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10.02.2010

Ig Nobel premia pesquisas mais excêntricas da ciência. Conheça os ganhadores do IG Nobel em 2010

Cerimônia de premiação, conhecida pelo bom humor, reuniu até vencedores do prêmio Nobel

Prêmio Nobel Sheldon Glashow (Física, 1979, à direita) aprende como varrer aviões de papel do palco durante uma apresentação artística na cerimônia do Ig Nobel 2010 (Charles Krupa/Associated Press)
Os vencedores do IG Nobel ganharam, além do troféu, um prêmio de 10 trilhões de dólares... do Zimbábue
Em 2005, o físico americano Roy Glauber foi laureado com o prêmio Nobel de Física, reconhecimento máximo da ciência mundial organizado pela Academia Sueca de Ciências. Recebeu 1,3 milhão de dólares pela contribuição inestimável à teoria quântica e coerência ótica. Nesta quinta-feira, porém, Glauber não discursou sobre o futuro da Física e da humanidade para uma plateia de intelectuais condecorados. Com uma vassoura na mão e um chapéu de chinês, o físico foi o responsável por manter limpo o palco da cerimônia de reconhecimento “mínimo” da ciência mundial — o Ig Nobel.
Leia entrevista com o criador do prêmio, Marc Abrahams
Glauber não teve sucesso em deixar o palco livre dos aviõezinhos de papel atirados pela plateia de 1.200 pessoas, que lotou o auditório mais antigo de Harvard. Ele era apenas um dos vários vencedores do prêmio Nobel que compareceram à premiação para se divertir com seus antípodas, os ganhadores do Ig Nobel. Com muito humor, a vigésima edição do prêmio, que ocorreu na noite desta quinta-feira (30), destacou as pesquisas científicas mais excêntricas do planeta. Entre as premiadas estavam a descoberta de que a asma pode ser tratada com uma volta de montanha-russa e a prova matemática de que as empresas lucrariam mais se promovessem funcionários aleatoriamente.
Charles Krupa/Associated Press
Vencedor do Nobel da Química em 1976, William Lipscomb, acena para a plateia durante o Ig Nobel 2010
Distintas bactérias — Na edição deste ano, o tema escolhido pela organização foi Bactéria, uma forma de fazer graça entre as premiações, que em geral duram pouco tempo (uma menina de oito anos fica encarregada de se postar ao lado dos vencedores e gritar em seus ouvidos “por favor, pare, estou entediada”, quando os discursos passam do tempo predeterminado). O discurso que abriu o Ig Nobel, com a saudação “Senhoras, senhores e distintas bactérias”, deu o tom da noite. Antes do início da cerimônia, as pessoas eram convidadas a limpar as mãos utilizando álcool gel distribuído por atores no palco. Além disso, uma mini ópera, executada em quatro atos, contava a história de um grupo de bactérias que vivia na superfície do dente de uma mulher e tencionava dominar o mundo. Grupos de estudantes passavam na frente da plateia com cartazes pedindo o fim do “germicídio”.
Assistindo a tudo isso, estavam, além de Roy Glauber e sua vassourinha, outros vencedores do prêmio Nobel: James Muller (Paz, 1985), Frank Wilczek (Física, 2004) e William Lipscomb (Química, 1976). Até Lipscomb, de 91 anos, entrou na brincadeira. No final do prêmio, foi feito o concurso “Encontro romântico com um prêmio Nobel”. O vencedor foi um jovem da plateia. O momento romântico foi um amistoso aperto de mãos com Lipscomb.
Troféu do Ig Nobel 2010
10 trilhões de dólares — O tom de galhofa do prêmio, criado pelo matemático Marc Abrahams, permeia todo o evento. O troféu 2010, que em anos anteriores já foi uma dentadura e um frango de borracha, trazia um balão volumétrico (frasco de vidro utilizado em laboratório) repleto de bonecos de bactérias gigantes e uma placa com a gravação “Ig Nobel Prize 2010” escrito com cola colorida. Os vencedores também foram presenteados com a estratosférica quantia de 10 trilhões de dólares — mas dólares do Zimbábue, definitivamente extintos pelo desastre financeiro conduzido pelo ditador africano Robert Mugabe.
Aviõezinhos de papel — Em alguns momentos, a plateia era convidada a arremessar aviõezinhos de papel contra um alvo humano, bem no centro do palco. No telão, uma porcentagem registrava com “dados oficiais” a falta de pontaria dos espectadores — apenas 3,1% dos projéteis acertaram o alvo.
Ao contrário do que se poderia pensar sobre um prêmio do gênero, todos os ganhadores demonstraram satisfação em recebê-lo. Tanto que os organizadores não custearam a viagem de nenhum deles. Americanos, chineses, italianos, holandeses, mexicanos, ingleses, australianos, japoneses e neozelandeses tiveram de arcar do próprio bolso a viagem e a estadia em Boston. Abrahams disse que a ideia não é ridicularizar a pesquisa científica, mas tratar a ciência com bom humor. A maioria dos estudos chega a resultados excêntricos por acidente, e muitas vezes são uma pequena parte de objetivos maiores. No sábado (2), os grandes vencedores irão ao Massachussetts Institute of Technology (MIT) tentar explicar em cinco minutos como e por que realizaram esses experimentos.
Como faz em todos os anos, Marc Abrahams, que sempre é o mestre de cerimônia do Ig Nobel, fechou a noite com a frase “se você não foi escolhido este ano — e especialmente se foi — mais sorte da próxima vez”.
Montagem sobre fotos AP
Roy Glauber em dois momentos: em 2010, no Ig Nobel, usando o sutiã que se transforma em máscara antigás; e em 2005, na Suécia, recebendo o Nobel de Física
As pesquisas vencedoras do Ig Nobel 2010 foram:
ENGENHARIA
Pesquisa: Aperfeiçoamento do método de coleta de muco das baleias utilizando um helicóptero remoto. Vencedores: Karina Acevedo-Whitehouse e Agnes Rocha-Gosselin, da Sociedade Zoológica de Londres, Grã-Bretanha, e Diane Gendron, do Instituto Politécnico Nacional, de Baja California Sur, no México.
O que é: As pesquisadoras da Inglaterra e do México estavam estudando a saúde das baleias e precisavam de um método eficiente para retirar amostras de muco e verificar se havia infecção. Os métodos existentes são dificílimos de executar, segundo os cientistas.
MEDICINA
Pesquisa: Descoberta de que uma volta de montanha-russa pode tratar os sintomas da asma.
Vencedores: Simon Rietveld, da Universidade de Amsterdam, e Ilja van Beest, da Universidade Tilburg.
O que é: Cientistas holandeses estavam investigando tratamentos para a asma e perceberam que a manifestação de emoções negativas e positivas ajuda a dilatar os brônquios, facilitando a respiração de pessoas com a doença. Tanto a ansiedade que a antecede como a sensação de alívio após a volta na montanha-russa ajudam o paciente.
PLANEJAMENTO DE TRANSPORTE
Pesquisa: Utilização do Dictyostelium discoideum, um tipo de mofo, para determinar a melhor trajetória para estradas de ferro.
Vencedores: Toshiyuki Nakagaki, Atsushi Tero, Seiji Takagi, Tetsu Saigusa, Kentaro Ito, Kenji Yumiki, Ryo Kobayashi, da Universidade de Hokkaido, Japão, e Dan Bebber e Mark Fricker, da Grã-Bretanha.
O que é: O mofo ajudaria a traçar melhores rotas para ferrovias. É a segunda vez que os cientistas japoneses ganham o prêmio Ig Nobel. Em 2008, eles foram agraciados porque descobriram que o mesmo tipo de mofo é capaz de resolver quebra-cabeças.
FÍSICA
Pesquisa: Demonstração de que em superfícies escorregadias, por causa da neve e gelo, as pessoas caem e escorregam menos se vestirem as meias por cima dos calçados.
Vencedoras: Lianne Parkin, Sheila Williams, e Patricia Priest, da Universidade de Otago, Nova Zelândi
O que é: Por causa das ruas íngremes em volta do laboratório dos autores da pesquisa, na Nova Zelândia, muitas pessoas afirmavam que a utilização de meias por cima dos sapatos ajudava a melhorar o atrito nas superfícies escorregadias. Como cientistas, eles revelaram que se sentiram obrigados a fazer um estudo minucioso que resultou na comprovação do método.
PAZ
Pesquisa: Confirmação do dito popular de que xingar realmente alivia a dor.
Vencedores: Richard Stephens, John Atkins e Andrew Kingston, da Universidade Keele, Grã-Bretanha.
O que é: Os pesquisadores ingleses resolveram investigar cientificamente se havia alguma relação entre a resposta à dor e o ato de xingar.
SAÚDE PÚBLICA
Pesquisa: Micróbios se aglomeram mais em cientistas barbudos do que em pesquisadores sem barba.
Vencedores: Manuel Barbeito, Charles Mathews, e Larry Taylor, do Escritório de Saúde Industrial de Fort Detrick, Maryland, Estados Unidos
O que é: A pesquisa americana surgiu de um desafio. Um colega de laboratório havia sido censurado pelos amigos porque deixava a barba por fazer, aumentando o risco de contaminação. Caso eles conseguissem provar, cientificamente, que isso era verdade, ele faria a barba.
ECONOMIA
Pesquisa: Formas de maximizar os ganhos minimizando o risco financeiro da economia mundial, ou parte dela.
Vencedores: Executivos e diretores do Goldman Sachs, AIG, Lehman Brothers, Bear Stearns, Merrill Lynch, e Magnetar.
O que é: O prêmio é uma sátira às empresas que foram pivôs da crise mundial de 2009. Nenhum representante arriscou buscar o prêmio.
QUÍMICA
Pesquisa: A prova de que água e óleo, ao contrário da crença popular, podem se misturar
Vencedores: Eric Adams, do MIT; Scott Socolofsky, da Universidade A&M do Texas; Stephen Masutani, da Universidade do Havaí, são os autores de uma pesquisa que analisa o modelo de exploração de petróleo em águas profundas e a British Petroleum
O que é: Outra sátira, dessa vez ao maior desastre ambiental dos Estados Unidos, o vazamento de petróleo no Golfo do México. Nenhum representante da British Petroleum, empresa responsável pela plataforma que explodiu, foi buscar o prêmio.
Charles Krupa/Associated Press
Frank Wilczek (Prêmio Nobel de Física, 2004, à direita) cumprimenta os vencedoresdo Ig Nobel na categoria Administração

ADMINISTRAÇÃO
Pesquisa: Demonstração matemática de que as empresas lucrariam mais se promovessem seus funcionários aleatoriamente.
Vencedores: Alessandro Pluchino, Andrea Rapisarda e Cesare Garofalo, da Universidade de Catania, Itália
O que é: Os cientistas italianos partiram do pressuposto de que se todas as pessoas são promovidas até o nível máximo de incompetência delas, a melhor saída é promovê-las aleatoriamente.
BIOLOGIA
Pesquisa: Documentação científica da presença de sexo oral em morcegos frugívoros.
Vencedores: Libiao Zhang, Min Tan, Guangjian Zhu, Jianping Ye, Tiyu Hong, Shanyi Zhou, e Shuyi Zhang, da China, e Gareth Jones, da Universidade de Bristol, Grã-Bretanha
O que é: O sexo oral entre os morcegos prolonga o tempo de cópula. Apesar de tentar demonstrar os resultados de sua pesquisa, o cientista inglês foi barrado pela arbitragem do evento.
Charles Krupa/Associated Press

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