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7.12.2010

Estudos da neurociência comprova: "O AMOR É CEGO"

Cientistas comprovam veracidade do ditado "o amor é cego"
O cérebro da mulher apaixonada é ativado em partes diferentes em relação ao da mulher casada, quando pensam no namorado ou marido
O amor tem razões que a razão desconhece. Ao menos, costumava ser assim. Hoje, é diferente: estudos da neurociência têm lançado luz sobre o funcionamento dos mecanismos amorosos. Antes tratadas como existenciais, dúvidas como "o que mantém as pessoas juntas?" ou "por que o amor acaba?" são objeto de pesquisa séria. Já se sabe que os princípios que ativam a paixão usam imagens do cérebro humano. Testes foram aplicados por cientistas em dois grupos diferentes de mulheres: as que se autointitulavam apaixonadas e as já casadas ou estabelecidas, para quem a relação é algo mais "pacificado". Ambas tinham de dar notas de zero a dez para o que sentiam. No primeiro caso, a média geral foi de 8,6 e, no segundo, a nota ficou em torno de 6,7. Em seguida, os dois grupos responderam a questionários com perguntas do tipo: "quanto tempo do dia penso no meu amado?" Os pesquisadores cruzaram as respostas com as notas dadas na "escala da paixão". Essas mesmas mulheres foram submetidas a exames de imagens por meio de ressonância magnética funcional, captadas no momento em que o cérebro era estimulado. As imagens foram captadas quando as que se diziam apaixonadas estavam em repouso e em seguida eram expostas a fotos do amado. Nesses momentos, o sistema cerebral de recompensa (o mesmo de quando nos alimentamos ou quando uma mãe abraça o filho) era fortemente ativado. A publicitária Renata Alves Taddei, de 28 anos, sabe bem o que são essas sensações. "Sem o meu namorado a minha vida é vazia. Acordo e durmo pensando nele. Durante a semana fico ansiosa esperando o fim de semana chegar para poder vê-lo", confessa ela. "Em contato com a pessoa amada, as mulheres que se diziam apaixonadas ativam a área do cérebro que tem a ver com o prazer e o bem-estar", explica o neurologista do comportamento André Palmini, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do estado do Rio Grande do Sul. No caso de mulheres com relacionamentos estáveis, no entanto, isso não acontece. Os cientistas perceberam ainda que, ao mesmo tempo em que esse processo ocorria, outras áreas do cérebro não se ativavam mesmo quando as apaixonadas eram expostas às imagens do amado. Uma é a parte responsável pelo julgamento. No caso das mulheres com relacionamentos estáveis, essa área era ativada. Para traduzir, com a palavra o especialista Palmini: "O resultado mostrou que o juízo crítico se reduz diante da pessoa amada", afirma ele. "Trata-se de uma inferência ao dito popular milenar que diz que o amor é cego", afirma Palmini, mostrando como a ciência às vezes pode confirmar clichês. Mas nem tudo é consenso nessa área. O professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) Aílton Amélio da Silva, autor do livro "Relacionamento Amoroso: Como Encontrar Sua Metade Ideal e Cuidar Dela", vê com reservas essas descobertas. "Essas áreas do cérebro que dizem ser ativadas quando as pessoas estão apaixonadas são as mesmas que se ativam quando uma pessoa pula de paraquedas, por exemplo", diz ele. "O mecanismo de prazer é o mesmo. Por isso, acho que o que se sabe em relação a explicações sobre a paixão ainda é rudimentar", pondera. Apaixonados enxergam menos ameaçaEstudos também mostraram que o segundo mecanismo do cérebro que seria desativado no caso das mulheres apaixonadas é a amígdala, responsável pelo processamento das emoções, uma espécie de "radar" que nos faz ficar atentos a eventuais perigos. Essa estrutura cerebral se desativa quando exposta a imagem do amado e ativa-se diante de faces ameaçadoras ou desconhecidas. "A pessoa apaixonada vislumbra menos ameaça porque baixa a guarda, uma vez que desenvolve um mecanismo de confiança com o ser amado", diz o neurologista do comportamento da PUC/RS, André Palmini. O estudo também mostrou que quanto maior o tempo de relacionamento, menor a ativação desses mecanismos de recompensa. Ou seja, a chama da paixão também vai ficando fraca. Mas então, porque as pessoas continuariam juntas? A explicação mais uma vez estaria no cérebro. Mais especificamente na área envolvida com o amor e a empatia, do que com emoções básicas, como paixão e erotismo. "Estudos já demonstraram que esse circuito cerebral se ativa quando se sente a emoção do outro e entra-se em sintonia com os desejos e as aspirações do amado", explica Palmini.
Abril.com

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