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11.16.2010

Como se proteger do vírus HPV



Nossa Central de Defesa da Saúde da Mulher decreta estado de emergência: O HPV, que já ocupa o primeiro lugar no ranking das doenças sexualmente transmissíveis no Brasil, fez 10 milhões de vítimas em 2008. É hora de cercar o inimigo e combatê-lo sem dó nem piedade. Todas a postos!
Rita, historiadora de 32 anos, está solteira há quatro. Na busca por um homem para chamar de seu, saiu com Carlos, depois conheceu Flávio, pensou que ia engatar namoro com Beto... O fato é que, sim, transou algumas vezes sem proteção e, pior, passou todo esse tempo sem visitar o ginecologista. Quando finalmente marcou a consulta, teve uma surpresa assustadora: apresentava lesões causadas pelo vírus HPV do tipo agressivo - aquele que pode causar câncer de colo de útero. Resultado, está em tratamento há 18 meses. "Já me submeti a quatro cauterizações químicas e a médica recomendou ainda a raspagem da área afetada."
Katia, publicitária de 27 anos, namorava havia sete quando recebeu do ginecologista o diagnóstico de HPV. "Quase caí da cadeira. Como era possível? Fazia anos só transava com o Caio e mais ninguém!" Além de desconfiar que tinha sido traída, precisou passar por dolorosas cauterizações para dar fim às lesões que poderiam evoluir para câncer de colo de útero.
Histórias como a de Rita e Katia são cada dia mais comuns. O perigoso HPV (papiloma vírus humano) não faz distinção entre estado civil, idade e classe social - basta ter vida sexual ativa para entrar no grupo de risco. Atualmente, 80% da população mundial está exposta ao vírus a partir do momento em que começa a transar, 30% dos homens e mulheres adultos já estão contaminados e 1% terão câncer. E o panorama não fica por aí: estimativas mundiais indicam 500 mil novos casos por ano! Como o HPV consegue se disseminar tão rápido?
Imagine que Livia conhece João, abdômen de tanquinho, fôlego de gato, rosto de top model, e resolve dispensar a camisinha. Basta esse vacilo para correr o risco de fazer parte das estatísticas do vírus. E não pense que João estava escondendo a informação - ele pode ser portador sem saber. É isso mesmo: se quem vê cara não vê coração, vê muito menos atestado de saúde. O HPV, sorrateiro, pode ficar latente no organismo por até 20 anos. Não é à toa que estudos recentes da Santa Casa de São Paulo indicam que, no Brasil, 10 milhões de mulheres e 2,8 milhões de homens tenham algum tipo de HPV, que ocupa o primeiro lugar entre as DSTs. Sergio Mancini Nicolau, chefe da disciplina de oncologia ginecológica na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), vai além e alerta que estamos falando do mal viral com maior incidência em todo o mundo: 10% da população do planeta terá HPV durante sua vida sexual. Socorro!
Efeito devastador
O problema é que o vírus não causa apenas desconforto. Ismael Cotrim Guerreiro, chefe do laboratório de biologia molecular e professor de ginecologia da Unifesp, explica que existem pelo menos 100 tipos de HPV. Alguns geram verrugas (os condilomas acuminados) nos genitais, nas mãos e nos pés. Apesar da aparência nada agradável, essa é a forma menos ameaçadora e de diagnóstico mais fácil. Outros, que atendem pelos números 16, 18, 45, 31 e 33, têm forte potencial oncogênico. Além de câncer de colo de útero (são registrados, no país, aproximadamente 19 mil novos casos provocados pelo vírus por ano e 8 mil mortes, perdendo apenas para o de pele e o de mama), esses tipos também estão associados a 80% dos casos de câncer do ânus (que acabou de matar a atriz americana Farrah Fawcett, em junho) e a 65% do câncer de vagina. Em qualquer uma das situações, a contaminação está sempre associada ao contato sexual (existem evidências de contaminação até nas preliminares, pelo simples contato de pele ou com peças íntimas e objetos de alguém contaminado). O dr. Sergio Mancini Nicolau observa que o HPV em geral se manifesta na mulher por volta do quinto ano de atividade sexual, mas as lesões decorrentes passam a ser preocupantes após os 30 anos, "porque evidenciam a persistência do vírus no organismo infectado".
Como se proteger?
Diagnóstico precoce, camisinha seeempre e vacina são as armas para controlar o HPV. A receita foi indicada pelos pesquisadores e cientistas que participaram de um congresso internacional realizado recentemente em São Paulo, entre eles o alemão Harald Zur Hausen, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina em 2008.
Um novo exame, muito mais preciso
Os médicos são unânimes ao garantir que fazer exames periódicos - papanicolau - é indispensável. Além de o vírus poder ficar quietinho por anos, quem contrai o HPV não fica imune ao contágio, que pode se repetir toda vez que houver contato sexual com um parceiro contaminado. E, como o câncer de colo de útero tem evolução lenta, quanto mais cedo for tratado, maiores as chances de recuperação.
A boa notícia é que, desde 2008, 65% das pacientes com lesões provocadas pelo HPV na região cervical não precisam mais enfrentar tratamentos agressivos para prevenção contra o câncer de colo de útero. Já existe um jeito de identificar os tipos específicos causadores da doença. Entre agosto de 2008 e abril de 2009, o dr. Cotrim Guerreiro coordenou o estudo com um grupo de 340 mulheres em idade reprodutiva utilizando um novo exame de biologia molecular, o teste de E6/E7, designação das duas proteínas produzidas pelo vírus que podem alterar as estruturas das células do colo do útero. "Detectando a presença dessas proteínas, é possível conhecer o grau de agressividade do HPV e verificar com precisão o tratamento mais adequado", diz o professor. De acordo com ele, a nova técnica, disponível aqui desde o ano passado, é utilizada há pelo menos quatro anos em vários países europeus. Na Noruega, já se discute a possibilidade de adotar o teste como rastreador do câncer de colo de útero em substituição ao exame de papanicolau. "Os levantamentos indicaram que muitas mulheres não precisam mais se submeter a cauterizações químicas, térmicas e a laser, nem a tratamentos cirúrgicos, para extrair a área afetada. São terapias agressivas que por vezes levam a graves sequelas e desconforto sexual", fala o professor. Entre as consequências extremas desses tratamentos, o dr. Ismael Cotrim Guerreiro destaca a fibrose, a impossibilidade de engravidar e por vezes da manutenção da gestação por quem teve grande parte do colo do útero afetada ou removida.
Camisinha e vida saudável
O dr. Cotrim Guerreiro explica que, uma vez comprovado que a paciente não está infectada pelos tipos mais nocivos do vírus, o tratamento exige apenas o uso de cremes vaginais e a adoção de uma vida mais saudável e menos estressante até a remoção completa do vírus pelo organismo. Opa, quer dizer que cuidar com carinho da alimentação, dormir bem, praticar atividade física e ficar bem longe do cigarro pode mantê-la a salvo do HPV? A resposta é sim. Isso porque ele costuma vir à tona quando seu sistema imunológico está fraco. E essas atitudes servem para manter suas células de defesa sempre a pleno vapor. Além disso, lógico, fica terminantemente proibido transar sem camisinha (e isso inclui sexo oral).
Picada que protege (Vacina)
Em 2006, foi aprovada no Brasil a vacina contra o HPV. Ela é recomendada para garotas e mulheres de 9 a 26 anos que não estejam infectadas. A picada garante proteção contra os tipos de vírus responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo de útero e 90% dos casos de verrugas (condilomas) genitais. O dr. Nicolau confirma que a vacina tem melhor desempenho quando ministrada antes do início da atividade sexual, em meninas entre 11 e 13 anos de idade, mas não descarta seu uso por mulheres que já entraram em contato com o vírus. "Não existe contraindicação para quem teve ou tem infecção. Ela pode inclusive proteger contra tipos agressivos que não haviam sido contraídos", avalia. A aplicação é feita em três doses, no intervalo de dois meses e meio. Ainda não é oferecida pela rede pública de saúde e tem custo relativamente alto (em torno de 400 reais), mas quem precisou passar por tratamentos para eliminar lesões garante que vale o investimento. Assim, munida desse arsenal, você vai manter o HPV sempre bem longe da sua vida!
Texto Sarah Megginson e Tamara Foresti / Foto Sérgio de Divitiis
Revista Nova

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