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9.23.2010

A decisão de ser mãe solteira. Mulheres enfrentam barreiras


Ser mãe solteira é... De madrugada, dá aquela dor de barriga no seu filho e ele grita por você, chorando. Você acorda, olha para o outro lado da sua cama de casal - que está vazio - e pensa: é muito difícil ser mãe solteira! Tudo que a mulher quer nessa hora é ter um companheiro para pegar o remédio, aconchegar o filho, levá-lo ao médico. Fazer tudo sozinha é complicado.

“Saber não é bastante; nós devemos aplicar-se. Querer não é bastante; nós devemos fazer.” - Johann Wolfgang Von Goethe

Paula, 41 anos, se separou do marido há oito. Não teve filhos durante o casamento e, de lá para cá, veio adiando seu grande desejo de ser mãe. Chegou à sessão de terapia decidida: “Não dá mais para esperar. Já estou com mais de 40, daqui a pouco não será possível. Quero ter um filho de qualquer jeito. Só não decidi ainda como vou escolher o pai.”

Paula não está sozinha. Muitas mulheres, com mais de 35 anos, vivem esse tipo de ansiedade. Existe uma instituição nos Estados Unidos, ‘Mães solteiras por opção’, que já inaugurou dezenas de sedes nos Estados Unidos e no Canadá. É claro que não faltam críticas a essas ideias. Muitos se chocam, acusando essas mães de só pensar nelas em detrimento da criança. É comum se dizer que, criada sem a presença do pai, a criança terá dificuldades emocionais pela vida afora. Mas será que é verdade mesmo ou apenas mais uma das afirmações que as pessoas repetem apenas por hábito?

Hoje, sabemos que o simples fato de uma criança ser educada dentro de uma família tradicional não é garantia de uma vida adulta saudável pra ela. Agora, a respeito da ausência da figura paterna, surgem novos questionamentos. Alguns defendem ser fundamental a criança se sentir amada, respeitada e valorizada, e que não há necessidade de duas presenças físicas, uma masculina e outra feminina, para que isso ocorra.

A pesquisadora americana Shere Hite foi mais longe ainda. Ela afirma que em suas pesquisas descobriu que os meninos criados apenas pelas mães, e não pelo casal, parecem ter mais facilidade, quando adultos, em estabelecer relações humanas responsáveis, e se tornam homens mais corajosos e mais íntimos no relacionamento humano. O motivo seriam os pais machistas, que costumam ser distantes dos filhos e até fisicamente agressivos. Esse modelo de comportamento transmitido levaria os filhos a fugirem das emoções calorosas, da empatia e da compreensão.

É claro que muitos já se libertaram do mito da masculinidade e não ensinam aos filhos a esconder os sentimentos, nem cobranças do tipo: homem não chora! Atualmente, há pais emotivos e afetuosos com seus filhos e assim contribuem de forma positiva para sua formação.

Seria ótimo se homens e mulheres usufruíssem, em condição de igualdade, do prazer de criar um filho.

Mas para não serem excluídos de todo esse processo de mudança das mentalidades, que está ocorrendo, os homens precisam ter coragem de, por conta própria, aceitar o fim da ideologia de dominação que sempre impediu uma sociedade de parceria.
Regina Navarro Lins
Cama na Varanda

Mulheres enfrentam barreiras
Ser mãe solteira num país como o Brasil não é coisa das mais fáceis. Muitas vezes, sem suporte familiar, dos amigos e, desaprovada na sociedade, a mulher tem que trilhar seu caminho sozinha com o bebê e sente o desamparo lhe atacar por todos os lados.

Segundo relatório do Fundo de População da Organização das Nações Unidas (ONU), a cada mil mulheres brasileiras de 15 a 19 anos, nascem 71 bebês, mesmo número registrado em toda a região da América Latina e do Caribe.

Para a psicóloga e psicoterapeuta Olga Tessari, é muito difícil ser mãe solteira, pois não há um companheiro masculino ao lado da mulher, além dos problemas financeiros comuns aos jovens. “Ela vai precisar contar com o auxílio da família, amigos, porque nem sempre o pai da criança assume e nem sempre a mãe quer assumir esse pai, pois às vezes a gravidez aconteceu num encontro fortuito”, observa.


Tessari diz haver casos em que as mulheres utilizam a gravidez para manter os rapazes que gostam próximos delas: “Então ela engravida de propósito numa noite de amor e o rapaz percebe isso, e acaba por abandonar a relação, pois já possuía tal intenção”.

Tessari afirma que a participação dos pais é fundamental para uma mãe que vive essa empreitada sozinha. Mas não é sempre que eles aceitam tal situação. “Num primeiro momento eles ficam revoltados e dizem: ‘não era isso que eu queria para a minha filha’. Mas depois, como eles amam a filha, a maioria acaba por tentar trazê-la para o lar. Mesmo assim, ainda existem aqueles que, por uma questão de moral, de orgulho, expulsam a moça de casa”, considera.

“Eu não tive apoio do pai da minha filha. Tampouco da minha família no momento que eles souberam. Eles até disseram que ficariam do meu lado, que estariam comigo para o que eu precisasse, mas no fundo eles ficaram decepcionados”, relata a relações públicas (que não quis se identificar) 23, que teve uma filha sem o companheiro e sentiu na pele a desaprovação inicial dos pais.

Os avós podem ter participação prejudicial à vida da criança, na visão de Tessari, pois eles têm a função de “mimar” a criança e acabam por não educá-la da forma devida. “Ocorre que, como essa garota ainda está em formação de conceitos, de valores, os pais dela assumem a educação dessa criança”, coloca.

De acordo com Tessari, os problemas apenas começam quando a criança nasce: “Como a garota é jovem, ela quer continuar a vida dela, sair trabalhar, fazer as coisas que ela tem vontade e os pais querem que ela fique em casa para ‘tomar conta do filho num sábado à noite’”.

Isso pode ser perigoso, pois a criança pode se sentir rejeitada, ao se ver como a motivação para esse tipo de discussão. “A jovem deve assumir que é mãe, educar a criança e tentar relacionar sua vida pessoal com a da criança e não usar os pais como muleta. Tentar o quanto antes colocar a criança numa creche, para que ela interaja com outras”.

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