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2.01.2011

TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um síndrome neurobiológico. Os sintomas principais são a atividade motora excessiva e o déficit de atenção(no entanto existe também o Distúrbio do déficit de atenção sem hiperatividade). O transtorno nasce com o indivídu] e já aparece na primeira infância, quase sempre acompanhando o indivíduo por toda a sua vida.

Características

O transtorno se caracteriza por sinais claros e repetitivos de desatenção, inquietude e impulsividade, mesmo quando o paciente tenta não mostrá-lo. Existem vários graus de manifestação do TDAH, que recebe às vezes o nome DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção) ou SDA (Síndrome do Déficit de Atenção). Em inglês, também é chamado de ADD, as iniciais de Attention Deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD.)
Na década de 1980, a partir de novas investigações, passou-se a ressaltar aspectos cognitivos da definição de síndrome, principalmente o déficit de atenção e a impulsividade ou falta de controle, considerando-se, além disso, que a atividade motora excessiva é resultado do alcance reduzido da atenção da criança e da mudança contínua de objetivos e metas a que é submetida. É um transtorno reconhecido pela OMS (Organização Mudial da Saúde), tendo inclusive em muitos países, lei de proteção, assistência e ajuda tanto aos que têm este transtorno ou distúrbios quanto aos seus familiares. Há muita controvérsia sobre o assunto. Há especialistas que defendem o uso de medicamentos e outros que, por tratar-se de um Transtorno Social, o indivíduo deve aprender a lidar com ele sem a utilização de medicamentos.
Segundo Rohde e Benczick o TDAH é um problema de saúde mental que tem como características básicas a desatenção, a agitação (hiperatividade) e a impulsividade, podendo levar a dificuldades emocionais, de relacionamento, bem como a baixo desempenho escolar; podendo ser acompanhado de outros problemas de saúde mental. Os autores Rohde e Benczich, caracterizam o TDAH em dois grupos de sintomas. Embora a criança hiperativa tenha muitas vezes uma inteligência normal ou acima da média, o estado é caracterizado por problemas de aprendizado e comportamento. Os professores e pais da criança hiperativa devem saber lidar com a falta de atenção, impulsividade, instabilidade emocional e hiperativa incontrolável da criança.
A criança com Déficit de Atenção muitas vezes se sente isolada e segregada dos colegas, mas não entende por que é tão diferente. Fica perturbada com suas próprias incapacidades. Sem conseguir concluir as tarefas normais de uma criança na escola, no playground ou em casa, a criança hiperativa pode sofrer de estresse, tristeza e baixa auto-estima.

A imagem da esquerda ilustra áreas de atividade cerebral de uma pessoa sem TDAH e a imagem da direita de uma pessoa com TDAH. Há certa controvérsia sobre o estudo do Dr. Alan Zametkin que produziu estas imagens, pois as crianças que fizeram parte do estudo tinham maioritariamente disfunções severas.

 Diferenciais

  • Têm muitos talentos criativos, que geralmente não aparecem até que o TDAH seja tratado
  • Demonstram ter pensamento original, "fora da caixa
  • Tendem a adotar um jeito diferente de encarar a própria vida. Costumam ser imprevisíveis na maneira como abordam diferentes assuntos
  • Persistência e resiliência são suas características marcantes - mas, cuidado, às vezes podem parecer cabeças-duras
  • São geralmente muito afetivos e de comportamento generoso
  • São altamente intuitivos
  • Difícil aprendizado mas fora da escola demonstram ter uma inteligência acima da média para muitas coisas  
  • Problemas
  • Grande dificuldade para transformar suas grandes idéias em ação verdadeira
  • Problemas para se fazer entender ou explicar seus pontos de vista
  • Falta crônica de iniciativa]
  • Humor volúvel, da raiva para a tristeza rapidamente
  • Pouca ou nenhuma tolerância à frustração
  • Problemas com organização e gerenciamento do tempo
  • Necessidade incessante de adrenalina. Inconscientemente, podem provocar conflitos apenas para satisfazer essa necessidade de estímulo
  • Tendência ao isolamento e à solidão
  • Raramente conseguem aprender com os próprios erros

Sintomas relacionados à desatenção

  • Não prestar atenção a detalhes;
  • ter dificuldade para concentrar-se;
  • não prestar atenção ao que lhe é dito;
  • ter dificuldade em seguir regras e instruções;
  • desvia a atenção com outras atividades;
  • não terminar o que começa;
  • ser desorganizado;
  • evitar atividades que exijam um esforço mental continuado;
  • perder coisas importantes;
  • distrair-se facilmente com coisas alheias ao que está fazendo;
  • esquecer compromissos e tarefas;
  • problemas financeiros;
  • tarefas complexas se tornam entediantes e ficam esquecidas;
  • dificuldade em fazer planejamento de curto ou de longo prazo.

Os sintomas relacionados à hiperatividade/impulsividade

  • ficar remexendo as mãos e/ou os pés quando sentado;
  • não permanecer sentado por muito tempo;
  • pular, correr excessivamente em situações inadequadas;
  • sensação interna de inquietude;
  • ser barulhento em atividades lúdicas;
  • ser muito agitado;
  • falar em demasia e sem pensar no que vai dizer;
  • responder às perguntas antes de concluídas;
  • ter dificuldade de esperar sua vez;
  • intrometer-se em conversas ou jogos dos outros;
Para se diagnosticar um caso de TDAH é necessário que o indivíduo em questão apresente pelo menos seis dos sintomas de desatenção e/ou seis dos sintomas de hiperatividade; além disso os sintomas devem manifestar-se em pelo menos dois ambientes diferentes e por um período superior a seis meses. Pessoas com TDAH tem problemas para fixar sua atenção em coisas por mais tempo do que outras, interessantemente, crianças com TDAH não tem problemas para filtrar informações. Elas parecem prestar atenção aos mesmos temas que as crianças que não apresentam o TDAH prestariam. Crianças com TDAH se sentem chateadas ou perdem o interesse por seu trabalho mais rapidamente que outras crianças, parecem atraídas pelos aspectos mais recompensadores, divertidos e reforçativos em qualquer situação, essas crianças também tendem a optar por fazer pequenos trabalhos no presente momento em troca de uma recompensa menor, embora mais imediata, ao invés de trabalhar mais por uma recompensa maior disponível apenas adiante. Na realidade, reduzir a estimulação torna ainda mais difícil para uma criança com TDAH manter a atenção. Apresentam também dificuldades em controlar impulsos. Os problemas de atenção e de controle de impulsos também se manifestam nos atalhos que essas crianças utilizam, em seu trabalho. Elas aplicam menor quantidade de esforços e despendem menor quantidade de tempo para realizar tarefas desagrádaveis e enfadonhas.

 Causas

As pesquisas têm apresentado como possíveis causas de TDAH a hereditariedade, problemas durante a gravidez ou no parto, exposição a determinadas substâncias (chumbo) ou problemas familiares que propiciam o aparecimento predisposto geneticamente, como: um funcionamento familiar caótico, alto grau de discórdia conjugal, baixa instrução, famílias com baixo nível socio-econômico, ou famílias com apenas um dos pais Tais problemas não originam tais disturbios mas os amplificam na sua existência.
Famílias caracterizadas por alto grau de agressividade nas interações, podem contribuir então para o aparecimento desses comportamentos agressivos ou de uma oposição desafiante ou protetora nas crianças perante a sociedade]. Segundo Goldstein, alguns fatores podem propiciar o aparecimento, recluto geneticamente, do TDAH quando em condições favoráveis, por isso as causas do TDAH são de uma vulnerabilidade herdada ao transtorno que vai se manifestar de acordo com a presença de desencadeadores ambientais. A ansiedade, frustração, depressão ou criação imprópria podem levar ao comportamento hiperativo].

Quem pode diagnosticar TDAH

O diagnóstico de TDAH é fundamentalmente clínico, realizado por profissional que conheça profundamente o assunto, que necessariamente deve descartar outras doenças e transtornos, para então indicar o melhor tratamento.[1] O termo hiperatividade tem sido popularizado e muitas crianças rotuladas erroneamente. É preciso cuidado ao se caracterizar uma criança como portadora de TDAH. Somente um médico (preferencialmente psiquiatra) psicólogo especializado  ou terapeuta ocupacional podem confirmar a suspeita de outros profissionais de áreas afins, como fonoaudiólogos, educadores ou psicopedagogos, que devem encaminhar a criança para o devido diagnóstico. Existem testes e questionários, como o site da psicóloga Cleide Heloisa Partel, especialista em TDAH, que auxiliam o diagnóstico clínico] Hoje já se sabe que a área do cérebro envolvida nesse processo é a região orbital frontal (parte da frente do cérebro) responsável pela inibição do comportamento, pela atenção sustentada, pelo autocontrole e pelo planejamento para o futuro. Entretanto, é importante frisar que o cérebro deve ser visto como um órgão cujas partes apresentam grande interligação, fazendo com que outras áreas que possuam conexão com a região frontal possam não estar funcionando adequadamente, levando aos sintomas semelhantes aos de TDAH. Os neurotransmissores que parecem estar deficitários em quantidade ou funcionamento, em indivíduos com TDAH, são basicamente a dopamina e a noradrenalina, que precisam ser estimuladas através de medicações.
Algumas pessoas precisam tomar estimulantes como forma de minorar os sintomas de déficit de atenção/hiperatividade, entretanto nem todas respondem positivamente ao tratamento. É importante que seja avaliada criteriosamente a utilização de medicamentos em função dos efeitos colaterais que os mesmos possuem. Em alguns casos, não apresentam nenhuma melhora significativa, não se justificando o uso dos mesmos. A duração da administração de um medicamento também é decorrente das respostas dadas ao uso e de cada caso em si.

O uso de medicamentos




O tratamento baseia-se em medicação se necessário e acompanhamento psicológico[2], fonoaudiológico, terapeuta ocupacional ou psicopedagógico. É importante que seja avaliada criteriosamente a utilização de medicamentos em função dos efeitos colaterais que os mesmos possuem. Mais de 80% dos portadores de TDAH beneficiam-se com o uso de medicamentos, como o cloridrato de metilfenidato (Ritalina ou Concerta em sua versão comercial), Bupropiona, Modafinil e Antidepressivos Tricíclicos como a Imipramina. Em alguns casos, não apresentam nenhuma melhora significativa, não se justificando o uso dos mesmos. A duração da administração de um medicamento também é decorrente das respostas dadas ao uso e de cada caso em si.
Famílias caracterizadas por alto grau de agressividade nas interações, podem contribuir para o aparecimento de comportamento agressivo, geneticamente oculto, ou de uma oposição desafiante ou protetora nas crianças perante a sociedade, o que pode ser denomiado de Hiperatividade de fundo social], diferente de TDAH.
Wikipédia
A hiperatividade e déficit de atenção é um problema mais comumente visto em crianças e se baseia nos sintomas de desatenção (pessoa muito distraída) e hiperatividade (pessoa muito ativa, por vezes agitada, bem além do comum). Tais aspectos são normalmente encontrados em pessoas sem o problema, mas para haver o diagnóstico desse transtorno a falta de atenção e a hiperatividade devem interferir significativamente na vida e no desenvolvimento normais da criança ou do adulto.
Quem apresenta?
Estima-se que cerca de 3 a 6% das crianças na idade escolar (mais ou menos de 6 a 12 anos de idade) apresentem hiperatividade e/ou déficit de atenção. O diagnóstico antes dos quatro ou cinco anos raramente é feito, pois o comportamento das crianças nessa idade é muito variável, e a atenção não é tão exigida quanto de crianças maiores. Mesmo assim, algumas crianças desenvolvem o transtorno numa idade bem precoce. Aproximadamente 60% dos pacientes que apresentaram TDAH na infância permanecem com sintomas na idade adulta, embora que em menor grau de intensidade. Na infância, o transtorno é mais comum em meninos e predominam os sintomas de hiperatividade. Com o passar dos anos, os sintomas de hiperatividade tendem a diminuir, permanecendo mais freqüentemente a desatenção, e diminuindo a proporção homem x mulher, que passa a ser de um para um.
Geralmente o problema é mais notado quando a criança inicia atividades de aprendizado na escola, pelos professores das séries iniciais, quando o ajustamento à escola mostra-se comprometido. Durante o início da adolescência o quadro geralmente mantém-se o mesmo, com problemas predominantemente escolares, mas no final da adolescência e início da vida adulta o transtorno pode acompanhar-se de problemas de conduta (mau comportamento) e problemas de trabalho e de relacionamentos com outras pessoas. Porém, no final da adolescência e início da vida adulta ocorre melhora global dos sintomas, principalmente da hiperatividade, o que permite que muitos pacientes adultos não necessitem mais realizar tratamento medicamentoso para os sintomas.
Os estudos mais recentes apontam para a genética como principal causa relacionada ao transtorno. Aproximadamente 75% das chances de alguém desenvolver ou não o TDAH são herdadas dos pais. Além da genética, situações externas como o fumo durante a gestação também parecem estar relacionados com o transtorno. Fatores orgânicos como atrasado no amadurecimento de determinadas áreas cerebrais, e alterações em alguns de seus circuitos estão atualmente relacionados com o aparecimento dos sintomas. Supõe-se que todos esses fatores formem uma predisposição básica (orgânica) do indivíduo para desenvolver o problema, que pode vir a se manifestar quando a pessoa é submetida a um nível maior de exigência de concentração e desempenho. Além disso, a exposição a eventos psicológicos estressantes, como uma perturbação no equilíbrio familiar, ou outros fatores geradores de ansiedade, podem agir como desencadeadores ou mantenedores dos sintomas.
Como se manifesta?
Podemos ter três grupos de crianças (e também adultos) com este problema. Um primeiro grupo apresenta predomínio de desatenção, outro tem predomínio de hiperatividade/impulsividade e o terceiro apresenta ambos, desatenção e hiperatividade. É muito importante termos em mente que um "certo grau" de desatenção e hiperatividade ocorre normalmente nas pessoas, e nem por isso elas têm o transtorno. Para dizer que a pessoa tem realmente esse problema, a desatenção e/ou a hiperatividade têm que ocorrer de tal forma a interferir no relacionamento social do indivíduo, na sua vida escolar ou no seu trabalho. Além disso, os sintomas têm que ocorrer necessariamente na escola (ou no trabalho, no caso de adultos) e também em casa. Por exemplo , uma criança que "apronta todas" em casa, mas na escola se comporta bem, muito provavelmente não tem hiperatividade. O que pode estar havendo é uma falta de limites (na educação) em casa. Na escola, responde à colocação de limites, comportando-se adequadamente em sala de aula.
No adulto, para se ter esse diagnóstico, é preciso uma investigação que mostre que ele já apresentava os sintomas antes dos 7 anos de idade.
Quais são os sintomas da pessoa com desatenção?
Uma pessoa apresenta desatenção, a ponto de ser considerado como transtorno de déficit de atenção, quando tem a maioria dos seguintes sintomas ocorrendo a maior parte do tempo em suas atividades:
 
freqüentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras;
com freqüência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades recreativas;
com freqüência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais, não chegando ao final das tarefas;
freqüentemente tem dificuldade na organização de suas tarefas e atividades;
com freqüência evita, antipatiza ou reluta em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa);
freqüentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades;
é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa principal que está executando;
com freqüência apresenta esquecimento em atividades diárias
Quais são os sintomas da pessoa com hiperatividade?
Uma pessoa pode apresentar o transtorno de hiperatividade quando a maioria dos seguintes sintomas torna-se uma ocorrência constante em sua vida:
freqüentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira;
com freqüência abandona sua cadeira em sala de aula ou em outras situações nas quais se espera que permaneça sentado;
freqüentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isso é inapropriado (em adolescentes e adultos, isso pode não ocorrer, mas a pessoa deixa nos outros uma sensação de constante inquietação);
com freqüência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer;
está freqüentemente "a mil" ou muitas vezes age como se estivesse "a todo vapor";
freqüentemente fala em demasia.
Além dos sintomas anteriores referentes ao excesso de atividade em pessoas com hiperatividade, podem ocorrer outros sintomas relacionados ao que se chama impulsividade, a qual estaria relacionada aos seguintes aspectos:

freqüentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas;
com freqüência tem dificuldade para aguardar sua vez;
freqüentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por exemplo, intrometendo-se em conversas ou brincadeiras de colegas).
Importância de tratamento médico para os portadores do transtorno.
São vários os motivos que mostram ser de grande importância médica fazer o diagnóstico e se tratar a criança (ou o adulto) com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
Primeiro, é importante se fazer o tratamento desse transtorno para que a criança não cresça estigmatizada como o "bagunceiro da turma" ou como ou "vagabundo", ou como o "terror dos professores".
Segundo, para que a criança não fique durante anos com o desenvolvimento prejudicado na escola e na sua vida social, atrasado em relação aos outros colegas numa sociedade cada vez mais competitiva.
Terceiro, é importante fazer um tratamento do transtorno para se tentar minimizar conseqüências futuras do problema, como a propensão ao uso de drogas (o que é relativamente freqüente em adolescentes e adultos com o problema), transtorno do humor (depressão, principalmente) e transtorno de conduta.
Como se diagnostica?
O diagnóstico deve ser feito por um profissional de saúde capacitado, geralmente neurologista, pediatra ou psiquiatra. O diagnóstico pode ser auxiliado por alguns testes psicológicos ou neuropsicológicos, principalmente em casos duvidosos, como em adultos, mas mesmo em crianças, para o acompanhamento adequado do tratamento.
Como se trata?
O tratamento envolve o uso de medicação, geralmente algum psico-estimulante específico para o sistema nervoso central, uso de alguns antidepressivos ou outras medicações. Deve haver um acompanhamento do progresso da terapia, através da família e da escola. Além do tratamento medicamentoso, uma psicoterapia deve ser mantida, na maioria dos casos, pela necessidade de atenção à criança (ou adulto) devido à mudança de comportamento que deve ocorrer com a melhora dos sintomas, por causa do aconselhamento que se deve fazer aos pais e para tratamento de qualquer problema específico do desenvolvimento que possa estar associado.
Um aspecto fundamental desse tratamento é o acompanhamento da criança, de sua família e de seus professores, pois é preciso auxílio para que a criança possa reestruturar seu ambiente, reduzindo sua ansiedade. Uma exigência quase universal consiste em ajudar os pais a reconhecerem que a permissividade não é útil para a criança, mas que utilizando um modelo claro e previsível de recompensas e punições, baseado em terapias comportamentais, o desenvolvimento da criança pode ser melhor acompanhado.
 Dra. Alice Sibile Koch
Dra. Dayane Diomário da Rosa

Babá química

Ritalina, o calmante para crianças, vira
solução fácil para indisciplina infantil
Foto: Egberto Nogueira
Agressividade, bagunça e falta de atenção em sala
de aula: problemas antigos às vezes são doença

"Remédios como esse são perigosos e exigem cautela. Muitas vezes o diagnóstico da hiperatividade é malfeito."
Mauro Muszkat, neurologista da Universidade Federal de São Paulo
Anote aí. Depois do Prozac para a depressão e do Viagra para a impotência, agora a droga da vez é um poderoso calmante para crianças. Trata-se do Ritalin, que no Brasil recebeu o nome de Ritalina. No ano passado, o remédio fabricado pelo laboratório Novartis foi ministrado a 2 milhões de americanos, cifra suficiente para colocá-lo na galeria dos mais vendidos. Usada no tratamento do transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, um distúrbio psiquiátrico que deixa as crianças agitadas e com dificuldade de concentração, a Ritalina teve meio milhão de prescrições em 1995, apenas para crianças entre 3 e 6 anos. A explosão de consumo já deixou de ser tema de conversa apenas de psiquiatras infantis. Professores, pais, pedagogos e médicos reuniram-se há duas semanas num congresso em Bethesda, Maryland, para dimensionar as vantagens e desvantagens da prescrição em massa da Ritalina. Chegaram à conclusão de que a droga está sendo usada em crianças absolutamente normais, que não precisariam do remédio. Pior: essa superexposição ao medicamento tem efeitos colaterais ainda em grande parte desconhecidos, sem falar de dores de cabeça, perda do apetite e insônia.
O calmante virou uma das tantas festas químicas que de vez em quando tomam conta dos Estados Unidos porque tem efeito comprovado sobre os fedelhos endiabrados. Ao contrário de outras novidades, criadas e desenvolvidas nos anos 90, a Ritalina parece ser daquelas drogas que tiveram de esperar décadas para arrumar um espaço no mercado. Velha de quase cinqüenta anos, a Ritalina não colava numa época em que os pais e professores exerciam domínio irrestrito, um olhar de repreensão bastando para pôr a criança no prumo. Hoje, prefere-se indicar a Ritalina a enfrentar o desgaste de reprimir um bagunceiro. Todos aqueles alunos que não prestam atenção no que a professora fala, todos os que conversam durante as aulas e não conseguem ficar quietos em suas cadeiras são candidatos em potencial ao uso do remédio. É mais fácil tratar o menino como doente do que assumir que um adulto — no caso, o professor — não consegue controlá-lo. "Não adianta ministrar o remédio e falhar na hora de ensinar", aponta Stephen Hinshaw, do programa de treinamento de psicologia clínica da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
E a Ritalina funciona mesmo. Foi assim com um paciente do psiquiatra Haim Grunspun, professor de psiquiatria infantil da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O menino, de 9 anos, era um terror. Derrubava objetos de cima dos móveis. Ameaçava botar fogo na casa. Corria atrás do irmão mais novo, algumas vezes com um martelo na mão. Durante um ano, submeteu-se a tratamento duro, que envolveu a ajuda de um psicólogo, de um psicopedagogo e da própria família. O psicólogo vinha com aquelas brincadeirinhas que eles chamam de "ludoterapia". A psicopedagoga ensinava truques para decorar trechos das matérias escolares. A família foi orientada a ressaltar as qualidades do menino, para não prejudicar sua auto-estima. Não adiantou. Então, entrou o psiquiatra, com a Ritalina. O tratamento incluía duas pílulas por dia. No primeiro mês, o menino já estava mais tranqüilo. Depois de tomar a droga durante dois anos, livrou-se da hiperatividade.
O chato é que qualquer manobra do tipo "sossega leão" tem seu preço. Os riscos da Ritalina até poderiam valer a pena, uma vez constatado o fracasso de outros recursos. Isso vale para qualquer remédio. O que preocupa os especialistas nos Estados Unidos é que a Ritalina hoje é a saída mais fácil. A revista Time da semana passada contém o depoimento de uma mulher que conta que o médico receitou o calmante para seu filho, de 5 anos, com base apenas num relatório escolar e numa consulta de quinze minutos. Não é casual que os professores tenham um papel tão importante nas prescrições. É na sala de aula que os distúrbios da hiperatividade ficam mais evidentes, já que a dificuldade de concentração, com os conseqüentes prejuízos no desempenho escolar, são os principais sintomas do problema. Ninguém se importa se a criança não prestar atenção ao que faz em casa. Mas qualquer pai se sente desconfortável quando o boletim do filho mostra que ele não consegue acompanhar as aulas.
O debate americano já coloca os psiquiatras brasileiros em estado de alerta e por uma razão muito simples. O Brasil sempre acaba jogando goela abaixo todos os modismos lançados pela indústria farmacêutica. Estima-se que cerca de 2.000 crianças brasileiras com mais de 7 anos tomem Ritalina. É pouco e em parte porque a legislação brasileira trata a comercialização da droga com o mesmo rigor que dedica a remédios como os derivados de morfina. Mas, aos poucos, está crescendo (veja quadro ao lado). O excesso de cuidado parece ser o caminho que cada vez mais americanos estão preferindo. Teoricamente, crianças com déficit de atenção e hiperativas têm comportamentos muito semelhantes aos de meros encapetados. A inteligência é normal, apresentam dificuldades de convivência e concentração. Poucos médicos — imagine pais e professores — sabem diferenciar a criança levada de outra, hiperativa. "Como os critérios são subjetivos e os sintomas são parecidos com vários outros quadros, muitas vezes o diagnóstico é malfeito. Por isso, só médicos especializados devem poder prescrever o remédio. O Brasil está no caminho certo", comemora o neurologista Mauro Muszkat, da Universidade Federal de São Paulo.

Funciona. Não se sabe por quê

Foto: Carlos Edegard
Apesar de a Ritalina ser usada há quase meio século nos Estados Unidos, sabe-se pouco sobre como ela ajuda no tratamento das crianças que têm transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (ADHD). No córtex cerebral de uma criança hiperativa, o fluxo de substâncias químicas como a dopamina e a norepinephrina — que garantem a atividade motora, intelectual e sensitiva — fica prejudicado. Não se sabe por quê. A Ritalina aumenta o poder de concentração da criança porque estimula o fluxo dessas substâncias. E não se descobriu como. Em meio a tantas dúvidas, especialistas do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos fazem alguns alertas:
Reações positivas ao remédio não significam que o usuário sofra de ADHD. A Ritalina ajuda a aumentar a atenção de qualquer criança.
A droga funciona a curto prazo. Mas não se sabe como ficam o desenvolvimento acadêmico e o comportamento social da criança em tratamentos por longos períodos.
Apesar de a prescrição da Ritalina ser permitida para usuários com menos de 5 anos, não há evidências de que a aplicação da droga seja segura em crianças muito novas.
Estudos preliminares sugerem que cérebros de crianças hiperativas são diferentes. Os especialistas não sabem se é uma simples variação ou um defeito bioquímico.
A Ritalina não aumenta o QI. Também não faz a criança aprender mais, ou mais rápido.
VEJA 


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