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2.02.2010

Fibromialgia

O termo fibromialgia refere-se a uma condição dolorosa generalizada e crônica. É considerada uma síndrome porque engloba uma série de manifestações clínicas como dor, fadiga, indisposição, distúrbios do sono .

No passado, pessoas que apresentavam dor generalizada e uma série de queixas mal definidas não eram levadas muito a sério. Por vezes problemas emocionais eram considerados como fator determinante desse quadro ou então um diagnóstico nebuloso de “fibrosite” era estabelecido. Isso porque acreditava-se que houvesse o envolvimento de um processo inflamatório muscular, daí a terminação “ite”.

Atualmente sabe-se que a fibromialgia é uma forma de reumatismo associada à da sensibilidade do indivíduo frente a um estímulo doloroso. O termo reumatismo pode ser justificado pelo fato de a fibromialgia envolver músculos, tendões e ligamentos.

O que não quer dizer que acarrete deformidade física ou outros tipos de seqüela. No entanto a fibromialgia pode prejudicar a qualidade de vida e o desempenho profissional, motivos que plenamente justificam que o paciente seja levado a sério em suas queixas.

Como não existem exames complementares que por si só confirmem o diagnóstico, a experiência clínica do profissional que avalia o paciente com fibromialgia é fundamental para o sucesso do tratamento.

A partir da década de 80 pesquisadores do mundo inteiro têm se interessado pela fibromialgia. Vários estudos foram publicados, inclusive critérios que auxiliam no diagnóstico dessa síndrome, diferenciando-a de outras condições que acarretem dor muscular ou óssea. Esses critérios valorizam a questão da dor generalizada por um período maior que três meses e a presença de pontos dolorosos padronizados.

Diferentes fatores, isolados ou combinados, podem favorecer as manifestações da fibromialgia, dentre eles doenças graves, traumas emocionais ou físicos e mudanças hormonais. Assim sendo, uma infecção, um episódio de gripe ou um acidente de carro, podem estimular o aparecimento dessa síndrome. Por outro lado, os sintomas de fibromialgia podem provocar alterações no humor e diminuição da atividade física, o que agrava a condição de dor.

Pesquisas têm também procurado o papel de certos hormônios ou produtos químicos orgânicos que possam influenciar na manifestação da dor, no sono e no humor. Muito se tem estudado sobre o envolvimento na fibromialgia de hormônios e de substâncias que participam da transmissão da dor. Essas pesquisas podem resultar em um melhor entendimento dessa síndrome e portanto proporcionar um tratamento mais efetivo e até mesmo a sua prevenção.

Diagnóstico

O diagnóstico de fibromialgia se baseia nas queixas de dor generalizada por um período maior que 3 meses, associada à presença dos pontos dolorosos padronizados.

Para a pesquisa dos pontos padronizados deve-se manter o paciente sentado sobre a mesa de exame, questionando-o sobre a sensação dolorosa, após a pesquisa de cada ponto padronizado, um a um, bilateralmente em cada região anatômica, no sentido crânio-caudal (WOLFE et al., 1990).

Recomenda-se o uso comparativo de pontos, ditos controles, como o leito ungueal do polegar, ponto médio na face dorsal do antebraço, fronte, terço médio do terceiro metatarso, que, supostamente, correspondem a locais menos dolorosos que os pontos padronizados.

O uso de dolorímetro ou algômetro, dispositivo que determina a intensidade de pressão por área (MC CARTHY, GATTER, STEELE, 1968), fornece dados mais objetivos, importantes em estudos controlados. Na rotina clínica, a pesquisa dos pontos dolorosos por meio de digitopressão é comparável à avaliação feita com o dolorímetro em termos da positividade dos pontos (RASMUSSEN, SMIDTH, HANSEN, 1990, SMYTHE et al., 1992; SMYTHE, BUSKILA, GLADMAN, 1993), no entanto não fornece dados quanto ao limiar de pressão a partir do qual um ponto pode ser considerado positivo.

Na fibromialgia o limiar doloroso médio dos pontos padronizados, assim como dos pontos controle é mais baixo que em outras doenças reumáticas (WOLFE et al., 1990; Buskila et al., 1993).

A presença de 11 dos 18 pontos padronizados tem valor para fins de classificação, entretanto, de acordo com SMYTHE, BUSKILA, GLADMAN, 1991, em casos individuais, pacientes com menos de 11 pontos dolorosos poderiam ser considerados fibromiálgicos desde que outros sintomas e sinais sugestivos estivessem presentes.

Outros achados do exame físico incluem o espasmo muscular localizado, referidos como nódulos, a sensibilidade cutânea ao pregueamento (alodínia) ou dermografismo, após compressão local. A sensibilidade ao frio também pode estar presente e manifestar-se como "cutis marmorata" em especial nos membros inferiores (WOLFE et al., 1990).

Os exames laboratoriais e o estudo radiológico são normais e, mesmo quando alterados, não excluem o diagnóstico de fibromialgia, uma vez que esta pode ocorrer em associação a artropatias inflamatórias, a síndromes cervicais ou lombares, a colagenoses sistêmicas, à síndrome de Lyme e a tireoidopatias (WOLFE et al., 1990). Cerca de 10% dos pacientes apresentam positividade do FAN em baixos títulos (Goldenberg, 1989).

A fibromialgia é uma síndrome crônica caracterizada por queixa dolorosa musculoesquelética difusa e pela presença de pontos dolorosos em regiões anatomicamente determinadas ( WOLFE et al., 1990 ).

Outras manifestações, que podem acompanhar o quadro, são fadiga crônica ( WOLFE, 1986; Moldofsky et al. 1975; Yunus et al. 1981 ), distúrbio do sono, rigidez muscular, parestesias, cefaléia, síndrome do cólon irritável, fenômeno de Raynaud, assim como a presença de alguns distúrbios psicológicos, em especial ansiedade e depressão ( Wolfe, 1986; Bengtsson & Henriksson, 1989 ).

Apesar de ser uma síndrome dolorosa freqüente e de ter sido descrita há mais de 150 anos, o seu estudo esteve prejudicado, por muito tempo, devido à confusão existente na terminologia e à sobreposição a outras síndromes dolorosas. Apenas nas últimas décadas é que o conceito da fibromialgia tem evoluído e, atualmente, difere da visão que se tinha há 20 - 50 anos ( Kelly, 1946; KRAFT, JOHNSON, LA BAN, 1968; Reynolds, 1983 ). Em parte, isto se deve ao esforço para se estabelecer os critérios diagnósticos que definiram melhor esta entidade.

São inegáveis os progressos obtidos, por esta linha de pesquisa, no sentido de esclarecer os mecanismos envolvidos nas síndromes dolorosas crônicas, assim como aprimorar as técnicas de abordagem dos pacientes. Esses aspectos são reconhecidos inclusive por autores que ainda questionam a existência da fibromialgia, não valorizando seus critérios diagnósticos ( BLOCK, 1993 ).

ASPECTOS HISTÓRICOS GERAIS
Desde os meados do século XIX já eram reconhecidas manifestações clínicas que sugeriam o diagnóstico de fibromialgia. Em 1850, FRORIEP publicou casos de pacientes que apresentavam contraturas musculares e dor à digitopressão em diversas regiões anatômicas, sem , no entanto, caracterizar a presença de pontos dolorosos. Em 1904, GOWERS propôs o termo fibrosite para designar síndromes dolorosas sistêmicas, ou regionais, nas quais observou uma sensibilidade dolorosa aumentada em determinadas regiões anatômicas, com ausência de manifestações inflamatórias, sendo que a fadiga e distúrbios do sono eram, por vezes, relatados.

No mesmo ano, STOCKMAN descreveu alterações inflamatórias no tecido colágeno dos pacientes, o que não foi confirmado por estudos posteriores ( SLOCUMB, 1943 ). Em 1939, LEWIS & KELLGREN reproduziram o quadro de dores musculares referidas, injetando solução salina hipertônica no tecido muscular profundo. Durante as décadas de 50 e 60 o termo fibrosite foi utilizado de forma pouco específica, havendo diversos relatos de dores musculares referidas, uniformes quanto ao padrão das queixas, porém diferindo quanto aos locais acometidos.

Muitos autores consideravam a fibrosite como uma causa freqüente de dores musculares, enquanto outros acreditavam tratar-se de um reumatismo psicogênico relacionado à tensão emocional.

A fibromialgia não era considerada uma entidade até a década de 70, quando MOLDOFSKY et al. ( 1975 ) publicaram os primeiros relatos dos distúrbios do sono e dos achados polissonográficos, que deram margem a novas vertentes na investigação etiopatogênica. O termo fibromialgia foi proposto em 1976 por HENCH, e em 1977, SMYTHE & MOLDOFSKY propuseram critérios para o seu diagnóstico. Os diversos estudos que surgiram, a partir de então, observaram que uma grande parte dos pacientes com fibromialgia apresentava, em comum, regiões anatômicas mais dolorosas salientando-se o epicôndilo lateral, a região costocondral e os grupamentos musculares da região cervical.

Na década de 80, a questão dos critérios diagnósticos foi bastante debatida ( YUNUS et al., 1981; CAMPBELL et al., 1983; WOLFE et al., 1985; GOLDENBERG, FELSON, DINERMAN, 1986; YUNUS, MASI, ALDAG, 1989 ) e consagrou-se a fibromialgia como uma entidade clínica.

Em 1990, o Colégio Americano de Reumatologia publicou um estudo multicêntrico, realizado em 16 centros especializados nos Estados Unidos e Canadá, por um período de 4 anos, que envolveu 293 pacientes com fibromialgia e 265 controles, que apresentavam condições clínicas facilmente confundíveis com a fibromialgia ( WOLFE et al., 1990 ). Foram propostos, como critérios diagnósticos para a fibromialgia, a presença de queixas dolorosas difusas, abrangendo as regiões acima e abaixo da linha da cintura, bilateralmente, por um período maior do que 3 meses e a presença de dor em pelo menos 11 de 18 pontos anatomicamente padronizados. Considerou-se positivo um ponto, quando era referido desconforto doloroso no local, após digitopressão com intensidade de força equivalente ao limite de 4 kgf / cm2 com o uso de dolorímetro.

A combinação de ambos os critérios apresenta sensibilidade de 88.4 % e especificidade de 81.1%, sendo que a concomitância de outras doenças não invalida o diagnóstico. Este estudo considerou de pouca importância a subdivisão da fibromialgia em primária, secundária ou concomitante, uma vez que não foram observadas diferenças significantes entre as três formas da apresentação.

http://www.fibromialgia.com.br/
Stenio Guilherme

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