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7.17.2010

USO DE ESTATINAS NÃO REDUZ A MORTALIDADE ( DIZ PESQUISA)

Droga para colesterol não previne morte de pessoas sem doenças cardíacas

Pesquisadores britânicos colocaram em xeque o uso indiscriminado de estatinas (remédios para diminuir os níveis de colesterol) por pessoas com colesterol elevado, mas sem doença cardíaca.
Revisão de 11 estudos constatou que o uso de estatinas como prevenção primária, nessas pessoas saudáveis, não reduz a mortalidade. Os resultados foram publicados na revista "Archives of Internal Medicine".
Para chegar a essa conclusão, foram analisados dados de 65.229 pessoas: 32.623 tomaram estatinas e 32.606 receberam placebo.
Depois de quase quatro anos, 2.793 participantes do estudo haviam morrido (1.447 dos que tomaram placebo e 1.346 do grupo que recebeu o remédio).
Segundo os pesquisadores, a diferença no número de mortes não tem relevância estatística e, por isso, comprovaria que as estatinas não têm efeito preventivo.
Os voluntários que tomaram placebo tinham níveis de LDL (colesterol ruim) maiores do que os que tomaram estatinas e, mesmo assim, os índices de mortalidade foram semelhantes, conforme o estudo.
USO MASSIFICADO
É controversa a prescrição de estatinas para quem tem colesterol elevado, mas não tem doença cardíaca.
O assunto ganhou destaque em 2008, quando outro estudo sobre o tema demonstrou que essas drogas poderiam prevenir doença cardíaca em pessoas com colesterol baixo, mas com níveis altos de PCR (uma proteína que indica inflamação no corpo).
"As estatinas viraram a "pedra filosofal" do cardiologista. Há uma tendência de massificar a indicação. Os médicos prescrevem muito essas drogas, até fora das indicações clássicas", diz Marcelo Ferraz Sampaio, médico do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
Para José Rocha Faria Neto, diretor-científico da Sociedade Paranaense de Cardiologia, a primeira providência para prevenir riscos cardíacos deveria ser uma mudança no estilo de vida, com dieta e prática de exercícios físicos.
"Estatinas não são para qualquer pessoa. Pacientes de baixo risco devem tentar reduzir o colesterol por pelo menos seis meses antes de tomar a medicação. Depois de iniciado o tratamento com remédio, é para a vida toda."
OUTRAS CAUSAS
Apesar de o estudo ter demonstrado que as estatinas não previnem a mortalidade geral, os cardiologistas dizem que a pesquisa não avaliou, por exemplo, se as estatinas foram eficientes na prevenção de infarto, derrame e cirurgias cardíacas.
"Ainda existem muitas controvérsias sobre indicar ou não estatinas. Mas, como houve poucas mortes e não foi avaliado se houve menos desfechos cardiovasculares, fica difícil medir o impacto do tratamento", pondera o cardiologista Raul Dias dos Santos, diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e diretor da unidade de lípides do InCor.
Sampaio concorda e diz que as estatinas são eficientes, quando indicadas corretamente. Para ele, os resultados demonstram que não se deve universalizar a indicação da droga.
"Temos que analisar com muito critério quais pacientes vão realmente se beneficiar com as estatinas, porque elas produzem efeitos colaterais, como dores musculares e até problemas renais."
De acordo com Santos, as estatinas podem fazer a diferença, desde que o paciente tenha outros fatores de risco agregados. "Temos que individualizar o tratamento", afirma o cardiologista.
Folha de São Paulo

SAIBA AINDA:
Efeitos colaterais de medicamento para colesterol precisam ser monitorados
Reuters
Pessoas que tomam estatinas para baixar o colesterol correm um risco maior de sofrer disfunção hepática, insuficiência renal, fraqueza muscular e cataratas. Os efeitos colaterais da droga devem ser cuidadosamente monitorados, informaram pesquisadores nesta sexta-feira.
Em um estudo envolvendo mais de 2 milhões de pessoas na Grã-Bretanha, estudiosos da Universidade de Nottingham descobriram que os efeitos colaterais das estatinas, prescritas para pessoas com níveis elevados de colesterol para reduzir o risco de doença cardíaca, foram piores principalmente no primeiro ano de tratamento.
Os resultados publicados no "British Medical Journal" podem afetar o uso dos medicamentos mais vendidos, como o Lipitor, da Pfizer, e o Crestor, da AstraZeneca, mas os autores do estudo disseram que os pacientes que tomam estatinas devem ser "monitorados de forma proativa" em razão dos efeitos colaterais.
"É provável que nosso estudo seja útil para fins de planejamento", disseram os professores que lideram o estudo, Julia Hippisley-Cox e Carol Coupland. Elas ainda afirmaram que a pesquisa pode ser útil "para orientar sobre o tipo e a dose de estatinas."
As estatinas estão entre as drogas de maior sucesso de todos os tempos por prevenir milhões de ataques cardíacos e derrames. A doença cardíaca é a maior causa de morte de homens e mulheres no mundo rico e também é um problema crescente de saúde em países em desenvolvimento.
Em um comentário sobre o estudo, os cardiologistas Alawi Alsheikh-Al, do Centro Médico Sheikh Khalifa nos Emirados Árabes, e Richard Karas, da Universidade de Medicina Tufts, nos Estados Unidos, disseram que, como qualquer tratamento médico, as estatinas não estão totalmente livres de risco, mas que, quando usados corretamente, os benefícios os superam.
"Seria sábio interpretar as observações a respeito das estatinas e lembrar aos pacientes que essas drogas, apesar de consideradas seguras, são como qualquer intervenção na medicina, não são totalmente livres de efeitos colaterais", escreveram.
Coupland e Hippisley-Cox estudaram dados de 368 práticas gerais em 2.004.692 pacientes com idade entre 30 e 84 anos, incluindo 225.922 pacientes que eram novos usuários de estatina.
Eles descobriram que para cada 10.000 mulheres de alto risco tratadas com estatinas, o remédio teve impacto positivo em cerca de 271 casos de doença cardíaca e oito casos de câncer do esôfago.
Por outro lado, também houve casos de 74 pacientes com disfunção hepática, 23 pacientes com insuficiência renal aguda, 307 portadores de catarata e 39 com uma condição de fraqueza muscular chamada miopatia.
Valores semelhantes foram encontrados nos homens, exceto as taxas de miopatia foram maiores, informaram. Eles notaram que alguns dos efeitos se devem a melhores taxas de detecção, já que os pacientes que tomam estatinas consultam seus médicos com mais frequência.
Os efeitos colaterais foram similares para todos os diferentes tipos de estatinas, com exceção da disfunção hepática, onde os riscos mais elevados foram encontrados para a fluvastatina, encontrada nos medicamentos Lescol e Lochol, vendidos pela Novartis."Todos os riscos acrescidos persistiram durante todo o tratamento, mas foram maiores no primeiro ano", escreveram eles.

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