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3.11.2010

Farmanguinhos desenvolve bioinseticida para combater mosquito transmissor da dengue

pesquisadora Elizabeth Sanches, do Laboratório de Bioprodutos de Farmanguinhos

10 de março de 2010

Uma arma eficaz, capaz de evitar o desenvolvimento do mosquito da dengue sem oferecer riscos à saúde do homem, promete dificultar a proliferação do Aedes aegypti nos próximos anos. O mais novo aliado na luta contra a doença é um bioinseticida desenvolvido por Farmanguinhos/Fiocruz que deverá ser produzido em breve. O produto é um dos seis novos inseticidas que o Instituto pretende lançar no mercado. Também estão prontas as formulações para o combate aos vetores de outras importantes doenças, a filariose e a malária, e a duas pragas agrícolas, cupins e formigas.

O novo bioinseticida atua de duas formas contra as larvas do mosquito transmissor da dengue. Aplicado nos criadouros, o produto é ingerido pelas larvas. Entre duas a quatro horas após a ingestão, as larvas do Aedes aegypti sofrem uma paralisação de seus músculos bucais e não conseguem mais se alimentar. Em seguida, um esporo (formas de resistência produzidas pelas bactérias) age causando infecção interna nas larvas já debilitadas, eliminando-as.

O produto possui duas formulações diferentes, desenvolvidas especialmente para os ambientes nos quais o mosquito se reproduz. Para o uso domiciliar (em caixas d´água), foram criadas pastilhas. Cada uma pode ser utilizada em até 50 litros de água. “Em 48 horas, o bioinseticida acaba com todas as larvas presentes no local, com efeito durante 21 dias. Tivemos o cuidado de inserir protetor solar na fórmula, para que não haja degradação nos locais mais pobres, onde muitas caixas d´água ficam expostas ao sol”, explica a pesquisadora Elizabeth Sanches, do Laboratório de Bioprodutos de Farmanguinhos, responsável pela pesquisa. Já em piscinas, lagos e outros grandes reservatórios de água onde podem ocorrer altas concentrações do inseto, o produto deverá ser utilizado na forma de um comprimido hidrossolúvel ou granulado.

Todas as formulações do produto têm durabilidade de 18 a 24 meses e não oferecem riscos ao meio-ambiente ou à saúde. “Foram três anos em meio para desenvolver a tecnologia e mais 18 meses para criar o produto. Neste período, fizemos todos os testes necessários, inclusive para avaliar se haveria impacto ambiental”, informou Elizabeth Sanches.

O bioinseticida foi criado a partir da bactéria Bacillus sphaericus, pertencente ao solo brasileiro e isolada no laboratório de Farmanguinhos. Após a biossíntese de moléculas da bactéria, a equipe coordenada pela engenheira bioquímica conseguiu criar um produto com essa dupla atividade contra as larvas do mosquito da dengue. No entanto, Elizabeth Sanches ressalta que, para combater a dengue, a melhor estratégia ainda é eliminar os criadouros, especialmente os pequenos, como vasos de plantas, pneus e garrafas a céu aberto.


Natureza no combate à malária, filariose e pragas agrícolas


Enquanto desenvolvia um produto contra o Aedes aegypti, a equipe da pesquisadora também trabalhou em bioinseticidas contra dois outros vetores de doenças que afligem principalmente as populações mais pobres: a malária e a filariose.

Através de um método semelhante, outra bactéria isolada por Elizabeth Sanches deu origem a uma emulsão líquida flutuante, que deverá ser utilizada em lagos e açudes habitados em localidades onde ocorra a transmissão da malária. O produto se espalha até 20 cm abaixo da superfície da água, limite da concentração das larvas do mosquito Anopheles darlingi, principal vetor da doença no Brasil. O bioinseticida resiste à chuva por 50 dias.

Já o principal transmissor da filariose, o mosquito do tipo Culex quinquefasciatus, mais comumente conhecido como pernilongo, tem como criadouros preferenciais reservatórios de água suja e parada, como esgotos a céu aberto. Para combatê-lo, foi desenvolvida uma suspensão aquofiltrante que resiste por até 175 dias desde que haja aplicações periódicas de concentrações menores do produto.

A tecnologia dos bioinseticidas foi aplicada ainda no desenvolvimento de produtos contra duas das principais pragas das plantações: os cupins e as formigas Solenopsis invicta Buren, conhecidas como lava-pés ou cortadeiras.

Todos os bioinseticidas desenvolvidos pelo laboratório de Elizabeth Sanches devem ser produzidos em larga escala dentro de pouco tempo. Em breve, será publicado um novo edital para a escolha da empresa que será beneficiada com a transferência de tecnologia para fabricar as seis formulações. Farmanguinhos, que receberá royalties correspondentes à comercialização, fiscalizará a produção para garantir produtos de qualidade.

A pesquisadora acredita que, por reduzir a dependência brasileira de importações e favorecer o meio-ambiente, o desenvolvimento de produtos extraídos da natureza deveria ganhar mais incentivo no Brasil. “Este tipo de produto mostra que há alternativas interessantes na natureza que melhoram a qualidade de vida das pessoas e não provocam impacto ambiental. A biotecnologia deveria ser uma cultura nacional”, afirma.

Font: Farmanguinhos

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