fazendo com que “dispare” outro impulso nervoso. O prejuízo da transmissão neuronal ligado a um menor aporte de neurotransmissores e/ou a uma menor sensibilidade dos receptores a eles esteja associado à maior ocorrência de distúrbios emocionais, cognitivos e de comportamento em dependentes químicos e em diversas doenças psiquiátricas.

Da mesma forma que o ato sexual pode levar ao êxtase, drogas como a cocaína, aumentariam, momentaneamente, a liberação de Dopamina pelo neurônios.

Livre, a Dopamina causaria a sensação típica do uso dessa droga. Assim, usuários de drogas passariam a ajustar o seu comportamento com o objetivo de “incorporar” as sensações prazerosas ao dia-a-dia.

Alguns cientistas também defendem a idéia que problemas genéticos possam levar a produção de maior ou menor quantidade de Dopamina e, esses genes estariam relacionados também ao vício do álcool e com algumas correlações com a obesidade, no que diz respeito a compulsão em comer.

Indivíduos que produzem menor ou maior quantidade de Dopamina do que o “normal”, por exemplo, seriam mais propensos a apresentar problemas comportamentais e, em conseqüência, a se tornar viciados em substâncias químicas.


Quando os neurônios ficam "habituados"

Pesquisas recentes também mostram que os neurônios de viciados em drogas são capazes de se “habituar” a elas. Como já dito anteriormente, quando um impulso nervoso chega até a “ponta” da célula nervosa, estimula a liberação de neurotransmissores. Esses neurotransmissores, como a Dopamina, se ligam a receptores que ficam na membrana de outra célula nervosa. Os receptores são uma espécie de “porto celular”, onde uma determinada substância atraca. O “atracamento” faz com que sejam abertos alguns “canais”, também localizados na membrana da célula nervosa, que levam a outros neurônios a “dispararem”.

Foi verificado que os neurônios de viciados sofrem uma redução no volume dos receptores, isto é, ficam mais “apertados”. Por isso, são necessárias doses cada vez maiores da droga para conseguir o nível de estímulo nervoso que eles conseguem quando estavam fazendo uso de pequenas doses da droga.

A cocaína que liga a captação bombeia quando a cocaína está atual na sinapse. A cocaína (turquesa) liga às bombas de captação e impede que removam a Dopamina da sinapse. Isto resulta em mais Dopamina na sinapse, e mais receptores do Dopamina são ativados.


Cocaína ligando-se às bombas de captação

A ativação aumentada dos receptores do Dopamina causa a produção aumentada da eletricidade na região pós-sináptica. Isto causa muitas mudanças nesta região causando alterações nos testes padrões.
Com uso continuado da cocaína, o corpo confia nesta droga para manter
sentimentos recompensando. A pessoa pode uma não mais sentir os estímulos que estão aumentados, assim como os sentimentos de prazer causado pelas recompensas naturais (alimento, água, sexo).


Cocaína vista no cérebro pela Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET Scan)

A ação da cocaína no cérebro visto pelo PET Scan, mostra que ela tem outras ações no cérebro além da ativação de recompensa. Os cientistas já têm a capacidade de ver como a cocaína afeta realmente a função do cérebro nas pessoas, pois a varredura do PET Scan permite ver como o cérebro utiliza a Glicose.

A glicose fornece a energia a cada neurônio para que possam executar o seu trabalho. As varreduras mostram onde a cocaína interfere com o uso da glicose no cérebro - ou sua atividade metabólica.


Varredura com PET Scan de uma pessoa em uso de cocaína

A varredura da esquerda é feita exame de uma pessoa normal, acordada. A cor vermelha mostra o nível o mais elevado da utilização da glicose (o amarelo representa menos utilização e o azul mostra o menos).

A varredura direita é feita exame de um usuário de cocaína. Ela mostra que o cérebro não pode usar a glicose eficazmente - mostra a perda do vermelho comparada à varredura da esquerda.
Há muitas áreas do cérebro que reduziram a atividade metabolica. A redução continuada na habilidade dos neurônios de usar a glicose (energia) resulta no rompimento de muitas funções do cérebro.

A sensação de euforia e prazer estimula o hábito

Nos últimos anos, os neurotransmissores ganharam muito espaço nas discussões científicas graças a Dopamina e a Serotonina. Ambas são neurotransmissores ligados a sensações e sentimentos humanos. Pode-se até dizer que a Serotonina está associada a sentimentos de bem-estar ou mal-estar. Já a Dopamina está relacionada à sensação de euforia e entusiasmo. As sensações provocadas pelos dois neurotransmissores são um pouco diferentes, as da Serotonina são de bem ou mal-estar constantes enquanto as da Dopamina de êxtase e euforia. Numa analogia grosseira, poderíamos dizer que a Serotonina está para a Dopamina assim como o amor está para o ato sexual.

Em estudos feitos com usuários de cocaína em diversos estágios da dependência, notou-se que, quanto mais um indivíduo toma a droga, mais há variação nos níveis de Dopamina. À medida que ele faz uso freqüente da droga, seu corpo passa a se “habituar” a ela. Aí ele vai precisar de cada vez mais cocaína para potencializar a atuação da Dopamina no organismo e ter a mesma sensação de êxtase e euforia. Com os níveis de Dopamina, o equilíbrio nos níveis de Dopamina, o indivíduo tende a ter maior controle de suas emoções.Na sinapse, ou no espaço entre os neurônios (área de detalhe),
ligamentos da cocaína aos transportadores de Dopamina, causando uma "inundação" de Dopamina no cérebro.


Assim, teria menor tendência a se viciar. Por outro lado, não se pode ser matemáticos, desconsiderando a influência de outros neurotransmissores e também o lado social e psicológico.

O ser humano pode ir ao êxtase ao fazer sexo, ao escutar uma música, ao encontrar um amigo e até mesmo ao comer um doce. Cada um desses atos é capaz de gerar um pequeno boom de Dopamina, mas, se o organismo for “normal”, digamos assim, logo depois ele voltaria a ter níveis estáveis do neurotransmissor. Mas se ele tiver um desequilíbrio nos níveis de Dopamina, viverá altos e baixos, e alguém com altos e baixos é alguém com maiores chances de se tornar um viciado.

Quem tem muita Dopamina, então, pode se tornar um perigo para a sociedade e para si próprio. É o que acontece com quem se droga. Nos instantes seguintes, enlouquece, tem alucinações, sai da realidade e pode se tornar um “monstro”.

O caso oposto, ou seja, baixos níveis de Dopamina, são tão prejudiciais quanto os altos níveis. Quem tem pouca Dopamina corre o risco de ter tremores nas mãos e no corpo como no Mal de Parkinson.

Dependência ao cigarro

Descobriu que a Dopamina também está ligada à dependência do cigarro. Verificou-se que fumantes têm em média 40% menos MAO-B (Monoamina oxidase B) do que ex-fumantes ou pessoas que nunca fumaram. A MAO-B é a substância responsável pela quebra da Dopamina no cérebro. Nove segundos após de uma tragada, a Nicotina chega ao cérebro e desencadeia a liberação de Dopamina, como já referido, responsável pelo prazer. Os pesquisadores sugeriram que o aumento dos níveis de Dopamina, acompanhado pela sensação de prazer e bem-estar causada pelo neurotransmissor, poderia reforçar a vontade de fumar, mantendo a dependência, e chegaram mesmo a especular que níveis reduzidos de MAO-B talvez expliquem por que fumantes têm menos chance de desenvolver o Mal de Parkinson, doença ligada à queda dos níveis de Dopamina no cérebro. Recentemente foram identificadas duas substâncias que, na presença da Nicotina, mantem elevados os níveis da Dopamina, do GABA e do Glutamato. Graças a eles, o efeito da Dopamina se estende por cerca de 1 hora. Esse mecanismo explicaria por que a maioria dos fumantes consome, em média um cigarro a cada 50 minutos.

Com relação a cura com medicamentos que impedissem os desequilíbrios que levam ao vício a conclusão é de que podem ajudar muito, mas não podemos afirmar que a cura é de 100% porque ainda temos muito a aprender sobre os demais neurotransmissores e suas relações com a Dopamina, mas é certo que a Medicina Ortomolecular e a Nutrologia Médica tem sido de grande auxílio e com ótimos resultados, através de aminoácidos, vitaminas, sais minerais e “smart-drugs” no tratamento de diversos tipos de dependências químicas.

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