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11.07.2010

Grã-Bretanha tem 'boom' de mães com mais de 50 anos

Dados oficiais revelam que houve aumento de 55% dos nascimentos nessa faixa etária em 2009 em relação ao ano anterior.

Da BBC
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Juliet Le Page teve a segunda filha com 50 anos,
após tratamento de FIV. (Foto: BBC)
A Grã-Bretanha está vivendo um boom de mulheres que têm filhos com mais de 50 anos de idade, segundo dados do Office for National Statistics (Escritório Nacional de Estatística, na sigla em inglês).
Em 2009, 107 mulheres com mais de meio século tiveram bebês na Inglaterra e País de Gales, um aumento de 55% em relação ao ano anterior.
A mudança é atribuída a um relaxamento nas regras adotadas por clínicas particulares que oferecem fertilização in vitro (FIV) no país, quase sempre com óvulos doados por mulheres mais jovens.
Apesar de não haver um limite legal para tratamentos de fertilidade na Grã-Bretanha, as clínicas particulares normalmente não aceitavam mulheres com mais de 50 anos por acreditar que as taxas de sucesso eram baixas.
Agora, muitos médicos dizem que essa regra era arbitrária e que é mais importante levar em consideração a saúde da mulher, a idade do marido e a segurança financeira do casal.
Juliet Le Page teve um casal de filhos concebidos com óvulos doados através de FIV. O primeiro, Rafe, hoje com quatro anos, nasceu quando ela tinha 46 e Julia, de quase dois anos, nasceu quando ela já passava dos 50.
'Eu só conheci meu marido quando já tinha mais de 40 anos e foi aí que percebi que queria ter filhos. Sei que hoje sou uma mãe muito melhor do que teria sido aos 20, quando certamente colocaria meus interesses à frente dos meus filhos', disse Le Page à BBC Brasil.
Anúncio em ônibus
Inspirada por sua experiência com os tratamentos, Le Page criou a Fertility Concerns, uma organização que oferece aconselhamento para pessoas preocupadas com sua fertilidade. Segundo ela, o número de mulheres acima dos 50 anos procurando seus serviços tem aumentado muito.
'Na maioria dos casos, o fato de elas não terem tido filhos antes não foi uma escolha, não foi proposital. Muitas dessas mulheres só encontraram o parceiro certo muito tarde, como eu. Outras estão no segundo casamento e querem ter filhos com o novo marido. Há também os casos de pessoas que passaram a vida cuidando de parentes mais velhos e só quando eles morreram puderam pensar em si mesmas.'
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Le Page, com os filhos, criadora de organização
para conselhos sobre fertilidade. (Foto: BBC)
Mulheres que têm filhos depois dos 50 anos de idade costumam ser criticadas por colocar seu desejo de ser mãe acima do bem-estar da criança, mas a britânica Linda Weeks disse ter recebido muito apoio quando apelou para anúncios em ônibus londrinos pedindo uma doadora de óvulos.
"Nós nunca seremos Mamãe e Papai a menos que uma mulher maravilhosa de 36 anos ou menos possa nos ajudar doando alguns de seus óvulos", dizia o anúncio. "Você é a nossa única chance de felicidade."
A tática deu certo. Em 2008, Linda, então com 55 anos, e seu marido Richard comemoraram o nascimento de Katy, após 14 anos de tentativas frustradas, graças a uma doadora anônima.
Tratamento no exterior
Muitas clínicas particulares britânicas ofecerem tratamento de fertilização in vitro em parceria com instituições no exterior, principalmente para mulheres mais velhas.
Segundo Le Page, isso acontece porque há um número limitado de doadores de óvulos e sêmen na Grã-Bretanha, o que pode levar a uma espera de até dois anos para a implantação do embrião, tempo precioso demais para mulheres que estão desesperadas para engravidar.
'Fiz meu primeiro tratamento na Escócia, mas na hora de ter o segundo filho decidi ir para Barcelona, na Espanha, onde eles são referência nesse tipo de procedimento e as coisas andam muito mais rápido', disse a consultora de fertilidade.
Na Grã-Bretanha, o sistema público de saúde, o NHS, oferece o FIV de graça, mas as regras variam enormemente dependendo de onde a paciente mora. A lista de espera, por exemplo, é de 4 meses e meio, em média, no Leste do país, mas pode chegar a até dois anos na região central.
Em geral, o NHS oferece três ciclos de fertilização in vitro para mulheres até os 39 anos de idade. Nos tratamentos usando óvulos doados, o limite de idade é de 45 anos, na maioria dos casos.
Para as mulheres mais velhas, a única opção pode ser recorrer ao tratamento privado.
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Le Page fez o primeiro tratamento na Escócia e seguiu à Barcelona para ter o segundo filho. 
(Foto: BBC)
FIV no Brasil
No Brasil, parece haver uma tendência clara no aumento da procura de tratamento de fertilidade por mulheres acima dos 38 anos, segundo médicos do setor de reprodução assistida.
As clínicas ouvidas pela BBC Brasil disseram que apesar de não haver um limite formal de idade para a realização da fertilização in vitro no país, a maioria dos estabelecimentos ainda usa os 50 anos como idade de corte.
'O critério que adotamos como regra geral é que a mulher que vai se submeter ao tratamento precisa ter saúde e condições de criar o filho até a idade de ele sair da universidade, que seria algo entre os 25 e os 30 anos', disse a dra. Maria Cecília Erthal, diretora do Centro de Fertilidade da Rede D'Or, no Rio de Janeiro.
'Cerca de 40% de nossas pacientes estão entre os 40 e os 48 anos de idade. São mulheres que priorizaram a carreira, a estabilidade financeira e a escolha do parceiro certo e deixaram para ter filhos mais tarde.'
Para as pacientes mais velhas, a taxa de sucesso na realização da FIV com os próprios óvulos é muito baixa, cerca de 5%, enquanto com óvulos doados este índice pode chegar a quase 60%, dependendo da idade da doadora.
Tanto no Brasil como na Europa, muitas vezes é adotada a 'doação compartilhada', em que uma mulher mais jovem que está passando por um tratamento de fertilidade doa óvulos anonimamente para uma paciente mais velha em troca de um desconto.
'Seguindo os passos da Europa'
O diretor da Clínica Mater, em São Paulo, dr. Cristiano Eduardo Busso, acredita que o número de mulheres acima dos 50 anos procurando por tratamento de fertilidade ainda não seja tão grande no Brasil porque a população do país não é tão envelhecida como a da Europa.
'Daqui a alguns anos, vamos ser colocados no mesmo dilema ético que a Grã-Bretanha está passando agora. Há um conflito de interesses que surge quando aumenta a procura de mulheres mais velhas por tratamento, porque isso representa um filão econômico', disse o dr. Busso.
'Acredito que deveria haver uma orientação geral em relação à idade máxima para mulheres interessadas em fazer o tratamento para que essa decisão tão importante não seja tomada de modo arbitrário por cada estabelecimento.'
Muitos médicos que defendem o tratamento para pacientes mais velhas dizem que hoje as mulheres de 50 anos estão mais em forma que as mulheres da mesma idade de 10 ou 20 anos atrás e, por isso, estariam muito mais preparadas para levar uma gravidez até o fim de forma segura. Mas nem todos concordam.
'As mulheres mais velhas de hoje em dia não são mais saudáveis nem menos saudáveis do que elas eram 10 anos atrás. A única diferença é que hoje contamos com uma tecnologia mais avançada para realizar os procedimentos e detectar possíveis riscos para a saúde da mãe', disse o diretor da Clínica Mater.

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