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8.03.2010

Soropositivos para AIDS morrem de causas não associadas à doença

Soropositivos morrem mais de doença do coração do que de Aids

Portadores do vírus HIV estão morrendo mais de doenças como infarto, diabetes e câncer do que de causas diretamente ligadas à Aids.

Novos dados mostram um aumento desproporcional de doenças cardiovasculares e diabetes como causa de óbito em pessoas com HIV em relação à população sem o vírus.

Estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro revelou que, no hospital da universidade, causas não associadas à Aids já ultrapassaram as ligadas à doença.

"Tudo leva a crer que, se essa ainda não for uma realidade em todo o país, em breve será", afirma Mauro Schechter, chefe do laboratório de pesquisas em Aids do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e um dos líderes desse novo trabalho.

A equipe coordenada por ele também publicou um estudo que avaliou os índices de mortalidade em pacientes com e sem o vírus, a partir de dados de todas as certidões de óbito brasileiras ao longo de cinco anos.

Segundo a pesquisa, a mortalidade por Aids caiu entre 1996 (ano em que o Brasil se tornou o primeiro país em desenvolvimento a fornecer acesso universal aos antirretrovirais) e 1999, e desde então se mantém estável.

OUTRAS CAUSAS

No entanto, nos portadores do HIV, a mortalidade por outras causas, como doenças cardiovasculares, diabetes, câncer e doenças do fígado ou dos rins, subiu quase 8% ao ano. Já entre os não portadores do vírus, esse aumento não chegou a 3%.

No caso específico das doenças do coração, houve um aumento de quase 8% ao ano entre os soropositivos, contra apenas 0,8% na população em geral.

Segundo especialistas, a queda na mortalidade se deu com o acesso à terapia dos antirretrovirais. Mas os soropositivos não estão recebendo atenção médica para monitorar outras doenças.

Esse dado foi corroborado por uma pesquisa inédita, divulgada no último congresso internacional sobre Aids, realizado na Áustria.

"O sistema de saúde não aproveita a oportunidade para tratar esse paciente como um todo", critica Schechter.

O levantamento divulgado no congresso ouviu mais de 2.000 pacientes em 12 países, Brasil incluído, para identificar como o portador do vírus vê sua infecção e traçar um perfil de sua relação com médicos e sistema de saúde.

Um terço dos entrevistados foi enquadrado no perfil considerado de alto risco cardiovascular - mas 65% deles não estavam tratando seus fatores de risco para problemas cardíacos.

Além disso, 44% dos fumantes nunca discutiram com seus médicos as implicações do hábito para a saúde.

Para piorar, sabe-se que há uma associação entre algumas drogas usadas por portadores do HIV e doenças cardiovasculares.

"O que mais chama a atenção é a baixa porcentagem de pacientes que discutem com seus médicos fatores como tabagismo, excesso de peso, entre outros", diz Schechter, coordenador do estudo no Brasil. "É como se os médicos apenas vissem um vírus a ser tratado naquele paciente."

"Estamos começando a conhecer os efeitos do vírus e dos remédios a longo prazo. Esses pacientes estão envelhecendo e as exigências da doença mudaram. Agora precisamos nos adaptar a isso", completa o infectologista Esper Kallás, da Universidade de São Paulo.

VÍRUS E DROGAS PODEM ELEVAR O COLESTEROL

Estudos recentes sugerem que a própria infecção pelo vírus HIV, ao levar a um processo inflamatório crônico, pode ter relação com o aumento do risco cardíaco. Algumas classes de drogas antivirais também elevam o colesterol. Mas, é claro, os médicos recomendam manter o tratamento mesmo assim, para controlar a infecção.

GABRIELA CUPANI
Folha de São Paulo

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