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6.02.2009

Como conviver com a Artrite Reumatóide


Doença também acomete jovens e crianças

Abrir uma porta, pentear o cabelo ou abotoar uma camisa. As tarefas podem até parecer fáceis. Mas para os portadores de artrite reumatóide, doença crônica e progressiva, caracterizada pela inflamação das articulações, elas se transformam em verdadeiros sacrifícios e momentos de grande frustração.
Os principais sintomas da artrite são desconforto e incapacidade de realizar movimentos, fadiga e articulações quentes, inchadas e doloridas. Embora não tenha cura, o paciente pode levar uma vida normal e sem sofrimentos. A medicina vem se especializando em tratamentos que reduzem os danos da doença e os efeitos colaterais dos medicamentos. Em Belo Horizonte, onde a artrite atinge 1% da população, o Sistema Único de Saúde (SUS) e clínicas particulares oferecem tratamentos com agilidade e eficácia, segundo especialistas. Mas eles alertam que o mais importante é observar e identificar os sintomas, o mais rápido possível.

Engana-se quem pensa que a artrite reumatóide ataca pessoas com mais idade. Aos quatro anos, a jornalista Ana Maria Martins Pinheiro sofria com as fortes dores nos joelhos. Ela conta que a mãe sempre a levava ao ortopedista, mas o incômodo não passava e foi se transformando em uma dor insuportável. "Minha mãe, que não tinha nenhuma orientação, me levava ao ortopedista. Ele fazia raio X dos meus joelhos e não encontrava nada. Então me receitava um remédio para dor, que evidentemente não passava”, lembra.

A batalha de Ana Maria contra a doença só foi acabar anos mais tarde e por iniciativa própria. “Aos 20 anos de idade, eu não tinha mais vida pessoal, muito menos profissional. Ao acordar pela manhã, não conseguia caminhar, minhas pernas estavam duras e extremamente doloridas. Foi quando decidi procurar um reumatologista e ele constatou que eu tinha artrite reumatóide”, disse.

As constantes crises de dor só tiveram fim depois que a jornalista experimentou vários tratamentos. "Deixei de viajar muitas vezes e tantas outras não fui trabalhar, simplesmente porque não conseguia. Hoje estou legal, levo uma vida normal e principalmente sem dor”, comemora. Ana Maria ressalta a falta de conhecimento das pessoas sobre a doença prejudica o tratamento. "A maior parte das pessoas acredita que a artrite é uma doença de gente velha. Quanta tolice. Aos quatro anos eu tinha a doença e passei minha adolescência sofrendo. Aconselho aos pais a prestarem mais atenção às queixas dos filhos, quando se trata de dores nas articulações. Se as reclamações persis tirem, leve a criança a um reumatologista”, orientou.

Outros sintomas da artrite são rigidez nos períodos de inatividade, principalmente pela manhã, febre, perda de peso e massa óssea e nódulos debaixo da pele, sobretudo próximo aos cotovelos. As articulações mais atingidas são as das mãos, punhos e pés. Fatores como tabagismo, depressão e o uso de pílulas anticoncepcionais podem contribuir para o surgimento da doença. Se não for tratada de forma correta, ela pode causar a deformidade do paciente em apenas dois anos, podendo inclusive levá-lo à morte. Por isso, uma das grandes preocupações dos médicos reumatologistas é orientar as pessoas a observarem os sintomas.

O chefe do Serviço de Reumatologia do Biocor Instituto, Bores Cruz, explica que o diagnóstico precoce e o tratamento direcionado permitem o controle da doença e a prevenção das deformidades. "A idéia de que reumatismo é assim mesmo e o paciente deve se acostumar com a dor é coisa do passado. Os doentes, ainda que não tenham a cura da doença, podem comemorar a evolução do tratamento, que permite que os pacientes levem uma vida praticamente normal, sem as lesões que antigamente eram marcantes”, garante. O professor titular de Reumatologia da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenador do Serviço de Reumatologia da Santa Casa de Misericórdia da capital, Paulo Madureira de Pádua, disse que a doença atinge mais as mulheres entre 35 e 45 anos.

Bores Cruz ressalta que o avanço tecnológico da última década permitiu o desenvolvimento de tratamentos eficazes, capazes de melhorar os sintomas da doença e principalmente prevenir a deformidade, a limitação e o impacto na qualidade de vida dos pacientes. Segundo ele, a maior parte dos doentes é submetida a tratamentos com medicamentos descritos como "drogas modificadoras da doença”, como o Methotrexate e 7Leflunomida.

"Ambos são medicamentos seguros, eficazes e estão disponíveis pelo SUS. No entanto, cerca de 10% a 30% dos pacientes não reagem positivamente a esses medicamentos. Por isso, temos disponíveis as drogas ditas biológicas, que são medicamentos produzidos com técnicas de engenharia genética e biologia molecular, que atuam em moléculas específi cas”, explica.

Segundo Bores Cruz, a mais recente inovação no tratamento da artrite reumatóide é o inibidor do receptor de interleucina 6, molécula que desempenha vários papéis em doenças inflamatórias. O inibidor é chamado Tocilizumab, desenvolvido pelos laboratórios da farmacêutica Roche, está previsto para chegar ao Brasil em 2009 com o nome comercial Actemra. "Na artrite reumatóide, a interleucina 6 atua não só na inflamação das juntas, mas também em outras manifestações da doença como a anemia, a fadiga e o aumento das proteínas que participam da inflamação do organismo como um todo”, disse.

Em Belo Horizonte, Paulo de Pádua é um dos profissionais que realiza testes com o Tocilizumab em pacientes de artrite reumatóide. "A ação desse medicamento é diferente dos outros, porque tem resposta igual ou superior aos demais, mas com o diferencial de recuperar os pacientes que estão anêmicos”, explicou.

O Tocilizumab foi desenvolvido e aprovado no Japão, sendo eficaz na redução da inflamação da artrite reumatóide não só em pacientes precoces, mas também nos que não responderam ao tratamento convencional e a outros agentes biológicos. De acordo com o professor da Faculdade de Medicina da UFMG, no Brasil haverá um estudo específico para confirmar a eficácia e segurança deste medicamento. "Vários estudos internacionais vêm confirmando a eficácia e segurança deste medicamento. Alguns destes estudos incluíram pacientes brasileiros”, disse Paulo de Pádua.

Mas enquanto o Tocilizumab não chega no mercado nacional, Bores Cruz garante que todos os outros medicamentos, inclusive os que estão disponíveis pelo SUS, são extremamente seguros. "Basta procurar o serviço público, como o médico de um posto de saúde, que ele fará o encaminhamento para o tratamento especializado. Os pacientes podem ficar tranqüilos, porque o Brasil dispõe de conhecimento e tecnologia suficientes para realizar um tratamento eficaz”, afirmou o especialista.

Assim como outras drogas, o Tocilizumab também tem como efeitos colaterais o risco de infecção viróticas e bacterianas do paciente. "Temos um controle bem próximo do paciente. De qualquer maneira, ele não pode se afastar do médico e deve estar sempre em contato com o profissional, contando o que está sentindo, porque se não existir esse diálogo, a artrite pode atingir órgãos vitais, provocando infarto, inflamação do fígado e alteração dos glóbulos brancos”, alerta. Segundo o médico, o tratamento atual para essa doença pode chegar a R$ 10 mil por mês ou R$ 70 mil por ano. A Roche informou que a expectativa é que o medicamento chegue no Brasil com custo significantemente menor, com valor aproximado a R$ 45 mil por ano.

Fonte: Hoje em Dia,

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