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8.18.2010

Cresce a procura por vasectomias; mitos caíram e técnicas evoluíram

O brasileiro perdeu o medo da vasectomia. O número de procedimentos feitos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) cresceu quase 80% em seis anos no Brasil, saltando de 19,1 mil em 2003 para 34,1 mil em 2009. Consultórios particulares também registram aumento da procura.

Para especialistas, em parte esse aumento é atribuído à política de saúde do homem do Ministério da Saúde, que passou a oferecer o tratamento na rede pública, e à cobertura dos planos de saúde.

"Além disso, as pessoas estão mais informadas, sabem que não tem nada a ver com perda de masculinidade. Os mitos estão caindo", diz o urologista Joaquim Claro, do Hospital das Clínicas de São Paulo e coordenador do Hospital do Homem.

Na contramão dessa tendência, cresce também o número de homens que querem voltar atrás. Não há dados oficiais sobre o assunto. "Estima-se que esteja perto do que ocorre nos EUA, onde de 3% a 6% buscam a reversão da cirurgia", diz Modesto Jacobino, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia.

"Hoje faço cerca de uma reversão por semana, antes eram uma ou duas a cada seis meses", diz Claro. "No Hospital do Homem a procura também tem aumentado desde que passamos a oferecer o serviço", completa.

O urologista Rodrigo Pagani, do Hospital das Clínicas, acredita que a procura aumentará nos próximos anos.

Os motivos mais comuns para a reversão são um novo casamento, a morte de um filho ou a melhora na situação financeira do casal, segundo observa o urologista Oskar Kaufmann, do hospital Albert Einstein.


ENTREVISTA ANTES DA OPERAÇÃO

Para o engenheiro Gustavo Fonseca, 37, a decisão pela vasectomia veio depois do terceiro filho. "Queríamos três filhos. Além disso, minha mulher teve complicações em uma gravidez e também no último parto."

A primeira consulta foi uma longa conversa, em que o médico perguntou coisas como idade do casal e do filho mais novo, número de filhos, tempo de casado e como andava a relação. "Ele me pediu para refletir bem e voltar um mês depois. A cirurgia foi rápida e tranquila e o pós-operatório também. Senti apenas um leve desconforto, durante uns três dias."



"A procura tem aumentado entre 10% e 15% ao ano", estima Jorge Hallak, do Sírio-Libanês e do Hospital das Clínicas. "E a cirurgia para reversão tem o dobro das chances de sucesso [de gravidez] e custa a metade da fertilização in vitro."

Mas, segundo ele, muitas clínicas não falam dessa alternativa aos casais em tratamento para engravidar.

A cirurgia de reversão é hoje muito eficaz. Com técnicas de microcirurgia, é possível restabelecer a ligação que foi cortada (veja nesta página). Mas nem sempre a gravidez acontece. Após dez ou doze anos de vasectomia, a qualidade dos espermatozoides fica comprometida.

"Embora seja reversível, a filosofia é de irreversibilidade", enfatiza Claro. Isso porque, enquanto a vasectomia é uma cirurgia simples e rápida, a reversão é mais complicada e exige um profissional bem treinado.

Por isso a vasectomia só deve ser feita após uma decisão madura. Há normas que estabelecem que o homem deve ter no mínimo 25 anos e pelo menos dois filhos.

Médicos seguem ainda outras recomendações, como manter uma longa conversa na primeira consulta, muitas vezes com o casal.

Depois disso, costumam esperar ainda até dois meses para marcar a cirurgia, para que o casal possa refletir sobre a decisão. Também não se costuma operar pais de bebês menores de seis meses.
Folha de São Paulo

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