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4.23.2009
Grupo internacional de cientistas decifra genoma bovino
Animal americano que teve seu DNA sequenciado no projeto do genoma bovino(foto)
Estudo com participação brasileira ganhou a capa da revista "Science".
Pesquisa ajudará a melhorar qualidade da carne e do leite.
Um grupo internacional de cientistas -- entre eles participantes brasileiros -- acaba de decifrar o genoma do gado bovino. Os pesquisadores também deram o passo seguinte e fizeram uma análise das variações genéticas desses animais, e a expectativa é a de que essas informações tragam uma revolução para as técnicas da criação de gado.
A pesquisa ganhou a capa da prestigiosa revista científica americana "Science" e demonstrou algo que já era suspeitado pelos cientistas: o fato de que o ser humano está geneticamente mais próximo do boi do que do camungongo e do rato, animais mais comumente usados em laboratório para o estudo de doenças humanas.
Ao longo de todo o genoma, os cientistas puderam identificar cerca de 22 mil genes --alguns dos quais sem paralelo nos outros genomas de mamífero decifrados (homem, chimpanzé, rato, camungongo e cão). Os resultados trazem lampejos sobre a evolução do gênero bovino nos últimos milhões de anos e também ajudam a visualizar os efeitos que a seleção artificial -- induzida pela domesticação por seres humanos -- teve sobre a composição genética desses indivíduos.
Mas a aplicação mais empolgante dos resultados está na construção de uma espécie de mapa genético chamada pelos cientistas de HapMap. Ela rastreia, ao longo do genoma, as variações mínimas existentes de indivíduos para indivíduo, em que uma única letra química do DNA é trocada por outra (fenômeno conhecido pela sigla inglesa SNP -- pronuncia-se "snip" --, polimorfismo de nucleotídeo único).
"Os SNPs listados no HapMap constituem uma ferramenta que já está sendo usada para selecionar nos animais os marcadores ligados à qualidade da carne e do leite", revela José Fernando Garcia, coordenador do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular Animal da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araçatuba, em São Paulo, um dos autores do trabalho.
Com isso, explica Garcia, será possível a partir dessas informações genéticas elevar a qualidade do gado de corte e leiteiro e transformar o que já um grande produto de exportação numa mercadoria de alto valor agregado. "Antes, toda a seleção dos animais era com base em fatores que podíamos ver, os chamados fenotípicos", diz Garcia. "Agora, é como se abríssemos a 'caixa-preta' desse sistema, podendo ver as diferenças genéticas que propiciam carne mais macia e saborosa."
No dia-a-dia do brasileiro, portanto, a pesquisa tende a trazer mais sabor para a mesa. "Hoje, existe muita variação entre os animais, e, se você compra quatro picanhas, no mesmo lugar, para fazer um churrasco para os amigos, você pode ter uma que está muito boa e outra que está dura demais. Não existe uniformidade", diz Garcia. "Com essa informação genética, será possível elevar a qualidade e trazer para o Brasil essa uniformidade, que já existe em outros países, como os EUA."
Boi de laboratório
Além desse impacto na alimentação, os resultados também podem trazer avanços para o estudo de doenças humanas. O genoma bovino mostra que ele pode, em alguns casos, ser o animal mais adequado para a realização de estudos com modelagem de doenças humanas. Isso por conta de sua proximidade genética com o homem -- um ancestral comum das duas espécies deve ter vivido há cerca de 95 milhões de anos.
Outro potencial uso do DNA bovino pode resultar na descoberta de genes que propiciam maior resistência a patógenos. Isso porque o boi, como ruminante, precisa "conviver pacificamente" com um sem-número de bactérias, que vivem no seu sistema digestivo. Os humanos não têm essa resistência, mas agora a chave da resistência pode ser procurada, em meio ao genoma do boi.
Globo.com
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