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8.19.2010

Doença Celíaca (intolerância ao glúten)


**Estudo sobre a flora bacteriana intestinal oferece novas possibilidades no entendimento e tratamento da doença celíaca
Um novo estudo publicado há menos de um mês no Journal of Leukocyte Biology sugere que a composição e balanço da flora bacteriana intestinal podem influenciar as reações imunológicas e inflamatórias observadas em pacientes celíacos.
Se confirmada, a descoberta poderá trazer novas possibilidades no tratamento da doença celíaca. Acredita-se que a doença celíaca – uma reação auto-imune ao glúten em pacientes geneticamente predispostos – afete de 0.5 a 1% da população (no Brasil, seriam portanto quase 2 milhões de pessoas).
Quando os portadores desta condição ingerem glúten (uma proteína presente no trigo, cevada, centeio, aveia e malte), uma reação inflamatória no intestino delgado é desencadeada pelo sistema imunológico, a qual danifica as vilosidades intestinais responsáveis pela absorção de nutrientes.
Os sintomas da doença são diversos (incluem por exemplo problemas gastrointestinais, anemia, dores de cabeça, fadiga, osteoporose, dentre outros) e o único tratamento é a eliminação permanente do glúten da dieta.
Embora esta seja uma doença de natureza genética, os mecanismos que levam à manifestação da doença em pessoas geneticamente predispostas ainda não são totalmente compreendidos. Algumas pesquisas indicam, por exemplo, que a exposição precoce ao glúten na dieta aumentaria a probabilidade de desenvolvimento da doença.
Outras apontam que infecções virais enteropáticas poderiam favorecer a evolução da doença na infância.
Além disso, alguns estudos também sugeriram que alterações na composição da flora bacteriana intestinal poderiam estar associados à doença.

Agora uma nova pesquisa desenvolvida por um grupo de pesquisadores espanhóis liderados pela Dra. Yolanda Sanz (Universidade de Valencia, Espanha) e publicada na edição de Maio da revista científica Journal of Leukocyte Biology indica que alterações na composição da flora intestinal bacteriana pode influenciar as reações inflamatórias típicas da doença celíaca em vários graus.
Os resultados sugerem assim que a manipulação da flora bacteriana – através por exemplo da ingestão de probióticos e prebióticos específicos – poderia em um futuro melhorar a qualidade de vida de pacientes celíacos, bem como de outros pacientes com doenças auto-imunes associadas, como no caso da diabete tipo 1. Segundo Yolanda Sanz, o estudo também poderá ajudar na compreensão dos mecanismos de ação da flora bacteriana em doenças auto-imunes.Para chegar à estas conclusões, os cientistas usaram culturas de células de forma a simular o organismo de um paciente celíaco.
Para simular o ambiente intestinal de um portador, estas células foram expostas à bactérias gram-negativas e à bifidobactérias, tanto sozinhas como na presença de gliadinas (proteínas chave na resposta inflamatória à presença de glúten).
O que os pesquisadores puderam observar foi que as bactérias gram-negativas induziram uma produção maior de citocinas pró-inflamatórias do que as bifidobactérias. As bifidobactérias, ao contrário, causaram um aumento na produção de citocinas anti-inflamatórias.
Neste sentido, a pesquisa sugerem que as bifidobactérias teriam o potencial de regular a resposta inflamatória produzida pela presença de glúten, reforçando também a função de barreira da mucosa intestinal.Embora estes estudos ainda estejam em um estágio precoce e ainda precisem ser confirmados bem passar por testes clínicos, segundo a pesquisadora Yolanda Sanz os resultados podem representar o primeiro passo para uma mudança em como a doença celíaca é tratada e até mesmo prevenida.
**Exame de sangue para diagnóstico da doença celíaca pode ser positivo em não celíacos devido à infecções.Um novo estudo realizado por pesquisadores italianos revela que anticorpos anti-transglutaminase – um marcador serológico para o diagnóstico da doença celíaca – podem ser produzidos temporariamente em crianças com doenças infecciosas, independentemente da ingestão de glúten.A doença celíaca se caracteriza por uma intolerância permanente ao glúten (uma proteína presente no trigo, cevada e centeio) em pessoas geneticamente predipostas à doença. Para estas pessoas, o glúten desencadeia uma reação auto-imune e inflamatória no intestino, a qual danifica os seus tecidos e requer portanto a eliminação permanente do glúten da dieta. O diagnóstico da doença celíaca baseia-se em uma combinação de dados clínicos, histológicos (sendo aqui a biópsia do intestino delgado essencial para confirmação do diagnóstico) e serológicos (obtidos através de exame de sangue). Entre os exames serológicos, a dosagem de anticorpos anti-transglutaminae é considerada atualmente um dos exames mais específicos para o diagnóstico da doença.Um novo estudo publicado no mês de novembro sugere no entanto que os níveis dos anticorpos anti-transglutaminase podem também estar elevados temporariamente em crianças não celíacas que estejam com alguma doença infecciosa.Os pesquisadores coletaram amostras de sangue de 222 crianças com doenças infecciosas diversas e as testaram para a presença de anticorpos anti-transglutaminase e anticorpos anti-endomísio, também um marcador para o diagnóstico da doença celíaca. No caso daquelas crianças para as quais um ou ambos os exames foram positivos, os pesquisadores testaram também a presença de marcadores genéticos da doença (moléculas HLA DQ2 e DQ8, as quais se acredita sejam necessárias para o desenvolvimento da doença) bem como a presença de anticorpos para as seguintes doenças infecciosas: vírus Epstein–Barr, rotavirus, adenovirus, ecovirus e Coxsackievirus. Os pesquisadores também analisaram os resultados de exames para os anticorpos anti-transglutaminase realizados em 1276 crianças saudáveis (sem processos infecciosos).Das 222 crianças infectadas, 9 (4%) obtiveram resultados positivos para os anticorpos anti-transglutaminase. Dentre estas, apenas uma obteve resultados positivos para os marcadores genéticos da doença celíaca (para esta criança, o diagnóstico da doença se confirmou através de biópsia do intestino, e a criança então passou a seguir a dieta isenta de glúten). Dentre as 8 crianças restantes, os níveis de anticorpos anti-transglutaminase e antivirais retornaram ao normal após um ano, apesar da adoção de uma dieta com glúten. A prevalência de níveis elevados de anti-transglutaminase entre as crianças infectadas também foi significativamente maior que a prevalência destes anticorpos entre crianças saudáveis (8 positivos dentre 222 crianças infectadas comparado à 11 positivos dentre 1276 crianças saudáveis).A pesquisa também revelou que os anticorpos anti-transglutaminase produzidos devido à presença de infecções em crianças não celíacas tem as mesmas propriedades biológicas que a anti-transglutaminase produzida em celíacos, ou seja, tem o mesmo potencial para danificar os tecidos intestinais [note-se então que infecções crônicas podem assim ser acompanhadas não somente de níveis mais altos de anticorpos, como também de danos à mucosa intestinal].Os pesquisadores concluem o estudo sugerindo que um aumento nos níveis de anticorpos anti-transglutaminase não ocorre exclusivamente na presença de doença celíaca não tratada, podendo representar um fenômeno imunológico desencadeado por infecções virais – uma observação que deve ser levada em conta por profissionais de saúde na determinação e diagnóstico da presença – ou ausência – da doença celíaca.*Fonte:Ferrara F, Quaglia S, Caputo I, Esposito C, Lepretti M, Pastore S, Giorgi R, Martelossi S, Dal Molin G, Di Toro N, Ventura A, Not T. 2009. Anti-transglutaminase antibodies in non-coeliac children suffering from infectious diseases. Clin Exp Immunol. Nov 12.
Fonte: Revista Vida sem Glúten e sem Alergias

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