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12.13.2010

Insônia


A insônia me pega de vez em quando. Dos monstros noturnos – pesadelos, angústia, solidão, medo do escuro, barulhos estranhos lá fora, latidos de cães, nostalgia, rajadas de metralhadora, rajadas de vento, telefone que toca de madrugada, filho que não chega, filho que não atende ao celular, saudades dos pais, consciência pesada, trovões distantes, ruído de uma batida de carro, insegurança quanto ao futuro -, a insônia é o mais terrível.
Não se confunda, por favor, insônia com dormir pouco. Eu durmo pouco, e normalmente já me sinto revigorado e bem disposto com 5 horas de sono. Insônia é outra coisa.  Quem já experimentou – e quem nunca experimentou uma bela insônia? – sabe do que falo. A aflição dos minutos que vão se esvaindo, como areia na ampulheta, e a vigília, atenta – cruel como uma torturadora de Guantânamo, precisa como uma especialista em tortura chinesa à espreita no subsolo da praça da Paz Celestial -, a impedir a aproximação do sono.
O desespero da certeza de um dia negro que se aproxima, a antevisão das horas difíceis e sonolentas que terão de ser enfrentadas no dia seguinte (quase sempre o dia seguinte de uma insônia é um dia importante, em que há afazeres extraordinários à nossa espera, em que situações urgentes necessitarão de nosso potencial máximo de equilíbrio, racionalidade e lucidez).
É nessa noite então, na noite que antecede um dia especial, em que se acorda mais cedo que de costume – uma viagem, uma prova, uma estreia, uma apresentação, uma entrevista, uma defesa de tese, um julgamento -, é nessa noite que a ardilosa insônia ataca. A insônia, como os animais traiçoeiros, fica na tocaia e gosta de atacar de surpresa, quando você menos espera.
Ontem, por exemplo, eu tinha chegado de manhã ao Rio, voltando de alguns dias em São Paulo fazendo shows. Tinha dormido pouco, e agitei bastante durante o dia aqui na cidade da beleza e do caos. Fui à praia com a família, andamos de bike, tomamos sol. Em casa, bebemos um vinhozinho branco no jantar, acompanhando a comida árabe encomendada de um restaurante ótimo no Leblon. Depois, assitimos a um DVD (Fogo Contra Fogo, com De Niro e Al Pacino). Bocejei durante o filme – que é eletrizante e com muita ação, mas eu estava cansado, já disse – e cochilei um pouco nas cenas finais.
Beleza, pensei, vou dormir como um anjo. Deitei, dei uma lidinha rápida no Vício Inerente, meu livro de cabeceira do momento, senti as pálpebras pesadas, fechei o livro, apaguei a luz e…a insônia saltou de dentro da escuridão e me mordeu a jugular. Ai, ai. Parafraseando Oscar Wilde, que disse que a melhor – ou única – forma de vencer uma tentação é ceder a ela, a única maneira de enfrentar a insônia, é entregar-se a ela. Acendo a luz, volto ao livro, preparo o tênis e o calção de corrida para a manhã seguinte. Ligo o computador, escrevo esta crônica. Sei que não posso vencer a insônia, jamais.
DVD…
Insônia, filme dirigido por Cristopher Nolan, em que Al Pacino, com a classe habitual, interpreta um policial acometido de uma insônia terrível.
Por Tony Bellotto

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