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8.12.2010

Medicamento(Lipostabil) ilegal é vendido livremente em Salvador


Remédio não tem liberação para ser comercializado no Brasil.
Substância supostamente combate a gordura localizada.
Em uma sala do primeiro andar de um prédio que fica em uma das principais avenidas de Salvador, o movimento é constante, tem até fila de espera. As pessoas, que normalmente chegam por indicação de amigos, buscam um produto, o Lipostabil. O medicamento é aplicado clandestinamente com a promessa de combater gordura localizada.
Dois produtores do Jornal da Globo se apresentaram como clientes e foram recebidos por uma mulher. Como se fosse médica, ela examinou os dois e recomendou o tratamento, que custaria R$ 350 para cada um.
Outra pessoa, que trabalha no mesmo local, também tentou convencer os produtores a fazer as aplicações. "É um procedimento comum, que não exige nada de cirúrgico, nem médico, nem anestesia. É uma coisa simples, aplica só na região da barriga", diz.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nunca liberou no país a fabricação e a venda do Lipostabil. As ampolas entram no país de forma ilegal. O remédio, à base de uma substância chamada Fosfatidilcolina, não foi desenvolvido originalmente para uso estético, e sim para dissolver gordura nas veias e prevenir doenças cardíacas.
"Hoje em dia, a aplicação médica é extremamente restrita e não faz parte da medicina moderna", afirma o cardiologista Fábio Villas Boas. O médico diz que não há comprovação de que o remédio seja eficaz contra gordura localizada e, sobretudo, que pode ser perigoso.
"Não foi testado em nenhum tipo de pesquisa publicada em revistas médicas internacionais. Portanto, não há registro de sua eficácia e sua segurança, sobretudo. A aplicação em locais incorretos pode causar úlceras e necrose de tecidos, arritmia e queda da pressão arterial".


Saiba mais sobre o lipostabil
Novamente aparece uma promessa para acabar com a gordura localizada. Desta vez ocorreu uma intensa propaganda sobre outra substância "mágica", a Fostatidilcolina (Lipostabil). Antes de tudo, é preciso dizer que dificilmente será possível encontrar uma pesquisa séria direcionada ao uso estético desta ou de qualquer outra substância, principalmente porque a comunidade científica deve (ou deveria) se preocupar com problemas que realmente põem a risco a humanidade e são relevantes para a melhora da vida na Terra.
A Fosfatidilcolina é uma lipoproteína encontrada em abundância nas membranas celulares, sua concentração e composição parecem influir diretamente na integridade e funcionamento destas membranas, principalmente no transporte através delas.
Supõe-se que o uso deste fosfolipídio aumente a solubilidade do colesterol, trazendo benefícios como alterar a composição de depósitos de gordura e inibir a agregação plaquetária, o que diminuiria os riscos de doenças cardiovasculares. Terapeuticamente ela tem sido usada em distúrbios mentais, doenças cardiovasculares e hepáticas induzidas por medicamentos, álcool, poluição, viroses e outras toxinas.
Fígado
A exposição das membranas celulares a substâncias tóxicas pode causar danos às células hepáticas, levando a desequilíbrios na homeostase e posteriormente à morte destas células, o álcool, por exemplo, pode destruir a membrana mitocondrial, prejudicando o metabolismo de gorduras (LIEBER et al, 1994; LIEBER et al, 1996). Nestes casos o lipostabil pode ajudar a membrana a se regenerar.
Nos casos de danos ao fígado a fosfatidilcolina foi pesquisada em:
Ingestão abusiva de álcool: há vários relatos de sucesso, tanto com o uso oral (PANOZ et al, 1990; SCHULLER PEREZ et al, 1985; KNUECHEL 1979) quanto intravenoso (BUCHMAN et al, 1992).
Na recuperação hepática após danos causados por vírus, como o da hepatite (TSYRKUNOV, 1992; FRIEDMAN et al, 1996; MUETING et al, 1972; HIRAYAMA et al, 1978; YANO et al, 1978; KOSINA et al, 1981; JENKINS et al, 1982; VISCO et al, 1985; HANTAK et al, 1990).
Também há relatos em pacientes que tiveram problemas relacionados ao tratamento da tuberculose e foram ajudados pela fosfatidilcolina tanto pela via oral (MARPAUNG et al, 1988) quanto intravenosa (KUNTZ et al, 1978).
Outras doenças (KUNTZ et al, 1965; ESSLINGER et al, 1966; KLEMM, 1964).
Cérebro
Este fosfolipídio é também fornecedor da colina, que por sua vez é essencial na formação da acetilcolina, um importante neurotransmissor envolvido na memória. Nesta área pode-se destacar os estudos dos orientais FURUSHIRO et al (1997) e CHUNG et al (1995) onde o uso de fosfatidilcolina melhorou a memória em animais.
Lipídeos
A colina é também necessária ao metabolismo de gordura, sendo que a ingestão de fosfatidilcolina se mostrou eficiente no tratamento de doenças cardiovasculares e redução dos níveis de colesterol (BIALECKA, 1997; BROOK et al, 1986; MEL'CHINSKAIA et al, 2000; ZEMAN et al, 1995), removendo-o dos tecidos e evitando a agregação de plaquetas.
Porém, há controvérsias sobre estes resultados, KNUIMAN et al afirmaram em 1989 que os benefícios encontrados nestes estudos são artifícios causados pelo design experimental e a maneira de análises de dados, sendo mediados por outras mudanças na dieta ou devido ao ácido linoleico.
Outro estudo desanimador foi o de SIMONSSON et al (1982), onde dietas ricas em fosfatidilcolina não alteraram positivamente os níveis plasmáticos de lipoproteínas. Quanto ao acúmulo de gordura só sei de um estudo feito em animais por TAKAHASHI et al, (1982), onde se relacionou a deficiência de fosfatidilcolina com distúrbios na liberação de lipídeos pelas células.
Neste estudo japonês, os ratos recebiam ou dietas ricas ou pobres em colina durante duas semanas, quando a quantidade de colina era baixa havia distúrbios na liberação de gordura das células do intestino para o sistema linfático. A suplementação oral de fosfatidilcolina rapidamente corrigiu esta disfunção, confirmando a colina como um fator extremamente importante na absorção de gorduras através da membrana celular.
Considerações finais
A membrana da célula é responsável por controlar o fluxo de substâncias do meio extra para o intracelular e vice-versa, envolvendo também a receptividade à insulina e o equilíbrio hídrico e salino. Pense bem, se algum fator exógeno causa desequilíbrio nesta membrana, qual será a reação a longo prazo? É perigoso e ingenuamente otimista alterar as propriedades da membrana celular e pensar que o único efeito seria a perda de gordura por algumas células.
Como não conheço nenhum estudo longitudinal onde se acompanhou o uso subcutâneo prolongado de Lipotsabil com fins estéticos, eu não recomendaria que você se arriscasse tão cedo. Na minha opinião faltam duas informações vitais:
1. Se a redução de medidas é fruto da perda de gordura, de desidratação ou outro meio? Lembre-se que gorduras não são as únicas substâncias a passar através das membranas celulares, água e minerais também são transportados continuamente.
Existem, inclusive, patologias geradas por altas taxas do fosfolipídeo em questão, onde os sintomas são desequilíbrios nas taxas de potássio e desidratação (CLARK et al, 1993).
2. Como seu corpo vai responder a esta prática? Vai ficar com a membrana alterada para sempre (o que poderia ser extremamente nocivo ao equilíbrio dinâmico do seu organismo)? Ou vai supercompensar (retornando com sobras às medidas antigas)?
Ah! Tem uma pergunta que me intriga sobremaneira: os estudos que encontrei sempre se referem ao uso oral ou intravenoso da fosfatidilcolina, então quem foi o "gênio" que inventou a injeção subcutânea desta substância com fins estéticos?
GEASE - Grupo de Estudos Avançados em Saúde e Exercício

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