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4.15.2010

Vício em drogas é doença e deve ser tratado com medicamentos

Nora Volkow é chefe do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas dos EUA.

Para ela, dependência precisa ser vista como problema crônico do cérebro.

Uma das maiores especialistas em drogas da atualidade esteve em São Paulo na última quarta-feira (24) e foi enfática ao caracterizar a dependência de substâncias químicas como a cocaína, o cigarro e a bebida: “A dependência é uma doença crônica no cérebro humano.”

Nora Volkow, diretora do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas (Nida) dos EUA, afirma que o vício em substâncias químicas afeta uma região do cérebro chamada córtex orbitofrontal, responsável pela tomada de decisões. “Essas pessoas perdem o livre arbítrio para dizer ‘não’”.

A médica, que estuda nos EUA como a dependência química pode alterar as funções cerebrais, deu uma palestra para cerca de 400 profissionais da saúde na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Segundo Nora, há muitas pessoas que julgam os dependentes como pessoas moralmente fracas, e ignoram que elas perderam o controle de suas ações. “Se você está dirigindo um veículo e tenta não atropelar um gato, o freio pode falhar e você não consegue fazer o que quer. É difícil fazer as pessoas acreditarem algo semelhante ocorre com as drogas”, afirma. “Mesmo quando a pessoa tem a melhor das intenções de não tomar a droga, ela perde a cabeça, o ‘freio’ do cérebro não funciona.”

Genética e stress
De acordo com a especialista, os jovens correm um risco maior de se tornar dependentes químicos. “Na infância e na adolescência, o cérebro é muito plástico [fácil de ser ‘modelado’]. isso é bom para o aprendizado, mas ao mesmo tempo ajuda a pessoa a se tornar dependente de drogas.”

Nora aponta que correm mais riscos aqueles que têm predisposição genética para a dependência ou os que vivem sob condições estressantes, como os que não se dão bem com os pais ou com os amigos. Por isso, segundo ela, um dos métodos que funcionam melhor para a prevenção são os programas que estimulam a auto-estima dos adolescentes, como a prática de esportes.

Medicamentos
A diretora do Nida, que é psiquiatra, defende também maior uso de medicamentos para o controle da dependência. Segundo ela, os remédios conseguem ajudar as pessoas a romper o ciclo vicioso que as leva usarem drogas compulsivamente.



Imagens do fluxo de dopamina – substância estimulante do sistema nervoso – mostram a capacidade do cérebro de se recuperar após a dependência química. Na primeira foto está alguém que nunca foi dependente. Na segunda, um usuário após um mês de abstinência da metanfetamina. Na terceira, a mesma pessoa depois de 14 meses de abstinência. (Foto: Nida/Divulgação)

“Assim como a hipertensão, a dependência de drogas é crônica e exige cuidado contínuo. Entre os tratamentos que funcionaram bem estão os que foram levados a cabo por cinco anos, e não um ou três meses”, diz.

O psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp concorda com a médica. “Se você parte do princípio que o cérebro está com problemas, uma abordagem apenas psicológica pode deixar a desejar.”

Legalização
Segundo Nora, um dos fatores que leva ao vício é o acesso livre às drogas, e por isso ela é contra a legalização. “Hoje os maiores vícios que temos são álcool e nicotina, não porque são as drogas que causam mais dependência, mas porque são as mais disponíveis. Não é uma questão ideológica. É uma questão epidemiológica.”

Ao mesmo tempo, a psiquiatra diz ser contra encarar o dependente como um criminoso. Ela defende que o estado ofereça tratamento e ao mesmo tempo penalize quem não se submete a ele. “Nos Estados Unidos, médicos dependentes que não seguem o tratamento perdem sua licença para trabalhar”,

G1.com

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