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2.02.2011

"O dom costuma ser um tesouro composto com modéstia"

Marina Gold
É corriqueiro, sempre me perguntam: "Marina, vidência é um dom?" Capacidade esotérica é um dom?". Sim, claro que sim. Mas o que isso responde ou significa no fundo? Pouco, bem pouco. Por quê? Porque, a rigor, as ações humanas, todas, sem exceção, são encantamentos, extrapolações da complexidade mística que caracteriza nossa posição cósmica.

Entenda que há mais informação numa plantinha que cresce agarrada à parede do que num planeta desabitado qualquer. Ou seja, seres vivos são muitíssimo elaborados, processadores finos de significados. Fazendo as prodigiosas coisas de que são capazes - nascendo, desenvolvendo, respirando, crescendo, multiplicando, pensando, concebendo, avaliando, sonhando, e por aí vai ¿ as quantidades de informação processadas se mostram escandalosamente grandes.
Seguindo essa linha de raciocínio, "dom" é um dos muitos nomes que empregamos para tentar expressar esse arrebatamento magistral que nasce como expressão do fato de sermos, homens, fazedores de encantos e maravilhas - nas coisas mais incríveis ou mais corriqueiras.
Um harmonioso ikebana, preparado com esmero ou os pratos do jantar bem lavados; uma sonata ao violino ou contar de coração uma história de ninar, para tudo isso - na verdade para qualquer coisa que envolva dinamismo e elaboração - é preciso aguçar o dom.
Dom tem o professor e o médico, o lixeiro e o cozinheiro, o motorista de ônibus e o terapeuta. Sem dom as coisas se mostram incompletas, frágeis, flácidas, sem brilho. O dom confere às atividades uma força que as aproxima do divino, do sublime, da perfeição. Há quem tenha dom para cantar, lavar o carro, jogar futebol ou para pregar botões. Sempre, em todos os casos, fazendo algo com dom, o resultado final estará bem perto do ideal e merecerá destaque.
É também curioso notar que o dom costuma ser um tesouro composto com modéstia. Uma pérola feita lentamente, com sacrifícios que se soma e, camada sobre camada, sedimenta-se lindamente. As pessoas que realmente possuem um dom são, elogiavelmente, modestas em relação a ele. Nada de estardalhaços, nada de "eu faço melhor". Dom requer essa maturidade de confrontar com nossas limitações, aprender que por mais alto que se tenha chegado, ainda resta muita montanha por escalar. Está-se sempre longe, bem longe do objetivo. É suficiente, mas há melhoras e aprimoramentos a serem conquistados.
Enquanto soubermos valorizar o dom, próprio e alheio, nos manteremos humanizados na nossa essência. Seguiremos sendo gente de misericórdia, generosidade, perseverança e amor. Forças que, se fazendo presentes, são suficientes para sustentarem o mundo a salvo.


Especial para Terra

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