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12.28.2010

ANO-VELHO, ANO-NOVO...



tim-tim!
 
- tais luso de carvalho

Estive pensando o porquê da descrença - minha e de muitas pessoas - pela festa de Ano-Novo. Não é coisa nova. Não é de agora.

Ainda adolescente, notava certas coisas, já sentia algo de diferente nessa festa. Porém não sabia bem o que era. Via que a maioria das pessoas entrava no oba-oba dos abraços, das bebidas, da festa, dos fogos. Todos desejando um ano mais feliz, muita saúde, muito dinheiro, e votos para todas as realizações possíveis e impossíveis.

Descobri, quando criança - ao arrombar o armário que ficava na nossa garagem -, a fantasia do Papai-Noel. Foi uma desilusão ao constatar que Papai-Noel não existia. Hoje me pergunto, meio que intrigada, será que existe esse  Feliz Ano-Novo  ou será uma fantasia escondida que acabei descobrindo, também?

Infelizmente penso assim; toda a euforia, todos os bons sentimentos, toda a alegria do mundo dura um dia, ou dois. Depois da festa, as atitudes, os sentimentos mais lindos ficam  guardados,  um tanto esquecidos: o que for lindo  sempre será; o que não for, continuará não sendo.

A solidariedade, o afeto, a gratidão, a má fé, a raiva, o egoismo continuarão nas mesmas pessoas; nos mesmos lugares. Para sentimento não se conta tempo, não há troca de horário. Por isso não gosto de comemorações nessa data. Passo a achar, então, que o Ano-Novo faz parte, apenas, de um calendário que marca dias, meses e anos.

Desejar saúde? Isso eu desejo todos os dias, e pra todos. Não preciso deixar para o de janeiro. Rever atitudes? Não preciso esperar o  novo ano. Ser solidária? Não preciso esperar.

Quantos velhinhos são abandonados por seus familiares para não atrapalharem esta noite tão festiva, regada a bebidas, fogos e sorrisos? Eu os conheço; muitos ficam sozinhos, no seu abandono e na sua amargura.

E que viva o Ano-Novo regado a Champanhe - tim-tim! Que venham todos os fulanos brindarem a felicidade e trocar juras de amizade e solidariedade. Tá bom...

A festa é  linda. Os fogos, saudando a lua na beira da praia, um show! Sim, saudando a lua;  ela  nos leva à fantasia, aos sonhos, aos amores. E fica silenciosa, deixando para os  fogos, o brilho da noite. E é nesse momento que sentimos uma sensação de alegria, como se fosse permanente. Como se o mundo fosse uma festa. Acabam-se os fogos e abraços e a vida volta a ser o que sempre foi.

Naquele momento, é a reunião de tudo que é bom: preconceitos... Fora!  Tudo é alegria, e todos somos vinhos da mesma pipa. Tim-tim!

Mas, no dia 2 de janeiro  a fantasia será dobrada e guardada numa linda caixa, talvez no armário de uma garagem...

Sei, no entanto, que em todas as datas de 31 de Dezembro tudo se repetirá: a fantasia entrará em cena: os mesmos desejos, as mesmas juras... E a velha e surrada fantasia será usada sem constrangimentos.

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