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3.09.2011

Mulheres contemporâneas

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Muitas das características atribuídas aos sexos feminino e masculino vêm sendo, ao longo da História, consideradas “naturais”, o que leva a maior parte das pessoas a pensar que homens e mulheres são diferentes porque... simplesmente... nasceram assim!

Antropólogos e sociólogos têm buscado combater esta ideia mostrando, através de estudos comparativos interculturais, que muitas das diferenças entre os sexos foram construídas por meio da educação, das relações sociais e familiares, além das expectativas socialmente construídas. Essas pesquisas provam que as influências culturais moldam nossa forma de andar, de comer, de nos relacionar, de pensar, de trabalhar e até mesmo de cuidar da saúde!

No aspecto profissional, constata-se que essa “naturalização” das diferenças entre homens e mulheres é muitas vezes usada para categorizar e valorizar – ou desvalorizar – algumas ocupações. Registros mostram que várias atividades de trabalho que tiveram a entrada das mulheres sofreram, com o tempo, perdas em termos de remuneração e condições de trabalho.

A própria expressão “trabalho de mulher” ou “trabalho para mulher” foi usada com freqüência - e ainda é - para se referir a profissões ou ofícios que não necessitam, aparentemente, de grande qualificação ou esforço. Esse é o caso do trabalho doméstico, repleto de tarefas desgastantes e complexas, embora “invisíveis” e geralmente não valorizadas.

Ao não serem feitas, porém, tornam uma casa, simplesmente, inabitável. E há também o caso de alguns trabalhos que requerem atenção minuciosa aos detalhes, extremamente cansativos dos pontos de vista mental e corporal, porém aparentemente “leves”, sendo considerados, portanto, “adequados” às mulheres! E há ainda um outro fenômeno comum em profissões ocupadas predominantemente por mulheres: o não reconhecimento da qualificação, por meio da atribuição de características profissionais a dons “naturais”.

Esse parece ser o caso da Enfermagem, em que diversos requisitos necessários à prática da profissão, frutos de uma intensa capacitação, são eventualmente atribuídos à “natureza das mulheres”, maioria nesta profissão, e isto contribui, indiretamente, para serem negados os investimentos realizados durante o período de formação.

Diferenças culturais & diferenças orgânicas

Por um lado, então, naturalizar as diferenças entre homens e mulheres é perigoso. Por outro, negar que existam diferenças, sobretudo de ordem fisiológica, é também uma armadilha. Apesar de possuir algumas tendências orgânicas que podem vir a se tornar vantagens do ponto de vista da sobrevivência, como a maior capacidade para realizar várias tarefas ao mesmo tempo, as mulheres apresentam, na maior parte dos sistemas e órgãos corporais, “desvantagens” orgânicas. Alguns exemplos são:

- apenas 1 em cada 5 mulheres vítimas do infarto apresenta os sintomas clássicos do evento, como dores no peito e no braço esquerdo. Elas reclamam, sobretudo, de uma sensação de indigestão – o que leva a erros de diagnóstico e socorro inadequado.
- após a idade de 45 anos os riscos de doenças coronarianas em mulheres e homens é praticamente idêntico, embora a mortalidade costume ser maior entre as mulheres.
- as mulheres são mais sensíveis à dor, sentindo-a por mais tempo e com maior intensidade do que os homens.
- enquanto o diabetes tipo 2 dobra os riscos de doenças cardiovasculares nos homens, nas mulheres essa probabilidade aumenta em até 4 vezes.
- é maior a propensão das mulheres às doenças auto-imunes, como lúpus e artrite reumatóide.
- as mulheres costumam apresentar maior dificuldade para deixar de fumar, sendo o vício geralmente mais psicológico do que químico.
- o risco de contaminação pelo vírus HIV por via sexual é 9 vezes maior entre as mulheres do que entre os homens. Além de o esperma contaminado permanecer na vagina até uma semana depois da relação, a mucosa vaginal é um terreno propício para a multiplicação do vírus.

Mulheres: o sexo frágil?

Frente a essas informações concluímos então que nós, mulheres, somos realmente o sexo frágil. Certo? Não necessariamente! Agenita Ameno, socióloga mineira e autora do livro “Crítica à tolice feminina” propõe que a mulher, pela capacidade de gerar uma nova vida, contém em si a fórmula “cuidar de si” + “cuidar do outro”. Isso pode ser traduzido por “cuida melhor do outro quem cuida de si”, embora as pressões sociais tentem nos convencer que ambos são incompatíveis.

Neste caso entram as figuras polarizadas da mulher auto-suficiente, independente, autônoma, mas que não tem capacidade de se dedicar a ninguém além dela mesma, e a figura da mulher dedicada à família, ao lar e aos outros, com as necessidades alheias se sobrepondo às próprias demandas.

A grande questão é: para boa parte das mulheres contemporâneas essas figuras polarizadas não são bons modelos de identificação. Nas lutas cotidianas as mulheres cuidam de si e dos outros, o melhor que podem, porém, geralmente, cheias de culpa... A culpa aparece, seja por não terem “aquele” corpo - que a mídia definiu como perfeito, e que recheia as telas da TV e revistas masculinas -, seja por que seus filhos e cônjuges apresentam alguma falta que elas não se sentem à altura para atender.

Por esta culpa – que talvez não precisassem sentir – acabam se tornando o sexo frágil em diversas situações. O que falta em definição da identidade pode sobrar no aspecto do adoecimento e da insatisfação, traduzindo-se em desordens psicossomáticas, depressão, consumismo exacerbado e dependência – física ou emocional – a substâncias ou a pessoas. Resta então resgatar a força desse gênero, e difundir a fórmula “cuidar de si” + “cuidar dos outros” como uma unidade indivisível, necessária para a criação e manutenção dos vínculos de afeto, convivência, harmonia e civilidade que tanto necessitamos.

Ana Paula Prange - Psicóloga do Trabalho

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