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8.29.2009

Roche coloca fábrica no Brasil à venda


Roche coloca fábrica no Brasil à venda
Em dez anos, companhia fechou nove fábricas na AL; unidade mexicana será a única remanescente com a transferência do controle da unidade brasileira
por Dubes Sônego Tamaño de texto Imprimir

São Paulo. Ernest Egli, presidente da farmacêutica Roche para a América Latina, diz que costuma ser fiel a um dos grandes lemas da empresa: “nunca desperdice uma crise”. Este ano, apesar de notícias mais otimistas dando conta de que a economia mundial começa a retomar o fôlego, não será diferente. A companhia acaba de colocar à venda sua fábrica no Rio de Janeiro, uma das duas únicas remanescentes na América Latina.

Nos últimos dez anos, o número de fábricas na região foi reduzido de onze para duas. A ideia, porém, no Brasil, é encontrar um novo dono que tope continuar a fornecer para a Roche. “Nas crises, as pessoas costumam aceitar melhor mudanças necessárias que, de modo geral, envolvem cortes de despesas e de pessoas”, afirma o executivo, em entrevista à AméricaEconomia.com.br. “Mas será um processo de um ou dois anos, não de 15 dias”. A unidade mexicana, que atende também ao mercado dos Estados Unidos, será a única a ser mantida na região.

O pano de fundo para a reestruturação fabril, não apenas na América Latina, mas também em outras partes do mundo, foi a compra pela Roche do controle da Genentech, companhia de biotecnologia dos Estados Unidos, por US$ 46,8 bilhões, no início do ano. Responsável pelo desenvolvimento de importantes produtos para o tratamento de câncer, como o Avastin e Herceptina, a empresa é dona de um portfólio de outras drogas que, segundo Egli, é considerado muito promissor.

Inaugurada no Rio de Janeiro em 1978, a unidade industrial brasileira produz cerca de 40 medicamentos maduros, isto é, com patentes vencidas. E, do início até meados desta década, recebeu investimentos de US$ 70 milhões em capacitação para exportação. De acordo com Egli, o faturamento da fábrica com vendas externas gira hoje por volta de US$ 100 milhões anuais. Os maiores clientes estão na América Latina, que absorve 25% da produção de comprimidos, 3% dos líquidos estéreis e 5% dos líquidos orais. Entre os principais mercados na região estão Argentina, Venezuela, Equador, Peru, Costa Rica, México, Colômbia, Chile e Uruguai. E, este ano, começaram também as vendas para a Europa, com o embarque de lotes de Marcoumar e Bactrim para Áustria e Itália.

Mas, mesmo com os novos mercados, a concorrência de medicamentos genéricos no Brasil derrubou as vendas e a ocupação das máquinas caiu até os atuais 50%, percentual considerado insuficiente para justificar a manutenção da fábrica. Egli diz que mais da metade da venda no país já é de medicamentos biotecnológicos, importados da Roche européia. E o mesmo vale para os países latino-americanos. “Nossa intenção é focar mais em pesquisa e desenvolvimento que em produção”, afirma Egli.

A Roche tem como foco de pesquisa e desenvolvimento produtos farmacêuticos e de diagnóstico. Mundialmente, investe cerca de US$ 7 bilhões por ano na criação de produtos inovadores – uma de suas grandes estrelas atuais é o Tamiflu, usado para o combate da gripe A (H1N1). E em especial para o tratamento de câncer, infecções virais, distúrbios metabólicos, sistema nervoso central e doenças inflamatórias.

No Brasil, porém, não há pesquisa básica. Segundo Egli, devido a fatores como a falta de proteção a patentes e flexibilidade de preços. A pesquisa clínica, porém, vêm crescendo no mercado local. Em 2007, a companhia realizou no Brasil 32 pesquisas. No ano passado foram 71 e este ano estão programadas 96. O volume de investimentos para essas operações deverá alcançar o número recorde de R$ 54 milhões. Em 2007, foram R$ 33,8 milhões, segundo informações da própria empresa. Os motivos para a ampliação, afirma Egli, são a qualidade técnica dos profissionais brasileiros, melhorias nos trâmites burocráticos e administrativos para liberação de autorizações de pesquisa e o grande número de pacientes ainda não tratados por nenhum outro tipo de drogas.

Sem muito mais espaço para cortes na área produtiva na América Latina, Egli diz que os investimentos da companhia tendem a se concentrar em atividades como a pesquisa clínica e o refinamento de sistemas de CRM, que ajudam a companhia a identificar onde estão e quais as necessidades dos principais clientes.

Balanço

Recentemente a companhia, de origem suíça, divulgou mundialmente os resultados do primeiro semestre. De acordo com o balanço, as vendas cresceram cerca de 10%, para 24 bilhões de francos suíços. Na área de produtos farmacêuticos, responsável por 19 bilhões de francos suíços do faturamento total, a principal concentração de vendas foi nos Estados Unidos, responsáveis por 39% do total. Em seguida, aparecem a Europa Ocidental, com 27%, e o Japão, com 12%. A América Latina representou 6% das vendas, 11% mais que no mesmo período do ano anterior.

Já na área de diagnósticos, que faturou 4,9 bilhões de francos suíços no período, a principal fonte de recursos foi a Europa Central e o Leste da África, com 53% de participação, seguida da América do Norte, com 27%, e da região da Ásia-Pacífico, com 9%. A América Latina aparece com 6% das vendas e crescimento de 16%.

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