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4.20.2011

O “TER” E O “SER”


Há uma grande verdade quando se diz que a felicidade consiste em ser e não em ter. E isso, a vida também nos ensina!
Duas palavras pequenas, porém, de grande significado para nosso autoconhecimento e sentido de vida.
Primeiramente é preciso distinguir o significado de cada uma delas. Recorremos ao dicionário - ter, é verbo transitivo direto e significa: possuir, poder dispor... (ex. ter uma casa, ter um carro, ter livros, ter emprego, etc.); ser, é verbo predicativo e significa: a qualidade ou a característica de... (ex. ser educado, ser disciplinado, ser bom, ser alegre, etc.)
Existe, em geral, uma grande ansiedade entre nós por possuir isso ou aquilo. Essa é a mola propulsora do consumismo e o estímulo para a produção de bens e serviços materiais. Com isso deixamos de perceber se o que temos já não é o suficiente para a nossa vida.
Ao longo das experiências da vida aprendemos que o mais importante para a nossa felicidade, nem sempre é o TER e sim o SER, uma vez que descobrimos a precariedade das coisas materiais e que, tudo o que temos pode nos ser tirado a qualquer momento.
Ninguém pode dizer que tem felicidade, mas pode dizer que é ou que está feliz. A felicidade não se compra, não se transfere e não se doa.
As pessoas precisam parar de correr atrás do TER e começar a correr atrás do SER: ser amigo, ser atencioso, ser amado, ser caridoso, ser gentil, ser justo e bom... SER FELIZ!
Luiz Gonzaga S.Ferreira - 
SAIBA AINDA:
Ter ou Ser?
Erich Fromm
No sentido e com o objetivo em mente de abordar e ampliar temas
humanísticos de caráter filosófico e holístico vou fazer um resumo de uma obra
sobre dois conceitos tão fundamentais que estamos em permanente imersão
com eles diariamente. Tais conceitos expressam-se tão simplesmente por TER
e SER .
O principal objetivo deste resumo é introduzir a análise de dois modos básicos
de estar no mundo : o modo TER e o modo SER.
"Somos uma sociedade de gente visivelmente infeliz: sós, ansiosos,
deprimidos, destrutivos, dependentes – gente que se alegra quando matou o
tempo que tão desesperadamente tentamos poupar.
A nossa experiência social é a maior alguma vez feita no sentido de resolver a
questão de se o prazer poderá ou não ser uma resposta satisfatória para o
problema da existência humana. Pela primeira vez na História, a satisfação do
prazer não constitui apenas o privilégio de uma minoria. Tornou-se acessível a
mais de metade da população. Ser egoísta não se relaciona apenas com o
meu comportamento mas com o meu caráter. Ou seja : que quero tudo para
mim; que me dá prazer possuir e não partilhar; que devo tornar-me ávido,
porque, se o meu objetivo é ter, eu sou tanto mais quanto mais tiver; que devo
sentir todos os outros como meus adversários: os meus clientes a quem devo
iludir, os meus concorrentes a quem devo destruir, os meus trabalhadores que
pretendo explorar. Nunca poderei estar satisfeito, porque não existe fim para os
meus desejos; devo sentir inveja daqueles que têm mais e receio daqueles que
têm menos. Mas tenho de reprimir todos estes sentimentos para poder revelarme
(aos outros e a mim próprio) como o ser humano sorridente, racional,
sincero e amável que toda a gente pretende ser.
"A paixão pelo ter conduzirá a uma interminável luta de classes.
Na sociedade medieval, como em muitas outras altamente desenvolvidas e
também nas sociedades primitivas, o comportamento econômico era
determinado pelos princípios éticos. O capitalismo do século XVIII foi sujeito a
uma mudança radical: o comportamento econômico foi separado dos valores
éticos e humanos. Com efeito, a máquina econômica devia ser uma entidade
autônoma, independente das necessidades e desejos do Homem. Foi um
sistema que decorreu naturalmente e de acordo com as suas próprias leis. O
sofrimento dos trabalhadores, assim como a destruição de um número sempre
crescente de pequenas empresas em nome do crescimento de corporações
cada vez maiores, foi uma necessidade que, ainda que pudesse ser lamentada,
havia que aceitar como o resultado de uma lei natural.
" O desenvolvimento deste sistema econômico não era já determinado pela
pergunta: O que é bom para o Homem? Mas por uma outra: O que é bom para
o crescimento do sistema?
Não é de considerar menos importante um outro fator: a relação das pessoas
com a Natureza tornou-se profundamente hostil. Sendo, como somos,
«fenômenos da Natureza», existindo dentro dela pelas próprias condições do
nosso ser e transcendendo-a pela dádiva da razão, tentamos resolver o
problema existencial desistindo da visão messiânica da harmonia entre a
Natureza e a Humanidade, optando por conquistá-la, transformá-la, de acordo
com os nossos interesses, até que essa conquista se tornou cada vez mais
semelhante à destruição. O nosso espírito de conquista e a nossa hostilidade
cegaram-nos para os fatos de que as fontes naturais têm os seus limites e
podem eventualmente esgotar-se, e de que a Natureza pode voltar-se contra a
violação humana.
A Sociedade Industrial despreza a Natureza. Uma nova sociedade só é
possível se ao longo do processo do seu desenvolvimento surgir um novo ser
humano, ou, em termos mais simples, se uma mudança fundamental ocorrer
na estrutura do caráter do Homem contemporâneo. Pela primeira vez na
história a sobrevivência física da raça humana depende de uma alteração
profunda do coração do Homem. Todavia, essa mudança terá de acompanhar
a dimensão das alterações econômicas e sociais ocorridas, capazes de dar ao
coração humano uma hipótese de mudar e coragem para o conseguir."
Numa cultura em que o objetivo supremo é o TER e ter cada vez mais até
parece uma função normal da vida que para viver necessitemos de ter coisas.
"TER e SER são dois modos fundamentais de experiência , a energia
específica de cada um determina as diferenças entre o caráter dos indivíduos e
os vários tipos de caráter social.
A grande diferença entre ser e ter é a que se estabelece entre uma sociedade
centrada sobre as pessoas e uma sociedade centrada sobre as coisas.
Imaginemos um indivíduo que procura a ajuda de um psicanalista e que
começa assim o seu discurso: « Doutor, tenho um problema; tenho insônias e
apesar de ter uma boa casa, uns filhos adoráveis e um bom casamento, tenho
muitas preocupações.»
O estilo do discurso mais recente indica o predominante grau de alienação. Ao
afirmar «Eu tenho um problema» em vez de « Estou preocupado» a
experiência subjetiva é eliminada: o eu ligado à experiência passa a ligar-se à
posse. Transformei o meu sentimento em qualquer coisa que possuo: o
problema. Mas «problema» é um termo abstrato para todos os tipos de
dificuldades. Eu não posso ter um problema porque ele não é uma coisa que
eu possua; todavia, ele pode possuir-me. Ou seja, eu transformei-me num
«problema» e estou agora à mercê daquilo que criei. Este tipo de linguagem
denuncia uma alienação inconsciente."
" Um exemplo simples do modo de existência ser ou estar é referir uma outra
manifestação do estar – a da incorporação. Incorporar uma coisa, por exemplo,
comendo-a ou bebendo-a, é uma forma arcaica de possuir. Até certo ponto,
durante a seu desenvolvimento, todas as crianças têm tendência a levar à boca
aquilo que desejam. Esta é a forma infantil de tomar posse, quando o
desenvolvimento físico não lhes permite ter outras formas de controlar os seus
haveres.
Consumir é uma forma de ter e talvez a mais importante de todas na atual
sociedade industrial da abundância. Consumir tem características ambíguas:
liberta a ansiedade, dado que aquilo que se tem não nos pode ser retirado;
mas ao mesmo tempo exige que se consuma cada vez mais, porque tudo o
que se consumiu depressa perde o seu caráter satisfatório. Os modernos
consumidores podem identificar-se pela seguinte fórmula: Eu sou igual ao que
tenho e ao que consumo."
" O principal motivo pelo qual raramente vemos sinais do modo ser de
existência, resulta do fato de vivermos numa sociedade voltada para a
aquisição de bens e obtenção de lucros.
Os estudantes que se incluem no modo ter de existência, ouvem uma lição,
escutando as palavras e entendendo a sua estrutura lógica e o seu significado.
Mas o conteúdo não passou a fazer parte do seu sistema individual de
pensamento, enriquecendo-o e ampliando-o.
A memória confiada ao papel é outra forma de alienar a lembrança. O escrever
tudo aquilo de que queremos lembrar-nos dá-nos a certeza de ter essa
informação e não tentamos gravá-la no cérebro. Estamos seguros da nossa
posse; só que, quando acontece perdermos as nossas notas, perdemos
igualmente a nossa memória de informações. A capacidade de lembrar
abandonou-nos, quando o nosso banco de memórias se tornou uma parte
exterior a nós, sob a forma de apontamentos.
Se considerarmos a multidão de informações que na sociedade
contemporânea é necessário reter, teremos de considerar que uma certa dose
de apontamentos e referências depositadas em livros é inevitável.
Curiosamente alguns indivíduos analfabetos, ou que escrevem pouco, têm
memórias, de longe, superiores, aos habitantes instruídos dos países
industrializados. Entre outros fatos, isto sugere-nos que a instrução não
constitui de forma alguma a tão alardeada benção, principalmente quando é
utilizada na leitura de matérias que empobrecem a capacidade de experimentar
e de imaginar."
"Durante um diálogo enquanto as pessoas do ter confiam no que possuem , as
do ser confiam no que são , de que estão vivas e de que algo de novo irá
nascer, se tiverem coragem de se soltar e responder. Tornam-se totalmente
vivos durante a conversa, porque não são sufocados pela preocupação ansiosa
daquilo que têm. A sua vivacidade é contagiosa e muitas vezes ajuda a outra
pessoa a ultrapassar o seu egocentrismo.
O que é verdade para o diálogo é igualmente verdade para a leitura, que é – ou
deveria ser – uma conversa entre o autor e o leitor. É claro que na leitura (do
mesmo modo que na conversa) é importante quem estamos a ler (ou com
quem estamos a falar).
Outra diferença entre os modos de ter e ser encontra-se na forma como é
exercida a autoridade.
Antes de entendermos a autoridade nos dois modos, há que reconhecer que
«autoridade» é um termo com dois sentidos totalmente diferentes: tanto pode
ser «racional», como «irracional». A autoridade «racional» baseia-se na
competência e ajuda a pessoa , que com ela aprende, a crescer. A autoridade
«irracional» assenta no poder e serve para explorar o indivíduo que a ela está
sujeito.
A autoridade segundo o modo ser, assenta, não apenas na competência que o
indivíduo possui para executar determinadas tarefas, mas em igual medida, na
própria essência de uma personalidade que atingiu um elevado grau de
evolução e integração. Tais seres irradiam autoridade e não necessitam de dar
ordens, ameaçar ou subornar. São indivíduos altamente desenvolvidos que
demonstram, através do que são- e não pelo que dizem ou fazem – tudo o que
os seres humanos podem vir a ser."
Ter conhecimento e saber
"A diferença entre os modos de ter e ser na área do conhecimento é formulada
em duas expressões: «eu tenho conhecimento» e « eu sei».Ter conhecimento
é tomar posse e manter o conhecimento disponível (informação); Saber é
fundamental e serve apenas como um meio durante o processo de
pensamento criativo.
O Amor
O amor tem igualmente dois significados, que dependem de nos referirmos ao
modo ter ou ser.
Pode ter-se amor? Para que tal fosse possível, ele teria de ser uma coisa, uma
substância passível de ser possuída. A verdade é que não existe essa coisa
chamada «amor». «Amor» é uma abstração, talvez uma deusa ou um ser de
natureza diferente, embora nunca ninguém o tenha visto. Na verdade existe
apenas o ato de amor. Amar é uma atividade criadora. Supõe preocupação
com o outro, conhecimento, resposta, afirmação, gosto pela pessoa, a árvore, o
quadro ou a idéia que se ama. Implica trazer à vida, aumentar a alegria, dele
ou dela. É um processo de auto-renovação e auto-crescimento."
" As normas pelas quais a sociedade se rege, moldam também os traços de
caráter social dos seus membros. Numa sociedade industrial eles são: o desejo
de adquirir propriedades, de as manter e de as aumentar, ou seja, de extrair
delas o lucro, e os proprietários são admirados e invejados como seres
superiores. Mas a grande maioria das pessoas não tem qualquer propriedade
no sentido de capital e de bens capitais e uma questão intrigante se coloca:
como podem tais pessoas satisfazer ou mesmo enfrentar a sua ânsia de
aquisição e posse de propriedade, ou como se podem sentir possuidores
quando não têm absolutamente nada que lhes permita, neste contexto,
referenciarem-se.
É claro que a resposta óbvia é que mesmo os indivíduos pobres em
propriedades possuem qualquer coisa, e prendem-se às suas pequenas
posses do mesmo modo que os donos do capital se prendem às suas. E tal
como eles, os pobres vivem obcecados pelo desejo de preservar o que têm e
de o ver aumentado, ainda que uma quantia ínfima (poupando um escudo aqui
, um escudo ali).
Talvez a maior satisfação não resida tanto na posse de bens materiais quanto
na de seres vivos. Numa sociedade patriarcal, até o mais pobre dos homens da
classe mais miserável pode ser proprietário, no seu relacionamento com a
mulher, os filhos, os animais, em relação aos quais se sente dono absoluto.
Quer o objeto que se adquire seja um automóvel, um vestido ou um acessório,
após algum tempo de uso, as pessoas cansam-se dele e é mais atraente
desfazer-se do «antigo» e comprar o «último modelo». Aquisição posse e uso
transitório deitar fora (ou, se possível, troca vantajosa por um modelo melhor)
nova aquisição, constituem o ciclo vicioso da compra consumista, e o lema
de hoje, poderia ser:«O novo é belo».
Talvez o exemplo mais gritante do fenômeno do consumismo seja o automóvel
privado. O nosso tempo merece ser apelidado de «Idade do Automóvel», pois
toda a sua economia tem sido construída à volta da sua produção, e toda a
nossa vida é, em grande parte, determinada pela subida e descida do mercado
de consumo automóvel.
O sentimento de propriedade manifesta-se, igualmente, noutros tipos de
relação, por exemplo, para os médicos, dentistas, advogados, patrões,
trabalhadores. As pessoas no seu discurso referem-se a eles como «o meu
médico», «o meu dentista», «os meus empregados», etc., mas para além da
sua atitude de posse em relação aos outros seres humanos, experimentam,
igualmente, esta atitude com um número infindável de objetos. Vejamos, por
exemplo, a saúde e a doença. Cada um fala da sua saúde com um absoluto
sentimento de propriedade, referindo-se às suas doenças, às suas operações,
aos seus tratamentos, aos seus medicamentos, às suas dietas. Consideram
claramente a saúde e a doença como propriedades.
Ainda que me pareça ter tudo, eu não tenho – na realidade – nada, dado que
as minhas posses e o meu controlo sobre um objeto não passam de um
momento transitório durante o processo de viver.
Em resumo, a frequência e intensidade do desejo de partilhar, dar e sacrificar
não devem surpreender-nos se levarmos em conta as condições de existência
da espécie humana. O que é surpreendente é o fato de esta necessidade ter
podido ser reprimida ao ponto de fazer dos atos de egoísmo a regra, nas
sociedades industriais e de fatos de solidariedade a exceção. Mas,
paradoxalmente, este mesmo fenômeno é causado pela necessidade de união.
Uma sociedade cujos princípios são a aquisição, o lucro e a propriedade,
produz um caráter social orientado para o ter e, uma vez estabelecido o padrão
dominante, ninguém quer um marginal ou um proscrito; a fim de evitar este
risco, todos se adaptam à maioria, que tem apenas em comum o antagonismo
mútuo.
Como consequência desta atitude preponderante de egoísmo, os dirigentes da
nossa sociedade acreditam que as pessoas podem ser motivadas apenas pelo
incentivo de vantagens materiais, ou seja, através de recompensas e que não
reagirão aos apelos da solidariedade e do sacrifício. Portanto, com exceções
dos tempos de guerra, estes apelos raramente são feitos, e as hipóteses de
observar os possíveis resultados perdem-se por completo.
Apenas uma estrutura sócio-econômica e um quadro da natureza humana
radicalmente diferentes poderiam mostrar outra maneira de influenciar
positivamente as pessoas.

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