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10.13.2010

Levante-se já da cadeira e ganhe anos de vida

O mau do sofá Sem contar a dor... Um drible na preguiça Até mesmo para quem faz ginástica, permanecer sentado por períodos prolongados aumenta demais o risco de doenças cardíacas e câncer. É o que podemos chamar de síndrome da preguiça — e ela não é moleza
Quem faz ginástica e sua a camisa pelo menos três vezes por semana na certa respira aliviado, com a sensação de ter escapado do rótulo de sedentário. Mas agora vem um outro lado da história, mostrando que essa pode ser uma conclusão precipitada. Porque, segundo pesquisadores do American Cancer Society, não basta alcançar essa, digamos, cota semanal de atividade física se, no restante do tempo, a pessoa passa boas horas sentada — seja na frente do computador, empacado no trânsito, seja curtindo uma televisão.
Eles acompanharam nada menos do que 120 mil indivíduos pelo longo período de 14 anos. Ficaram de olho em sua rotina, de acordo com questionários que os participantes preenchiam regularmente. E fizeram observações de cair o queixo: as mulheres que gastam pelo menos seis horas por dia grudadas na cadeira apresentam um risco 37% maior de morrer por uma doença quando comparadas àquelas que não ultrapassam três horas sentadas. Já os homens que vivem sentados têm um risco apenas 17% maior de sofrer de um problema fatal — vai saber o porquê!
“De fato, não adianta malhar pra valer durante uma hora e dedicar o restante do dia a dormir ou relaxar na poltrona, deixando os músculos inativos e o metabolismo lento”, justifica o fisiologista Paulo Zogaib, da Universidade Federal de São Paulo, para quem o resultado não é assim tão espantoso. “Enquanto estamos sentados, economizamos energia, o que favorece a obesidade, com todos os prejuízos que ela traz ao organismo”, acrescenta a SAÚDE! a epidemiologista americana Alpa Patel, que liderou a investigação.
Outro estudo — este australiano, assinado por cientistas do Baker IDI Heart and Diabetes Institute, corrobora com essa tese. Eles monitoraram 8.800 pessoas e descobriram o seguinte: quem assiste a TV por mais de quatro horas diárias é 80% mais propenso a morrer do coração. “A falta de exercício muscular afeta o funcionamento de uma série de enzimas e hormônios responsáveis por metabolizar açúcar e gordura”, esclarece Zogaib. “A consequência se refl ete no aumento de colesterol, de triglicérides e das taxas de glicose, que se acumulam nos vasos, aumentando as chances de obstruí-los”, esclarece Zogaib.
O médico do esporte Roberto Carlos Burini, da Universidade Estadual de São Paulo, a Unesp, em Botucatu, no interior paulista, complementa. “E, muito tempo sentadas, as pessoas não consomem tantas calorias. O excesso de energia fica, então, depositado no tecido adiposo. E ele produz substâncias inflamatórias, como as citocinas, que afetam as artérias.” Um último argumento para botar as pernas para trabalhar: um artigo publicado pelo Instituto Karolinska, na Suécia, sugere uma associação entre a inércia do dia a dia e o câncer. Ora, se não há como escapar do trabalho ou do trânsito, fica o primeiro conselho para o tempo livre: abandonar o controle remoto e sair para dar um passeio a pé.
O elo entre a inatividade e a formação de tumores se estabelece por causa da obesidade. “Quando um indivíduo se estira no sofá por longos períodos, sua estrutura corporal sofre um remodelamento”, explica Roberto Burini, da Unesp. “Ele perde massa muscular — tecido que, por natureza, queima muitas calorias — e infla o tecido adiposo, cujo gasto energético é reduzido”, afirma.
O estoque gorduroso leva ao desequilíbrio de hormônios femininos, como o estrogênio, e masculinos, os androgênios. “E alguns tipos de câncer, como o de mama e o de próstata, estariam relacionados a essa disfunção”, explica o oncologista Marcello Fanelli, do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. Além disso, a gordura atrapalha a tarefa da insulina de botar o açúcar para dentro das células. Daí que o pâncreas precisa fabricá-la em maior quantidade. “O excesso desse hormônio também seria um fator de crescimento tumoral”, conclui Fanelli.
No caso do sistema cardiovascular, os efeitos da imobilidade são mais diretos. Ao iniciarmos um exercício, o organismo se prepara para utilizar seu combustível. Uma série de substâncias entra em ação. “É o caso da enzima lipase, que atua na quebra de gordura, dos hormônios glucagon e cortisol, envolvidos no aproveitamento de glicose, e do óxido nítrico, que age na parede dos vasos, dilatando-os e derrubando a pressão”, lista Paulo Zogaib. Portanto, quando você se rende à inércia, nada disso funciona como deveria. Daí que a pressão sobe, os níveis de glicose vão às alturas, a gordura vai parar nas artérias...
“Para agravar a situação, a falta de movimento das pernas torna o sangue mais viscoso e aumenta a probabilidade de formação de coágulos ali”, descreve o cardiologista Ricardo Pavanello, do Hospital do Coração, em São Paulo. “A consequência pode ser uma trombose ou um quadro grave chamado embolia pulmonar, que se caracteriza pela obstrução da artéria do pulmão”, alerta. Além de reservar o horário para a malhação — no mínimo, aquelas sagradas três vezes por semana —, no restante do tempo concentre- se em ativar o seu metabolismo de hora em hora, com disciplina. Como? Levante-se e caminhe no corredor, faça um alongamento dos braços e das pernas, troque o elevador pela escada e, se houver possibilidade, participe de ginásticas laborais oferecidas por muitas empresas hoje em dia. Depois de enfrentar um tedioso engarrafamento, pare o carro mais longe e caminhe até seu destino — é outra ideia. “Se você conseguir aumentar apenas 40 calorias por hora na queima de energia, serão cerca de 640 extras perdidas ao fi nal do dia”, garante Zogaib. O esforço é irrisório e o benefício, imenso!
Por Adriana Toledo

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