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2.13.2011

PAIS MAUS, BONS FILHOS....

O texto comovente e realista, a seguir, foi publicado recentemente por ocasião da morte estúpida de Tarcíla Gusmão e Maria Eduarda Dourado, ambas com 16 anos, em Pernambuco. Depois de 13 dias desaparecidas, as mães revelaram desconhecer os proprietários da casa, onde as filhas tinham ido curtir o fim de semana. O crime permanece sem solução. Vale a pena refletir até onde pode ir a liberdade de um adolescente.
“Um dia, quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de dizer-lhes:
- Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde iam, com quem iam e a que horas regressariam.
- Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram do supermercado ou revistas do jornaleiro, e os fazer dizer ao dono: “Nós pegamos isto ontem e queríamos pagar”.
- Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.
- Eu os amei o suficiente para os deixar ver além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos.
- Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade de suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.
- Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer-lhes “não”, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso (e em alguns momentos até odiaram).
Essas eram as minhas batalhas mais difíceis, mas estou contente, venci… porque vocês venceram também!
E em qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, quando eles lhes perguntarem se seus pais eram maus, meus filhos lhes dirão: “Sim, eles eram maus. Os mais maus do mundo…”
- As outras crianças comiam doces no café e nós tínhamos que comer cereais, ovos e torradas.
- As outras crianças bebiam refrigerantes e comiam batatas fritas e sorvete no almoço e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas.
- E eles nos obrigavam a jantar à mesa, bem diferente dos outros pais que deixavam seus filhos comerem vendo televisão.
- Eles insistiam em saber onde estávamos a toda hora (tocavam nosso celular de madrugada e fuçavam nos nossos e-mails). Era quase uma prisão. (Eu, Cirilo Veloso Moraes, discordo desta frase. Não entendo que excesso de vigilância e invasão de privacidade seja coerente).
- Eles tinham que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. Insistiam que deveríamos dizer com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos.
- Nós tínhamos vergonha de admitir, mas eles “violavam as leis do trabalho infantil”. Nós tínhamos que tirar a louça da mesa, arrumar nossas bagunças, esvaziar o lixo e fazer todo esse tipo de trabalho que achávamos cruéis.
- Eu acho que eles nem dormiam à noite, pensando em coisas para nos mandar fazer.
- Eles sempre insistiam para que lhes disséssemos sempre e apenas a verdade. E quando éramos adolescentes, eles conseguiam até ler os nossos pensamentos.
- A nossa vida era mesmo chata. Eles não deixavam os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos, tinham que subir, bater à porta, para eles os conhecerem.
- Enquanto todos podiam voltar tarde da noite, com 12 anos, tivemos que esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aqueles chatos levantavam para saber se a festa foi boa (só para ver como estávamos ao voltar). Por causa deles, nós perdemos imensas experiências na adolescência:
- Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. Foi tudo por causa deles.
E agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o nosso melhor para sermos “PAIS MAUS”, como meus pais foram.
Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: não existem suficientes “PAIS MAUS”.
Colaboração Luci Siqueira

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