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8.29.2010
Pai é Pai
Ser pai nos dias de hoje
Não se nasce pai: torna-se pai, ocupando um espaço e admitindo que é possível, também, falhar
Muito se fala do lugar de mãe, sempre cantado em verso e prosa, mas e o “tornar-se pai”? Conheço muitos homens que conseguiram, de uma forma linda e forte, fazer esta transformação: deixaram o papel de filhos e, por meio de um processo interno e maturacional, seguiram adiante para fazer esta passagem – ser pai.
Costumo dizer que a grande autora e pensadora Simone de Beauvoir nos diz: “Não se nasce mulher: torna-se”. Parodiando este importante e amplo pensamento, ouso dizer: “Não se nasce pai: torna-se”. E este tornar-se está ligado a uma boa relação e identificação que o menino pode ter com ambas as figuras, tanto a materna quanto a paterna.
Talvez estas identificações ajudem na possibilidade de exercer o papel do cuidador, mas também o papel daquele que põe limites ao dar amor – “dar amor”, cuidar e poder estar de uma forma cada vez mais presente no dia a dia (e, para alguns pais, quase nas “horas a horas”). Acho emocionante ver o cuidado destes novos pais ao vivenciarem este papel com tanta desenvoltura, algo que alguns anos atrás não era ainda tão corrente.
O vínculo afetivo e de confiança, base para todas as relações, se faz muito presente no estabelecimento deste contato, que vai sendo gerado ainda com o bebê dentro da barriga de sua mãe. As mães, aliás, têm uma tarefa enorme: deixar e permitir este acesso dos pais a seus filhos, algo tão fundamental e capaz de nutrir também a relação entre homem e mulher. Pois o casamento acontece muito nesta moldura: cabe aos pais desempenharem um enorme lugar, que irá deixar traços que marcarão o desenvolvimento futuro.
O amor do pai e do filho também deveria se estabelecer nestas bases de confiança. Ela será o elemento fundamental para que outros vínculos saudáveis e afetivos possam ser construídos a partir destes modelos de relação. Embora nesta coluna eu escreva sobre maturidade, gostaria de ressaltar a importância do casal que vive este momento de sua maturidade. Desta possibilidade da continuidade, da criação de um espaço no qual um pai pode transmitir os seus legados. Consolidar uma memória familiar na qual ele teve um lindo papel intergeracional: passar um bastão ao seu filho dizendo “pode seguir o seu caminho, aquele que você puder escolher”.
Ser pai é poder tolerar as dores e frustrações. E, mais que tudo, aceitar sim que o mundo nos oferece novas oportunidades a cada dia, a cada hora. Ser pai e ser avô nesta pós-contemporaneidade é recriar novos papéis, aceitando que às vezes os “roteiros“ nem sempre são aqueles que havíamos escolhido.
Que este pai que amadurece possa também se desconstruir de mitos, preconceitos e, sobretudo, aceitar que é falível.
Dorli Kamkhagi
PAI
Pode ser novo, pode ser velho
Pode ser branco, negro ou amarelo
Pode ser rico ou pobre
Pode ser solteiro, casado, viúvo ou divorciado
Pode ser feliz ou infeliz
Pode estar aqui ou já ter ido embora
Pode ter tido filhos ou adotado-os
Pode ter casa ou morar na rua
Pode usar terno ou tanga
Pode ser Deus ou humano
Pode estar trabalhando ou desempregado
Pode ser tanta coisa ou simplesmente PAI
Mas todos, sem faltar um sequer fazem parte da criação.
Que não só hoje, mas em todos os dias desta vida
possa ser lembrado como aquele
que muitas vezes não dormiu
muitas vezes ficou pensando na comida para levar para casa
muitas vezes engoliu sapos
muitas vezes chorou escondido
muitas vezes gargalhou
muitas vezes perdeu a hora
mas nunca deixou de pensar na coisa mais importante da sua vida NÓS!!!!
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