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7.18.2009

As duas guerras contra o vírus H1N1

Duas guerras estão sendo travadas entre os humanos e o vírus H1N1. Na primeira, o vírus enfrenta acidentes geográficos, fronteiras e governos, buscando conquistar território. A derrota dos países pode ser acompanhada dia a dia em um mapa. Basta pintar cada país de vermelho quando for detectado o primeiro caso da doença e de negro quando ocorre a primeira morte. A derrota é eminente quando o governo avisa a população que o número de casos e de mortes vai aumentar inexoravelmente e que o país não é capaz de sequer monitorar todos os casos da doença. EUA, Japão, Austrália e Reino Unido jogaram a toalha quando os casos chegaram a algumas centenas. No Brasil, a gripe suína tem sido tratada como "marolinha". Com mais de mil casos e quatro mortes, a situação está "totalmente sob controle". Os epidemiologistas sabem que já perdemos essa guerra.Na segunda guerra, cientistas tentam desenvolver uma vacina e o vírus tenta infectar toda a população de cada país. Ambos lutam contra o tempo. Enquanto a primeira guerra já foi disputada e perdida pela humanidade inúmeras vezes, a segunda é uma grande novidade. Praticamente todas as vacinas que dispomos em nosso arsenal foram desenvolvidas décadas ou séculos depois da identificação de uma nova doença ou de um novo vírus. Faz alguns anos que a humanidade vem montando um exército capaz de lutar contra o tempo. A cada ano esse exercito isola os novos mutantes do vírus de gripe e prepara uma nova versão da vacina. Em 2009 e 2010, esse exército composto por exemplares da espécie com o cérebro mais sofisticado do planeta, usando toda sua tecnologia e diversos meios de transporte, vai tentar chegar com uma seringa ao braço de cada pessoa antes que um dos seres vivos mais simples e rápidos do planeta, o H1N1, chegue à boca ou às narinas dessas mesmas pessoas.Nesta semana, a pressão para vencermos a segunda guerra aumentou. A revista Nature disponibilizou a versão quase final do primeiro estudo detalhado dos efeitos do vírus da gripe suína (H1N1) e sua comparação com outros vírus de gripe (controles). O estudo é conceitualmente simples. Quantidades idênticas do H1N1 e de vírus controle foram usados para infectar camundongos, macacos e furões. A cada dia após a infecção, os animais eram investigados, uma parte deles era sacrificada e os órgãos, examinados. Assim foi possível acompanhar o efeito dos diferentes vírus por duas semanas. O trabalho descreve centenas de experimentos. Esses são os principais resultados: 1) A dose de vírus H1N1 necessária para matar 50% dos camundongos é 10% da dose de vírus controle. 2) Apesar de, três dias após a infecção, a quantidade de vírus secretada pelos animais infectados com o H1N1 ser semelhante à quantidade secretada por animais infectados com o vírus controle, o H1N1produz uma bronquite e uma alteração nos alvéolos dos pulmões muito mais acentuada, com a presença do vírus em regiões mais profundas do pulmão e a destruição de células do pulmão que não são afetadas pelos vírus usuais. Essa diferença se acentua seis dias após a infecção. 3) Os animais infectados com o H1N1 apresentavam uma produção muito maior de citocinas, o que acelera o colapso do pulmão. Esse tipo de reação do corpo ao vírus H1N1 provavelmente explica a evolução muito rápida de alguns casos da doença, o fato de muitos pacientes necessitarem de respiradores e a morte de pessoas saudáveis em curto espaço de tempo. Essa liberação exagerada de citocinas é muito semelhante à observada nesses animais quando eles são infectados com o vírus que causou a pandemia de 1918.A conclusão é simples. Os resultados indicam que o vírus da gripe suína é mais perigoso que os vírus já conhecidos. Nas palavras dos 52 cientistas japoneses e americanos de 14 instituições de pesquisa: ".... A pandemia causada por esse vírus tem o potencial de provocar um impacto significativo na saúde humana e na economia global."
Fonte: O Estado de S.Paulo
Autor: Fernando Reinach

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