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12.02.2010

Carne vermelha: comer ou não comer?
Qual será o peso da carne vermelha no nosso organismo? Há muito se discute sobre os benefícios e malefícios deste alimento tão tradicional na dieta dos brasileiros. Apesar de ser a melhor fonte de ferro, ainda existem muitas dúvidas a respeito de seus efeitos nocivos ao corpo.

Alguns animais recebem antibióticos e hormônios que são potencialmente nocivos aos seres humanos. Além disso, as carnes vermelhas normalmente são ricas em gorduras saturadas, que fazem mal ao organismo e engordam. Ao tirar a gordura externa das carnes, as pessoas acreditam que estão protegidas dos danos, no entanto, a nutricionista Vânia Barberan, membra da Associação de Nutrição do Estado do Rio de Janeiro, explica que isso não basta:

- A gordura fica no interstício das células, logo, faz parte da célula do tecido também. Quanto mais fácil de cozinhar a carne, mais gordura apresenta. A única exceção é o filé mignon, que realmente é a parte mais magra. Eu sempre aconselho o uso do músculo, que é uma carne menos nobre e que precisa ser cozida para ficar macia. Possui no seu entremeio tecido cartilaginoso, rico em colágeno e por isso é recomendado nas dietas de crianças.

De acordo com estudos, carne em excesso pode ser sinônimo de gordura em excesso e aumento do tecido gorduroso. Uma pesquisa realizada na Europa mostrou, embora sem explicar, que a carne vermelha é inimiga da balança. Médicos do Imperial College London monitoraram por cinco anos a alimentação de 400 mil pessoas. No final, os resultados apontaram que os carnívoros estavam, em média, dois quilos mais pesados que os outros. Mesmo ingerindo a mesma quantidade de calorias que os outros, eles engordavam com mais facilidade. Contudo, o nutrólogo Daniel Magnoni garante que as pessoas não precisam se preocupar. “Não existe esta relação, as proteínas de qualquer origem fornecem quatro calorias por grama. Colorias somadas ao sedentarismo é que fazem engordar”, diz.

O fato é que apesar de o ser humano ingerir carne vermelha há milhares de anos, nunca se consumiu tanto como hoje em dia. Há 50 anos, só se tinha carne à mesa quando o boi era abatido ou chegava alguma caça, pois no mercado o valor era muito alto. O normal era que fosse comida de domingo, assim como o frango. Para Vânia Barberan, o aumento da produção e a queda do valor do alimento ocasionaram um consumo muito maior do que seria o necessário:

- As recomendações de ingestão diária é de 10 a 15% do valor energético total do dia, o que seria de 0,8 a 1g/kg do peso do indivíduo. Sendo assim, alguém com 70Kg deveria consumir de 56 a 70 gramas de proteínas totais na dieta. Devemos lembrar que os vegetais também fornecem uma boa quantidade dessas substâncias. Portanto, será que não estamos consumindo proteína demais?

Recentemente, um estudo europeu publicado na revista do Instituto Internacional do Câncer reforça a tese de que o consumo de carne vermelha pode inclusive provocar câncer no intestino. “Os trabalhos internacionais relacionando alimentação e câncer, relatam que a ingestão de gordura saturada em excesso, a baixa ingestão de vegetais e o consumo elevado de conservantes podem atuar no aumento do câncer intestinal. O consumo isolado de carne, sem avaliar a quantidade, não possui essa relação.”, esclarece Dr. Daniel Magnoni.

A nutricionista comenta que hoje já se sabe que dietas hiperproteicas por tempo prolongado estão relacionadas ao desenvolvimento de doenças renais, em função das derivações bioquímicas que ocorrem na degradação dos aminoácidos. Entretanto, no que diz respeito ao câncer, ela afirma que até onde se sabe, a única relação é que pessoas que desenvolveram a doença também faziam alto consumo de carne vermelha:

- Os mecanismos para a formação do câncer são sempre multifatoriais. Por isso, culpar um único alimento seria injusto. No entanto, o perfil de quem consome muita carne é também de fazer uso de álcool e de não consumir legumes e verduras, muito menos frutas. É exatamente a baixa ingestão desses alimentos que aumentam a possibilidade do desenvolvimento do problema.

Já é comprovado que os riscos de desenvolver câncer no intestino são menores entre as pessoas que comem muitas fibras por meio de alimentos como verduras, frutas e cereais. A ingestão de peixe também é capaz de proteger as pessoas do problema. Vânia Barberan chama atenção justamente para a necessidade de uma dieta balanceada, sem exageros:

- Nosso organismo é uma máquina que sempre procura se manter em equilíbrio, o consumo de carne vermelha acidifica o sangue e em um mecanismo regulatório, o corpo compensa liberando mais cálcio e outros elementos nobres na corrente sanguínea para torná-lo menos ácido. Com isso, estamos sacrificando outros nutrientes do nosso corpo para manter o equilíbrio homeostático, enquanto esses elementos poderiam ser usados para regulações hormonais, digestórias ou de destoxificação.

Segundo a especialista, a proteína da carne pode ser plenamente substituída pelas contidas em um prato de lentilha com arroz por exemplo, ou mesmo no nosso tradicional feijão com arroz. A combinação de um grão com um cereal fornece todos os aminoácidos necessários para uma boa alimentação.

- Temos muitas culturas vegetarianas que são saudáveis. A questão é sempre a mesma, retirar a carne e se tornar vegetariano é ter uma atenção redobrada com a comida que se consome. Hoje, o que mais vemos são pessoas que não comem carne, mas se enchem de carboidratos na forma de quiches, suflês, pães e macarrão. Isso também não é saudável.Além disso, quem para de consumir carne deve ter atenção especial para o controle da vitamina B12, pois ela está presente somente em alimentos de origem animal. Lembro sempre que a Vitamina B12 não está presente em fontes vegetais, por isso, vale sempre mais o equilíbrio. - diz.

As proteínas são essenciais à vida e a falta delas faz com que o nosso corpo tenha envelhecimento precoce e produção reduzida de anticorpos. Acrescentar legumes e verduras ao prato e distribuir o consumo de carne em algumas poucas vezes ao longo da semana pode ser o ideal. Para quem é carnívoro, uma boa alternativa é optar pelo consumo de carne de animais de criação livre, que não são criados em currais, e sim em pastos. Além de se certificar de que sejam carnes orgânicas, que vêm de animais que não recebem hormônios, antibióticos e agentes químicos perigosos.

- Acredito que todos devem comer aquilo que gostem e sentem prazer, pois o alimento está presente em todos os momentos da nossa vida e deve ser entendido como um hábito cultural, de tradição. Logo, o que podemos fazer hoje é ajustar o nosso conhecimento científico e adaptar nossos hábitos ao que é de melhor para nós e para as gerações futuras. Não sei se cabe deixar de comer carne completamente, mas entender que devemos variar o máximo a nossa refeição e que um prato colorido sempre nos oferece uma quantidade maior de nutrientes que uma refeição monótona. – conclui a especialista.

Por Thais Padua

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