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11.02.2010

A grande parceria

Como Lula escolheu, preparou e pavimentou o caminho para que Dilma se tornasse a sucessora de seu legado na Presidência

Sérgio Pardellas
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"Dilminha, prepare-se que terei um grande desafio para você. Talvez, o maior da sua vida”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, em conversa em seu gabinete, no Palácio do Planalto, em fevereiro de 2008, numa ensolarada tarde de Brasília. Pela primeira vez, Lula deixava escapar sua intenção de transformar Dilma na candidata à sua sucessão. No mês seguinte, em evento na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, Lula batizou a ministra como “a mãe do PAC”. “Ali, na verdade, eu estava começando a prepará-la. Fui colocando Dilma em várias reuniões das quais, teoricamente, ela não precisaria participar. Passei a levá-la para viajar comigo para que visse o mundo com uma concepção mais política. Percebi, então, que estava diante de um animal político não trabalhado”, contou Lula em recente entrevista aos editores de ISTOÉ. Traçava-se ali o destino político daquela que seria a nova presidente do Brasil.
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TREINO
A partir de 2008 Lula começou a levar Dilma para reuniões estratégicas,
viagens internacionais e encontros com chefes de Estado: tinha início
a preparação para torná-la a candidata à sua sucessão
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A relação de amizade e confiança entre Dilma e Lula, no entanto, começou a ser pavimentada em novembro de 2002, quando ocorreu o primeiro encontro entre os dois. O então recém-eleito presidente convocou Dilma, secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, para uma reunião em São Paulo. Antes da reunião, Lula ouvira de Antônio Palocci, um dos coordenadores da campanha do PT à Presidência, e de Olívio Dutra, governador do Estado gaúcho, rasgados elogios ao trabalho de Dilma. “Ela sabe tudo da área e ainda transita bem entre os empresários do setor”, disse Palocci em conversa prévia com Lula. Animado com tantas credenciais, Lula saiu convencido de que convidaria Dilma para participar da equipe do governo de transição. Mas, no fim daquela que seria a primeira de centenas de reuniões que teria com Dilma, o presidente eleito teve a intuição de que deveria reservar algo mais grandioso para a secretária do governo gaúcho. “Dilma será minha ministra. Estou impressionado com sua discrição e seu modo afirmativo de falar, com o lap top na mão, munida de números, dados e quadros”, contou o presidente a Olívio, o primeiro a saber que Dilma ocuparia um cargo na Esplanada dos Ministérios, desbancando nomes de peso como Ildo Sauer e Pinguelli Rosa, referências nacionais no setor. O segundo a receber a notícia foi José Dirceu, então futuro ministro da Casa Civil, que já havia combinado entregar a pasta ao PMDB. “Desfaça tudo porque eu já tenho a ministra”, informou Lula.
Em 2003, já no comando do Ministério de Minas e Energia, Dilma despachava com Lula no Palácio do Planalto apenas três ou quatro vezes por mês. Mas o suficiente para o presidente confirmar o acerto de sua escolha. “A determinação e coragem que ela tinha para lidar com situações difíceis e sua capacidade técnica e profissional conquistaram de vez o presidente”, relata o chefe de Gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho. A competência de Dilma na construção do marco regulatório do modelo de energia elétrica do Brasil foi dada como exemplo de eficiência por Lula em encontro com ministros no salão oval da Presidência em abril de 2005. “Vocês precisam trabalhar como a Dilma. Ela faz as coisas andarem”, disse o presidente diante dos integrantes do primeiro escalão. Dois anos depois, quando José Dirceu deixou a Casa Civil, na esteira do escândalo do Mensalão, Lula mostrou que realmente considerava Dilma um dos principais quadros do seu governo. Ao decidir dar uma feição mais técnica e gerencial para a Casa Civil, convidou-a para a nova empreitada em junho de 2005 daquele ano. “Tomei um susto. Não estava esperando. Será que vou dar conta, Gilbertinho?”, perguntou Dilma ao chefe de Gabinete de Lula minutos depois de ser oficializada no cargo. Apesar da surpresa com o convite, Dilma achava que estava preparada para a função. Lula, segundo auxiliares, tinha certeza.
Com Dilma na Casa Civil, a convivência entre os dois passou a ser muito maior. A admiração mútua aumentou exponencialmente. De uma reunião por semana, Lula e a ministra mais importante de seu governo passaram a se encontrar pelo menos uma vez por dia. O tratamento tornou-se mais informal. Dilma, que até então chamava Lula de “senhor presidente”, aboliu o tratamento de senhor. Para Lula, a dona Dilma virou “Dilminha”. A partir daí, Dilminha ganhou a posição de titular nas partidas de mexe-mexe – um jogo de baralho – no Palácio da Alvorada, com dona Marisa Letícia e o marido. Até então, só Gilberto, Franklin Martins (ministro da Comunicação Social) e Clara Ant, assessora especial da Presidência, privavam da intimidade de Lula. Ninguém reunido ali naquela mesa de jogos, no entanto, poderia prever o que aguardava Dilma anos depois. Nem o próprio Lula, que pensava em outros nomes para sua sucessão, entre eles, Antônio Palocci.
Por obra do destino, que deixou Palocci no meio do caminho, a escolha premiou a decantada competência de Dilma Rousseff – “o animal político a ser lapidado”. Na campanha presidencial, Lula exerceu dois papéis. “Ele foi protetor quando eu soube da doença (câncer linfático) e professor na hora de passar para mim toda sua experiência em eleições”, reconheceu Dilma em conversa recente com o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Em julho, quando resolveu entrar de cabeça na disputa eleitoral, Lula recebia Dilma pelo menos uma vez por semana no Alvorada para discutir as estratégias eleitorais. No auge da campanha, Lula ensinou até a maneira de Dilma se portar durante os comícios. “Você precisa andar mais sobre o palanque. O povo não gosta de político que fica estático”, orientou. “Dilma aprendeu a ser candidata. Pegou gosto pela campanha e pelo contato direto e quase diário com o povo”, contou Dutra. Ao fim e ao cabo, o triunfo nas urnas consagrou uma das parcerias mais bem-sucedidas da política brasileira.
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