Especialistas tentam explicar por que os jovens estão demorando tanto a amadurecer.
Por que os jovens de 20 e poucos anos andam tão imaturos? Esta é a pergunta que pesquisadores americanos com Jeffrey Jensen Arnett, da Universidade Clark, estão tentando responder, como mostra a matéria publicada no 'New York Times'. Nos Estados Unidos, a fase que vai dos 20 aos 30 anos começa a ganhar nomes como 'adultescência' e 'época bumerangue'. Programas de televisão, como o seriado '$#*! My Dad Says', sobre um jovem que desiste dos empregos convencionais para virar blogueiro, também tentam explicar o fenômeno.
Uma nova pesquisa, feita com 5 mil adolescentes e patrocinada pelo National Institute of Mental Health, mostra que o cérebro só chega a maturidade aos 25 anos. Antes deste levantamento, neurocientistas acreditavam que esta maturidade acontecia por volta dos 16. O diretor do estudo, o médico Jay Giedd, explica que, enquanto o cérebro está amadurecendo, há mudanças significativas em áreas que controlam as emoções e as funções cognitivas. Há também transformações impactantes no sistema límbico, fazendo com que os jovens ajam sempre mais emocionalmente do que racionalmente.
- Até os 25 anos, fica difícil responder questões como 'o que vou fazer da minha vida' justamente porque a parte que controla os impulsos emocionais ainda está se desenvolvendo - afirma Giedd.
Estatísticas americanas mostram que até os 30 anos, os jovens costumam mudar de emprego pelo menos sete vezes. Dois terços saem de casa para morar com um parceiro, sem assumir um casamento, e 40% acabam voltando para a casa dos pais após uma decepção amorosa ou profissional.
Jeffrey Arnett lembra que não é possível negar o impacto de outros fatores no comportamento dos jovens, especialmente a crise econômica, as opções criadas por novas tecnologias e uma pressão menor para casar e ter filhos. E, como as pessoas estão vivendo mais, também podem se permitir mais tempo para o autoconhecimento.
Na 'adultescência', os jovens ficam excessivamente focados em si mesmos, diz Arnett. Costumam ter uma visão excessivamente idealizada do futuro e têm menos maturidade para lidar com decepções ou obstáculos na vida pessoal e profissional. Para alguns cientistas, isto é um reflexo do desenvolvimento cerebral. Outros acreditam que isto é culpa das mudanças na sociedade e até mesmo dos próprios pais, que não deixam os filhos crescerem.
- Muitas perguntas ainda precisam de respostas, mas sem dúvida o início da vida adulta está em transformação. Os jovens de hoje não são iguais aos de uma ou duas décadas atrás - completa.
Para o psicanalista brasileiro José Renato Avzaradel, os jovens não têm demorado mais para amadurecer.
- O que ocorre é que os jovens, há uma ou duas décadas, tomavam decisões numa época mais precoce da vida. Porém, na maioria das vezes, sem saber a dimensão do que estavam decidindo. Eram opções do que nós chamamos de uma "pseudo-maturidade", e não de uma real maturidade. O que mudou é que os jovens hoje estão tomando essas decisões mais tarde, e permanecem na casa dos pais mais tempo - explica ele, que atribui como grande desafio aos pais passar aos filhos valores culturais e éticos.
Segundo Avzaradel, na prática, os pais devem ajudar os filhos a entender por que eles estudam, por exemplo. Devem ter livros e apresentá-los aos filhos. Levá-los a concertos de música, exposições:
- Enfim, apresentar aos filhos um mundo maior. A vida não é só ganhar dinheiro rápido nem ter sucesso profissional precoce.
Sobre experimentar, mudar, trocar de carreira, o psicanalista não vê problema algum:
- Atualmente, inclusive, existem muito mais carreiras, muito mais profissões do que havia há 20 anos. Os jovens hoje têm a possibilidade de conhecer coisas que simplesmente não conheciam. E isso faz com tenham liberdade maior de escolha. Trocar de carreira pode ser muito útil. A pessoa não é mais obrigada a ser infeliz em uma carreira. Os jovens que estão tomando suas decisões aos 30 anos talvez estejam aprendendo com os erros dos pais.
Dizem que a adultescência é a manutenção de hábitos, práticas da adolescência na fase adulta. Homens e mulheres que estão entre 30 e até mais de 40 anos e mantém costumes e hábitos típicos de um adolescente. Jogos, música, roupas e, é claro, consumo. Para os adeptos da prática, associar objetos e costumes dos adolescentes contemporâneos, ou mesmo valores de sua adolescência, é saudável e buscam a manutenção do que chamam "espírito jovem".
Não vejo problemas na adultescência se ela não fosse uma forma de disfarçar a "falta de juízo", ou até mesmo o medo de crescer e assumir responsabilidades.
Ao assumir a imagem de um adolescente, muitos homens que tem uma idade "adulta" fogem de enfrentar seus problemas e de se responsabilizar em educar a geração de adolescentes que, necessitando de uma orientação e modelo, tem que conviver com um adulto que se nega a crescer, o "adultescente".
Fico envergonhado em ter que admitir que parte da minha geração (a dos quarentões) não conseguiu produzir sua própria maturidade e reedita valores de gerações que a antecederam ou tentam reproduzir a adolescência contemporânea. Minha geração tem componentes que são eternos filhos, que apesar dos trinta e quarenta, ainda não saíram da barra da saía dos pais e estão desempregados por não saber ter feito escolhas.
Assim temos que separar os adultescentes. Eles podem ser apenas a escolha pelo prazer, o gosto pelos valores e estética da adolescência, e o adulto ainda é determinante nesta escolha e sabe seus limites. O outro, abominável adultescente, é aquele que assumiu integramente a adolescência, por mais que sua idade contradiga seu desejo, ele se nega a ser homem adulto pois a responsabilidade da vida é um peso insuportável, fardo difícil de carregar. Aí a preocupação deve ser com as gerações de adolescentes que tem como pais um adultescente. Ou serão adultos precoce, o que de certa forma resolveria o problema, ou não saíra das fraldas. Os netos dos adultescentes, possivelmente, se neguem a nascer e prolonguem a gestação por anos.
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