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11.23.2010

Vacinação contra o papilomavírus

No Brasil, a prevalência e a morte por câncer de colo uterino altas

A infecção genital por papilomavírus (HPV) é adquirida por meio do contato sexual. É a mais comum das infecções sexualmente transmissíveis: mais de 80% dos homens e mulheres serão infectados ao longo da vida. Cerca de 30% das mulheres adquirem o vírus no ano seguinte à iniciação sexual.
A infecção é geralmente assintomática, mas verrugas genitais benignas (condilomas) e o câncer de colo de útero se desenvolvem em um subgrupo de mulheres.
O papanicolau, exame que analisa as características das células que descamam do colo, reduziu muito a incidência desse tipo de câncer, porque permite identificar e tratar as lesões pré-malignas.
Em países como o Brasil, em que os programas de prevenção não atingem parcela significante da população de baixa renda, a prevalência e as mortes por câncer de colo uterino são vergonhosamente elevadas.
O HPV tem predileção pelas células do epitélio dos órgãos sexuais, nas quais penetra por meio das microfissuras. Uma só partícula viral forma por replicação de 50 a 100 cópias dentro de cada célula. Se não forem contidas pela resposta imunológica, essas novas partículas infectarão tecidos mais profundos.
Cerca de 30 a 40 tipos (genótipos) diferentes de HPV infectam o trato genital. Eles são divididos em dois grupos: de baixo risco, associados aos condilomas benignos, e de alto risco, responsáveis pelo câncer anogenital.
Apenas dois genótipos (HPV 6 e HPV 8) são causadores de mais de 90% dos condilomas genitais e dos papilomas que se instalam nas mucosas do trato respiratório.
Infecções pelos HPVs de alto risco estão por trás de todos os cânceres de colo uterino, 90% daqueles da região anal, 50% daqueles da vulva e do pênis e 12% dos carcinomas que se instalam na orofaringe. Os HPVs 16 e 18 estão envolvidos em 70% dos tumores malignos do colo uterino. Se juntarmos a eles as infecções pelos tipos 31, 33, 35, 45, 52 e 58, teremos os causadores de 95% dos casos.
Do momento da transmissão do vírus à transformação maligna a progressão é caracterizada por uma sequência de alterações celulares, conhecidas como neoplasias intraepiteliais cervicais (NIC).
Elas costumam ser divididas em três graus: NIC 1, quando as células alteradas se limitam ao terço mais superficial da camada de revestimento do colo; NIC 2, quando invadem dois terços do epitélio, e NIC 3, quando penetram em toda a espessura epitelial.
Foram desenvolvidas duas vacinas para a prevenção primária da infecção pelo HPV. Ambas são constituídas de proteínas semelhantes às do vírus, que induzem a produção de anticorpos neutralizantes e de células imunocompetentes sem nenhum risco de provocar infecção, porque não contêm o DNA do HPV.
Nos testes realizados, ambas induzem níveis protetores de imunidade em 97,5% das vacinadas e apresentam mais de 90% de eficácia na prevenção das lesões NIC 2 e NIC 3 causadas pelo HPV 16 e HPV 18.
Como a vacina não protege mulheres previamente infectadas pelos tipos 16 e 18, a rotina dos exames de papanicolau precisa ser mantida depois da vacinação.
A única vacina disponível no Brasil é a quadrivalente manufaturada pela Merck. Está indicada na faixa etária dos 9 aos 26 anos, para prevenir as seguintes patologias: câncer de colo do útero, vagina e vulva causados pelos HPVs 16 e 18; condilomas genitais desenvolvidos pelos HPVs 6 e 11; e as lesões  (NIC graus 1, 2 e 3) geradas pelos tipos 6, 11, 16 e 18.
O esquema de vacinação deve conter três doses. A segunda é administrada dois meses mais tarde e a terceira, seis meses contados a partir da primeira.
Como não contém partículas virais, a vacina pode e deve ser administrada em mulheres imunodeprimidas, como é o caso das HIV-positivas. Embora a vacinação acidental de grávidas não tenha provocado malformações, é recomendado evitá-la.
A grande barreira para a vacinação universal de meninas e adolescentes é o alto custo.

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