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10.11.2010

Há vagas


Há vagas

"Meu pai me disse certa vez que há dois tipos de pessoas: as que fazem o trabalho e as que recebem o crédito por ele. E me disse para tentar ficar no primeiro grupo, onde é menor a concorrência."
Indira Gandhi

A crise gera desemprego, recessão, desencontro de idéias, radicalismos, sacrifícios.
É como temos aprendido com as constantes crises no Brasil. Só haverá mudança verdadeira quando houver transformação de valores, pois no bojo de toda crise existe uma crise de valores. Por isso é tão importante a capacidade de ver além da crise.
No entanto, é esta mesma crise que gera uma oportunidade que, em tempos de bonança, nem lembramos que existe. Uma oportunidade ilimitada, voltada a todos, sem distinção de sexo, cor, credo, nível cultural, posição hierárquica ou profissão.
Uma oportunidade que tanto é dada ao governo, como aos empresários, empregado, aos sindicatos, aos políticos e a todas as pessoas deste País. E é justamente neste momento mais difícil da Nação, em que o desemprego é uma realidade, em que a recessão é uma ameaça, que as vagas estão abertas.
Há vagas para aqueles que estejam dispostos a resgatar os maiores e mais importantes valores do homem: a humildade, a caridade, o altruísmo, o senso de comunidade, o cuidado com a família, o respeito à condição humana e, sobretudo, a honestidade.
Há vagas sim, senhores. Há vagas para quem esteja disposto ao sacrifício, ao trabalho, cuja maior recompensa não seja medida em valores taxados e passageiros. Mas, pela constatação, todos os dias, de que somos capazes de sair do desvio onde nos encontramos e retomar o nosso caminho: o caminho do desenvolvimento do progresso e do crescimento comum a todos os brasileiros.
Há vagas para líderes que usem sua influência nos momentos certos por razões certas.
Que assumam uma parcela um pouco maior da culpa e uma parcela um pouco menor do crédito. Que se liderem com êxito antes de tentar liderar os outros. Que continuem procurando a melhor resposta em vez da convencional. Que acrescentem valor às pessoas e às organizações que lideram. Que trabalhem para o benefício de outros e não para o ganho pessoal. Que se conduzam com suas cabeças e os outros com seus corações. Que conheça o caminho, sigam o caminho e mostrem o caminho. Que inspirem e motivem em vez de intimidar e manipular.
Que percebam que sua disposição é mais importante do que suas posições. Que moldem opiniões em vez de seguirem pesquisas de opiniões. Que compreendam que uma instituição é o reflexo de seus caráteres. Que nunca se ponham acima dos outros, a não ser no que diz respeito a responsabilidades. Que sejam honestas tanto nas pequenas coisas como nas grandes. Que transformem os reveses em sucessos. Que sigam a bússola da moral que aponta para direção certa a despeito das tendências.
E, para preencher estas vagas, não dependemos de alguém que nos avalie, não teremos chefes, nem patrões, nem empregados. Teremos apenas a voz de nossa consciência, medindo nossa capacidade de mudar as coisas. De substituir a inútil lamuria pela determinação de fazer. De substituir os braços cruzados pelas mãos construtivas. De substituir a obstinada decisão de protestar contra o presente pela responsabilidade a favor do futuro. De substituir a mera e fácil acusação de defeitos pela constatação de nossas reais e indiscutíveis potencialidades.
São estas vagas que existem. Para todos os brasileiros. Vagas para um grande trabalho, sediado em nossa cabeça, manifestado por nossa voz e por nossas mãos. Um trabalho que exige equilíbrio e bom-senso. Sem a amargura do derrotismo nem a alienação do otimismo vazio. Mas que se ampara, basicamente, na capacidade de pensar positivamente. Na capacidade de deixar de lado as pequenas questões, se comparadas com a grande questão nacional. Deixar de lado a vingança pessoal, que não faz o menor sentido, porque nada constrói. E ainda ajuda a destruir o que nos resta.
Há vagas, sim, para quem esteja disposto a ceder um pouco de si para todos: seja na compensação do seu trabalho, seja no lucro do seu negócio, seja no dogma da sua cor partidária.
Há vagas para quem esteja disposto à ação, a formar um mutirão, uma grande corrente construtiva. Uma corrente que, ao mesmo tempo, produza e proteja. Uma corrente de união e consenso. Somente assim teremos condições de retomar a consciência de grande Nação que somos. A mesma Nação do qual nos orgulhamos em muitas oportunidades. A mesma Nação que nos emocionou com muitas conquistas no campo das ciências, das artes, dos esportes, da política. E que, de repente, parece que estamos esquecendo.
Por isso tudo, há vagas para quem esteja disposto a resistir à idéia de desistir de lutar por valores nobres. E que esteja disposto, também, a abandonar o transe, a hipnose da crise, gerada pelo bombardeio pessimista a que estamos submetidos todos os dias.
E que esteja disposto, ainda, a fazer parte com fé e confiança, determinação, paciência, segurança e consciência absoluta de que, assim, estaremos, todos os dias encontrando soluções para os nossos problemas
Ocupem suas vagas. Com isso, estaremos ocupando, também, o Brasil. Com gente disposta a fazê-lo cumprir o seu grande destino.
Daniel C. Luz

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