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5.19.2010

Energia nuclear será ampliada no Brasil

Mina de urânio em Caetité, na Bahia, é a única em operação no Brasil (foto)

Brasil prevê ampliar energia nuclear; entidade pede prospecção de urânio
Estudo de empresa pública prevê quatro novas usinas nucleares até 2030.Para entidade, é preciso aplicar recursos para achar reservas de urânio.
Vamos ter que procurar urânio como fizemos com o petróleo. É a mesma prospecção, gasta-se muito dinheiro e o retorno é incerto. Mas achamos que essa é uma tarefa para ser empreendida imediatamente"
Guilherme Camargo, presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben)
O governo federal prevê a construção de quatro novas usinas nucleares no país até 2030, como uma das garantias para o fornecimento de energia elétrica - atualmente são duas em funcionamento e uma em construção, Angra 3, todas no Rio de Janeiro.
Saiba mais sobre a utilização do urânio no Brasil
Ainda não há informações precisas sobre onde serão instalados os empreendimentos e qual será o investimento necessário, mas, para a entidade que reúne técnicos e pesquisadores do setor nuclear, a Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), o governo deveria investir recursos na prospecção de urânio, a fim de encontrar novas reservas e garantir a autossuficiência da matéria-prima.
Nesta semana, o Brasil ganhou destaque na mídia internacional ao mediar, junto com a Turquia, um acordo para que o Irã aceitasse fazer o enriquecimento de urânio fora do país, como forma de demonstrar que pretende fazer uso pacífico do material.
A grande discussão é sobre o grau de enriquecimento do urânio. No Brasil, para gerar energia, o urânio é enriquecido a 3%. Em algumas pesquisas científicas, o nível chega a 20%, segundo a Aben. Também é de 20% o grau de enriquecimento de urânio que o Irã quer para suas pesquisas. A comunidade internacional, no entanto, ficou preocupada, uma vez que o urânio enriquecido a 95% é usado para fabricação de bomba atômica.
Mina de urânio em Caetité, na Bahia, é a únicaem operação no Brasil (Foto: Divulgação)
No Brasil O Plano Nacional de Eletricidade 2030 (PNE 2030), lançado em 2006 e atualizado em 2008, prevê a abertura de quatro usinas para geração de energia elétrica nuclear. O documento, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia, é uma indicação de como o governo deve investir para garantir a energia para o país no longo prazo.
A EPE informou que a primeira das quatro usinas está em fase final de estudos e deve ser construída no Nordeste do país.
Quatro estados se candidataram para sediar a nova usina: Bahia, Alagoas, Sergipe ou Pernambuco.
O governo não confirmou qual estado pode receber a próxima usina.
Segundo dados da Eletronuclear, empresa da Eletrobras que cuida das usinas nucleares, duas das quatro usinas serão no Nordeste e custarão cerca de R$ 10 bilhões cada.
A primeira deve começar a operar em 2019 e a segunda em 2021. Segundo a Eletronuclear, “a faixa litorânea entre Salvador e Recife é considerada de interesse para a construção de duas usinas”.
O governo destaca que só tem conhecimento do urânio existente no Brasil em 25% do solo do país. Mesmo assim, tem a sétima maior reserva mundial.
Perde para Austrália, Cazaquistão, Rússia, África do Sul, Canadá e Estados Unidos. As reservas conhecidas de urânio no país estão distribuídas entre Bahia, Ceará, Paraná e Minas Gerais.
Só o governo federal manipula o urânio no Brasil, por uma determinação da Constituição Federal. A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) faz a extração do urânio na única mina em operação no Brasil, chamada de Caetité, na cidade de Lagoa Real (BA).
A INB também faz o refinamento do urânio. A única usina de enriquecimento de urânio no Brasil fica na cidade de Rezende (RJ) e também é controlada pela INB. Depois do enriquecimento, o urânio vai para as usinas de Angra 1 e Angra 2, no Rio, para a geração de energia elétrica. Cerca de 3% da energia do país provêm dessas usinas, conforme dados do Sistema Interligado Nacional (SIN).
ProspecçãoA última prospecção feita pelo governo para encontrar urânio ocorreu em há 40 anos. "O fato de apenas 25% do território nacional ter sido objeto de prospecção de urânio e a expressiva elevação das reservas no final dos anos 70, decorrente dos investimentos em prospecção então realizados, sugere que o tamanho das reservas brasileiras de urânio pode ser ampliado com novos trabalhos de prospecção e pesquisa mineral. Há mesmo indicações de recursos adicionais que são estimados de 800 mil toneladas, e que, se confirmados, quadruplicariam as reservas conhecidas", diz o texto do PNE.
Para a Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), o governo deveria investir na prospecção de urânio como fez com o petróleo, quando encontrou o pré-sal, como é chamada a camada de óleo em águas profundas, a fim de garantir a autossuficiência no caso da ampliação da energia nuclear.
"Vamos ter que procurar urânio como fizemos com o petróleo. É a mesma prospecção, gasta-se muito dinheiro e o retorno é incerto. Mas achamos que essa é uma tarefa para ser empreendida imediatamente. O Brasil está deitado eternamento em berço esplêndido, mas as reservas não são tão grandes assim. Está na hora de formar geólogos uraníferos, para procurar o urânio nos confins do Brasil", afirma o engenheiro nuclear Guilherme Camargo, presidente da Aben.
O governo não descarta importar o produto.
"Em uma perspectiva de longo prazo, a oferta de combustível nuclear, no caso da instalação de novas centrais geradoras, não constitui propriamente uma restrição. Mas deve-se ter em conta o elevado volume de investimentos demandado, principalmente se se considerar a possibilidade de autossuficiência nacional na área. (...) A importação do urânio enriquecido é sempre uma possibilidade, favorecida, inclusive, pelo fato de o Brasil participar dos acordos internacionais na área nuclear", completa o documento sobre o planejamento energético.
Camargo afirma que o Brasil poderia exportar urânio na forma do "yellow cake" (urânio refinado, antes de ser enriquecido) para gerar recursos financeiros que possibilitassem a prospecção. "O governo deve implantar em breve uma segunda mina de urânio, no Ceará, e pode ser separada uma quantidade excedente de produção para ser exportada."
Preocupação ambientalGuilherme Carmago admite que há implicação ambiental na prospecção, mas diz que impactos ocorrem em todas as outras atividades.
"[Implicação ambiental] ocorre em qualquer tipo de mineração, não é só o urânio. Há preocupação no minério de ferro, no petróleo e até nas hidrelétricas, veja o caso de Belo Monte, no Pará, e das usinas do Rio Madeira. (...) Do ponto de vista do impacto ambiental é menor do que hidrelétricas, que alagam grandes áreas. A usina nuclear ocupa pouco espaço e não emite nenhuma substância líquida ou gasosa. E tem o famoso lixo atômico, que é guardado, acondicionado de forma segura em tambores."
O presidente da Aben afirmou que a entidade monitora Angra 1 há décadas e nunca registrou impactos para o meio ambiente ou para a população. "Acidentes podem ocorrer em refinarias, em hidrelétricas, se romper uma barragem, mas a indústria nuclear liderou todas as indústrias do mundo em termos de segurança. Eu diria que a chance de um acidente nuclear é quase nula."
O governo afirma, no texto do PNE, que a energia nucleoelétrica é uma "alternativa" para o país. "Na perspectiva do uso do urânio como fonte primária no horizonte do PNE 2030, o potencial de geração de energia elétrica é dado, naturalmente, pela potência que poderia ser instalada a partir da disponibilidade do energético. (...) Embora o debate não pareça próximo de uma conclusão, é certo que não se pode descartar a geração nuclear como alternativa em uma perspectiva de longo prazo. Até porque, questões objetivas, como o tamanho das reservas mundiais de urânio e a relativa estabilidade do preço do mineral, sustentam o interesse por essa forma de energia."
G1.com
Mariana de Oliveira

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