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4.14.2009
Técnica para 'apagar' memórias
Cientista diz que técnica para 'apagar' memórias funcionaria em humanos
Pesquisa feita nos EUA conseguiu façanha com cobaias.
Processo, no entanto, poderia não ser muito específico.
Imagine que pessoas são nossos neurônios, as células que formam o cérebro.
Quando experimentamos algo inédito, visitamos um lugar novo, por exemplo. Os neurônios - ativados pela novidade - se comunicam por impulsos elétricos, formando conexões. Uma proteína chamada PKMzeta passeia pelos neurônios, faz com que eles emitam impulsos elétricos, formando conexões. A conexão, esse "relacionamento" entre os neurônios, são a nossa memória. E ela pode ser desfeita. A memória pode ser apagada.
Na Universidade Estadual de Nova York, a equipe liderada pelo neurocientista Andre Fenton fez duas descobertas importantes. Primeiro, que uma proteína chamada PKMzeta - essa que cria eletricidade e reforça as conexões entre os neurônios - é a principal responsável pelo armazenamento das nossas lembranças. "Quando você decide recuperar uma certa lembrança, de alguma maneira, essa proteína faz com que os neurônios se tornem eletricamente ativos outra vez. Então você pode reviver aquela experiência", explica o neurocientista.
E, ainda mais intrigante: eles descobriram que é possível apagar a memória. O experimento foi feito com ratos e camundongos, mas os cientistas apostam que o resultado em seres humanos seria muito parecido. Os animais foram colocados numa espécie de carrossel. E, a cada vez que passavam por uma área determinada, tomavam um pequeno choque. Com a repetição do treinamento, eles guardavam aquela informação na memória e raramente voltavam à zona perigosa.
Os ratos que não foram tratados lembraram direitinho da área de choque. Mas, e aqueles que receberam injeções na parte do cérebro responsável pela memória? "Depois de injetar a substância, nós cruzamos os dedos, colocamos o animal na arena e ele se comportou como se estivesse pisando ali pela primeira vez", lembra Andre Fenton.
"Então faltava responder a mais uma pergunta. Será que eles podiam voltar a aprender?", conta o pesquisador. Se os ratos fossem capazes de aprender outra vez, seria a confirmação de que apagar algumas lembranças não traz problemas à memória. E o pesquisador não esconde o orgulho: "Foi exatamente o que aconteceu".
E agora?
Agora, pesquisadores do mundo inteiro começam a pensar no que seria um gigantesco passo da neurociência: será que podemos, então, apagar algumas partes indesejáveis da nossa memória? Poderíamos eliminar a parte responsável, por exemplo, por um vício? Ou apagar um trauma, qual seria? Talvez uma despedida que deixasse marcas eternas, um adeus definitivo na estação de trem? Quantos momentos da nossa vida seria possível apagar? Se fosse possível, o que você apagaria?
No filme "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", Joel descobre que foi apagado da memória de Clementine, e decide fazer o mesmo. O tratamento numa clínica de fundo de quintal é demorado. O personagem é obrigado a lembrar da namorada o máximo possível pra mostrar aos médicos as áreas do cérebro onde há registros daquele amor perdido. E depois tudo referente a ela é apagado.
O filme tem alguma base científica, mas Fenton acha que vai demorar para a ficção hollywoodiana se transformar em tratamento. "Acho que poderemos apagar algumas partes da memória de uma pessoa. Mas não com a precisão cirúrgica que o filme imagina", explica André. Segundo o pesquisador, ao apagar a lembrança indesejada, apagaríamos também partes boas da nossa memória. Quem se arriscaria?
"A menos que a situação seja tão debilitadora que valesse a pena pra aquela pessoa entrar num processo enorme de reabilitação pra recuperar a boa memória que seria perdida indesejavelmente", arrisca o pesquisador. Por via das dúvidas, os pesquisadores já estão à procura de uma substância que possa mostrar aos cirurgiões o ponto exato do cérebro em que cada memória se manifesta.
No futuro, se essa substância existir, seria então possível fazer cirurgias precisas e apagar pequenos momentos da nossa vida. Mas os pesquisadores pensam também em outra aplicação para essa descoberta: melhorar a nossa memória. E com isso ajudar no tratamento de doenças, como o mal de Alzheimer, ou aquele esquecimento que às vezes chega, pouco a pouco, quando a gente envelhece…
globo.com
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