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11.09.2009

Mulher Saúde: Saiba mais sobre Candidíase e Corrimento vaginal

Paula Vilela Gherpelli

Papanicolau e corrimento
O Papanicolau é um exame no qual são coletadas células do colo do útero, colocadas numa lâmina e vistas posteriormente no microscópio. O objetivo desse exame é detectar alterações nessas células que são sugestivas de infecção pelo vírus do HPV (Papilomavírus humano). Essa infecção, se não for tratada adequadamente, causa o câncer de colo de útero. Por isso o Papanicolau é tão importante, pois detecta essas primeiras alterações, permitindo assim o tratamento precoce e evitando um desfecho tão grave e maléfico.

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, esse exame não tem como objetivo fazer diagnóstico de corrimento, mas sim dessas lesões causadas pelo HPV. A presença de um corrimento ou de uma infecção no momento do exame prejudica sua leitura, não permitindo que o patologista (médico que avalia esse exame e dá seu laudo, seu resultado) faça uma avaliação adequada da amostra.

Quando é encontrada a presença de Cândida ou Gardnerella nessa lâmina, não há porque se preocupar. Esses bichos participam da flora vaginal (compõe naturalmente o ambiente da vagina, “vivem”, “moram” lá). Desta forma, se na hora da coleta um deles for pego junto e colocado na lâmina, não significa que seu crescimento esteja aumentado e que ele precisa ser eliminado, tratado. Só há a necessidade de tratá-los caso a paciente apresente sintomas relacionados a esses bichos. Caso contrário, não tem porque ficar usando cremes e remédios sem necessidade (exceto na gravidez).

Candidíase que vai e volta: resistência ao tratamento
A resistência de qualquer microorganismo a um determinado remédio ocorre da seguinte forma: você tem uma infecção e toma o remédio para combatê-la. Aí ela volta e você toma o mesmo remédio, ou algum outro semelhante que tenha o mesmo princípio ativo (a mesma arma feita para acabar com esse bicho). Após alguns ciclos de tratamentos (muitas vezes mais curtos do que deveriam ser!), você começa a perceber que ele é cada vez menos eficaz, e que sua infecção não está mais melhorando como antes. O que aconteceu?

Uma das principais causas de resistência a um remédio é seu uso inapropriado e sem indicação. As pessoas que se automedicam, ou mesmo as que tomam algum remédio prescrito pelo seu médico, mas de forma incorreta (esquecem de tomar o remédio na hora certa, tomam por menos dias do que foi prescrito, etc), acabam selecionando os microorganismos que são mais resistentes a essa medicação. Quando você usa um antibiótico, ele acaba com os “bichos”, porém pode sobrar algum que seja resistente a ele (não morra com ele) por uma proteção genética (é um “super-bicho”). Então, esse “super-bicho” que restou acaba se reproduzindo, formando uma população de “super-bichos”, que não serão eliminados se você continuar usando o mesmo tratamento.

Para acabar com essa população de “super-bichos”, você precisa realizar um acompanhamento com um ginecologista, e realizar o tratamento exatamente da forma que ele orientar. Fique preparada para a falha de um ou outro tratamento, pois se sua candidíase já possui certa resistência, algumas medicações poderão não ser potentes o suficiente para eliminá-la.

Candidíase e sexo, tem relação?
Se você tem uma irritação, ardência, inchaço e vermelhidão após ter relação sexual, a primeira pergunta que te faço é: será que sua vagina está ficando com uma lubrificação escassa na hora da penetração, assim resultando num ambiente mais seco. Se for isso, provavelmente esse atrito entre o pênis e a parede vaginal está resultando em micro-lesões, que ardem e ficam sensíveis depois do ato. Para tratar disso, use um lubrificante a base de água nas suas relações, assim combatendo esse problema. E quem sabe, você também poderia pedir ao seu parceiro uma atenção mais especial nas preliminares, e ter a penetração num período de maior excitação, assim facilitando, e quem sabe até melhorando seu clímax sexual.

Se esses sintomas ocorrem apenas após você entrar em contato com a camisinha, isso pode ser uma alergia. Cerca de 1% das pessoas têm alergia aos produtos utilizados na camisinha como espermicidas e lubrificantes, e 1% têm alergia ao látex, que é o mesmo material das luvas de procedimentos médicos e odontológicos.

Para tentar descobrir a qual desses produtos você desenvolveu alergia, faça um teste: tente usar uma camisinha de látex sem lubrificante e espermicida, e verifique se apresenta os mesmos sintomas após o contato. Você pode associar um lubrificante a base de água, para caprichar na lubrificação local.

Se mesmo assim tiver esses sintomas, verifique se o uso de camisinhas a base de poliuretano (anti-alérgicas) melhoram seu quadro. Também se consulte com seu ginecologista após fazer esses testes, para que possa se aconselhar em alguns tratamentos para dessensibilizar, diminuir a alergia da camisinha.

Outra coisa que também pode estar acontecendo é que esses sintomas são de uma candidíase de repetição, e que a relação sexual esteja resultando numa reativação de seus sintomas de candidíase. Se for esse o caso, você e seu parceiro devem realizar um tratamento em conjunto para melhorar desse problema. Sempre com o acompanhamento médico.

Quando o parceiro também deve se tratar para candidíase?

Candidíase de repetição (que melhora com o tratamento, mas sempre acaba voltando);
Parceiro com sintomas: coceira, inchaço, vermelhidão, ardência ou aumento da sensibilidade local.

Corrimento: a ponta do iceberg!
As irritações vaginais, seja em forma de corrimento, cheiro ruim, coceira ou inchaço, quando se tornam recorrentes (vão e voltam), significam que o tratamento não está adequado. Não porque o remédio não é indicado para tal patologia (doença, alteração), mas sim porque a origem de tudo isso, o real fator causal desse problema, não está sendo combatido. O corpo da mulher é uma máquina extremamente delicada, onde pequenas alterações podem iniciar um efeito como uma bola de neve. Desta forma, quanto mais tempo demoramos para acertar essa alteração, maior será o problema e mais difícil será de resolvê-lo.

A maior parte das irritações vaginais é causada por bichos que participam da flora vaginal (Cândida e Gardnerella), porém acabaram se reproduzindo demais e resultaram nessa irritação. Isso significa que alguma “coisa” que deveria estar regulando crescimento desses bichos falhou nessa tarefa, o que resultou na irritação. Mas que “coisa” é essa? Se não for por nenhum dos fatores que citei no meu texto anterior (sobre candidíase e flora vaginal), então é porque seu sistema imunológico (de defesa do corpo) está falho, cansado.

O sistema imunológico é o resultado direto do funcionamento do corpo. Se o corpo está em harmonia, saudável, ele funciona muito bem. Porém, se o corpo está sobrecarregado, com pouca energia, o sistema imunológico começa a falhar. Desta forma, ele é o termômetro da saúde e do equilíbrio do corpo.

E nisso não tem como o médico atuar, senão dando aqueles mesmos conselhos de sempre: evite o stress, durma direito, se alimente adequadamente, tenha momentos de laser, faça exercícios físicos, tenha um peso adequado, seja feliz… Por isso é importante toda paciente ter a consciência de que “ela” (a paciente, a mulher) que é responsável pelo sucesso de seu tratamento. O médico entra como um coadjuvante, mostrando possíveis caminhos que a mulher pode percorrer para que tenha uma vida mais saudável.

Candidíase que vai e volta: alteração da flora vaginal
Muitas vezes, essa candidíase que vai e volta é resultante de uma alteração da flora vaginal, e ela não será completamente resolvida se essa flora não for restabelecida. Mas antes de saber como restabelecer essa flora, é importante pesquisar qual foi o agente causador desse desbalanço.

O que é a flora vaginal?

A vagina é habitada por uma série de microorganismos (bactérias, fungos, etc.) que vivem num equilíbrio entre si (é um mini ecossistema). Esses bichos têm como função a manutenção da acidez vaginal, assim como algumas propriedades de defesa da vagina contra agentes externos. Esse ambiente que compõe a vagina é chamado de flora vaginal.

O que pode alterar a flora vaginal?

1. Medicações:

Pílula anticoncepcional ou anticoncepcional injetável: os hormônios existentes nessas medicações podem levar a uma alteração da produção do muco vaginal, assim como na acidez da vagina. Essas alterações resultam numa alteração da flora. Portanto, se você tem esses quadros recorrentes e faz uso de algum desses métodos anticoncepcionais hormonais (pílula ou injeção), converse com seu ginecologista sobre a possibilidade de uma troca dessa medicação. Às vezes, o fato de trocar de anticoncepcional leva a uma melhora da candidíase.
Antibióticos: agem não só nos bichos que estão causando a infecção para a qual ele foi recomendado, como em todo corpo. Assim, ele pode acabar matando um determinado grupo de bichos que fazem parte da flora vaginal, resultando num desbalanço, num desequilíbrio dessa flora. Isso pode predispor ao desenvolvimento de irritações vaginais ou corrimentos. Para o diagnóstico desse quadro, é importante que se realize um exame ginecológico, seguido do tratamento adequado.
Corticóides (ex.: prednisona): agem diminuindo a função do sistema imunológico (sistema de defesa natural do corpo contra os bichos que causam doenças). Isso pode resultar numa proliferação, num crescimento exagerado dos bichos que compõe a flora vaginal, podendo resultar em corrimentos, irritações. Da mesma forma que orientei acima, é importante que se realize um exame ginecológico, seguido do tratamento adequado.
Cremes vaginais: são medicamentos que contêm antibióticos e/ou corticóides que são usados diretamente na vagina. Seu uso, principalmente crônico (diversas vezes), também pode levar ao desbalanço da flora vaginal.
2. Depilação dos pêlos pubianos: os pêlos pubianos (da vagina) têm como função protegê-la contra os bichos e a sujeira do meio exterior. Portanto, se tirar todos esses pêlos, a vagina fica muito mais exposta, podendo facilitar infecções locais.



Resumindo tudo isso que acabei de dizer: se você é uma dessas mulheres que vira e mexe aparece com novo desconforto vaginal, pare um pouco para fazer uma auto-reflexão. Como anda sua vida, o que você tem feito que possa estar alterando seu sistema imunológico: é o final do prazo do trabalho? A ausência de exercícios físicos? Seu relacionamento que não está muito bom? São as poucas horas de sono? Esses quilos a mais, ou a menos? O que pode ser? Quando você encontrar essa resposta e tiver uma atitude pró-ativa para reverter esse quadro, que você conseguirá se livrar desses desconfortos vaginais tão freqüentes. Até lá, você provavelmente vai continuar usando um remédio ou outro, mas essa irritação sempre voltará para te importunar, e para avisar que você não está bem, não apenas sua vagina.

Obs.: uma outra causa muito comum de queda da imunidade é a diabetes. Se você tem parentes com diabetes, realize um teste para investigar essa doença, que também muitas vezes tem como primeiro sintoma os corrimentos recorrentes.

Parece candidíase, mas não é!
Os sintomas clássicos da candidíase são: corrimento branco parecendo uma “massinha”, umas natas, inchaço na vagina, coceira, vermelhidão, ardência para urinar (porque a pele da vagina está muito sensível, e assim, quando a urina encosta nela, arde), dor na penetração do ato sexual. Se a mulher tem esses sintomas, sem nenhum outro associado, a chance de ela ter candidíase é grande, porém, não é certeza.

A partir do momento que é feita a hipótese diagnóstica de candidíase, inicia-se um tratamento específico para ela. Aí que vem a segunda parte do raciocínio médico: se a paciente tiver uma melhora do quadro com o tratamento, então o diagnóstico é confirmado; se ela não tiver uma melhora, ou o diagnóstico está errado, ou o tratamento não foi eficaz para aquela cândida específica (ela está resistente ao tratamento). E é aí que a novela da irritação vaginal começa para as mulheres.

Quando suspeitar se o que eu tenho não é candidíase?

Em primeiro lugar, se o quadro não é completamente típico, ou seja, não é exatamente como eu descrevi no início do texto. A candidíase não tem cheiro, não tem ferida, e seu corrimento é bem branquinho. Em segundo lugar, se o tratamento que você fez visando acabar com a candidíase não melhorou em nada seus sintomas.

A maioria dos problemas vaginais é acompanhada de algum corrimento e irritação vaginal. Esse é o jeito da vagina dizer que não está bem. Como a candidíase é muito comum, na maioria das vezes ela faz parte do repertório das hipóteses diagnósticas. Mas é importante avaliar a possibilidade da presença de doenças sexualmente transmissíveis (DST), principalmente se a mulher fez práticas sexuais sem proteção recentemente.

As principais DST’s existentes hoje em dia são: HPV (papilomavírus humano), sífilis, gonorréia, tricomoníase, donovanose, herpes genital, cancro mole e infecção por clamídia. A diferença delas para a candidíase (e a Gardnerella) é que elas são causadas por “bichos” que não deveriam habitar a vagina, ou seja, se eles estão lá, é porque você os pegou pela via sexual. Como a presença deles na vagina causa uma doença, seu tratamento adequado é obrigatório.

Portanto, se você tem sintomas que não se encaixam perfeitamente no quadro de candidíase, e seu médico lhe receitou um tratamento para candidíase que não está melhorando nada, você deve voltar a vê-lo. A paciente tem uma responsabilidade muito grande em permitir a continuação do raciocínio médico, e ela o faz voltando ao médico para lhe contar que o tratamento não deu certo. Desta forma, o médico avança em seu raciocínio abrindo um leque de outras possibilidades que possam justificar sua queixa. Como a principal hipótese que ele tinha em mente não foi confirmada, ele provavelmente investigará as outras hipóteses com novos exames e tratamentos, até que se tenha uma conclusão desse enigma.

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