Médicos duvidam da eficácia dos medicamentos genéricos
por Folha.com
Há mais de uma década no mercado, os remédios similares e genéricos ainda enfrentam a resistência de médicos e não são usados por hospitais de ponta como o Albert Einstein, o Sírio-Libanês, o Oswaldo Cruz e o São Luiz.
Esses medicamentos, líderes em vendas e os mais indicados no SUS, têm sua eficácia questionada por médicos de várias áreas, que não os receitam aos pacientes.
Ao mesmo tempo, como lembra Gilberto de Nucci, professor de farmacologia da USP e da Unicamp, não existem estudos científicos que justifiquem a desconfiança. "Perdi a confiança nos genéricos", diz o professor aposentado de farmacologia e clínica médica da USP Antonio Carlos Zanini. "Se é um medicamento do qual possa depender a vida, eu não uso e não deixo ninguém em casa usar", diz.
TESTES
Zanini, que comandou a vigilância sanitária nos anos 80, diz que a fiscalização é falha.
Hoje, exige-se teste no licenciamento do genérico e, daí para a frente, "ninguém sabe o que ocorre", diz.
Para o professor, o órgão deveria fazer testes de surpresa, criando alguma incerteza capaz de levar os laboratórios a manter a qualidade.
Mas a maioria dos médicos concentra seus ataques nos similares, já que muitos deles, ao contrário dos genéricos, não passaram por testes de bioequivalência.
Esses testes provam que o remédio é absorvido pelo organismo em igual quantidade e na mesma velocidade do medicamento de referência.
Os similares respondem por 65% das vendas no país. Por causa dos preços mais baixos, tornaram-se os mais usados no SUS, segundo pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz.
O Ministério da Saúde diz que cumpre a lei de licitações, que privilegia o menor preço.
Alega que, até 2014, todos os similares terão comprovada a bioequivalência.
"Eu não deixo meus pacientes usarem [os similares], não admito", afirma o presidente da SBCM (Sociedade Brasileira de Clínica Médica), Antonio Carlos Lopes, que é também professor titular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Para ele, como os similares não passam por esses testes de bioequivalência, não são confiáveis. Porém, quando atende no hospital público, Lopes diz não ter escolha. " É a licitação que manda." O infectologista Artur Timerman diz que evita prescrever antibióticos similares porque, em algumas situações, o remédio (cloridrato de ciprofloxacino) não funcionou. "Aconteceu tanto no tratamento de infecção urinária quanto de gonorreia." Na mesma toada vai João Massud Filho, da Unifesp, pesquisador na área de novos medicamentos: "Os similares são uma aberração. É como a jabuticaba; só existem no Brasil".
Apesar da resistência, a Anvisa e a Alanac (Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais) afirmam que esses medicamentos são seguros e eficazes.
Por determinação legal, os similares não são considerados "intercambiáveis" com os medicamentos de referência, ou seja, não podem substituir os de marca, como acontece com os genéricos.
De Nucci tem uma explicação singela para a resistência dos colegas: "Pesquisas mostraram que 92% dos médicos receberam brindes da indústria farmacêutica. E os outros 8% são mentirosos. Eu posso dizer, porque sou médico". Massud relativiza o argumento, lembrando que fabricantes de genéricos e similares fazem parte da indústria e também distribuem benesses para médicos e bônus para farmácias.
nota boaspraticasfarmaceuticas: Este problema de aceitação dos genéricos não é técnico e sim mercadológico e financeiro, já que os próprios laboratórios produtores dos medicamentos ditos de marca ou inovadores, estão fabricando o genérico.
Lá em Portugal como aqui:
bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Pedro Nunes, afirmou hoje que a troca de medicamentos prescritos pelos médicos por genéricos é uma "guerra económica" que envolve o monopólio das farmácias, os fabricantes dos medicamentos e o Governo.
As farmácias começaram a substituir medicamentos receitados pelos médicos por genéricos mais baratos, mesmo quando os clínicos se opõem à troca.
Pedro Nunes reagia à iniciativa da Associação Nacional de Farmácias (ANF) de substituir, nas farmácias, os medicamentos receitados pelos médicos por genéricos mais baratos, mesmo contra a vontade dos clínicos.
O Ministério da Saúde garantiu, ontem, que não vai pactuar com esta medida e exigiu à ANF que tome medidas para repor a legalidade.
"A Ordem dos Médicos avisou a opinião pública dos riscos de saúde que isso implica, mas isto é uma guerra económica que tem a ver com o monopólio [das farmácias], a autoridade da concorrência, os fabricantes dos medicamentos e o Governo, que é quem paga a fatura" é a população . (Esqueceu de citar o próprio médico, que recebe bonificação dos Laboratórios farmaceuticos). "Isto é uma situação insustentável e que leva o país a ser capturado por alguém que depois determina que naquele seu monopólio só se vende a droga A ou a droga B", sustentou.
OM remeterá participações para o Ministério Público
Questionado pela Lusa se a OM iria agir judicialmente, Pedro Nunes afirmou que "a Ordem dos Médicos não tem que exercer actividade policial".
"Cada médico que encontre um medicamento que foi substituído tem todo o direito de comunicar ao Ministério Público que se praticou um crime naquele estabelecimento comercial.
A Ordem dos Médicos deixa à consciência de cada médico fazer essas participações", explicou. Se os médicos quiserem enviar as participações para a OM, esta remete-as para o Ministério Público, acrescentou.
A legislação em vigor estabelece que a alteração dos medicamentos prescritos no momento da dispensa apenas pode acontecer mediante pedido do utente e com autorização expressa do médico prescritor.
No entanto, desde quarta-feira passada, as farmácias começaram a substituir medicamentos receitados pelos médicos por genéricos mais baratos, mesmo quando os clínicos se opõem à troca.
A ANF garantiu que a medida levou pacientes e o Estado a poupar cerca de 86,4 mil euros em apenas dois dias.
A ministra da Saúde, Ana Jorge, adiantou ontem que a alteração da prescrição médica que a ANF está a promover não consta da documentação que lhe foi entregue a 31 de Março numa reunião com a tutela, a propósito de uma campanha sobre a poupança de medicamentos genéricos em detrimento de medicamentos de marca. Entretanto, a ANF afirmou que "não existe nenhuma legalidade a repor". "A ANF apenas tem a declarar que não compreende o seu fundamento porquanto não existe nenhuma legalidade a repor já que as farmácias limitam-se a aplicar a mesma metodologia que é seguida nos hospitais", explicou a associação em comunicado.
A ANF disse ainda que vai entregar uma queixa na Autoridade da Concorrência contra a Ordem dos Médicos, por esta ter dado "instruções escritas aos seus associados no sentido de estes impedirem a livre escolha do medicamento mais barato pelos doentes".
por Folha.com
Há mais de uma década no mercado, os remédios similares e genéricos ainda enfrentam a resistência de médicos e não são usados por hospitais de ponta como o Albert Einstein, o Sírio-Libanês, o Oswaldo Cruz e o São Luiz.
Esses medicamentos, líderes em vendas e os mais indicados no SUS, têm sua eficácia questionada por médicos de várias áreas, que não os receitam aos pacientes.
Ao mesmo tempo, como lembra Gilberto de Nucci, professor de farmacologia da USP e da Unicamp, não existem estudos científicos que justifiquem a desconfiança. "Perdi a confiança nos genéricos", diz o professor aposentado de farmacologia e clínica médica da USP Antonio Carlos Zanini. "Se é um medicamento do qual possa depender a vida, eu não uso e não deixo ninguém em casa usar", diz.
TESTES
Zanini, que comandou a vigilância sanitária nos anos 80, diz que a fiscalização é falha.
Hoje, exige-se teste no licenciamento do genérico e, daí para a frente, "ninguém sabe o que ocorre", diz.
Para o professor, o órgão deveria fazer testes de surpresa, criando alguma incerteza capaz de levar os laboratórios a manter a qualidade.
Mas a maioria dos médicos concentra seus ataques nos similares, já que muitos deles, ao contrário dos genéricos, não passaram por testes de bioequivalência.
Esses testes provam que o remédio é absorvido pelo organismo em igual quantidade e na mesma velocidade do medicamento de referência.
Os similares respondem por 65% das vendas no país. Por causa dos preços mais baixos, tornaram-se os mais usados no SUS, segundo pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fiocruz.
O Ministério da Saúde diz que cumpre a lei de licitações, que privilegia o menor preço.
Alega que, até 2014, todos os similares terão comprovada a bioequivalência.
"Eu não deixo meus pacientes usarem [os similares], não admito", afirma o presidente da SBCM (Sociedade Brasileira de Clínica Médica), Antonio Carlos Lopes, que é também professor titular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Para ele, como os similares não passam por esses testes de bioequivalência, não são confiáveis. Porém, quando atende no hospital público, Lopes diz não ter escolha. " É a licitação que manda." O infectologista Artur Timerman diz que evita prescrever antibióticos similares porque, em algumas situações, o remédio (cloridrato de ciprofloxacino) não funcionou. "Aconteceu tanto no tratamento de infecção urinária quanto de gonorreia." Na mesma toada vai João Massud Filho, da Unifesp, pesquisador na área de novos medicamentos: "Os similares são uma aberração. É como a jabuticaba; só existem no Brasil".
Apesar da resistência, a Anvisa e a Alanac (Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais) afirmam que esses medicamentos são seguros e eficazes.
Por determinação legal, os similares não são considerados "intercambiáveis" com os medicamentos de referência, ou seja, não podem substituir os de marca, como acontece com os genéricos.
De Nucci tem uma explicação singela para a resistência dos colegas: "Pesquisas mostraram que 92% dos médicos receberam brindes da indústria farmacêutica. E os outros 8% são mentirosos. Eu posso dizer, porque sou médico". Massud relativiza o argumento, lembrando que fabricantes de genéricos e similares fazem parte da indústria e também distribuem benesses para médicos e bônus para farmácias.
nota boaspraticasfarmaceuticas: Este problema de aceitação dos genéricos não é técnico e sim mercadológico e financeiro, já que os próprios laboratórios produtores dos medicamentos ditos de marca ou inovadores, estão fabricando o genérico.
Lá em Portugal como aqui:
bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Pedro Nunes, afirmou hoje que a troca de medicamentos prescritos pelos médicos por genéricos é uma "guerra económica" que envolve o monopólio das farmácias, os fabricantes dos medicamentos e o Governo.
As farmácias começaram a substituir medicamentos receitados pelos médicos por genéricos mais baratos, mesmo quando os clínicos se opõem à troca.
Pedro Nunes reagia à iniciativa da Associação Nacional de Farmácias (ANF) de substituir, nas farmácias, os medicamentos receitados pelos médicos por genéricos mais baratos, mesmo contra a vontade dos clínicos.
O Ministério da Saúde garantiu, ontem, que não vai pactuar com esta medida e exigiu à ANF que tome medidas para repor a legalidade.
"A Ordem dos Médicos avisou a opinião pública dos riscos de saúde que isso implica, mas isto é uma guerra económica que tem a ver com o monopólio [das farmácias], a autoridade da concorrência, os fabricantes dos medicamentos e o Governo, que é quem paga a fatura" é a população . (Esqueceu de citar o próprio médico, que recebe bonificação dos Laboratórios farmaceuticos). "Isto é uma situação insustentável e que leva o país a ser capturado por alguém que depois determina que naquele seu monopólio só se vende a droga A ou a droga B", sustentou.
OM remeterá participações para o Ministério Público
Questionado pela Lusa se a OM iria agir judicialmente, Pedro Nunes afirmou que "a Ordem dos Médicos não tem que exercer actividade policial".
"Cada médico que encontre um medicamento que foi substituído tem todo o direito de comunicar ao Ministério Público que se praticou um crime naquele estabelecimento comercial.
A Ordem dos Médicos deixa à consciência de cada médico fazer essas participações", explicou. Se os médicos quiserem enviar as participações para a OM, esta remete-as para o Ministério Público, acrescentou.
A legislação em vigor estabelece que a alteração dos medicamentos prescritos no momento da dispensa apenas pode acontecer mediante pedido do utente e com autorização expressa do médico prescritor.
No entanto, desde quarta-feira passada, as farmácias começaram a substituir medicamentos receitados pelos médicos por genéricos mais baratos, mesmo quando os clínicos se opõem à troca.
A ANF garantiu que a medida levou pacientes e o Estado a poupar cerca de 86,4 mil euros em apenas dois dias.
A ministra da Saúde, Ana Jorge, adiantou ontem que a alteração da prescrição médica que a ANF está a promover não consta da documentação que lhe foi entregue a 31 de Março numa reunião com a tutela, a propósito de uma campanha sobre a poupança de medicamentos genéricos em detrimento de medicamentos de marca. Entretanto, a ANF afirmou que "não existe nenhuma legalidade a repor". "A ANF apenas tem a declarar que não compreende o seu fundamento porquanto não existe nenhuma legalidade a repor já que as farmácias limitam-se a aplicar a mesma metodologia que é seguida nos hospitais", explicou a associação em comunicado.
A ANF disse ainda que vai entregar uma queixa na Autoridade da Concorrência contra a Ordem dos Médicos, por esta ter dado "instruções escritas aos seus associados no sentido de estes impedirem a livre escolha do medicamento mais barato pelos doentes".
Nota "boaspraticasfarmaceuticas":
ResponderExcluirHoje com o avanço da tecnologia farmacêutica é uma sandice dizer que o medicamento genérico tem menos qualidade que o medicamento de marca ou inovador, até porque muitos genéricos são fabricados pela mesma indústria farmacêutica que produz o medicamento de marca, utilizando muitas das vezes o mesmo equipamento e o mesmo sistema de qualidade (BPF) aprovado pela Anvisa. Essa cultura de não aceitar os medicamentos genéricos,em relação a classe médica é muito suspeita e passa, muitas vezes, pelo representante dos laboratórios que oferecem vantagens e brindes para que os doutores receitem os medicamentos de marca.