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8.27.2010
Entrevista com a Preta Gil - Imperdível
Preta Gil: "Fiquei maluca com remédio para emagrecer"
A cantora diz como ficou alterada com medicamentos, reclama do preconceito e afirma que deixaria o filho fumar maconha em casa
DIFICULDADE
“Se como arroz integral, não como quatro colheres, como dez. Não consigo fazer dieta”, diz Preta
"Não sou Paris Hilton nem Neuzinha Brizola.” As comparações com a americana herdeira da rede de hotéis Hilton e a filha do falecido político Leonel Brizola, famosas pelas encrencas em que se meteram, tiram Preta Gil do sério. Filha do músico e ex-ministro Gilberto Gil, ela tem dificuldades de se livrar da fama de mulher liberal, pegadora e maluquete que conquistou depois de ter revelado que fez sexo com mulheres e participou de orgias.
"O (humorista) Danilo Gentili chamou a Hebe Camargo de múmia após o
tratamento de câncer. É um péssimo exemplo para os jovens"
Hoje, aos 36 anos, ela garante que essa imagem nada tem a ver com ela. Preta tem um filho de 15 anos, faz três shows por semana, apresenta programas de rádio e tevê e planeja oficializar em 2011 o casamento com o mergulhador Carlos Henrique Lima, 33 anos, seu par há dois anos e meio.
"Se meu pai tivesse idade, fôlego, faria tudo de novo, mas (a política)
foi desgastante. Ele perdeu a voz, deixou de compor, de cantar"
O que há de verdade na sua imagem pública de liberal demais?
Preta Gil - O que mais me incomoda são os rótulos. Me chamaram de pegadora. E qual é o mal? Fui casada durante 12 anos. Quando fiquei solteira, qual é o problema de eu ter tido namorados? Como se ninguém fizesse isso. É uma necessidade mesmo de rotular. Mas se na época eu fosse só filha do Gil, do músico, não do ministro, talvez as coisas não tivessem tido tanto peso.
Você não tinha noção disso?
Preta Gil - Fui ingênua. Tem sempre que existir uma personagem polêmica, e dei motivos para ganhar esses rótulos, estava despreparada. Mas acho que, de todos os irmãos (são sete), a mais atingida pelo fato de o meu pai ter sido ministro fui eu. Foram praticamente seis anos em que eu não pude aprovar nenhum projeto em lei de incentivo. Dessas coisas ninguém fala.
Como foi isso para o seu filho?
Preta Gil - Ele é bem tranquilo em relação a tudo porque as pessoas não chegam a fazer piada com a mãe dele. Ele tem amigos que, como ele, convivem comigo e sabem muito bem quem eu sou. Quanto à internet, você não tem como se indignar com uma coisa que sabe ser uma deturpação, uma mentira, um sensacionalismo. Ele sabe a mãe que tem. Se ele lesse algo que fosse novidade ou soasse como uma traição, do tipo: “Ai, minha mãe não me contou.” Mas não. Tirando o episódio do “Pânico” (programa de tevê que fez piada com um caldo de Preta na praia, chamando-a de baleia encalhada), ele nunca foi sacaneado na escola.
O que aconteceu?
Preta Gil - Na semana seguinte à exibição do programa, o assunto foi muito comentado na escola. Ele ficou chateado, estava indignado com o preconceito, a agressividade. Os jovens, não sei se é falta de educação em casa, dão muita bola para as coisas ditas nesses programas de humor, construindo uma personalidade muito preconceituosa. Esses programas estimulam isso, fazendo humor com coisas intocáveis, com a forma física, a cor, o credo das pessoas. É deplorável
Você vê esses programas?
Preta Gil - O “Pânico”, não. O “CQC”, sim. Gosto do programa, só tinha problema com o Danilo Gentili, que tem um humor muito ácido e já fez piada comigo no Twitter e nas peças de teatro dele. Respondi duas vezes. Uma, quando ele me chamou de gorda e outra, quando chamou a Hebe Camargo de múmia. É uma falta de respeito uma mulher como a Hebe, voltando de um tratamento de câncer, ser chamada de múmia. É um péssimo exemplo para os jovens. Infelizmente, ele tem milhares de seguidores que acham graça disso, o que é preocupante. Os humoristas não têm noção do quão irresponsáveis são algumas colocações que eles fazem. Se o jovem vê na tevê gente bem-sucedida fazendo sacanagem com os outros, por que ele não vai fazer igual? Aí vai e trucida o colega.
Você guarda mágoa?
Preta Gil - Não. Ele (Gentili) foi ao meu show recentemente justamente para a gente brincar de eu me vingar dele. Depilei o peito dele, joguei torta na cara dele. Sou extremamente bem-humorada, fui criada em uma família que preza a liberdade de expressão mais do que tudo. Para me deixar para baixo tem de ser um negócio muito sério. E eu acho sério o fato de eu, uma mulher de 36 anos, com a minha história, com um filho, ser julgada pela minha forma física. É o absurdo do absurdo. Eu contesto, sim, esse padrão. Porque as meninas vivem numa infelicidade absurda. É cruel. São garotas de 16, 17 anos e já têm sequelas pelo excesso de remédios para emagrecer.
Já tomou remédios para emagrecer?
Preta Gil - Tomei durante dois anos e hoje levanto bandeira contra todos eles. Fiquei maluca com remédio para emagrecer, totalmente bipolar. Tive taquicardia, sentia a boa seca, oscilava entre a euforia e a depressão. Eles deixam qualquer mulher alucinada porque mexem muito com o humor. Estou com 82 quilos, não tenho um corpo escultural, mas estou mais feliz do que quando tomava remédio e estava magra. Acabou de reprisar um “Saia Justa” (programa do canal de tevê por assinatura GNT) do qual participei em 2004. Me vi completamente acelerada, falando que nem uma louca. No Twitter, disse para meus seguidores: “Gente, isso é efeito de anfetamina, cuidado.” Eu era magra, mas vivia em alta voltagem, nem eu me suportava.
Não gostaria de emagrecer?
Preta Gil - Não sei. Há coisas em mim que gostaria de mudar. Gostaria de fazer mais exercícios físicos para me recuperar melhor após um show. Gostaria de ter menos celulite na coxa para poder usar um vestido ainda mais curto do que eu já uso. Mas, se eu não faço nada contra isso, não vou ter. Na minha casa só entra alimento integral. Mas se como arroz integral, não como quatro colheres, como dez. Não consigo fazer dieta. Fico fraca, de mau humor. Mas eu controlo minha saúde. Não estou fazendo apologia à gordura.
E drogas, já usou?
Preta Gil - Quando eu tinha uns 18 anos, era normal, na minha turma, gente fumando maconha. Eu experimentei, mas não gostei. Foi a única coisa. Não sou a favor de experimentar para ver o que é. Converso muito com meu filho sobre isso. Ele sabe que sou careta. Ele diz que não tem curiosidade. Mas, se um dia ele virar para mim e disser que quer fumar maconha, vou deixar. Deixaria fumar em casa, com certeza. Vai fumar onde, na rua? Mas não acho que isso vá acontecer.
Como estabelecer um limite entre ser mãe e ser amiga?
Preta Gil - Eu sou mãe. Ele sabe tudo da minha vida, até porque não preciso nem falar, sou transparente. Mas não acho que ter uma relação aberta, de diálogo, significa ser amigo. O Francisco confia em mim, pode contar comigo sempre, pode se divertir comigo. Mas nunca levando a amizade para o lado do oba-oba: “Minha mãe é minha amiga, posso tudo.” Não é assim.
Você quer mais filhos?
Preta Gil - Quero mais um. Meu marido quer ter mais dois, mas não tenho idade para isso. Talvez daqui a uns dois ou três anos...
Istoé -
Qual a sua receita para manter a chama acesa em um casamento?
Preta Gil - O Cacau (Carlos Henrique) é mergulhador e passa 14 dias longe de casa. Por isso o casamento dura (risos). Hoje em dia eu tiro proveito disso, para ficar com as minhas amigas, ir a médicos. Quando ele está aqui, eu basicamente trabalho, fico com ele e com o meu filho.
Istoé -
Vocês vão oficializar a união?
Preta Gil - Adoraria me casar na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador, mas não seria prático. A maioria da minha família mora no Rio e a dele toda também. Vamos casar em Angra dos Reis, então. Mas ainda estamos negociando o número de convidados. Ele quer uma coisa menor. Deve ser depois do Carnaval de 2011. Meu sonho é casar no religioso, com um padre e aquela velha frase: “Se alguém quiser falar algo, fale agora ou cale-se para sempre.” Todos esses rituais são bonitos. Sou bem careta mesmo.
Como é a relação com seu pai?
Preta Gil - A gente tem um ritual de se encontrar aos domingos, quando os dois podem. Os assuntos lá em casa vão de sexo à política. Política é um assunto gritante lá em casa. Mas tem fofoca, emoção, briga, choro. Tem de tudo, é uma família muito intensa.
Seu pai voltaria à política?
Preta Gil - Não. Acho que se ele tivesse idade, fôlego, faria tudo de novo, mas foi muito desgastante. Ele perdeu a voz, teve que operar as cordas vocais, deixou de compor, de cantar. Hoje o vejo e tenho a impressão de que, enquanto foi ministro, ele desligou uma chavezinha e falou: “Vou me concentrar nisso aqui.” Mas agora, que ele ligou a chave de volta, é um garoto, nem parece que tem quase 70 anos.
Já decidiu em quem votará?
Preta Gil - Não. E não estou tendendo para ninguém. Estou bem desestimulada. É complicado você acreditar nas pessoas, no comprometimento delas. Estou esperando a reta final para me decidir. Votei no Lula nas últimas duas eleições, mas não acredito na continuação. Acredito nele, com toda a sua complexidade, seus erros. Eu quero conhecer a Dilma (Rousseff, candidata do PT à Presidência). O José Serra (candidato do PSDB) é uma pessoa que a gente já conhece mais.
Você foi uma filha mimada?
Preta Gil - Isso nunca existiu na minha família. Saí de casa e fui para São Paulo trabalhar numa agência de publicidade aos 17 anos porque queria comprar um tênis de marca e meu pai não me dava. Em três anos eu já tinha montado minha própria produtora. Aos 25 anos, era uma empresária bem-sucedida. Mas me mudei no auge da minha efervescência artística. Meu irmão morreu subitamente (Pedro Gil, em 1990, num acidente de carro) e aquilo me deixou com uma necessidade de provar que era capaz de ser independente. Num ato de rebeldia e de querer ter minhas coisas, fui embora e não percebi o que estava fazendo com a minha vida, ou seja, deixar meu talento de lado. Por ser de uma família tão liberal, não tiveram a postura que hoje eu teria com o meu filho, que é de dizer não.
Como se deu a mudança de rumo?
Preta Gil - Eu era workaholic. Comecei a ficar angustiada. Depois de seis meses de terapia virei para todo mundo e disse: “Vou cantar, retomar minha vida do ponto onde eu parei.” Foi um choque para todo mundo, mas minha libertação. Comecei do zero. Vendi minha parte da produtora, voltei até a morar com os meus pais porque peguei todo o dinheiro que eu tinha ganho e investi em mim. Não é do dia para a noite que se ganha dinheiro com música. Em oito anos de carreira, só há dois vivo 100% de música.
Adriana Prado
Isto é
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