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7.17.2010

ELAS DÃO AS CARTAS


Elas dão as cartas
Ainda há poucas jogadoras de pôquer no Brasil. Mas, aos poucos, elas ganham mais espaço e mostram seu potencial
Alê Braga. Participa de torneios dentro e fora do Brasil. Foto: Sergio Braga/Divulgação
É preciso mostrar inúmeras variações de raciocínio e de ações. E a vitória pode render muito dinheiro, já que são movimentados milhões de dólares no mundo todo, ao vivo ou virtualmente. Assim é o pôquer, um fenômeno mundial que vem conquistando adeptos a cada dia e foi reconhecido como um esporte que envolve inteligência, percepção, estratégia, disciplina, habilidade e matemática.
A mulher no mundo do pôquer ainda é tida como figura frágil, porém decidida. Lá fora, elas estão em evidência e já conquistam patrocinadores. No Brasil, ainda há poucas jogadoras, mas com enorme potencial. Torneios e circuitos estão sendo realizados em todo o território nacional. As transmissões pela TV aumentaram a popularidade. Jogadores que não querem se expor ainda têm a possibilidade de jogar pela internet - estima-se que 2 milhões de pessoas pratiquem o pôquer pela rede, segundo o Brazilian Series of Poker (BSOP).
"Espero que possamos alcançar o espaço que as mulheres lá fora já têm. Para isso, precisamos de mais união", alerta a jogadora Alê Braga, uma das grandes referências nos torneios. Alê tem 32 anos, é formada em Administração de Empresas, trabalhou em bancos e empresas de tecnologia e começou a jogar há três anos, quando viajou com o marido, também jogador, para Las Vegas.
Antes de voltarem para o Brasil, compraram vários livros sobre o tema e começaram a estudar. Um ano depois, o hobby rendeu frutos. "Aí percebi que o jogo era realmente de habilidade e pedi para meu marido me treinar. Peguei gosto e passei a me dedicar. Os resultados vieram na sequência", conta.
Destemida. Seu estilo de jogo é o tigh-agressive: ou seja, aposta para valer. Também se adapta à mesa, observando a forma de jogar dos adversários e tentando encaixar a melhor estratégia para cada um. "É o segredo."
Alê já participou de mais de cinco mesas finais (formadas pelos 10 melhores) nos torneios do Venetian, em Las Vegas, todos com algo entre 400 e 700 participantes. Constam no seu currículo também mais de três mesas finais no campeonato brasileiro, um segundo lugar em um dos maiores torneios do Brasil, além de várias conquistas em torneios com menor número de participantes.
Ficou encantada quando teve a chance de jogar com muitas pessoas que admira. Mas seu sonho é estar ao lado de Doyle Brunson, que, segundo ela, é a pessoa mais querida e experiente no mundo do pôquer. Ele tem 77 anos, joga profissionalmente desde os 18, e até hoje não perde um torneio importante. "É um exemplo maravilhoso de profissional bem sucedido", diz.
Alê diz que seu marido controla e administra os retornos obtidos pelo casal com o pôquer. "Conseguimos comprar um bom apartamento, temos carros novos e viajamos muito. Nosso padrão é superior ao de antes."
Seu último campeonato foi o Venetian Deep Stack, este ano. Jogou 10 torneios e fez dois grandes resultados. No primeiro, pegou o 13º lugar, entre 532 jogadores, e no segundo ficou em 6º, entre 649. "No ranking geral, tenho boa colocação e estou em primeiro entre todas as mulheres."
Sua meta é jogar no evento principal da WSOP (torneio com US$ 10 mil para entrar e premiação média total de US$ 70 milhões, com 7 mil participantes), e outros deste porte. "Enquanto tiver saúde e energia, quero continuar jogando. Como é um esporte da mente, sei que o pôquer vai me ajudar a ser sempre ativa, pelo menos enquanto estiver praticando."
Hemily. Colocou uma foto provocante na web para intimidar os homens. Foto: Alex Silva/AE
Sedução. A arquiteta Hemily França Guimarães tem 25 anos e começou a jogar pela internet, diariamente, há dois e meio. Conheceu o pôquer por meio de um programa de TV, que, coincidentemente, falava das vantagens que as mulheres levam nesse esporte, já que intimidam os homens, por se tratar de um jogo em que se usa muito o olhar para identificar o oponente.
"Coloquei (na web) uma foto provocante, porque eles perdem a atenção." Conta que tem até jogador homem que usa foto de mulher como estratégia para tirar a concentração do adversário. Hemily aprendeu os truques direitinho. Pois já notou, também, que os homens querem mostrar que são gentis e abrem mão de ganhar o jogo para flertar. "Aproveito bastante", brinca.
Quando começou a jogar, a mãe e o namorado foram contra, com medo de que ela ficasse viciada. Já o padrasto apareceu com quatro livros, lhe deu dinheiro e já formatou uma divisão dos lucros. "Só quando perceberam que se tratava de um jogo de inteligência é que me apoiaram." Por meio do pôquer, Hemily juntou US$ 700 em dois meses. Tem a meta de chegar a US$ 2 mil, até o fim do ano.
Seu último namoro não durou muito, porque o pôquer gerava ciúme, já que dedica muito tempo a isso. "Ensinei meu novo namorado a jogar para não ter problemas." Para não ficar viciada, Hemily tem uma regra: se perde três partidas, para. "Aprendi com outros jogadores que precisamos nos controlar quando estamos perdendo", ensina. E mais: lembra que a concentração feminina é prejudicada quando há algum problema pessoal, mesmo que seja uma briguinha boba com o namorado. Nesses dias, é bom passar longe do pôquer.
Estadão

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